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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 52)Estávamos em abril ou maio de 1969. Pensei muito na conversa do João Agripino. E tomei uma decisão. No dia seguinte vim a Belo Horizonte, procurei o Governador Israel Pinheiro, contei-lhe o acontecido e acrescentei: “Se o João Agripino pode aprovar o projeto, o senhor também pode. Meu desejo é que o projeto seja implantado em Minas. E só não será se o Governo não nos apoiar.” O Governador Israel Pinheiro poderia ser um homem de respostas duras, mas era um estadista. Perguntou-me qual era minha idéia. Eu respondi que o prestígio do Governador João Agripino era muito grande. Seria bom que montássemos uma estratégia para obtermos um compromisso irreversível do superintendente da Sudene, o General Tácito Theóphilo Gaspar de Oliveira, fora da Sudene. Para tanto eu propunha que o Governador fizesse um convite ao General para visitar Belo Horizonte, a fim de conhecer as potencialidades do Estado e falar aos empresários mineiros sobre a Sudene. Estávamos em maio de 1969. O convite foi feito. O General aceitou e marcou a data para junho. No dia e hora marcados, eu e o Presidente do Conselho Econômico do Estado, Dr. Victor Andrade Brito, estávamos NO MEIO DA PISTA, na Pampulha, aguardando-o. Recebemo-lo, ao pé da escada do avião, levamo-lo ao Hotel Del-Rey e mais tarde ao Palácio, onde nos reunimos com ele e o Governador em mesa redonda. O Governador agradeceu a presença do Superintendente e falou bastante sobre Minas e sobre o que o Estado esperava da Sudene. Ao final, disse: – De momento, Minas tem uma única pretensão de curto prazo. É a aprovação do projeto de uma fábrica de tecidos para Montes Claros. O Deputado Luiz de Paula, que é o presidente da empresa, vai dar ao senhor os detalhes. E me passou a palavra. Coube a mim expor ao Superintendente o que era a Coteminas, o que o projeto representava para Minas e para a Sudene, o número de empregos previstos, o consumo de algodão e poliéster do Nordeste, as vantagens da instalação de uma fábrica nova, com equipamento ultra-moderno, como exemplo para a renovação do parque têxtil do Nordeste e do País. E fui por ai afora, para no final revelar nossa grande preocupação com o propósito da Sudene de suspender em dezembro o exame de projetos têxteis. Dai a necessidade de o nosso projeto ser analisado e aprovado com a máxima urgência, para não ser alcançado pela suspensão. Além do mais, a Coteminas seria um exemplo e uma referência para a renovação pretendida pela Sudene. Ao final, o Governador reafirmou a pretensão do Estado, com respeito a aprovação do projeto, e o Dr. Victor Andrade Brito, como Presidente do Conselho de Desenvolvimento, órgão que representava o Estado junto à Sudene, fez dele as minhas palavras e manifestou a confiança do Governo no apoio da Sudene ao projeto. O Superintendente mostrou-se sensibilizado e se comprometeu com o Governador a atender ao pedido de Minas. Do Palácio fomos para a reunião com empresários, na Associação Comercial, onde o então Presidente, Dr. Adolfo Martins da Costa, com quem eu me havia entendido, fez o mesmo pedido, agora em nome das classes produtoras, tendo o Superintendente acrescentado às anotações que fizera em sua caderneta de bolso, no Palácio, o pedido da Associação Comercial. Daí por diante, mantive, de Brasília, constante contato com a Sudene, acompanhando o andamento do projeto nos setores de análise. O projeto começou a andar, mas não no ritmo que eu desejava. O Superintendente vinha freqüentemente a Brasília e eu tive ocasião de transmitir a ele, de viva voz, em Brasília, e por telex, da Câmara dos Deputados, a minha apreensão com relação ao andamento da análise, tendo em vista o passar do tempo. Até que certo dia, em novembro de 1969, em uma das vindas do General Tácito a Brasília, procurei-o, novamente. E ele, ao ver-me, antes mesmo que o cumprimentasse, foi-me dizendo, em palavras textuais: – Olha, deputado, a SUA COTEMINAS vai ser aprovada na reunião de dezembro. Desde o mês de junho eu vinha acompanhando os trabalhos da equipe técnica da Sudene, que por ordem do Superintendente, o retirara da “prateleira”. Pessoalmente, em Recife, onde compareci, nesse acompanhamento, e de Brasília, por telefone e em contato pessoal com o Superintendente, que em suas idas a Brasília hospedava-se no Hotel Nacional, onde eu residia. Atento ao andamento do projeto em sua tramitação na Sudene, eu mantinha contatos com a empresa que nos assessorava, a Nordeste Projetos, para pronto atendimento das “exigências” que a equipe de analistas da Sudene apresentasse. E assim o projeto foi tramitando, não com a presteza que se desejava, porque não havia boa vontade. Compreende-se. Os funcionários eram nordestinos. Conheciam o obsoletismo do parque têxtil do Nordeste e priorizavam sua renovação. Para muitos, nós, da Coteminas, éramos forasteiros, sediados num estado rico. Não precisávamos da Sudene. Mas eu estava vigilante. Vencendo os empecilhos, um a um, chegamos à véspera do dia em que seria realizada a última reunião do Conselho Deliberativo, naquele ano. Seria também a última reunião em que seriam apreciados projetos da área têxtil, até serem atendidos os projetos de renovação do parque têxtil do Nordeste. Às 9 horas da manhã, falando de Brasília, telefonei à Secretaria da Sudene para confirmar se o projeto estava na pauta da reunião do dia seguinte.Em resposta à minha pergunta, o Secretário confirmou que o projeto fôra incluído na pauta. Antes de agradecer a informação perguntei se estava tudo em ordem, para a aprovação. – Está sim, senhor deputado. Vossa excelência pode ficar tranqüilo. O projeto do senhor é de prioridade B, não é? – Não é não! – Eu falei, de Brasília. – Pois aqui na pauta está registrado como prioridade B... É assim que ele vai ser apresentado. Minha decisão foi imediata. Peguei minha pasta de viagem, fui para o aeroporto e apanhei o primeiro avião que saía para o Nordeste. Se fosse aprovado em prioridade B, com contrapartida de dois por um em vez de três por um, o projeto ficaria inferiorizado no mercado de opções e jamais seria implantado. Para deputados há reserva de lugares nos aviões. Obtive uma dessas reservas e no início da tarde cheguei a Recife. Do aeroporto segui diretamente para a Sudene.Valeu-me muito a condição de deputado. Para mim não houve espera. Imediatamente a equipe de analistas largou o que estava fazendo e atendeu-me. Com a cópia do projeto em mãos eu quis saber a razão pela qual o projeto fora rebaixado para a prioridade B. Percebendo o desconforto da equipe, ao ser colocada naquela posição, pedi a cópia dos critérios adotados para contagem dos pontos que definiam as faixas de prioridade. As prioridades A, B e C correspondem à participação acionária da Sudene na proporção de três por um, dois por um e um por um, em contrapartida à participação do empreendedor.Com o documento em mãos e informado de que faltara um ponto para que o projeto alcançasse a prioridade A, percorri a relação de alto a baixo, localizei um dos pontos positivos e perguntei se aquele havia sido considerado.– Não, não foi – responderam.– Pois incluam. Como presidente da empresa eu assumo o compromisso de que a Coteminas será uma empresa de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa de Valores. O documento foi feito, eu assinei e o compromisso foi incorporado ao projeto e bem assim a classificação em prioridade A. Eu viajara com o propósito de regressar no mesmo dia a Brasília. Mas resolvi tomar hotel e comparecer à reunião do Conselho na tarde do dia seguinte. Acompanhou-me o Professor Adalberto Arruda, diretor da “Nordeste Projetos”, empresa que nos assessorava na capital pernambucana. Chegamos antes do início da reunião e pudemos verificar que o projeto constava da pauta em prioridade A Assisti à apresentação e aprovação do projeto e regressei a Brasília, onde cheguei às duas horas da manhã. No dia seguinte comuniquei ao Alencar: Coteminas aprovada. Em prioridade A.(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)
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