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Mensagem: Manoel Hygino (Jornal ´Hoje em Dia´)Famintos e sedentosNeste final de outubro, lia as notícias procedentes do Norte de Minas. No distrito de Mingu, moradores retiravam a pouca água ainda restante do rio São Domingos, que de muito não corria pelo seu leito. É a seca de 2008, não a primeira ou a última na história de uma sofrida região.A frase: predomínio de sol, enquanto a meteorologia era mais sem dó: sem esperança de chuva. Os ventos diminuíam. A umidade do ar era baixa. Temperaturas quase alcançavam os 40 graus. Nas Minas Gerais, não no Nordeste; nem no Sahara. A umidade do ar está em índice de atenção. Chega aos 8 graus.Nas cidades maiores, para abastecimento residencial, os caminhões-pipa operam, mas não em número suficiente. Problemas na rede de distribuição geram novos problemas. Na periferia e nas áreas rurais, o jeito é buscar água com lata na cabeça, como nas favelas. As cisternas secam.Espera-se ajuda governamental. O ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central anunciam medidas para irrigar... o mercado do crédito brasileiro. E o presidente não acreditava em crise.A União anuncia que o crédito para a agricultura será elevado em cerca de 3,5 bilhões de reais. Da terra ainda vem grande parte da produção nacional. Veja-se o saldo da balança comercial.Mas aqueles pobres coitados do recôndito interior mineiro mal sabem assinar o nome, quando sabem.O tempo passa, os dias correm, há notícias pelo rádio ou pela televisão de chuvas próximas aqui e ali, no Sul de Minas - onde elas chegam primeiro, no Triângulo - grande produtor agrícola, em outras regiões do Estado, mas para o Norte as perspectivas assombram.O gado morre, não tem o que comer, muito menos o que beber. Carcaças se vêem, a gente da roça lamenta, as mulheres fazem promessas, as crianças choram, para elas também a água rareia.São Pedro não abre as torneiras. Estaria de mal com os homens? Principalmente com esses, que vivem quase à margem da sociedade?Setembro chegou e para esse mês há sempre esperança de chuvas no sertão mineiro. Elas não chegaram, morrendo o gado e as hortaliças, mas resistindo fímbrias de confiança nos dias seguintes. Outubro veio e se vai, mas a natureza regateava o prêmio maior de que vasta região do Estado necessitava.Sobrevivia-se de caminhões-pipa, para escassas áreas, porque ao morador da roça raramente eles lá chegam, e da resumida água das cisternas e das cacimbas. Mesmo em setores do Jaíba, em que se implantou um extenso sistema de irrigação, faltou água.No Brasil, quando se fala em seca, invariavelmente a atenção se volta e se concentra no Nordeste brasileiro, que exporta para o Sul milhares e milhares de pessoas todos os anos, por falta de oferecimento de condições adequadas para manutenção do homem em sua área de origem.O Nordeste manda seus homens e mulheres para o Sul, mas aqui também não há nenhum vale de Canaã. O cidadão que se esforça e se sacrifica, todos os dias, desde quando nascem os primeiros raios solares, enfrenta obrigatoriamente os desfavores e a inclemência das estiagens, longas e dolorosas.O clima nordestino veio para cá. Há décadas e décadas, identificou-se a desertificação, que continua inexoravelmente, fenômeno que os governos não souberam ou não quiseram, ou não puderam?, conter. Recursos que sobram a atividades secundárias são consumidos, enquanto faltam para suprir necessidades vitais. Em verdade, ainda se morre de fome e de sede.
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