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Mensagem: Ontem de tardinha, quando nos Estados Unidos as urnas já se abriam para a escolha do primeiro negro a ocupar o cargo mais importante do mundo, o materialmente número 1, uma mulher negra e supostamente anônima cruzava o centro de M. Claros. Carregava na tarde sufocante uma garrafinha de água, cumprimentava a todos; mas não disfarçava com os passos débeis certo cansaço e desconforto com a noite que já se prenunciava novamente muito quente, áspera mesmo. Seu nome - pouco sabido - é Antônia Colares. A vida inteira ela entregou à Santa Casa, servidora indistinta de ricos e de pobres. Benemérita incomum. Filha de Maria da Paixão, cujo nome tudo adianta e sugere, pois carregou sobre si uma profecia de dor - a par de ser a bondade no nível mais alto. Sobre Tonha: um dia, esta cidade se levantará, cedo ou tarde, para publicamente pedir desculpas e lembrar o butim que sofreu, ao ser despojada de parte do seu humílimo quintal, que não reclamou de volta. Ao contrário. Quintal sacrificadamente aterrado e conquistado de um leito seco de rio, com o suor e as lágrimas de sua mãe, uma viúva de Grão Mogol de méritos tão intensamente fulgurantes quanto os da filha. Maria da Paixão - mãe de incontáveis filhos, e de todos os que dela se aproximaram, e que nela tiveram a chance rara de tocar a luz possível deste mundo.
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