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Mensagem: O Encontro dos SessentõesEntusiasmo, nostalgia, lembranças, choros e risos foram os ingredientes que deram o tom no “Encontro de Sessentões”, batizado assim, numa referência à idade dos organizadores do evento. Nada tão regimentar, pois a informalidade é a regra número um dessa turma. Desse modo, receberam calorosa e carinhosamente os mais jovens, que decidiram embarcar na aventura. O encontro trouxe à Montes Claros sexagenários residentes em Brasília-DF, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e avizinhou a gente de Montes Claros, que pouco se vê, mas que permanece unida pelos laços inquebrantáveis da amizade. Uma missa, no sábado pela manhã, deu início às comemorações. O local escolhido para a celebração foi a Capela do Colégio Imaculada, cravada no meio da Coronel Prates, que à menor citação, reaviva a doce memória de quem por lá, registrou parte de sua vida. E estes generosos contadores de histórias o fazem tão bem, que um simples relato coloca no cenário, pessoas que não viveram os momentos de ouro, fazendo-os personagens de um mesmo filme. A festa se estendeu sábado adentro e culminou numa confraternização de amigos, na tarde de domingo onde cada um pode conhecer e apreciar trabalhos dos amigos e colegas. Geraldo Maurício, o Nenzão, descendente de Tiburtina, mesmo morando em outra cidade, foi o fio condutor de toda a festa, amparado pelos amigos de Montes Claros, que não mediram esforços para a concretização do tão sonhado encontro. Aqui, merece glória a participação fundamental de Virgínia de Paula, incansável, otimista, dedicada, ciente de que tudo resultaria num emocionado “encontro de amigos”. Merece citação também o empenho de Raphael Reys, cronista deste Mural, membro da turma e defensor do evento. Igualmente realizador, o Paulo Henrique Souto, aclamado divulgador de todos os “montes-clarenses-cariocas” na área artística, autor de “Aníbal, o carroceiro”. Não poderia deixar de registrar que o Paulo Henrique é queridinho dos artistas no Rio de Janeiro. Devo a ele, a realização de minha sonhada entrevista com a Elke Maravilha, no Rio, quando, por ser sua amiga, fui recebida com toda pompa pela artista. A idéia de reunir os sessentões, dizem, veio lá de trás, no aniversário do querido Picolino, comemorado em Belo Horizonte. Daí partiu a necessidade dessa turma, de novamente se unir em lembranças e solidificar o que sólido já nasceu. Mas quem melhor falaria desses amigos e dessa festa, que não a dona Ruth Tupinambá? Participante direta do nascimento desses meninos e meninas, já que dois de seus filhos compõem a chamada “Turma dos Sessentões” -vale lembrar também que a turma, democrática, aceita uns mais e outros menos sessentões- “vó Ruth”, lúdica e jovem mãe de Alberto Graça, o cineasta, e Armênio Graça, o músico, deu charme ao encontro e abusou de sua “graça”, ao desenhar com perfeição o retrato da origem e perpetuação dessa turma. O texto que se segue, é de autoria dela, da jovem Ruth Tupinambá, escritora das melhores que essa terra produziu e que aos 92 anos bem vividos, encontra tempo para resgatar a memória de uma cidade e disseminar sabedoria entre seus habitantes. Meus queridos ouvintes: Espero que tenham paciência para ouvir-me. A missa de ontem e este encontro de hoje, sensibilizaram-me profundamente e não poderia deixar de externar o que sinto, no outono da minha vida. Mas a cabeça ainda está boa e as lembranças, vêm na minha retina como um filme, que vimos na nossa infância e do qual jamais esqueceremos. Recordar é viver... Recordar é trazer, para o presente, o que nos aconteceu no passado.É nos lembrarmos de passagens que marcaram nossas vidas e povoam nossa s mentes, deixando-nos com muita saudade. Hoje estamos reunidos aqui (eu, como convidada), com essa “turma de 60”, voltando anos atrás para abraçar os colegas e comemorara entre amigos e parentes, este encontro. E o que fazem estes saudosistas? Recordam, com o coração cheio de saudade, um tempo bom de amizade e companheirismo que passou, cheio de alegrias, sonhos e esperanças, lutas e glórias. Hoje, no topo dos meus 92 anos, posso ajudá-los e curtirmos juntos essas lembranças. Nossa cidade era pequena, simples, longe da civilização, esquecida pelos nossos governantes, neste nosso imenso sertão, mas extremamente tranqüila e solidária. As famílias se comunicavam. Encontravam tempo para visitar os amigos, vivendo felizes, como uma só família mineira. Neste ambiente de paz e amor, vocês cresceram. Eu me lembro de todos desta turma. Anos depois, já crescidinhos, alguns freqüentavam a nossa casa, colegas do meu filho Alberto. Na nossa cidade não existia um Centro Cultural e esta turma (já na adolescência), nesta fase maravilhosa, quando sentimos o coração cheio de sonhos e esperanças, queria crescer, ávidos de cultura e conhecimentos. Aí então é que surgiu o milagre e a oportunidade para esta inteligente turma. Quero contar uma pequena e oportuna história: Há muitos anos atrás e há tempos atrás, existiu aqui nesta cidade uma turma de amigos, que freqüentavam certa casa situada na rua Afonso Pena, n° 174. Era a casa de “seu” Flávio Maurício e “Dona” Zezé Queiroz, que generosamente, acolhiam em sua sala de estar, estes rapazes ávidos de vida. Lá se acompanhava os momentos cruciantes da política brasileira, antes e depois do golpe de 1964. Quem é de esquerda, ou de direita? Comunismo versus capitalismo. Cuba, Che Guevara, Fidel. O que fazer? Como fazer? Participar! Lá, na sala de estar de “Dona Zezé”, chegou para os rapazes, Marx, Sartre, Marcuse, a poesia de Vinícius de Moraes, a música de Tom Jobim, o violão de Baden Powell, o melhor jazz do momento, música africana, música latino-americana, canto gregoriano, música russa, Mozart, Villa Lobos. Mas não faltava a música do sertão! Zezinho da Vila era sempre ouvido! E para serenar as dúvidas e esclarecer os espíritos, Bach! A grande música de João Sebastião Bach. O órgão de tubo, ressoava a Tocata e Fuga em Ré menor, na serena tardinha montes-clarense, ouvida pelos “rapazes”. Enquanto isto, em um pequeno “coité”, com ar solene e compenetrado, sorviam a magnífica cachaça “Doidinha”, feira por Flávio Maurício na Fazendinha do Pequi, cachaça que nunca faltava. Havia também as “moças”. Lindas, modernas e misteriosas. Musas inspiradoras da paixão e do desejo! “Se você quer ser minha namorada...”, tocava sempre na vitrola para inspirar, criar o clima e conduzir o romance. Era um verdadeiro centro cultural, trans, multi, pluridisciplinar. Cultural e sensorial! Lá também se discutia o cinema novo. Glauber, Nélson Pereira, Roberto Santos. E a turma via todos os filmes e depois ia para a Afonso Pena, para a “sala de dona Zezé”, discutir e aprofundar os temas da linguagem cinematográfica. Havia o Ray Colares, com o seu sorriso enigmático de mandarim chinês e que a todos encantava com a sua pintura. A linda voz de Aline Mendonça, varando e rasgando a madrugada fria do sertão como um estilete. E muitos outros que lá estiveram, e que já não estão mais. Mas há ainda um ponto a ressaltar. Nada disto teria sido possível, ou acontecido se não tivesse havido uma pessoa que a tudo isto possibilitou. Vou tomar de empréstimo da ciência, o nome de um processo químico para melhor me explicar. O nome é catalisador. O catalisador é uma substância que modifica a velocidade de uma reação química. Que a estimula ou dinamiza. É o caso, portanto. O nosso catalisador cultural, e porque não dizer, social, que a tudo isto possibilitou, tem nome e sobrenome. Nome não de substância química, mas de sustância humana da maior qualidade, proveniente de duas das mais tradicionais e importantes famílias que fundaram e fizeram Montes Claros, e as quais sou muitíssimo ligada pelos laços do afeto e das felizes memórias da minha infância! O nome dele é: GERALDO ANTÔNIO DE QUEIROZ MAURÍCIO! O Nenzão! O nosso Nenzão! Pela sua generosidade, empenho, poder agregador e formação humana, e mais que tudo, pelo seu grande e generoso coração norte-mineiro, possibilitou o surgimento, anos atrás, do que hoje anos depois, resiste, viva e pulsa! Comemoremos! Este catalisador cultural não parou por aí! Nenzão continuou em Montes Claros com a mesma generosidade e empenho, e por sua casa passaram outras gerações, inclusive a do meu outro filho, Armênio. Nas férias apareciam sempre Carlos Alberto Prates, Augustão “Bala Doce” e outros desta turma, que já estudavam fora, mas vinham ao “reduto cultural” se abastecerem de informações. E outro detalhe: se não fosse o Nenzão, nada disto aconteceria hoje, aqui. Ele idealizou e realizou este encontro. Lutou, se esforçando para reunir colegas e amigos! Anos depois, esta turma já não é a mesma, na aparência. Desculpa-me pela observação: alguns perderam sua elegância adquirindo uma “indiscreta barriguinha”... Outros já perderam a bela cabeleira, mas se transformaram em “irresistíveis carecas”!... Para completar, outros tantos estão mais felizes ainda, carregam ao colo os netinhos, cão os eternos vovôs coruja. E a vida continua.... Parabéns! Vocês merecem toda minha admiração. Uma salva de palmas para todos!
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