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Mensagem: (Do livro ´Por Cima dos Telhados, Por Baixo dos Arvoredos´ - Parte 58)UM PATRIMÔNIO DA COMUNIDADELuiz de Paula Ferreira(Publicado no DIÁRIO DE MONTES CLAROS, por ocasião da inauguraçãoda COTEMINAS, em maio de 1975) Duas atividades se revelaram básicas para a formação da economia do Norte de Minas - a pecuária e a cotonicultura. Uma e outra vieram do Nordeste, mais especialmente da Bahia. O boi, trazido pelo Capitão Antônio Guedes de Brito (1626/1695), em meados do século XVII. E o algodão na esteira do boi, para vestir o vaqueiro e suplementar a alimentação dos rebanhos. Não faz muito tempo, comprava-se nas feiras de Montes Claros, como talvez ainda hoje se encontre em localidades mais ao norte, o pano grosso de algodão, fiado e tecido nos fusos e rocas de madeira das velhas fazendas do sertão norte-mineiro. O boi era vendido em pé, a princípio para a Bahia e para as zonas de garimpos, e depois para as charqueadas e frigoríficos de Minas, do Rio e São Paulo. O algodão era transportado “in natura”, nos primeiros tempos para Minas Novas e posteriormente para Santa Luzia e Curvelo, passando depois a ser descaroçado na própria região para fornecimento às fábricas de tecidos do centro-sul. Há 10 anos passados, era ainda essa a situação que predominava. A idéia do aproveitamento industrial do boi e do algodão, na própria área de produção, só pôde encontrar condições de viabilizar-se após o surgimento da Sudene e da chegada da energia da Cemig. Para abater o boi e industrializar a carne foi organizado o Frigonorte, o primeiro projeto de Minas a ser aprovado na Sudene. Representou o cometimento um admirável esforço de toda a região, que soube compreender o alto significado da implantação do frigorífico para o desenvolvimento da pecuária no setentrião mineiro. A idéia da fábrica de tecidos também criara corpo. Um grupo de empresários locais foi a Recife e Fortaleza estudar a viabilidade do projeto junto à Sudene e ao Banco do Nordeste, sendo-nos assegurado, desde logo, tanto da parte do Banco quanto da Sudene, total apoio. Todavia, ao ser aprovado, em seguida, o projeto do frigorífico, somaram-se os esforços das lideranças regionais em torno do empreendimento pioneiro e eu próprio assumi uma de suas diretorias até o final da implantação. Àquela altura a Sudene era ainda pouco conhecida em Minas Gerais. Grande parte dos mineiros não se dava conta de que cerca de 1/5 do território do Estado estava inserido na área de atuação da Sudene. Havia a necessidade de um amplo trabalho de esclarecimento e se aguardava que o Governo tomasse a iniciativa. Foi quando se ofereceu a oportunidade para que a própria região beneficiada desse sua participação. Durante um ano, de 1965 a 1966, coube-me percorrer quase todo o Estado de Minas Gerais, na qualidade de Governador de Rotary. Mandei imprimir material informativo, e em todas as cidades que visitava e cujas lideranças reunia, por força do cargo, divulguei o que era a Sudene e o quanto representava para Minas Gerais a importante agência de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, explicava a legislação de incentivos fiscais e oferecia informações sobre o potencial da área mineira da Sudene e sobre os empreendimentos mais viáveis. O interesse despertado por essa divulgação, não obstante suas deficiências compreensíveis, foi recompensador. Muitos empresários vieram a empreender, mais tarde, na região, ou passaram a encaminhar seus recursos para projetos mineiros. Nessas viagens foram também estabelecidos os primeiros contatos com aqueles que seriam mais tarde meus companheiros no projeto da Coteminas. O industrial José Alencar Gomes da Silva e o engenheiro Ivan Muller Botelho. Ambos mineiros e do interior, como eu próprio, e ambos igualmente empolgados pelo setor têxtil. Sem eles e sem o apoio dos quase 15.000 acionistas que confiaram em nós, o empreendimento não teria sido possível. Optamos por uma fábrica integrada (fiação, tecelagem e acabamento), de concepção ultra-moderna, para produzir tecidos de alta qualidade, muito embora essa escolha representasse sacrifícios muito maiores em sua implantação. Mas assim fizemos porque tínhamos a atenção especialmente voltada para o mercado interno e externo. Daí nos definirmos por equipamentos mais custosos porém tecnologicamente avançados, capazes de produzir tecidos com qualidade de padrão internacional, ao mais baixo custo de produção possível no País. Para poder competir em qualidade e preço. Enfim uma fábrica que mais facilmente pudesse encontrar mercado para seus produtos aqui e no exterior. E, portanto, capaz de operar lucrativamente mesmo em ocasiões de crise no setor. Ai está a Coteminas inaugurando o seu setor de fiação. Os outros estágios de sua implantação agora se sucederão em curto prazo. Nós, os construtores da Coteminas, estamos realmente muito satisfeitos. Sua implantação está abrindo um grande campo de trabalho na região. Esperamos que ela represente o primeiro passo para a formação de um pólo têxtil nesta parte do Estado. Onde é farta a matéria prima e a mão-de-obra é abundante e facilmente adaptável à indústria. Com incentivos especiais da Sudene, do Governo do Estado e do Município. Em torno da Coteminas se agruparão atividades afins e em razão de seu funcionamento e por sua atuação direta, com projetos próprios, se caminhará para a melhoria da qualidade do algodão produzido na região. Alguém já disse que não somos donos de nada. Tomamos conta de alguma cousa, durante algum tempo. Em realidade, constrói-se para a comunidade. Ai está a Coteminas. Uma conquista de Montes Claros. Um patrimônio irreversível da área de atuação da Sudene em Minas Gerais.(continuará, nos próximos dias, até a publicação de todo o livro, que acaba de ser lançado em edição artesanal de apenas 10 volumes. As partes já publicadas podem ser lidas na seção Colunistas - Luiz de Paula)
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