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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 19 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A ESCOLA TÉCNICA VAI MUDAR?
José Prates
A Senhora Vanessa foi matricular o seu filho na Escola Técnica, no Alto de São João, um bairro de Montes Claros, norte de Minas, e ficou surpresa em saber que essa escola ia ser retirada dali, mudando pra outro local. Isto, por interesse do ensino? Não. Simplesmente porque o tráfico de drogas tomou conta da área e é uma ameaça à segurança dos alunos e dos professores, tornando a escola inviável naquele lugar. Então, é mais fácil a escola sair dali, satisfazendo por medo o interesse dos bandidos, do que combatê-los com severidade, para permitir o funcionamento do estabelecimento de ensino necessário à educação da juventude. Imaginem uma Escola Técnica com centenas de alunos que se preparam para o mercado de trabalho, sacrificada porque o maldito tráfico impede o seu funcionamento. Ai está a impotência do poder público frente ao crime organizado que se expande no país, beneficiado pela impunidade e falta de estrutura na segurança que não recebe o investimento adequado ao seu perfeito funcionamento na segurança do cidadão. Segurança ninguém vê, sente. Não é um objeto palpável como a ponte sobre o rio tal, ou o calçamento da rua tal, por isso não dá voto. Se não dá voto não é importante e deixa de ser prioritária como ação de governo. Todo mundo fica, então, à mercê do bandido que instalou um poder paralelo em cada grande cidade e funciona à margem da lei, apoiado pela ganância e desonestidade de alguns. A ousadia desses traficantes chegou a tal ponto que no dia das eleições, no Rio de Janeiro, soldados do Exército Nacional postados na favela para garantir o pleito, assistiam passivamente, “soldados” do tráfico desfilando nas ruas, de metralhadora na mão. A imprensa fotografou tudo e a televisão exibiu. Como se aquilo fosse uma ação perfeitamente normal, ninguém veio a público para dar ao povo, pelo menos uma desculpa.
O país está numa guerra civil interna e nessa guerra cruel já morreu mais gente que na guerra do Vietnam, segundo dados oferecidos pelo IBGE. Morre mais inocente que culpado, porque bala perdida não tem destino. É uma guerra que ninguém sabe onde fica seu quartel general, se aqui ou ali. Instala-se em qualquer cidade grande e Montes Claros é uma cidade de 350 mil habitantes que, como as outras, não tem segurança pública capaz de garantir a tranqüilidade do cidadão. Vocês sabem quantos policiais existem na cidade para segurança da população? Pelo que informam, é menos de um para cada mil habitantes. Aliás, não está fora do padrão das grandes cidades, não. Essas, também, não chegam a ter um policial para cada mil habitantes, quer seja Rio, São Paulo ou Belo Horizonte. Em todas essas cidades, a culpa dessa guerra recai sempre nos favelados e moradores de rua e parte da sociedade prega contra eles. Em sã consciência podemos atribuir ao favelado ou morador de rua a capacidade econômica de importar armas e drogas, quando não têm, sequer, condição financeira para um prato de comida? Alguns setores da sociedade que se postulam como democráticos, mas que agem com o autoritarismo fascista, pensam que sim e estimulam o sacrifico dessa gente, nas investidas policiais. É importante ressaltar e deixar bem claro que não é exterminando moradores de rua ou favelas que elimina a pobreza e a violência, porque não são eles os responsáveis pela criminalidade e o narcotráfico. É exatamente o contrário: o comércio de armas e drogas se alimenta parasitamente do descalabro social e da pobreza atávica das camadas mais frágeis da sociedade. É ai que vão buscar os serviçais de apoio, os “soldados” que desfilam de armas ao ombro, satisfeitos com as migalhas que lhe oferecem, enquanto o esteio está bem distante e bem protegido, vivendo faustamente dos lucros obtidos e a salvaguardo das investidas policiais que não chegam aos arranha-céus. Mas, isso é próprio do capitalismo que necessita de um perdedor para que o outro sobressaia pisoteando-lhe a cabeça. Esse perdedor é o favelado, o morador de rua que recebeu de herança a pobreza dos pais que, também, foram pisoteados e escravizados por um pouco de comida posta numa lata de goiabada, apanhada no lixo. É engano imaginar que o confinamento extremo da pobreza resultará na diminuição da violência, com o estado declarado de guerra urbana. Se assim pensamos, estamos convidando a barbárie a se perpetuar entre nós. O que deve ser feito não apenas pelos governantes, mas, pela sociedade em conjunto, são obras sociais que garanta ao pobre a assistência necessária ao seu desenvolvimento com a libertação do estado de miséria. Não é lhe dando um prato de comida nem uma roupa velha, mas, uma assistência efetiva, não como esmola, mas como dever. Hoje, nos grandes centros, o que vemos em quantidade surpreendente, são vagas de emprego sem preenchimento, por falta de trabalhador capacitado para elas. A maioria dos desempregados que vagam pelas ruas são semi analfabetos. Nesse caso é ao Estado que compete solucionar o problema com escolas e incentivo áqueles que necessitam de alfabetização, conduzindo-os ao aprendizado. Não é lhes tratando como marginais da lei, mas, como gente, como cidadãos, que vamos recuperá-los e integrá-los à sociedade. Se assim fizermos, possivelmente a violência diminuirá.


(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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