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Mensagem: O PEQUI CHEGOU-ME ÀS MÃOSJosé Prates Bastava ouvir o nome pequi pra me encher a boca d’água. Ainda hoje, isto acontecia até que “o carteiro chegou e meu nome chamou com...” um SEDEX na mão. Estava em casa e fui atendê-lo. Recebi o pacote e curioso, procurei sua procedência e lá estava escrito: Montes Claros. Pequi! Foi o que me veio à mente. Pois era isso mesmo, com casca e tudo. Quem mandava? Uma amiga tão querida que naturalmente em sua casa, almoçando, ao saborear o arroz com pequi, lembrou-se de mim. Olhei para o alto e agradeci a Deus por essa amizade sincera e gratificante que me veio pela internet. Não propriamente pelo pequi que me chegava às mãos, mas, pelo carinho, pela sinceridade e dedicação ao amigo distante o que é próprio do mineiro, principalmente do sertanejo que é sincero por natureza. Reuni a família presente: minha esposa, eu e dois netos que acabavam de chegar. Abrimos o pacote e os pequis em casca apareceram. Os netos não conheciam a fruta. Expliquei-lhes com detalhes, desde o pequizeiro nativo do cerrado, até os seus subprodutos, como o óleo, o licor e a castanha. Obviamente, foi necessário explicar-lhes o que é cerrado, o que foi feito por minha esposa que falou sobre as arvores baixas, o capinzal rasteiro e o verde que resiste a falta de chuvas. Aproveitei a presença do pequi para falar aos netos sobre a riqueza do cerrado numa biodiversidade que nos oferece frutas como Araticum, buriti, cagaita, ingá, jaboticaba, jatobá, mangaba, pitanga, pitomba, pequi e umbu, explicando-lhes o formato de cada fruta, o seu sabor e a sua qualidade nutriente. Expliquei-lhes que são frutas de nomes estranhos, ilustres desconhecidas da maioria dos brasileiros, mas que deveriam estar entre as vedetes da alimentação saudável. É uma riqueza imensa que alimenta uma população, cuja longevidade ultrapassa a média nacional, exatamente pela alimentação saudável e conveniente que encontra na diversidade vegetal do cerrado. Mas, lamentavelmente, essa riqueza em muitos lugares é jogada fora ou destruída pela impiedade e ignorância ecológica de lenhadores que esquecem a importância dessa vegetação na natureza. Arvores e mais arvores principalmente o pequizeiro e o jatobá são ceifados para o comércio de lenha. Na área de Montes Claros, segundo eu soube, uma lei municipal proíbe o corte dessas árvores. Enquanto falava aos netos, a minha infância aflorou-me à mente e me vi descalço e sem camisa, correndo pelo cerrado procurando umbuzeiro carregado de frutos amarelados ou subindo na jaboticabeira para apanhar a fruta que nasceu no galho. Minha avó não me deixava comer cagaita porque essa fruta causava embriaguez. Diziam que até os animais que a comiam ficavam embriagados. Araticum ou cabeça de negro de cheiro forte que o denunciava ao longe, uma espécie de pinha, saborosa e nutriente, rica em vitamina c. Não me lembro como é a sua arvore. Jatobá... Nunca gostei dessa fruta. Um cheiro enjoativo e difícil de ser degustada. Mangaba, fruta gostosa e rara. O leite que sai do tronco da mangabeira talha e torna-se uma espécie de borracha muito utilizada pelos nativos da região, que a utilizam onde há necessidade da borracha propriamente dita. É muito grande a variedade de frutas no sertão mineiro, parte do sertão baiano, como, também, Mato Grosso e parte do Pará. A época de colheita, por obra da natureza, é distribuída ao longo do ano, o que garante ao nativo da região, sem solução de continuidade, uma alimentação natural, extraordinariamente saudável o que lhe garante saúde e longevidade. Os netos ficaram impressionados com o relato e mostraram o desejo de conhecer a terra de seus avôs. Um dia iremos, prometi. Depois de cozido o pequi, recusaram a comê-lo. (José Prates, 81 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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