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Mensagem: Retornando... Passei semanas inteiras tentando descobrir que assunto abordar neste retorno. Foram dias e dias com a folha em branco a desafiar-me e nada conseguia. A chuva, praticamente em tempo integral, concorria para o desânimo em sair de casa. Hibernando com um urso, me postei ante a televisão e, tome noticiário! Genocídio na faixa de Gaza – crianças, mulheres, velhos e jovens – abatidos sem piedade. Hoje o Deus é o mercado, reduzem-se os valores, fala-se demais, ama-se raramente e odeia-se com muita freqüência. Mais forte que o massacre de Gaza, mais forte que a posse do Presidente Barack Obama, a crise econômica dos E.E.U.U, com seus tentáculos, tomou conta do mundo. Como de economia só entendo que não posso gastar mais do que ganho, achei que seria um bom momento para aprender alguma coisa do “economês”. Cada economista expunha sua teoria sobre essa convulsão que abala o mundo. Bolsa sobe, Bolsa despenca, bolha imobiliária americana arrebenta, desemprego, bancos quebram, “stread” – que bicho é isso? - será a repetição de 1929? Quando percebi, senti-me envolvida por um pessimismo que criava um vazio mental. E, descobri que era o lamento, o choro da alma, e, é a ela que precisamos dar ouvidos. Como vivemos no país de Alice das maravilhas, nosso dirigente maior apregoava para nós brasileiros que a crise seria apenas uma “marolinha”... “Claro que acreditei”...vivendo numa ilha da fantasia, existe no Estado de Minas Gerais um tropical Vale do Loire, onde se construiu um imenso castelo medieval, com jardins no estilo francês, financiado pelos vassalos brasileiros do nobre senhor feudal! Um conflito entre o princípio número um da sociedade em que vivemos – ganhar dinheiro, aceitar a corrupção – e os valores que sedimentam nossa existência tomou conta de mim. O desalento, a frustração, a angústia paralisaram-me. Neste momento lembrei-me de uma frase de Frei Betto em que ele diz: “Acolher-se ao silêncio interior é sempre um excelente ponto de partida.” Dei-me um tempo. Continuo sendo dona e senhora da minha vida, é de mim mesma que depende o futuro, a minha saúde, as coisas que elegi sozinha. Da minha liberdade cuido eu! Fui à locadora e aluguei o filme “Ao entardecer”, indicado pro minha filha. Foi como uma aragem que levou para muito longe a frustração, o medo de uma epidemia que faz com que a todo momento sintamos que a morte nos ronda. O filme exalta o direito de recordar situações do passado com delicadeza, o direito de mergulharmos em lembranças que nos reconstroem. O filme enfoca marcas que carregamos pela vida, um passado de suspiros e nem sempre de sonhos realizados. Uma forma corajosa de enfrentar a vida. Os tempos mudaram. O bem comum, a moderação, a simplicidade não são objetivos atuais. Perdemos as pequenas delicadezas do dia-a-dia: sentar para tomar um café, escutar Caetano e Roberto Carlos cantando juntos, ver o pôr-do-sol. Perdemos a magia, o encantamento, as relações de parceria e solidariedade. A felicidade é de quem se satisfaz com aquilo que tem. É agradecer a Deus por tudo de bom e ruim que acontece em nossa vida. Aí sim, qualquer coisa que vier é de bom tamanho. Não se pode ser completo, ter tudo nesta vida. Em tempo: A felicidade não se compra, ou os americanos não estariam nessa. Faça do limão da crise uma limonada, mas lembre-se: viver é muito mais! Sintetizando esse momento, nada melhor que poema de Fernando Sabino:“De tudo ficaram três coisas:A certeza de que estamos começando...A certeza de que é preciso continuar...A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.Portanto, devemosFazer da interrupção um caminho novo...Da queda, um passo de dança...Do medo, uma escada...Do sonho, uma ponte...Da procura, um encontro!”Carmen Netto Victória, Fevereiro de 2009.
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