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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Muito triste esta notícia de que morreu Tone Pinguim. Coincidência que tenha morrido nos 40 anos da chegada do homem na lua? Creio que não. Tone Pinguim, com a poesia a seu modo, era algo lunário. E bom, sempre bom, divertido, amável e áspero. Lembro-me quando chegou na antiga avenida Coronel Prates, assim semelhante de quem foi despejado de um caminhão pau-de-arara. (Não esta vexada avenida coronel Prates, simulacro da outra, tocaiada para servir a um supermercado. Não, não esta!) Era um homem, um homem jovem, acompanhado de mulher e de uma penca de filhos. Ficaram num apartamento térreo alugado de Simeão Ribeiro,bem na frente da casa de dr. Luiz Pires, de seu Ernesto da Papelaria Barroso. Era menino que não acabava mais, uma escadinha completa. (Um deles, ou delas, morreu em S. Paulo, de doença incurável; foi triste demais, Tone Pinguim vindo de kombi, trazendo o corpo, na companhia, creio, de Raimundo Chaves) Depois, ao lado, abriu a sorveteria que o tornaria célebre na cidade - e onde outro poeta, compositor, pintor, Godofredo Guedes, pai de Beto, pai de Patão, ia às tardes ensolaradas trocar belas coloridas saudosas pinturas por picolés também coloridos... M. Claros terna e romântica. O resto da história de Antônio Pinguim é sabido. Viveu, sofreu, amou. Parte cercado de uma olhar de admiração que segue os homens bons. Será contado entre eles. Entre os poetas que passaram por estas ruas, que já reclamam de sua ausência, do seu jeito bom, humano, montesclarense até. Por fim, creio que para esta ausência cabe a poesia de um seu colega poeta, um tão bom quanto o outro: Lembrança de Morrer Álvares de Azevedo Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente. E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento: Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro, – Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade – é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas… De ti, ó minha mãe, pobre coitada, Que por minha tristeza te definhas! De meu pai… de meus únicos amigos, Pouco - bem poucos – e que não zombavam Quando, em noites de febre endoudecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda, É pela virgem que sonhei… que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores… Se viveu, foi por ti! e de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo… Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta - sonhou - e amou na vida. Sombras do vale, noites da montanha Que minha alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe canto! Mas quando preludia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosque, abri os ramos… Deixai a lua pratear-me a lousa!

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