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Mensagem: Um Casamento PlanejadoRuth Tupinambá GraçaNossa cidade progredia. O trem de ferro trazia, diariamente, gente nova e como a cidade era pequena, os visitantes eram bem vindos e a moçada, cheia de sonhos e esperanças aguardava a vinda do “Príncipe Encantado” para tirá-las do “barricão”.Certa vez, com a graça de Deus, o trem de ferro (hoje já extinto) trouxe dois viajantes muito alinhados e interessantes, para nós “casadoiras:Armênio Graça e Aluízio Pinto.Vindos da capital eram protótipo da elegância e diplomacia.As moças se alvoroçavam e cada qual se empenhava mais em conquistá-los e as mães também interessadas em casar suas “donzelas”.Houve muita disputa e também decepções, mais como é certo aquele ditado:“O que é do homem o bicho não come”, os visitantes recém-chegados, abandonando todo cortejo das interessadas “caíram de para quedas” nos braços de duas fortes concorrentes: Ruth e Luiza.Houve muita reação das candidatas, ate ameaças, mas o cupido estava do nosso lado e a nosso favor.O meu escolhido Armênio Graça era um “gentleman” educadíssimo.Elegante e bonito, moreno de olhos azuis (um pedaço de mal caminho) que não resistiu aos encantos da “índia” montes Clarense. Ele possuía uma rural azul e branca (naquele tempo em que os carros eram escassos em nossa cidade) e motorizado subia e descia a rua Dr. Veloso (onde eu morava) milhares de vezes, buzinava e eu corria para vê-lo.Certa noite (bendita noite) escutei a buzina. Eu e Luiza chegamos à janela e ficamos assustadas. O carro estava parado poucos metros abaixo da minha casa e os rapazes, Armênio e Aluízio vinham subindo a rua, e de repente, paravam para nos cumprimentar. Houve um “clima especial” e o Armênio calado e desapontado (ele era tímido) não conseguia disfarçar, enquanto o Aluízio foi logo se explicando: “O carro enguiçou, temos que providenciar um mecânico”.Começamos aquele bate papo e o Aluízio foi logo dizendo que estava adorando nossa terra e pretendia ficar, pelo menos enquanto durasse a gestão de seu irmão Dr. Orlando Ferreira Pinto, primeiro prefeito de Montes Claros.O Armênio, mais calado de vez enquando se arriscava a dizer alguma coisa e o Aluízio ajudava “bancando o padrinho”. No final deram a entender que queriam aproximação.A Luiza, antes de ir para casa disse-me: “Acho que o “grandão” (Armênio) está caído por você” e eu retruquei-lhe: Eu acho que o “pequenino” (Aluízo) esta tentado conquistar-lhe.Foi nosso primeiro encontro, daí por diante, outros vieram, o amor tomou conta em breve ficamos noivos.Só mais tarde, meses depois, ficamos sabendo que tudo aquilo foi planejado. O enguiço do carro foi apenas uma desculpa para aproximação, pois o Armênio não tinha coragem de fazê-lo sozinho.O destino se encarregou de promover os acontecimentos. Por coincidência, a Luiza estava comigo naquela noite e o Aluízio não resistiu ao seu jeito simples de sertaneja e formosura em pessoa, logo se apaixonaram.Os noivos logo se oficializaram e os casamentos demoraram um pouco... é que os dois solteirões, já mais velhos não queriam perde a liberdade e iam adiando o casório. Nenhum deles queria se casar primeiro, enquanto o outro permanecesse solteiro. Mas na vida “há sempre um dia” e abrindo a folhinha de 1939, os dois foram passando a página e chegando ao mês de junho contornaram o dia “15 de junho” (em vermelho) chegando finalmente a conclusão: Seria naquela data 15/06/39 os nossos casamentos, no mesmo dia, na mesma igreja.Eu e Luiza começamos os preparativos para o grande acontecimento: Convites, organização da festa, decoração da igreja, musica, bufê, flores e o celebre vestido de noiva, com tudo a que tínhamos direito: Véus, grinaldas com flores de laranjeira (símbolo da virgindade e tabu daquela época) contando os dias com muita ansiedade.O Armênio não tinha férias naquela data, (era funcionário de uma empresa americana), portanto não viajaríamos na nossa lua de mel.O contrario se deu com o Aluízio, conseguiu uma licença com o irmão na prefeitura.Luiza e Aluízio se casaram pela manhã, fomos padrinhos dos e a Luíza estava lindíssima no seu vestido de noiva e os dois não escondiam a felicidade de estarem vivendo aquele momento inesquecível.Mas quando o trem de ferro já estava bem longe, o casal de pombinhos, desfrutando o grande momento (emfim sós) o Aluízio teve aquele estalo e de repente disse: “E se o Armênio não se casar hoje”?...A Luiza, com muito jeitinho disse-lhe: _ “Agora é tarde meu amor. Estamos amarrados para sempre, no católico e no civil... até que a morte nos separe.À noite, chegou a nossa vez, (trato é trato) na mesma Igreja do rosário entrei pelo braço do meu pai. E modéstia á parte estava linda e feliz, ao lado do meu eleito, muito elegante no seu traje especial: calça listrada e palitó de mescla inglesa, o traje mais chique da época.No altar sob bênçãos do saudoso Padre Marcus Van In, juramos eterno amor, e acreditem, não foi um juramento falso.Dois meses se passaram. Finalmente o casal chegou. Apesar do enjôo da Luiza os dois estava feliz com a vinda da cegonha (que não brinca em serviço) e a perspectiva da chegada do primeiro herdeiro que no batismo recebeu o nome de José Aluízio, tenho como padrinhos eu e Armênio.Logo depois a cegonha bateu a nossa porta e foi com muita alegria que eu também ia ser mãe, e o Armênio todo orgulhoso ia ser papai...E a “cegonha” continuou trazendo outros filhos: Norma, Márcia, Ana Ester, Nara, Alberto e Armênio Filho.Filhos queridos que nos deram muita alegria e se multiplicaram, ate hoje, em 16 netos e 15 bisnetos que são nossa alegria e felicidade.(N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).
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