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Mensagem: A MINHA MONTES CLAROS JOSÉ PRATES Às vezes, principalmente ao final do ano, penso em fazer uma visita a Montes Claros de onde me ausentei há sessenta anos para viver no Rio de Janeiro. Desencoraja-me a certeza de que a cidade, hoje, é outra e naquelas ruas eu me sinta perdido, sem noção de onde estou. Conhecidos ali, já não os tenho mais, a não ser meia dúzia de parentes. O Montes Claros que deixei e que tenho na lembrança, não é o que lá está. O lugar onde nascemos e fomos criados ou simplesmente fomos criados até a idade adulta e de lá nos afastamos por qualquer motivo, continua em nossa lembrança como o víamos e o sentíamos então, porque à lembrança convém manter intacto como gravou, aquilo que lhe faz reviver o passado, sem a influência do tempo que a tudo modificou. Assim, Montes Claros está em minha mente. Humilde, com jeito sertanejo; líder sem a pretensão de se impor. Habitantes, eram cinqüenta mil. Hoje são quatrocentos mil que encheram as ruas de novos prédios e deram à cidade outras fronteiras. Sufocou a poesia e destruiu a brejeirice da sertaneja mulata, namorada do sertão, cheia de poesia nas noites de seresta na voz de Nivaldo Maciel e João Leopoldo. Sofreu a ação do tempo que lhe fez crescer para abrigar os milhares de almas que lhe procuram como abrigo. Distante como estou, longe de sua realidade, a Montes Claros que tenho na mente é aquela cheia de encantos e poesia, que lá deixei no passado. A notícia de falecimentos é a que nos chega com constancia: são velhos amigos que se vão e passam a ser nome de ruas e avenidas em logradouros que surgiram, espichando a cidade pra cima e para os lados, criando espaço pra mais gente que chega. Avenida Plínio Ribeiro, Rua Simeão Ribeiro, Hospital Aroldo Tourinho, que homenageiam esses amigos que se foram, não sei onde ficam. É a cidade que não conheço, pedaço que veio depois. Não é esta a cidade de minha lembrança, de ruas estreitas, vazias de povo; a cidade que tinha uma Rua Quinze onde à noite, casais de namorados passeavam de mãos dadas sob a luz das Casas Ramos; a estação ferroviária com a plataforma cheia de curiosos esperando o trem que vinha da capital; a cidade da Escola Normal de onde moiçolas vestidas de Azul e branco saiam ao fim das aulas em alegre vozerio, como o canto de pássaros em revoada; a cidade dos bares movimentados, a servirem o chopp gelado acompanhado do pastel frito na hora, para o freguês acomodado na cadeira de palhinha à mesa forrada com toalha branca. Quem do meu tempo, não se lembra do Foto Pinto na Rua Dr. Santos especialista nos álbuns de casamento que eram guardados como relíquias para, um dia, apresentarem aos que nasceram da união. Quem não se lembra do bar do Zé Priquitim, na Rua Dr. Santos, onde era servido um suculento caldo de cana? Acredito que isto não exista mais. Que eu saiba pelo noticiário, existe ainda, o Café do Galo, trazido de Urandi por “seu” Augusto que, naquele tempo, era humilde, começando devagar a sua caminhada. A velha Praça de Esportes que chegou ao centro da idade ameaçada de extinção, nem sei o que é agora. No passado, era a alegria da juventude com suas piscinas olímpicas, quadras de vôlei e basquete, alegria da moçada. A indústria e o comércio acabaram com tudo isto. As chaminés soltando fumaça e as sirenes que convocam ao trabalho não têm poesia. A sertaneja fagueira, cheia de beleza inocente, não existe mais. Acabou. E aqui eu fico sonhando com o passado. (José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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