Receba as notícias do montesclaros.com pelo WhatsApp
montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 14 de novembro de 2024
 

Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.

Clique aqui para exibir os comentários


 

Os dados aqui preenchidos serão exibidos.
Todos os campos são obrigatórios

Mensagem: A voz que se cala Manoel Hygino (Hoje em Dia) Preferiria que alguém mais habilitado ao comentário o fizesse, hoje. Sugeriria que Roberto Elísio, que tem alma de poeta; ou Antônio Tibúrcio, se ainda entre nós se encontrasse, ambos de Santa Luzia; mesmo o luziense José Bento Teixeira de Salles, com igual sopro de nostalgia quando trata de tema que tanto toca o coração. É que, segundo Raquel Chaves (oh, estes Chaves!) em 13 de agosto - agosto, treze -, Montes Claros perdeu, no começo da tarde, a bela voz de Nivaldo Maciel, o seu último grande seresteiro. Foi fazendeiro, vereador em dois mandatos, mas a sua grande marca foi a voz, que encantou gerações de norte-mineiros. Raquel (eu gosto de citar nomes e sentimentos) observou que a cidade viu partir um dos seus grandes cidadãos. O Grupo de Serestas João Chaves lamentava partir mais uma voz de rouxinol. Nivaldo foi ao encontro dos amigos seresteiros, Hermes de Paula, Raymundo Chaves, Gilberto Câmara, Luís Procópio, Adélia Miranda, Ducho, Virgílio de Paula, Beto Viriato, Telé, João Chaves, o irmão Benedito, e tantos outros amantes da boa seresta. Ouvi, alguma vez, Nivaldo. Alguma vez (ou me engano?) identifiquei-o nas proximidades de onde resido em Belo Horizonte, no Bairro do Cruzeiro. Mas, o que vai definhando, mais que o cidadão, é um estilo de vida, um modo de encará-la e às circunstâncias, uma expressão musical, porque - a cada dia - os cantores de belas músicas de amor, na morna noite de extensas regiões do Brasil. Não sei exatamente porque, mas a fama de serestas ficou atribuída às cidades históricas do circuito do ouro: Diamantina, por exemplo; ou São João del Rei. Mas a modinha estava enclausurada no mais íntimo dos boêmios que há em cada ser humano, aí pelos sertões adentro. Nélson Vianna, escritor de mérito, engenheiro formado pela tradicional Escola de Ouro Preto, culto, nasceu em Curvelo, mas adotou a minha terra natal como também sua. De volta de uma viagem de serviço, a cavalo, à noite, conta o sentimento em que foi envolvido no regresso. Não escapo ao desejo de transcrever-lhe trecho do depoimento: “Quando penetro afinal pelas ruas quase desertas, atento em um ou outro transeunte retardado que apressa os passos para recolher-se a penates. Ah, a quietude desoladora, o silêncio impressionante de uma povoação adormecida!... Mas, não! Chegam-me aos ouvidos sons distantes e harmoniosos de flauta e de violões, vindos de um ponto qualquer que não posso localizar com precisão, mas de que me aproximo, à medida que sigo o meu caminho... Retenho os passos da alimária e observo, a pouca distância, debaixo de uma árvore, meia dúzia de seresteiros absorvidos na afinação de seus instrumentos. Contemplo-os com simpatia, quase com ternura - afinal, são almas sonhadoras, gêmeas da minha - e vou-me afastando lentamente, levado ao capricho do passo vagaroso do animal cansado. E é já entrando na rua do Bate-Ouro, onde fica a pensão em que moro, começo a ouvir a voz bonita, quente e profundamente sentimental do inveterado boêmio José de Siá Deca, quebrando o silêncio da noite enluarada, gemendo as suas penas, cantando a velha e terna modinha que tantos olhos formosos umedeceu, e fez palpitar o coração de tantas e tantas jovens apaixonadas: ‘É a ti, flor do céu, que me refiro, /neste treno de amor, nesta canção...’” A cidade é uma das capitais da seresta, este gênero que se vai perdendo na obscuridade do tempo inclemente. Não nascem mais seresteiros como outrora, restando ali, porém, ainda resistência admiráveis como a do Grupo de Serestas João Chaves, aos cuidados generosos de Lola. Ela, filha do famoso jurista, compositor e instrumentista João Chaves e Maria das Mercês, dá continuação à tradição de bom gosto e sensibilidade que a moderna e rude época que vivemos e vai esmaecendo. Mas nem tudo morre. O escritor Haroldo Lívio recorda que, conforme a tradição, quando se completou uma semana do falecimento do boêmio Silva Reis, um bando de seresteiros aos acordes de flauta e bandolim, cantou à beira de sua sepultura, enternecedoras músicas que ele amava.

Preencha os campos abaixo
Seu nome:
E-mail:
Cidade/UF: /
Comentário:

Trocar letras
Digite as letras que aparecem na imagem acima