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Mensagem: Agosto, por um olhar Então façamos assim: vamos às “Festas de Agosto!”. Todos de acordo? Sim, todos de acordo, respondem em coro. A resposta vem em coro, mas nunca se sabe qual a emoção contida leva à Avenida cada peito, cada cabeça, e por sua vez, cada sentença. Peitos que batem por uma cor de fita, um altar, um olhar, um passo adiante, um passo distante, um passo que não alcança a marcha, uma mão ferida, um ermo caminhar, um olhar assustado, uma garganta seca, um riso solto, um capacete ou até, e porque não, um cocar? Todos correm, se socorrem, sorriem, choram, dão o que não tem, levam o que ficou, acreditam no que convém e esperam o ano que vem. Muitos olhos espreitam a marcha, outros se fecham à passagem. O que é de fé, de fé viverá. Muito se diz do que deixou de existir, do culto às origens, da tradição alterada, da pouca importância dada aos realmente importantes, da fartura reinante que agride a quem não pode se achegar. Pouco se conta da cerimônia que antecede a caminhada, e depois, a chegada ao Rosário, ponto culminante. Há os doutores em Festas de Agosto. E entre eles, há também discrepâncias, contradições. Mas, o que seria, se todos não pudessem opinar, discorrer, contar suas lendas, lembrar fatos, relatar acontecimentos idos e bem vividos? Como seríamos nós se tivéssemos, ao final, apenas coerentes lembranças? Faz parte da vida, da história, discordar, debater, incorrer em enganos, pra encontrar e se encontrar. E domingo de agosto, findo o dia, hora de se aquietar, de pensar a festa, de compreender as emoções, as lágrimas sutil ou claramente escorridas. Findo o dia, hora também de lamentar o fim da festa, de se perguntar o que faltou, o que sobrou. Tino não veio, Popoff não saiu de catopê, mas assistiu a tudo; estrangeiros marcaram presença, mineiros doutras terras, também. Carlyle tocou novamente o sino; Dona Fina de Paula permanece atenta, Montesclarinos de carteirinha ou de coração, sobrevivem, pisam o chão, aceitam o sol causticante do sertão e os calos nos pés, tudo para não perder o maior espetáculo de Montes Claros. Seu Zezinho não encontrei, mas no primeiro dia da festa, sentado num banco da igreja Matriz, era o mais entusiasmado cantador das músicas de sua terra, durante a missa de sétimo dia do seresteiro Nivaldo Maciel. A filha de Joaquim Pólo, que carrega a bandeira das caboclinhas, pisou menos firme este ano. A explicação pode ser dada através de uma cena, devidamente registrada, em que ela aparece amamentando o filho. Perguntada sobre onde foi parar o seu passo forte, respondeu: “pode deixar, hoje eu vou melhorar”. Os grupos convidados não satisfazem a todos. Particularmente, acho bonito, ainda que a presença deles, na opinião de alguns, signifique menor investimento nos que brotam daqui. Zanza, zanzou menos, mas não deixou de passear. O mestre João Faria, visto no cotidiano é um. O que ganha a avenida é outro. Não se imagina que aquele homem que aparece tão grande, batendo e cantando a frente dos catopés, é uma pessoa acanhada, de palavra tímida e riso cheio de pudor. Ele cresce tanto nas ruas, mas tanto, que torna a descrição infinitamente menor do que merece. Não se sabe porque e por quem, cada um mantém vivo o espírito das “Festas de Agosto”. O certo é que Agosto marca definitivamente o coração de cada montesclarense, que ama e vive sua terra.
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