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Mensagem: Quando saí de Montes Claros... Quando saí de Montes Claros para trabalhar fora do estado de Minas, tinha 22 anos, na noite, véspera de minha saída, que se deu pela manhã por volta das dez horas, meu pai (Ruy Pinto) passou a noite em claro, andando pelo pequeno corredor da casa, era o 2º filho a sair de casa para lutar pela vida, creio que meu pai vivia naquele momento a certeza de que mais um filho ganhava o mundo e não retornaria jamais. Nunca me esqueço do olhar de minha mãe, acompanhada de minha avó paterna, acenando para mim enquanto eu entrava para o interior do ônibus, ansioso e cheio de incertezas, porém com a vida e o mundo pela frente, eram sentimentos intensos, rápidos e contraditórios, havia um desejo e uma felicidade enormes ao mesmo tempo em que era tomado por um medo abissal. O olhar de mãe se perdia naquele adeus, que me contornava como os montes claros que até então circundavam minha vida. Deixava uma cidade, parecida comigo, pequena no gesto de viver e grandiosa na ambição de se desenvolver, naquela época, reportávamos às pessoas referenciadas pelos seus sobrenomes, era assim que chamávamos D. Maria Nobre, de D. Maria de Juarez (Juarez Nobre), D. Maria Macêdo, de Maria de Sidney (Dr. Sidney Chaves), D. Zélia de seu Raul (Raul Pereira), D. Noeme de seu Pedro, D. Tunica de Toni (Antônio Pereira), D.Zelita de seu Nonô (Nonô Pereira), D. Joana de seu Merilo, D. Nenzinha de seu Joaquim... e por aí ia. ... Ainda ecoavam em meus ouvidos a batida dos catopês, que se misturavam com o ruído permanente e estável do motor do ônibus, confundindo minha audição , contudo, jamais a memória, por uma estrada longa que parecia não terminar nunca, como, de alguma forma imaginamos nossa trajetória de vida. Vivi esses anos com ânsia e intensidade, e sem que me percebesse me transformei tanto...Montes Claros se transformou tanto, conquistou seu diploma urbano: inchou, diversificou, o espaço geográfico expandiu-se, a economia também diversificou e aqueceu, seduziu novos moradores, acolheu forasteiros, ampliou sua rede de serviços , e com isso vieram as mazelas típicas de um grande centro. Hoje, quando acesso o Montes Claros.com, e leio as mensagens dos conterrâneos, entendo que em cada uma tem um grito, uma luta contra a perda do sentimento de pertencimento da cidade, dos seus cantos, lugares, dos conhecidos, da rotina de uma acalorada cidade contida pela circunferência montanhosa, que fez do povo a generosidade dos seus limites. Há de se pensar que Montes claros transbordou, se derramou pelas montanhas afora... Hoje passeio pelas ruas de Montes Claros nas memórias de seus tradutores, como Raquel Chaves, encontrando com tanta gente que nem existe mais por essas terras quentes... E o olhar de minha mãe para sempre se misturou àquele adeus, naquela manhã...
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