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Mensagem: As uvas (casa) de Elvira Silveira Final de outubro, início de novembro, a parreira florida, sempre florida nessas épocas, Lió, para os que a conheceram, inesquecível, era a guardiã de valoroso patrimônio (hoje sei que ela talvez entendesse tantas coisas da vida, que nós, naquela época não alcançávamos, além do sabor agridoce de uma fruta escura que perfumava nossa infância), adentrar na casa de Tia Elvira e de Tio Otávio era uma ameaça àquele caramanchão (ou carramanchão). Vivíamos ás voltas tentando burlar essa fortaleza, e assim foi por muitos anos, parávamos na casa de tia Mariazinha Barreto, brincávamos com Iuri (cãozinho) que ficava latindo na janela da frente da casa (hoje é uma auto-escola), sempre como uma estratégia de sondagem, ao menor descuido...Xi, só a florada do ano seguinte...Além das uvas, a casa de tia Elvira era um encantamento, ela sempre afável, porém rígida em seus princípios e modos, recebia a todos com uma elegância, com uma firmeza nos gestos, uma discrição, que aliás sempre encontrei em minha mãe, que teve parte de sua vida vivida na casa de tia Elvira, que até os dias atuais nunca mais vi em ninguém. Algumas das coisas mais importantes vividas em minha vida aconteceram na casa de tia Elvira. Após a morte de tio Otávio, numa manhã de domingo, eu passei a freqüentar mais a casa, adorava as surpresas das tardes, o melhor café da tarde, sentar à mesa com o café de Lió, quentinho, embora xiado (Lió tinha renite, eu acho), pão de queijo da hora, e a presença de Wellington e Graça, ali ouvia, por algum tempo, que acho que eram horas, os discursos, por vezes acalorados, de Wellington sempre, Graça, mais contida, porém astuciosa e vibrante na conversa, me traziam horizontes, falavam sobretudo de política, e do meio para o fim falavam de cinema, de filmes. O ouvido era o meu paladar para sorver e absorver tantas informações, e aos poucos, de tarde em tarde, de encontro em encontro minha vida ia se transformando. Minha amizade com Graça crescia, assim como a de Wellington, e eu saboreava as pérolas possíveis daquelas tardes...As uvas iam me invadindo... as pérolas... Num desses entardecer estava Jaci Ribeiro, presença constante e amiga querida de Graça e de tia de tia Elvira, e o filme virava cinema quando adentrava pela casa, esbaforido, Dr. Mário Ribeiro, eu presenciava ali, naquele momento, que o mundo era possível, eu não conseguia acompanhar Marão, era rápido na pronúncia das palavras, agitado, cultíssimo; mais tarde, quando vim conhecer Darcy Ribeiro, entendi, eram tão parecidos, eu quase não entendia nada, tamanha era a rapidez na expressão do pensamento, e no próprio pensamento...Graça mediava docemente aqueles encontros, até mesmo, Lió reclamando das xícaras sujas...As uvas... por onde andarão?
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