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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 6 de novembro de 2024
 

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Mensagem: E as chuvas chegaram Manoel Hygino dos Santos - ´Hoje em Dia´ Milhões de brasileiros vieram para o Sul, como dizem os nordestinos, empurrados pelas secas e pela fome. O espetáculo de grandes levas humanas, carregando seus trapos e pobres pertences, percorrendo a pé, maltrapilhos e quase exangues, centenas de léguas, sob sol escaldante em busca pelo menos de uma moringa de água e de que a esperança não se apaga da memória. Os que assistíamos perguntávamo-nos: por que tamanha inclemência? Os estudiosos davam respostas sobre clima e meteorologia, mas não explicavam o fundamental: a desumanidade de fenômenos que afligiam principalmente os mais pobres, os miseráveis; os que de pouco dispunham e deixavam os parcos bens no começo ou durante a caminhada. Nos terminais das ferrovias ligando o Nordeste ao hoje Sudeste, milhares se aglomeravam nas proximidades das estações, esperando a vez de ´pegar o trem´. Multidões se deslocavam em composições apinhadas, nas quais, se faltava algum punhado de farinha, sobrava em falta de higiene. Mesmo em Minas, faziam-se procissões de penitentes, que nada rogavam a Deus senão água. Muitos bons autores descrevem a dor e angústia desses dias, entre os quais Oswaldo Gusmão, professor de Teoria Geral do Estado, brilhante advogado, ao ingressar no rol dos ficcionistas. Seu relato dos dramas dos que, em desconfortáveis composições viajavam da zona dolorosa da seca para as cidades maiores é simplesmente magistral. Em meu primeiro livro, coisa da adolescência, diante da penúria e sofrimento dos retirantes, contei um pouco dessa história de infortúnio de milhares e milhares de brasileiros na fuga à seca. Excelentes autores também o fizeram, movidos por semelhante impulso de solidariedade. Quando a chuva chegava, as crianças se deleitavam com as enxurradas nas vias públicas, pouco se importando que fragmentos de vidros ou peças de metal pudessem ferir-lhes os pés e causar males maiores. Deus protege os inocentes e os puros de alma. O empresário Luiz de Paula, tão bom na prosa, na cantoria, contabilista, advogado, sócio de vice-presidente da República, poeta de boa qualidade, jovem nos seus mais de 90 anos, lembra aquele tempo indelével: ´A chegada da chuva era uma festa. Hoje, quando a cena se repete e a chuva chega, escurecendo o céu, tenho saudades daquele tempo em que eu sabia aproveitar uma chuva, misturar-me com ela, ser parte dela. Calça arregaçada, peito nu, revejo-me a cantar granizos no chão molhado ou recolhendo filhotes de passarinhos derrubados dos ninhos pela ventania. Ou a opor barragens de terra às enxurradas e a fazer ´olho de boi´ no chão, com o calcanhar e o dedão do pé, quando a chuva começava a passar da conta. Sempre a saltar, aqui e acolá, até entrar no raio de ação da voz materna a chamar-me: - Venha para casa, menino! Venha enxugar a cabeça! Vestir uma camisa! Você vai apanhar uma pneumonia!´ No mesmo lugar e região que receberam tantos e tantos flagelados das secas de muitos anos, ocorreu em 2009 talvez a mais caudalosa das chuvas dos últimos 50 anos, segundo o prefeito Luiz Tadeu Leite, de Montes Claros. O magérrimo Rio Vieira, em cujas águas gerações de crianças e adolescentes se banharam em corajosas experiências ingênuas de natação, rugiu de madrugada como um leão, como li alhures. Chuva quando cai no sertão, depois de longa estiagem e extensa temporada de sol atormentador destrói e mata. Na cidade grande, em que canalizações se fizeram talvez sem um estudo mais aprofundado e cuidadoso do volume das águas, elas transbordaram e causaram prejuízos expressivos. Como em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, que pretenderam prender o ímpeto da torrente, quando ela se rebela contra a insensibilidade e falta de previsão humana. Não se esconde água braba como a sujeira debaixo do tapete. As provas estão aí. E a provisão é de torrenciais serem os dois últimos meses do ano. Que os santos poderosos nos protejam, porque não estamos na idade de medir força com a natureza.

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