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Mensagem: Três filhos de Idalina - A doméstica de Francisco Sá, no interior mineiro, tenta há mais de uma década resgatar dois gêmeos e uma adolescente do vício. Um ciclo de prisões, prostituição, aborto, abandono da escola e humilhações -Luiz Ribeiro // Diario de Pernambuco -´Vou confessar uma coisa: por causa do crack a gente até mata. Nunca matei porque não tive oportunidade, mas se depender de matar para fumar o crack, a gente mata mesmo´. Pedestres entre usuários de crack na Avenida Duque de Caxias, coração de São Paulo: consumo da droga. Foto: Denílson Carvalho/CB O relato é da adolescente Sônia, 16 anos, que tenta se livrar do vício. Ela mora em Francisco Sá, município mineiro de 23,4 mil habitantes, a 477 quilômetros de Belo Horizonte. Uma localidade às margens da movimentada BR 251, usada por motoristas que cruzam Minas saindo do Sul/Sudeste rumo ao Nordeste. Está a 42 quilômetros de Montes Claros, cidade-polo do Norte do estado. Lá, a disputa pelo comando do tráfico de drogas é semelhante à que se vê nos morros do Rio de Janeiro. ´Ela chegou para mim e disse: `Mãe, pelo amor de Deus, me socorre. Estou morrendo`´ Idalina, empregada doméstica, sobre o dia mais difícil na relação com a filha É nesse cenário do interior do país que a doméstica Idalina, de 48 anos, enfrenta um pesadelo de mais de uma década na família, provocado pelo crack e por outros entorpecentes. Primeiro, dois de seus sete filhos, os gêmeos Wellington e José, tornaram-se usuários quando tinham 12 anos. Seguindo um roteiro quase padrão, experimentaram a maconha, passaram paraa cocaína e chegaram ao crack. De usuários, começaram a ´repassar´ a droga e acabaram detidos. A evangélica Idalina conta que, mesmo ´sem poder´, teve que pagar um advogado e inúmeras vezes compareceu à delegacia para resolver problemas dos garotos. Cansada, em 2004 resolveu mudar de cidade. Foi para Jequitaí - outra pequena cidade do Norte de Minas, de 8,5 mil habitantes. Achou que lá os filhos estariam livres. Mas a sina se repetiu. Wellington - já com 18 anos -, envolveu-se novamente com as drogas e passou dez dias na cadeia. Perdida, Idalina fez o caminho de volta a Francisco Sá com a família. Wellington, hoje com 25 anos, ainda não se livrou do vício. José deixou as drogas e trabalha como lavrador. A aparente recuperação de um dos rapazes, contudo, teve um contraponto triste na descoberta de que a filha adolescente Sônia, de 16 anos, viciou-se em crack. O consumo teve início aos 13 anos. A menina tornou-se dependente a ponto de começar a se prostituir para garantir o vício (veja depoimento). No fim de outubro, precisou ser encaminhada a um centro de recuperação em Curvelo, onde ficou 20 dias. Não se adaptou e voltou. ´Para quem é mãe fica difícil admitir que temos filhos envolvidos nisso, mas não tenho vergonha de dizer que enfrento o problema´, conta a doméstica. Um dos dias mais difíceis, segundo ela, ocorreu quando Sônia, desesperada, lhe pediu ajuda. ´Ela chegou para mim e disse: `Mãe, pelo amor de Deus, me socorre. Estou morrendo`´, descreve Idalina, emocionada. Zona rural - ´Realmente, a questão do crack na cidade está ficando séria. As crianças estão começando a usar com 10 anos de idade´, afirma Paulo Geovane Borges da Silva, presidente do Conselho Tutelar de Francisco Sá. Ele também identifica o problema na zona rural. ´Acho que isso ocorreu porque começaram a transportar alunos da roça para a cidade. Antes, quando as professoras viajavam para dar aula na zona rural e os meninos não saíam do lugar de origem, isso não acontecia´. Segundo Paulo, já se tem conhecimento do crack em três distritos vizinhos: Cana Brava, Catuni e São Geraldo. A reportagem esteve em Cana Brava, região de aproximadamente 200 casas. Lá, o assunto é tabu. O comerciante Geraldo Rodrigues de Souza Neto, dono de uma mercearia, foi um dos poucos que aceitou conversar. ´A pedra vem da cidade e é usada por adolescentes de 13 a 14 anos´, contou. A presença governamental é deficiente, tanto pela ausência de profissionais capacitados para lidar com o problema quanto pela estrutura capenga. Sobram, assim, iniciativas pessoais, como a do policial militar Eduardo Bispo Arruda. Ele protagoniza um trabalho de ´formiguinha´ tentando impedir o avanço da pedra. Faz palestras e visita escolas como instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd). ´A juventude, curiosa, muitas vezes experimenta o crack por brincadeira e se vicia´, lamenta.
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