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Mensagem: Correção de rumo Jornal ´Hoje em Dia´ - Manoel Hygino Houve tempo em que Montes Claros nutria enorme ciúme de Bocaiúva, ambas cidades de expressivos vultos no cenário político e literário. Era, mutatis mutandis, o que ocorreu historicamente com Uberaba e Uberlândia, os progressistas municípios do Triângulo. Enquanto se construía o ramal unindo o Norte de Minas à malha ferroviária nacional, acentuaram-se os inclinações para as guerrilhas verbais sobre a predominância das duas cidades cada uma querendo ser mais importante que a outra. O escritor curvelano Nélson Viana registra que Montes Claros progredia assombrosamente com o evento da chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil. Mas, por questões topográficas e geográficas, os trilhos tinham de chegar primeiramente em Bocaiúva, o que não agradava aos montes-clarenses. Enfim, amaciaram-se os corações e retomou-se o clima de cordialidade e compreensão. Lembro o fato, porque acaba de ser publicado ´poesia-Correção de Rumo´, de Antônio Augusto Souto, e o autor é bocaiuvense, embora residindo na vizinha cidade, onde seu trabalho foi editado pela Universidade do Norte de Minas. Antônio Augusto foi professor de língua portuguesa e literatura, durante quarenta anos, oito meses e poucos dias. Casou-se na cidade escolhida para viver, formou-se em advocacia, mas sentiu que lhe faltava dizer muito, e que lhe escapara ensejo nas aulas. O filho-homem não veio, mas houve a correção de rumo. Dedicou-se à advocacia e às letras, na poesia, na crônica e no conto. Quem fez o prefácio fui eu, de modo que talvez não necessitasse de outro registro, mas me dedico ao mister, ao lado de Wanderlino Arruda e Reivaldo Canela, que lamentavelmente não mais entre nós se encontra. Wanderlino pergunta: por que deixaria o espírito do homem de realidade útil, para procurar uma estética? Quem pretende responder ao quesito deve recorrer às ideias e sentimentos de Antônio Augusto. Quanto a Reivaldo, opina: ´O estilo poético, ou a escola, como queiram, não importam. A poesia é a essência mais pura de tudo. De tudo, enfim´. E a constatação se confirma no conteúdo do livro de um autor, que assim estreia auspiciosamente. É cidadão de velha e cepa: Constituiu a família e a ama, com fé e orgulho, o que se vai tornando raro no mundo vertiginoso em que nos achamos. Sua primeira composição, é um pagamento de promessa, que transcrevo em prosa: ´Quando eu puser ponto final neste livrinho, quero dedica-lo a Eunice, somente. Vou escrever dedicatória, reescrevê-la, tantas vezes! Modificar, tirar e pôr, usar cinzel... até achar a forma que, acho, ela merece. Quero expressão absolutamente linda, quero palavras que tenham cheiro de chuva, a nota musical do riso dela, sua enorme alegria de viver, um pouco do seu perfume, sua coerência...´ Tempos passados se fizeram velhos: ´Sou um homem bem rodado... Já singrei mares, risquei os céus e engoli a poeira... Naveguei por rios de todas as cores, palmilhei longas estradas, vielas, vilas e becos... Provei do cálice de tantas dores, bebi na taça da alegria! Agora, estou argonauta, tripulante sem rumo de antigas caravelas, velejador anônimo, passageiro da última poltrona de embarcação exótica. Do fundo do corredor, olho quem entra e quem sai, para ler, em cada máscara, a escritura particular, o contrato de promessa de compra e venda que todos os da minha (sub) espécie procuram esconder, a sete mil chaves.´ Assim é a poesia desse cidadão de Bocaiúva, sem clarapel inviolável, sem subterfúgios, sem vocábulo garimpado. Linguagem simples e fácil, para que sua poesia sensibilize. Na ´Balada número dois´, redescobre-se: ´Era uma vez um menino/que sonhava, noite e dia.../Fazia seus próprios brinquedos,/brincava com o que sofria./Não tinha games nem vídeos/que isso não existia.
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