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Mensagem: OS JUÍZES E OS MAFIOSOS Crônica publicada em 2005. Republico-a em solidariedade ao amigo, ex-aluno e colega de magistratura Isaias Caldeira Veloso. A bem da verdade, muitos juízes já foram assassinados no Brasil. Se o juiz contrariava interesses de um poderoso de uma localidade, era contratado um pistoleiro para assassiná-lo. Lembro-me que, numa de minhas comarcas, circulou uma tabela dos pistoleiros. Cobravam quinhentos mil para matar juiz de direito; quatrocentos para promotor de justiça; trezentos para advogado, prefeito e delegado de polícia; duzentos para padre e cem para os demais No exercício de minha magistratura fui ameaçado de morte. No meu caso, chegaram a praticar atos preparatórios. Estava indo a Belo Horizonte para me defender de falsas acusações, engendradas pelos “poderosos”, cujos interesses minhas decisões haviam contrariado. Fui seguido numa estrada por três carros que se revezavam. Não morri porque não perdi o controle da direção do carro e porque fui inteligente. Estacionei num posto de gasolina e apareceu um sujeito barbudo, que me chamou de doutor. Fui ao banheiro coletivo e ele me seguiu. Começamos a urinar, um ao lado do outro, e eu lhe perguntei como sabia que eu era doutor. Ele respondeu que sabia porque era soldado do Batalhão da Polícia Militar de Barão de Cocais. Retruquei, dizendo que era Juiz de Direito. Em seguida, menti ao desconhecido, comunicando-lhe que, naquela viagem, havia uma viatura da Polícia Federal, com dois policiais, de cinquenta em cinquenta quilômetros, inclusive naquele local, para me dar proteção até Belo Horizonte. Ele rapidamente se despediu e azulou, num fusquinha branco. Dei um tempo, recobrei a calma e as energias, e continuei a viagem. Quando retornei à Comarca, anunciei – pura invenção de meu instinto de defesa – que os que queriam tirar-me a vida, a partir daquele dia, teriam de me proteger, porque eu dera os nomes de todos à minha família e à Corregedoria de Justiça e, se alguém me matasse, eles seriam os primeiros suspeitos. Disse também que não era defunto sem choro, seguindo sábia orientação de meu fraterno amigo e ex-professor, o inesquecível Ariosvaldo de Campos Pires. Aí eles ficaram grilados e eu continuei, tranquilo, a distribuir minha justiça sem curvar-me à sua prepotência. Agora, vemos, no Brasil, o crime organizado tentando aterrorizar juízes. Participei do IV Congresso Internacional de Magistrados, em Porto Alegre, em janeiro de 2005. Lá se encontrava também Danilo Campos, Juiz de Direito de Montes Claros. Tive o prazer de conhecer pessoalmente o juiz italiano Gherardo Colombo, um dos grandes desarticuladores (palavra não encontrada no Aurélio) da máfia. E ele me disse que, antes de atingi-la, tiveram de combater, com extremo vigor, seus tentáculos na estrutura do próprio Estado. Primeiro sanearam o Estado para, depois, combater o crime organizado. À época, eu já pensava – e ainda penso – que a melhor solução para esse problema é o Judiciário democratizar-se, tornar-se um poder efetivamente do povo e não um conjunto hermético de semideuses humanos. O povo é que será seu maior guardião. O Judiciário tem é que se abrir, se escancarar para a cidadania e destruir suas mazelas, sem medo de ser feliz. Afinal, os julgamentos dos juízes são, antes de serem pessoais ou colegiados, atos praticados em nome dos titulares do poder que exercem: o povo. O dia que os mafiosos sentirem que a Justiça é o povo julgando, em nome da paz e da harmonia da sociedade, pensarão dez vezes antes de ameaçar, querer matar, ou mandar matar um Juiz. Sentirão também que o Poder Judiciário é, no mundo contemporâneo, a maior garantia de qualquer cidadão. Inclusive deles.
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