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Mensagem: GAROTO SEM ESTILINGUE Wanderlino Arruda Sempre me preocupei pensando se o nosso Reivaldo Canela - que escrevia semanalmente sobre animais, grandes e pequenos, selvagens e domésticos, teria sido mesmo um menino sem estilingue, um garoto desarmado, um jovem de paz com a natureza. Tenho direito a cessa preocupação porque sei que Reivaldo viveu os anos de estripulia da meninada, tempo violento e cheio de brincadeiras de guerra, cada moleque agindo como bandido ou soldado, sempre luta divertida. Ele cresceu totalmente fora desta fase de agora, crianças envolvidas só com brincadeiras de era eletrônica: telões ful hd, ifones, mp3, ipods, mp4, ipads, mp12, telefones e celulares com tudo muito além do ouvir e do falar. Digo isso, porque minha geração - que foi também a dele - tinha de construir seus próprios brinquedos, jequis, quebras, arapucas, visgos, facas de folha de flandre e de fitas de aço, que vinham amarrando os volumes de mercadorias das lojas e armazéns. Foi nossa geração a do feliz ´laissez faire´ de toda espécie de instrumentos de sobrevivência da alegria, em todo tempo vago no antes e no depois da escola. Nunca vi estilingues ou qualquer outro tipo de atrativos para captar passarinhos na fase nova dos meninos do fim do século, principalmente nos mais moderninhos da classe média.Todo mundo limpinho, calçados de tênis, quase sempre andando de bicicleta e de moto, indo e vindo sem muita anarquia, bem diferente do que acostumava acontecer em tempos mais distantes, quando duas rodas eram um luxo sem igual. Os garotos atuais, ou de pouco tempo atrás, já não tiveram à sua disposição o mundo dos passarinhos e pequenas caças, aquele mundão em quantidade e fartura, que se tornava um grande atrativo à guerra de conquista de todas as horas, antes ou depois dos banhos pelados nos poços e nas lagoas, que a gente descobria onde eles existissem. Parece que tudo mudou no jeito e na formação dos jovens depois que inventaram os banheiros dentro de casa - tudo de cerâmica e de louça - e as lojas começaram a vender brinquedos em dez meses no cartão, e a comunicação passou a ser informatizada, meninos e meninas falando com outros meninos e outras meninas, via Messenger, tweet, Facebook, próximo ou infinitamente distante, deste ou do outro lado do planeta. É claro que hoje já não tenho problemas de consciência quanto ao amor que o Reivaldo dedicou aos passarinhos, ele que sempre pôde viver feliz e gastou não-sei-quanto de fubá para alimentar os seus dó-me-réis e os seus pardais. Posso afirmar que ele, que foi um São Francisco de Assis de fim e de início de séculos, viveu literalmente com os passarinhos, recebendo-os nas mãos, tudo na base de carinho e natural amizade, convênio não assinado, pacto de não-agressão grato a ambas as partes. Eu vi muitas vezes Reivaldo conversar com os bichinhos, parecia até chamando-os pelos nomes, fazendo com que aquelas grandes revoadas viessem para o seu lado, saltitantes de alegria inocente, bicando aqui, batendo asas ali... contentes com a vida, a exemplo do fiel protetor da Praça da Santa Casa. Para começo ou fim de conversa, a casa do Reivaldo era um grande viveiro, com todas as árvores que os passarinhos pediam a Deus, um encanto de ramos e folhas de toda espécie. Devia ser bem interessante o ato de ser amigo das avezinhas, amizade sem interesse, sem perspectiva de retribuição, a não ser a da felicidade. Amigos sinceros, homem e aves se confraternizavam todas as vezes que se encontravam, marcada ou não a hora. Durante muitos anos, nunca me foi possível visitar Cândido Canela, pai de Reivaldo, na casa ao lado, sem ver e ouvir passarada. É que, felizes, eles conviviam para sempre! Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros
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