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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A grande conquista Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Quando o autor me veio trazer ´O poder feminino - Esperança de Paz´, lançado pela Editora Millenium, pensei comigo mesmo. O comentário ficará para o Dia Internacional da Mulher, em março, por sinal mês também de nascimento do escritor, no pico da Serra da Mata Virgem, em Pernambuco. Transferindo-se para o Rio de Janeiro aos 20 anos, lá se formou Antônio Ferreira Cabral em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Nacional de Direito. Advogado, colaborador de jornais, escritor, instalou-se no Norte de Minas, sendo sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Como o mais recente livro do acadêmico permite focalizar muitos aspectos da atividade feminina em nosso tempo, achei que deixaria a análise de seu trabalho para outra oportunidade, cingindo-se às comemorações da data mencionada. Nela, reuniu-se a Academia Feminina de Letras de Montes Claros para, dentre outros registros, inaugurar a placa em homenagem a Ruth Tupinambá Graça, em plena tranquilidade de seus mais de 90 anos vividos, de que desfruta com lucidez absoluta até em reminiscências que remontam à infância e adolescência. Podia ser melhor? Serve-me o ensejo para evocar o discurso de Ivana Ferrante Rebello, excelente sob todos os ângulos, na solenidade de fundação da entidade, ´uma forma concreta de habitar o vazio. Essa casa para reunir mulheres escritoras, cujas vozes já não são mais silenciadas, essa casa que nasceu do sonho de Ivonne Silveira´. ´Quanto a nós, essas 40 escritoras, apresentamo-nos hoje como mulheres. Mulheres a quem coube o dom da luta diária e a dádiva da feminilidade´. Queriam suas cadeiras numa Academia e as conquistaram. O pequeno discurso de Ivana é enorme. Lembra tempos que se perdem na noite dos tempos - que me perdoem o lugar comum - para chegar aos dias presentes, uma trajetória de lutas e sacrifícios para muitas que se julgavam no dever de abrir caminhos e vencer barreiras. ´Menina não entra. Este era um dos postulados ardorosamente defendidos pela sociedade patriarcal. O mundo da literatura era fechado e proibido. À mulher, esse ser de dons múltiplos e de fala fácil, coube o peso do silêncio e da pena ausente. A história da literatura tornou-se uma história masculina´. As penas femininas não dispunham de tinta para deixar grafados problemas, alegrias, sentimentos e pensamentos. ´Menina não entra. As páginas do tempo, reviradas pela curiosidade, revelam que a atividade literária das mulheres foi banida ou mutilada. Escrever pertencia à esfera do interdito. Fanny Burney queimou todos os originais e pô-se a fazer trabalho de ponto como penitência por escrever!´. A acadêmica evoca Charlote Bronte, que deixara de lado, várias vezes, o manuscrito de Jane Eyre, hoje tão esquecido, mas consagrado até pelo cinema. Jane Austen tratava de esconder as folhas com seus escritos, sempre que percebia que alguém se aproximava, envergonhada de imiscuir-se num ofício finamente masculino. E houve tantas, e tantas, ao longo da história. Katherine Anne Porter levou 20 anos para elaborar uma novela, interrompida constantemente. Maria Moliner dividia sua atenção entre o dicionário que redigia e os remendos de meias em ovo de madeira. Ivana Ferrante Rebello recorda mais. Katherine Mansfield, protestava do marido, que a incomodava com gritos, enquanto ela redigia seus textos e ele reclamando pelo chá atrasado; Gregorio Martinez Sierra apenas emprestava seu nome para que a esposa, Maria Lejarraga, escrevesse sua obra; Zelda Fitzgerald teve proibida pelo marido a publicação do livro que escrevia, de que ele queria apossar-se, em seguida. Era preciso que o tempo sofresse profundas transformações para que as mulheres fossem conquistando seu espaço, sobretudo nas atividades literárias, mas também no campo do Direito, das Ciências, das Artes de um modo geral, na administração pública. Foi uma lenta e ininterrupta guerra de conquista, contra a qual se posicionaram os homens durante séculos. Elas venceram e competem.

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