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Mensagem: UMA PATRULHA MOTORIZADA (Para Gonçalves (MSG 56743) Como participante ativo dessa turma de atiradores citada por você (menino de calças curta nessa época você não poderia saber mesmo) sinto-me na obrigação, compelido mesmo, a entrar, ¨”de com força”, no seu caso. Não o conheço pessoalmente, mas pressinto em você uma alma boa por trás da mensagem. Espero que não se importe com esta intromissão. Além de Lindemberg e Zé (Carlos) Alves tinha mais gente nessa patrulha dos atiradores, naqueles idos de março/abril de 1964, mais para primeiro de abril do que 31 março. Deixa pra lá... O pequeno e grande Bill, cracaço do Ateneu por muitos anos, Odorico Mesquita, Ricardo Laughton, Aldoizio Costa e eu. Turma das antigas, boa pra valer. Somos amigos até hoje – um pouco afastado de alguns, é verdade – mas sempre com as melhores lembranças de todos. E mais um, o Sargento Villar – baixinho invocado – gente fina demais. Jogava basquete com a gente na Praça, e bem. Só não enterrava por óbvios motivos. (Aí também não, né, gente). Não tenho muita certeza se o sargento ia conosco em todas as incursões ou se usava outra viatura ( aí só Berguin pra lembrar), cedida pelo batalhão de polícia. Com Lindemberg no comando (tinha sido promovido a cabo: bem esperto, vivia no pé de Lazinho, solicitando, com êxito, botar o nome do Chefe dos Sargentos - o inesquecível Sargento Conca - e senhora, na coluna social do JMC, onde era repórter geral. Rrs) , fizemos parte de uma incrível patrulha motorizada. Tipo Exército Brancaleone, quem é meio cinéfilo sabe. Talvez a única viatura na história antiga do glorioso TG 87. Se houve mais alguma motorizada em outras épocas, desconheço. Pelo menos ninguém me contou, até hoje. Aboletados numa possante camionete (uma linda e esverdeada DODGE, modelo 1951),Ricardo Laughton sempre dirigindo, por direito e herança. Até que ficávamos com uma ponta de inveja, mas o carro era do pai dele, Seu Lindolfo, como reclamar? E, a gloriosa patrulha rodava a cidade de ponta a ponta, pronta para a ação. Que nunca aconteceu... Era com se fosse um similar da americana e pomposa SWAT , mas humilde, e põe humildade aí, armados apenas com uma velha baioneta na cintura, entusiasmada e cheia de testosterona e juvenil irresponsabilidade, com muita vontade de aparecer qualquer tipo de confusão, baderna, crimes hediondos ou até mesmo um pequeno levante popular (ou contra a favor), para podermos testar nossa grandiosa força e poderio (sic)... Infeliz, ou melhor, felizmente nunca aconteceu nada. Deus protege os inocentes e os tontos. Daí que gastamos nesta empreitada litros e mais litros de gasolina, rodando inutilmente pela então pacata cidade. A maior parte na zona boêmia. Esse pedido do peculiar trajeto teve aprovação unânime, diga-se. Ricardo Laughton(chofer) Lindemberg e eu na boleia. Eu já era ajudante de cabo, Berguinho me nomeou. Depois vim a saber que não existia este posto no exército. Odorico, Aldoizio, Bill e Zé, lá atrás na carroceria, coberta com lona e com dois bancos pra carregar peão. Reclamavam paca, não sei de quê! Mas era uma festa quando entrávamos nos cabarés. O povo e as raparigas presentes riam mais da gente do que ficavam com medo. Todo mundo era conhecido de todos. Não tinham o menor respeito, aqueles félas... Uma vez, numa dessas incursões, no Cabaré de Anália, Dim Canga (irmão de Murilo e Julinho Boca de Fogo, meus vizinhos) cumprimentou-me efusivamente de cima do palco, no microfone, em meio uma bela canção (salvo engano, “Alguém Me Disse”, famosa na voz do falecido Altemar Dutra). Fiquei todo cheio e honrado. Nós, enlevados pela bela interpretação de Dim, com sua maviosa voz rouca, nem percebemos que o Sargento Villar tinha adentrado ao salão .Ele viera, a chamado oficial , prender “Crioulo”, elegante malandro das antigas ( só vestia terno de linho Ésse120) irmão de Anália, campeão de sinuca da cidade e mestre de capoeira nas horas vagas, que tinha dado um tiro ( e errado a pontaria) numa rapariga, em outra zona. Mas ela deu queixa assim mesmo e armou-se a confusão. Eu conhecia bem Crioulo. Desde os meus tempos de adolescência brava/rebelde e o admirava pela sua destreza com o taco. Tempo de matar aula e passar o dia e a noite, clandestino, num velho salão de sinuca que esqueci o nome. Sei que tinha um certo Seu Augusto, que tomava conta das mesas e um reservado de Pif-Paf nos fundos Ele era meio (ou melhor, totalmente) ranzinza e neurastênico, mas gostávamos (minha turma) dele. Sempre fez vista grossa para a nossa presença de menor de idade. No Cabaré de Anália fui o primeiro chamado - por este conhecimento do bas-fond - pra localizá-lo no recinto.E o fiz, cumprindo ordens, embora até meio sem graça, confesso. Crioulo, como sempre, estava bem à vontade, dançando puladinho com uma linda baiana (que eu conhecia), rodopiando como um príncipe, bem no meio do salão. Ele parou, olhou-me nos olhos e perguntou onde estava quem queria prendê-lo. Quando viu o sargento, que parecia ainda mais baixinho ao longe, na porta do Cabaré, dirigiu-se a passos largos para lá, já com um ar maroto, de deboche, no rosto: - É só esse ai? E mais quantos? - Bem na frente do sargento. Só pensei, viche Maria! Por alguns segundos fez-se um silêncio geral. Zé Tôco segurou como pôde as baquetas e Lausinho parou de fazer aquela careta de sempre quando tocava (ele fechava um olho durante todo o tempo, talvez viajando na música) e encostou o violão na parede. Dim Canga foi lá pra dentro tomar uma, de leve. O Sargento Villar só fez meter a mão no coldre preto e tirar uma 45, automática, de cabo de marfim, de uso somente das forças armadas. A maior e mais bonita máuser que já vi. Colocou - a (o gatilho destravado, seguro apenas pelo polegar) na boca de Crioulo que ficou engasgado e totalmente pálido, repentinamente. Pensei de novo: vai atirar! Só não tapei as orelhas porque não pegaria bem em público. Ridículo demais para um guarda armado, membro de SWAT. Meio escalafobética, mas SWAT. E o Sargento levou-o, com a 45 enfiada na boca, branco como cera e com os olhos meio esbugalhados, até a viatura, estacionada na rua, do lado da Praça de Esportes. Um pouco depois, lá, acalmados um pouco os ânimos , a gente conversou com o Sargento, dando uma força pro Crioulo (até hoje não sei seu nome), falando de suas qualidades e habilidades no pano verde, Anália fez valer a sua posição de dona do Cabaré mais famoso da cidade e o sentimento acabou falando mais alto.Resolveu-se tudo. E com bastante finesse. Ninguém foi preso e ficou por isso mesmo. Próprio da velha Montes Claros. Todo mundo, ricos, pobres e remediados, era amigo. Dez minutos depois, disseram-me, o Cabaré reabriu com tudo a que tinha direito. Música, bebida, cigarro e raparigas. Á vontade. Embora um pouco nauseante pelo cheiro que ficou no salão, oriundo, possivelmente, de resquícios naturais aparecidos nos fundos da calça de linho branco do campeão. - Puro Amarelo ouro com verde-escuro, jurou um sem-mais-o-que-fazer na ante sala do salão de dança. Eu não digo nada porque não vi. Sério. Um grande abraço para todos. Flavio Pinto
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