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Mensagem: CANDIDO CANELA CENTENÁRIO José Prates Cândido Simões Canela... Faz muito tempo que eu o conheci; faz anos a última vez que o vi. Que eu o conheci, foi nos anos quarenta, por volta de quarenta e cinco, quando a ZYD-7, Rádio Sociedade Norte de Minas, naquela época, a única da região, mantinha programas de auditório que atraiam muita gente, lotando seu auditório que ficava na Rua Quinze. Um desses programas, show de música sertaneja apresentado no auditório e ouvido em todos os recantos do sertão mineiro, era produzido por Candido Canela e Antonio Rodrigues. Um programa “sertanejo” que encantava quem o assistisse ou ouvisse, não só pela beleza das musicas, mas, também, pela originalidade dos “causos” que eram contados pelos dois, vivendo os personagens Chico Pitomba e Mané Juca. Naquele tempo, sem televisão, o que chegava aos lares vinha pelas ondas do rádio e as emissoras mantinham programas os mais variados para satisfazer aos milhões de ouvintes por esse mundo a fora. A Rádio Tupi, por exemplo, a segunda emissora do país, tinha Jararaca e Ratinho com programa humorístico no mesmo estilo sertanejo do que foi criado na ZYD-7 por Candido Canela, sem conseguir, porem, igualar a ele porque lhe faltava a autenticidade na maneira de falar do sertanejo e a brejeirice na musica, coisa que Candido fazia com maestria. Naquele tempo, um aparelho de rádio era mais importante que um aparelho de TV, hoje. Nas fazendas onde existiam aparelhos receptores de rádio, o que não era raro, no dia e hora do programa de Chico Pitomba e Mané Juca, todo mundo juntava na casa grande para ouvir as musicas sertanejas cantadas a duas vozes e os “causos” por eles contados que até pareciam de verdade. No meio do programa, vinha a dona da casa com a bandeja de café, acompanhado de biscoito frito que completava a festa. Em 1951 quando ingressei no O Jornal de Montes Claros, é que fui conhecer pessoalmente Candido Canela, no cartório de títulos e documentos, quando ele, pessoalmente, me orientou na legalização do jornal para conseguir autorização para importação do papel chamado “linha d’água” para impressão do jornal que, até então, era impresso em papel comum. Até ai eu conhecia o Candido Canela “caipira” e humorista, mas, não conhecia o cidadão amigo e prestativo que era ele. Foi, então, a partir daquele dia, nos contatos mais freqüentes, por obra do jornalismo, comecei a conhecer o poeta magnífico, sensível à beleza da vida. Sempre gostei da poesia sertaneja de Catulo da Paixão Cearense por quem tinha grande admiração. Conhecendo a poesia de Candido, às vezes publicadas no suplemento dominical do jornal, chegamos à conclusão, podendo mesmo afirmar com segurança, que foi a poesia matuta de privilegiados como Catulo e Candido que levou ao Brasil inteiro a beleza poética do linguajar do agreste e o romantismo sertanejo. Foi nessa mistura de dor e poesia que Candido nos trouxe através de seus versos, a sabedoria popular e a beleza romântica da inocência do sertanejo campesino. A sua poesia nos faz renascer, voltando ao passado, ouvindo o cantar das “modas” por moças sentadas em roda, quebrando o silencio da noite, na rua iluminada pela lua cheia que navega no céu sem nuvens. Da lembrança brota a saudade despertando a vontade de voltar no tempo. A poesia na linguagem caipira expressa a singeleza, a ingenuidade e o sentimento puro do povo simples do campo. Candido Canela soube criar e manter dentro de si a poesia que encanta, para solta-la na sua voz de “caboclo” no grande palco da eternidade. Ele partiu. Sua poesia ficou, sendo passanda de geração a geração através de seus livros, num legado precioso. (José Prates, 81 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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