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Mensagem: FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS – 3 Você é Mineiro? -Perguntou-me, lá pelos idos de 1973, um peão de obras, quando trabalhávamos na construção de um grande edifício na Rua Santa Helena, em São Paulo.- -Não, sou Montanhês, respondi-lhe-. -Mas, Montanhês, de onde?-, voltou a indagar-me. Montanhês, porventura não é o mesmo que Mineiro? Você não nasceu em Minas? -Bem, voltei a responder-lhe, depende da maneira como você define esses dois gentílicos. Em minha concepção a sua definição está corretíssima, mas quando digo que sou Montanhês ao invés de Mineiro, estou me referindo que tendo eu recebido a graça de ter nascido numa área geograficamente montanhosa das Minas Gerais, onde há mais montanhas que minas, me considero mais montanhês que mineiro, apesar de que também, por lá, darmos nossas “pauladinhas” com algumas minas que ali existiam e que foram o fruto da cobiça de muitos bandeirantes, tanto é verdade que minha cidade foi uma das que foram fundadas por bandeirantes, ou seja, Antonio Gonçalves Figueira, a busca do ouro, nas quebradas dos sertões do norte de minas. -Entendi-, disse-me, outra vez o colega Peão: Você, pelo que diz é Francisco-saense, assim como eu, que inclusive conheço seus avós, e estudei com você, lá em São Geraldo, nas décadas de 50/60. -Já que você não se lembra mais de mim, me apresento: “Sou o “Badú”, filho da Dona “Dazinha” esposa do “Seu Lau”, açougueiro, e a nossa Professora era a “Dona Ana Lucília Silva Garcia”, aquela linda pernóstica, e depois foi a “Dona Florisbela Martins Ferreira”, lembra?- Como não me lembraria. Depois de tantos detalhes? Passei ali, naquele povoado pertencente ao Município de Francisco Sá, “Brejo das Almas”, memoráveis momentos de minha infância entremeados por bons e maus, dentro do que se pode proporcionar uma infância “Severina”, que ainda hoje repousa no recôndito de minha mente, mesmo tendo conseguido, a duras penas, mesmo longe de minha terra, o meu “lugarzinho ao sol”. -Ótimo, Badu-, disse-lhe eu, vamos fazer aqui uma pequena correção para seguirmos proseando-. -Não somos Francisco-Saenses. Somos “Brejeiros”!”. Deseja que eu justifique o porque?- -Não, Noquinho, obrigado! Sendo eu dois anos mais velho que você, me lembro perfeitamente, de quando na escola, a professora lhe mandava fazer uma dissertação sobre “nossa cidade”, com que eloqüência você falava. O Ruim era que você não parava mais e deixava todos nós cansados... -E os seus pais, Badu, onde estão?- -Estão lá, no Brejo. Todos bem, Noquinho, respondeu-me-. -E você tem ido “no Brejo”? Voltei a lhe perguntar!- -Tenho, sim, disse-me. Inclusive retornei de lá faz 20 dias- -Oh, meu amigo, disse-lhe eu, outra vez, quanta saudade tenho daquelas nossas plagas! Há três anos que não vou lá. Desde que cheguei aqui em “São Paulo”, sozinho, reiniciei os meus estudos e a minha meta é ser Engenheiro, dos bons. E você sabe que não é fácil “trabalhar, estudar e queimar lata”. Mais é assim mesmo, vou levando enquanto Deus quer-. -Conta-me, então, Badu, sobre o “Brejo” e nossa gente!- -E as festas de Nossa Senhora do Rosário, do Divino Espírito Santo e de São Benedito que ocorriam no mês de Setembro, ainda existem?- -Sim, Noquinho. E por mais incrível que possa parecer, ainda continuam a acontecer no mesmo mês Setembro!- -Ué, respondi surpreso, o que há de estranho nisso?- -É...respondeu-me-, que eles deveriam variar um pouco de mês. É muita festa para um mês só. Não sei porque lá eles prestigiam tanto o mês de Setembro. -E os Catopés? Provoquei-o.- Sei lá, Noquinho! Nesse ínterim, veio-me a mente alguns dos antigos personagens do Brejo que de alguma ou outra maneira, cada qual a seu modo, ajudaram a escrever lindas historias do lugarejo: -Como andam o “Seu” Antonio e a Dona Edith, doceiros?- -Morreram Noquinho, sendo que Dona Edith partiu primeiro!- -Fale-me, da linda serra do catuni, do morro da maceira, dos dois riachos onde íamos nadar, dos “picolés de pinga” criados e servidos no Bar do Zé Galvão, cujos picolés só existem no Brejo, da alameda, da Praça Jacinto e Mariquinha Silveira, da pensão da Dona Quinó onde os ônibus que vinham de Taiobeiras, Grão-Mogol faziam seu ponto final, da Casa Branca e Costa Negro do velho Rogério, do Bar Estica o Braço do “seu” Neuzão onde eu passava para entregar as raízes que retirávamos do solo para ele por nas suas garrafadas com as quais serviam seu fregueses, do Bar Pé na Cova que fica quase dentro do cemitério, da casa Viena, das grandes pastagens de algodão, das imensas e infinitas plantações de alho, do Bar da Barbina, de onde observávamos toda a serra, etc...etc...etc... É muito grande minha saudade de tudo e de todos do Brejo. Fale alguma, querido Badu, sobre aqueles seres que tanto apreciávamos, como: Zezim Tocador e seu cão que sempre latia enquanto ele dedilhava sua sanfona, de Pascomiro, Feliciano Oliveira, Olyntho, Geraldo Tito e Yvonne, do Padre Silvestre Classen que nos batizou, de Antonio Benzinha, do velho Mateus e Paulo Lambreta, de Mané da Vovó, de Zé Veloso, da Dona Quino, de Maria Bocão, do Miro, da dona Carla de Benê, de Roberto Carlos do Mato, do João Banana, de Zé Trindade, de meu Dindinho Liberato e de Minha Dindinha Justina, lá na Fazenda Terra Branca, fale-me também de meu Tio Júlio, de minha Tia Cota e de meu Primo Vadinho, enfim, conta-me tudo...Necessito mais que nunca saber, para que eu possa seguir por aqui lutando até obter condições de lá retornar para abraçar e beijar a todos... -Badu, fulminado por tantas perguntas para as quais ele certamente não teria as respostas, mas que, bondoso como era, tentava de certa forma satisfazer minhas curiosidades e desejo do saber sobre a terra querida, assim começou-. -Sabe, Noquinho! Eu queria muito ter as respostas para tudo o que você me pergunta. Mais o grande problema é que eu não vou poder te ajudar, pois são muitas as perguntas que você me fez, que, lamentavelmente, acabaram me “canfundindo as idéias” e não sei se você sabe, mas nós estamos em nosso horário de almoço e daqui a pouco o “enxadão da obra” vai bater meio dia e você mesmo sabe que o Mestre, “Seo” Paraíba Zé Ivan, não dá moleza. Temos ainda muitas “gericas” de concreto para colocar sobre o guincho para encher a laje do 14º andar e se a gente não conseguir, não vamos receber as “horas prêmio” no fim do mês e ai, sim, Noquinho, é que você nunca mais vai poder voltar para o Brejo. Vamos trabalhar, porque senão o seu sonho de ser engenheiro é que “vai pro brejo”. Depois a gente conversa com mais tempo. Hoje com certeza não vai ser mais possível, pois vamos “ficar no serão” até tarde. Um outro dia quem sabe!!! Um forte abraço meus conterrâneos “Mineiros”... “Montanheses”...”Francisco-Saenses”... Ou melhor. Querem saber? É esse o nosso gentílico mesmo! “Brejeeeeeeiros”. Somos nós, com todo orgulho! Inté... Enoque A Rodrigue, de São Paulo.
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