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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: TIÃO BOI” Eu tinha vizinhos maravilhosos em minha aldeia. De uma lado minha querida “Zinha”, que era Alice dos Anjos, em cuja casa viviam também suas duas irmãs Biela e Carlotinha. Do outro lado “seu” Marinho Português e minha querida D. Xininha, com aquela filharada bacana, pais do chefe de minha trinca, Gerinha Português, a quem Raphael Reys cognominou “Lenda Viva”. À frente, numa esquina, o Prof. João Neto e D. Maria, pais de Carminha, Edmundo, Branca e Paulinho, ao lado da casa de “seu” Mundinho e de D. Marieta. Ainda à frente meu querido e saudoso “tio” Lourenço Sant’Ana, pai de Boyzinho (Moacyr) e, depois, Wilson Athayde. Nas esquinas ficavam a vendinha de Orácio e a Sapataria de Lourival. Do lado esquerdo da casa de “seu” Mundinho, na Presidente Vargas, havia um imenso corredor interno, tendo à sua frente um pequeno cômodo, que dava para a rua. Foi alugado, lá pelos idos de 1957, a um jovem sapateiro, cujo nome era Sebastião Ramos Guimarães e cujo apelido era “Tião Boi”. Nasceria, então, a “Sapataria Nossa Senhora de Fátima”, que se tornaria um dos grandes pontos de encontro dos moquenhos. Tião, bom de prosa, com aquele seu jeito simples, sincero e, às vezes, até deselegante, devido a sua intrépida franqueza, tinha mania de filosofar sobre a vida. Exercia a profissão com maestria e era um touro no trabalho. Talvez aqui, suponho, a origem de seu apelido. Jogamos futebol no juvenil do Cassimiro de Abreu: Gerinha e eu de zagueiros, Alpheuzão de goleiro e ele e Haroldinho de laterais, tendo como técnico o grande Castilho. Nesse contexto fui me tornando seu amigo e, devido a isso, meus pais também, a ponto de ele ser um dos mais frequentes convidados de minha casa para um almoço ou lanche, ou para um fim de semana na fazenda. Ouvimos, em 1958, pelo rádio Semp, na voz de Jorge Curi, o Brasil sagrar-se campeão do mundo pela primeira vez e fizemos o maior carnaval lá em casa. Tião Boi consertava sapatos na parte direita, aos fundos, sentado num banquinho, tendo ao lado uma pequena prateleira e à sua frente uma mesinha. Tudo de madeira e feito por ele. Em frente à mesinha havia um pequeno balcão, que deixava uma passagem do lado esquerdo, espaço dos banquinhos (muitos deles tocos de troncos de árvores) para receber os inúmeros amigos. Na parede, ao alto, em cima de uma porta, um poster de Nossa Senhora de Fátima e, logo abaixo, um outro, imenso, do Flamengo, duas de suas paixões. O próprio Tião pintava de azul as peças de madeira, para reverenciar sua terceira paixão, o Cassimiro de Abreu, que eu teria a honra de presidir, em 1971/2, tendo-o como membro da diretoria e abnegado conselheiro. A sapataria sempre era visitada por Aristóbolo Mesquita, que vinha do Rio de Janeiro à caça de talentos para o Flamengo. Tião Boi tornou-se técnico de futebol de salão e fez times brilhantes. Ganhou muitos títulos. Eu já havia parado de jogar, mas ele sempre me inscrevia em seus times. Uma vez exigiu minha presença. Eu já trabalhava no Serviço de Assistência Judiciária da Faculdade de Direito da UFMG, mas como não atender à convocação daquele grande amigo? Parafraseando Charles Boa Vista, “fui de trem pra Montes Claros”. Faltando dois minutos para terminar o jogo ele me colocou na quadra e, por incrível sorte, num chute que nunca mais darei, a bola quase saíndo para a linha de fundo, marquei o gol do título no grande amigo e goleiro Pindoba (Eustáquio Milo). Fomos comemorar no Espeto de Ouro e a turma deitou-me, de barriga pra cima, nas mesas unidas e me deu o maior banho de cerveja. Tião se casou e não foi feliz. Como “desgraça pouca é bobagem”, ainda pegou uma doença alérgica na pele, talvez causada por seu contato diário com o couro de boi. Teimoso, não seguia as normas do tratamento. Paulinho Dias quis levá-lo para o Rio de Janeiro para tentar curá-lo, mas ele não aceitou. Faleceu, no esplendor da vida, muito sozinho, numa casa que construíra, com imenso sacrifício, no Bairro Todos os Santos. Sempre que ia a Montes Claros o visitava e ficava muito triste em vê-lo naquela situação. Dos frequentadores mais assíduous da sapataria, em meu tempo, recordo-me, dentre muitos outros, de Betão Viriatinho, Gentil, Beto e Quincas de Queiroz, “seu” Lucinho Narciso, Jackson Athayde e Ricardo Tupynambá (grandes amigos que recentemente nos deixaram), Ruizão e Berilo Maia, Zé Carlos Gomes, Zé César Vasconcelos, Coró e Chiquito Barbosa, William e Zé Geraldo Santos, Valmir Alencar, Taque Maia e Tidinho Xorró, Paulinho Dias, Nélson e Nivaldo Santos, Xandão (meu irmão), Tatu, Felício Fernandes (Gaguinho), Zé Venâncio e seu irmão, um garotinho bom de bola e letras chamado Alberto Sena. Felício Fernandes, o Gaguinho, famoso ponta-esquerda – aquele que deu uma “gaúcha” em Almerindo e deixou imediatamente o treino no campo do Cassimiro, de uniforme e chuteiras, para comemorar no Bar de Zé Piriquitinho, na Praça Dr. Carlos –, uma vez, elaborou e recitou para nós um poema ininteligível, que até hoje repito quando me lembro da turma da “Sapataria Nossa Senhora de Fátima” e de seu artífice, nosso querido e inesquecível amigo “Tião Boi”. “Tu, Não seja já! Vem, vírgola, Ó parte omana! Me chama Judite. E vem zabelê, E vem sabeá. E ponto final.” PS: Quem tiver uma foto de Tião Boi, por favor, envie para mim, pela internet (avbalinha@gmail.com) para que eu ilustre essa crônica, que também foi publicada em meu site de literatura (http://sites.google.com/site/quidialas), no link AMIGOS.

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