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Mensagem: UM TREM CORRE NA TRILHA DELE (Para Didimo Paiva, pela riqueza de vida) ALBERTO SENA Nas últimas semanas, tive e ainda tenho o privilégio de conviver mais de perto com Didimo Miranda de Paiva, que só de jornalismo tem a idade de gente quinquagenária. Durante mais de duas décadas trabalhamos juntos. Isto é, juntos na mesma redação do jornal ‘Estado de Minas’, na Rua Goiás, 36, em Belo Horizonte. Um circunscrito às divisórias de uma editoria e o outro noutra. Quase a vida toda, Didimo editou o noticiário internacional e escreveu milhares de editoriais e artigos. Quero dizer com isto: ninguém conhece de fato o outro na correria desenfreada da rotina de redação de um grande jornal. Ainda mais quando se ocupa cargo de chefia. As solicitações são diversas. Não param. O telefone chama, o repórter pede orientação, o diretor de Redação solicita ou manda fazer alguma coisa. Vai por aí a trabalheira. Sem contar com a necessidade de concentração para ler, rever, escrever e editar páginas e mais páginas de olho no relógio, para não perder o fluxo nem comprometer o ritmo da oficina e a impressão do jornal. Na Redação do ‘Estado de Minas’, em todos esses anos de convivência no trabalho, conhecemos, claro, todos nós, o talento, a competência, o rigor, a disciplina e o espírito libertário dentro do peito de Didimo e que em várias oportunidades deu mostras de justeza em defesa da democracia e de companheiros presos durante a ditadura militar, pós 1964. Além da sua luta ferrenha, sindical, em defesa dos trabalhadores de modo geral. Mas uma coisa é conviver com alguém no trabalho. Outra coisa é conviver mais de perto, sem a correria característica da redação. Como dizia no início, nas últimas semanas tive e ainda tenho o privilégio de conviver com Didimo ao ponto de entrar na vida dele. Escarafunchar o passado dele. Viver o presente dele. E por isto mesmo, conhecê-lo mais do que o conheci durante quase duas décadas e meia de trabalho na Redação do EM. As pontas dos dedos coçam querendo ir mais adiante nessa exaltação ao Didimo. Mas ainda não é chegado o tempo e também porque, de fato, a intenção não era bem essa ao começar a escrever este texto. O que me levou a trepidar nas teclas do computador foi a informação que colhi da boca de Didimo, e certamente cairá no agrado dos corações montesclarenses: uma das mais importantes coberturas jornalísticas feitas por ele, ‘em toda a minha vida’, foi o caderno especial sobre o Centenário de Montes Claros, em 1957. Na ocasião, Didimo entrevistou Simeão Ribeiro Pires, Hermes de Paula e ainda investigou a vida de Dona Tiburtina, entre outras coisas. Fez tudo sozinho. Montes Claros vai completar 153 anos daqui a pouco. Para que cada um possa exercitar a cachimônia e a aritmética, faça as contas. Descubra quantos anos tem o caderno especial que Dídimo fez sobre o Centenário de Montes Claros. O detalhe curioso mesmo é o fato de ele ter namorado uma mulher de Montes Claros durante os festejos do centenário. Ela vive. Segundo garantiu, ficou apaixonado. Não entramos nos detalhes sobre o porquê de o namoro ter acabado. Nem era conveniente ir mais fundo nessa direção. Sequer o nome da namorada foi revelado. Outra informação colhida nas conversas com Didimo: na década de 1960, o Brasil tinha cerca de 30 mil quilômetros de estradas de ferro. Podia-se cortar o País de cabo a rabo, de trem. Caso específico de Montes Claros, com o trem de passageiros. Vinha de Salvador, passava por Monte Azul, no Vale do Jequitinhonha, até Montes Claros. De Montes Claros ia para Belo Horizonte e depois para o Rio de Janeiro. Hoje, o Brasil usa pouco mais de 11 mil quilômetros de estrada de ferro. 19 mil quilômetros de estrada de ferro enferrujaram e enferrujam ainda cada dia mais. Um prejuízo incalculável. Bens materiais e os problemas socioeconômicos e políticos gerados pelo fato de a opção em termos de transporte ter sido rodoviária, ninguém pode avaliar com certeza. Didimo termina um livro sobre mineração, em que mostra, com a maior riqueza de detalhes, o quanto sofrem os países ricos em minerais. Fiquei pensando se o Norte de Minas não está na iminência de virar ‘território chinês’ por causa do minério de ferro. Mas vamos esperar para ler o livro dele quando chegar a hora. Saberemos, então, o porquê de a riqueza não ficar nos países detentores das lavras. Cria asas ou toma doril. Enquanto conclui o livro, Didimo empreende outra viagem. Esta, imaginária, em um trem. E ao mesmo tempo, é uma viagem tão real como a própria vida dele, desde a sua querida Jacui, no Sul de Minas, até aos anos 2010. Estudioso, digno, defensor dos direitos coletivos, ele é daqueles homens que, de fato, amam a raça humana. Todo dia Didimo se levanta às 4h da madrugada, senta à mesa, pega papel, caneta e vai escrever.
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