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Mensagem: De mulas e letras Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Acaba de ser lançado o novo número da ´Revista da Academia Mineira de Letras´, correspondente a outubro, novembro e dezembro de 2009, o ano centenário da instituição. Rico material a se ler e apreciar, como aliás é do feitio e prática da excelente publicação. Parei no ´Perfil Acadêmico´, em que é focalizado Danilo Gomes. Danilo ocupa a cadeira nº 1 da Academia, em que sucedeu a Cyro dos Anjos, meu conterrâneo que alcançou a glória da Brasileira de Letras, por méritos indiscutíveis. Assim, de algum modo, Montes Claros entra no contexto, porque Cyro era da cidade norte-mineira, onde também nasci. Mas há outros pontos de aproximação. Estudamos ambos no ginásio Dom Bosco, em Cachoeira do Campo, embora em épocas diferentes e, consequentemente, com outros professores. Amamos a gente simples do interior e outros sentimentos como os revelados no ´Perfil´: ´Ficou-me um gosto pela roça, pelo meio rural, pela música sertaneja dos velhos tempos. Tenho uma alma rural, fazendeira, rancheira, telúrica. Gosto até hoje de carros de boi, de comida da roça, de cheiro de curral, do cheiro do cigarrinho de palha, que - eu, menino, - fumava escondido; de ouvir galo cantando. Tenho uma alma barroca e, ao mesmo tempo, virgiliana, rústica, bucólica. Sou conservador, desconfiado, religioso, com forte queda pelo canto gregoriano e pelos mosteiros beneditinos´. Estudamos latim, de que esqueci quase tudo aprendido. Também pudera! São tantos anos. Mas ambos temos gosto pelo silêncio, pela solidão, som de água de bica e riacho. Mozart, Bach, Vivaldi, te-deuns e requiens... Estivemos em Belo Horizonte, eu fiquei. Passamos pelo Rio de Janeiro, eu dando duro em dois jornais, cujo pagamento tinha um ponto em comum: atrasava todos os meses. Um simplesmente não quitou seu débito, nem o fará: fechou as portas. Da biblioteca de um tio, advogado Aldo Hildo Motta, extraiu um livro que o impressionou sobremaneira: ´Recordações da Casa dos Mortos´, que também - desde minha adolescência - me atraiu, abrindo-me a porta do fascínio por Dostoievski, sobre quem muito escrevi na imprensa belo-horizontina. Depois, vieram ´O sósia´, ´Os Irmãos Karamazov´, ´Humilhados e Ofendidos´, ´O Idiota´, e o inesquecível ´Crime e Castigo´, transposto ao cinema, mas também ao rádio, quando não havia televisão. O romance terá impressionado, também muitíssimo, Francisco, que apresentou uma versão digna pela Rádio Guarani, para deixar saudade. F. Andrade tinha uma bela voz, nascera em Ouro Perto, foi secretário da Câmara Municipal de Belo Horizonte, era irmão do maestro Delê e do Bené, um dos donos do primeiro grande serviço de ampliação sonora da capital - a Italo & Andrade. São tempos idos e vividos, mas não esquecidos, pelo que se vê. Se o autor marianense se recorda da tropa de burros de seu avô paterno, Carlos de Assis Gomes, que utilizava para comércio, não me falha a memória a chegada das tropas de mulas carregando os produtos da roça para venda no mercado de Montes Claros, nas concorridas feiras dos sábados. Era uma vida saudável e amável. Ambos tivemos algum material publicado pelo ´Suplemento Literário´, do Minas Gerais, uma criação consagradora de Murilo Rubião, o ficcionista competente, amigo e bom de papo, que se preocupava com a situação dos homens de letras em apuros financeiros. Com seu sucessor Wilson Castelo Branco tomei cervejas na hora do almoço, em tempo que ela era ainda permitida após a jornada da manhã. Wilson tinha muito com a minha maneira de ser, foi um dos autores do relatório da gestão Israel Pinheiro no Palácio da Liberdade, missão que finalmente ele transferiu para mim. Fazer o que? Com o período concretista do ´Suplemento´, Danilo e eu não tivemos muitas oportunidades de colaborar. Estou com Danilo que julgava complicado ler ´aquelas experiências de laboratório poético´, digamos assim. De qualquer modo meu pensamento era convidar o público à leitura do novo número da ´Revista da AML.´ O espaço acabou, mas o convite persiste.
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