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Mensagem: Time de Bonga Alberto Sena Meu futuro como jogador de futebol profissional não passou de uma experiência amadora no Juvenil do Casimiro de Abreu, mais conhecido como “time de Bonga”, em Montes Claros. No futebol daquele tempo, os dois ponteiros tinham só duas opções de jogo. Ou entravam pelo meio rumo ao gol ou iam à linha de fundo e cruzavam para a área. Como ponta direita veloz, a minha especialidade era ir à linha de fundo a fim de cruzar ‘na coivara’. Tecnicamente, eu me arrumava com uns cortes pela direita e pela esquerda ou com uma jogada de corpo ou mesmo gaúchas para pegar a bola além do marcador. Mas a instrução era de o meio-campo, com Aloísio, Carlinhos ou Adilson, lançar os ponteiros rumo à linha de fundo. O que acontecia depois sempre me lembrava a ansiedade de um técnico de time de várzea, analfabeto de pai e de mãe; ele costumava gritar para os seus pupilos: “chuta na coivara e frexa”. No meio-campo, Aloísio era mestre em lançamentos. Gritava: “vai...” E dava chutes enviesados, quase todos bem aproveitados, quando não eram com muita força e a bola ia para fora. Não fui ponta direita de marcar muitos gols. Mas proporcionava gols de badeja para os companheiros indo à linha de fundo fazer cruzamento e os gols saíam da cabeça de Ronaldo Chamone ou do pequeno Zoca, que feito Garrincha, tinha pernas tortas, habilidade e agilidade de um craque – ele até jogou no time principal, dos adultos. O técnico Bonga tinha relação quase profissional com ‘a rapaziada’, como gosta de dizer o controvertido Romário, autor de mais mil gols. Com quase dois metros de altura, Bonga fora goleiro profissional e conhecia muito de futebol e nos transmitia toda a sua sapiência deste esporte bretão. O time tinha até atendimento médico no consultório do dr. Barreto. Cada um possuía escaninho. Os uniformes, todo branco ou todo azul, eram limpos e bem conservados; cada um recebia chuteira e tinha roupa de treino, tudo impecável. O time juvenil do Casimiro de Abreu era espelho do time principal. Havia na época uma rivalidade grande entre Ateneu e Casimiro de Abreu. Bonga não admitia fumante no grupo. Se ele visse um de nós fumando, além de tomar o maço de cigarros e jogar fora – e ele tomou algumas vezes – ficava chateado. Era como o pai que se surpreende ao deparar pela primeira vez com o filho fumando. Bonga ficava “de mal” por algum tempo. Entre nós, Chiquinho era o que mais fumava e em compensação era o mais resistente em campo. Num domingo, ele ganhou corrida de resistência na pista da Praça de Esportes, de manhã; e à tarde, jogou os 90 minutos pelo Juvenil do Casimiro de Abreu e ainda marcou um gol. Fomos bi-campeões da categoria e achamos que podíamos ganhar do Juvenil do Botafogo, no Rio de Janeiro, em General Severiano. Fomos levados por Toninho Santos de ônibus dirigido por Renê, irmão de Muzinho. Ele fazia aquelas curvas da estrada do Rio como se estivesse numa reta. O coração ficava nas mãos. Era a minha primeira viagem interestadual. Ficamos hospedados num casarão antigo em Botafogo e antes do jogo fomos à praia, e foi então que muitos de nós vimos o mar pela primeira vez. Depois fomos almoçar no Canecão (não por coincidência, está fechando ou já fechou as portas) e em seguida, nos preparamos para o jogo. Na época, Ferreti era o centroavante do Botafogo e ele, sozinho, liquidou a fatura: 4 a 1 em riba de nós. Ainda assim, achamos que aquilo fora uma fatalidade e convidamos o Botafogo para ir a Montes Claros. E sabe o que aconteceu? O Botafogo aceitou. O jogo foi numa noite, no campo do Ateneu. Eu nunca tinha jogado sob as luzes de refletores. As arquibancadas ficaram apinhadas de torcedores. Empatamos em zero a zero. O nosso goleiro, Duílio, pegou dois pênaltis. E sabe o que o Botafogo fez? Levou Duílio para o Rio de Janeiro. Os comerciantes atacadistas João e José Maria Melo eram os grandes incentivadores do juvenil do Casimiro de Abreu. Volta e meia, eles arrumavam compromissos para nós nas cidades vizinhas, como Janaúba, Januária, Jequitaí, Granjas Reunidas, Engenheiro Dolabela, entre outras. Nós viajávamos na carroçaria da caminhonete dirigida por João Melo. Nunca vi ninguém com pé tão pesado no acelerador. Mas pudera, a caminhonete vermelha parecia conhecer de cor e salteado todos os pedregulhos do cascalho das estradas. João Melo ligava a ignição e o resto era por conta da caminhonete. Só uma vez aconteceu um acidente. A caminhonete capotou. Por sorte ninguém morreu. Eu e outros não estávamos nesse dia. João Batista estava. Ele ficou sem um dedo da mão.
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