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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 31 de outubro de 2024
 

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Mensagem: Duas obras, um destino Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Duas histórias, o mesmo destino. No final do século XIX, o Rio de Janeiro se ressentia da inexistência de um entreposto de gêneros alimentícios para atender à demanda da população sempre crescente. Houvera antes a Praça do Mercado, obra de Gradjean de Montigny, ou o Mercado do Peixe, de 1841, como registra Paulo Pacini, mas era passado. Após demoradas negociações entre a Municipalidade e o Governo federal no que tange à permuta de terrenos, em 1903 se iniciaram os trabalhos de construção de um novo mercado, junto à Praça Dom Manuel, na Misericórdia. Três anos após, em 1907, com a presença do presidente Afonso Pena, inaugurou-se a obra, em dezembro. Supunha-se empreendimento para sempre: área de 20 mil metros quadrados, estrutura de ferro importada da Europa, no centro havia um pavilhão octogonal com 35 metros de altura, além de um relógio. Existiram 16 ruas internas, oito radiais e oito transversais, com calçamento em paralelepípedos, e centenas de lojas dotadas de serviços e água, luz, esgoto e gás. Destinado à venda de alimentos, o Mercado Municipal se tornou, em boa parte do século XX, o maior complexo comercial da região. Mas o Rio de Janeiro seguia crescendo. No final dos anos 50, a Prefeitura do então Distrito Federal pensava em demolir o imóvel em virtude de um projeto de urbanização, para possibilitar a construção da Avenida Perimetral, embora o traçado não exigisse a remoção integral do mercado. De qualquer modo, ele foi inteiramente destruído, sem cerimônia, eliminando-se um patrimônio público... e histórico. Em Montes Claros, cidade norte-mineira, em 1897, o presidente da Câmara, Honorato Alves, recebeu um documento dos comerciantes da Praça Dr. Carlos, pedindo a construção de um entreposto moderno, para satisfazer as necessidades da população e dos pequenos produtores rurais. A cidade, dividida pelos partidos ´de Baixo´ e ´de Cima´, enfrentou os prós e contras. Para evitar longas discussões, a construção do imóvel foi rápida. Mas, certa noite, acordou-se com um forte estrondo, como conta Ruth Tupinambá Graça. O prédio, com cumeeira inaugurada, simplesmente veio abaixo. Sem vítimas. Prós e contras, todavia, queriam um novo mercado. O Cel. Antônio dos Anjos, liderou um movimento de subscrição Cassimiro Mendonça entrou com 200 mil réis, causando escândalo pela quantidade de dinheiro. O Cel. Antônio dos Anjos, o paladino, pai do escritor Cyro dos Anjos, conseguiu dois mil, 360 mil contos. Assim, em 2 de setembro de 1899, a construção foi solenemente inaugurada, mais uma vez. Era um enorme casarão branco, tipo chalé, com quase 30 metros de frente e 32 de fundo, com sete cômodos de cada lado, para instalação das vendas dos comerciantes. Ao centro, enorme área vazia onde os tropeiros e bruaqueiros espalhavam suas mercadorias. Ruth Tupinambá lembra que, por muitos anos, ali foi o ponto vital da cidade, local de bate-papos, assuntos políticos, religiosos e sociais, negócios, decisões familiares, tudo a discutido ou objeto das naturais maledicências. A grande festa era, porém, no sábado, quando se concentravam os produtores rurais e os consumidores. Comprava-se e se vendia, ruidosamente. Tudo o que o sertão produzia ali se negociava, chegadas as tropas com as mercadorias no final de sexta-feira. Os bons mercados propiciam um cenário rico para os olhos. O melhor dos produtos da natureza é ali expostos. Há pessoas que, visitando uma cidade, perguntam primeiramente onde ficam o mercado e o templo. No de minha terra, uma imensidão de coisas a dar água na boca, afora o contato direto com a gente simples do interior, que não pensa senão viver em relativo conforto, mesmo quando as invencionices dos dias modernos queira enfeitiçá-los. Para isso, atuam as televisões ininterruptamente. As donzelas roceiras não perdiam oportunidade da vinda ao centro maior de consumo e embonecavam para mostrar boniteza, mesmo vestidas com as roupas modestas feitas domesticamente. No fundo do mercado, a viola tocava triste à medida que a noite avançava. Como o da capital brasileira, o mercado da capital norte-mineira foi demolido em nome do progresso. Um patrimônio da coletividade, de longa história, veio ao chão. O relógio, que marcava as horas do dia, tomou outro destino, e jaz silencioso.

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