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Mensagem: MENINICES Sentados na cozinha da nossa casa, Marcinha e eu, garotos, ouvíamos embevecidos a prosa do tempo do onça de nossa avó Eny com a antiga cozinheira Joana. Recordavam conhecidos, distantes a muito: comadres, sinhás, agregados... Joana coava um cafezinho e vigiava os biscoitos no forno. Vovó, aposentada a pouco do Dnocs, balançava a perna, pitava e soltava a fumaça em rodopios. Volta e meia entrelaçava os dedos e rodava os polegares em círculo. Para frente e para trás. Pressa? Nenhuma. A conversa ia maneira, parecia uma pescaria. Silêncio, silêncio, até que uma fisgava na memória um relembramento: “Ih, e Sá Joaquina? Passava roupa que era uma beleza. Tudo engomadinho, limpinho, alvim, alvim... Ouvi falar que uma neta dela, uma dos olhos gateados, amigou com um policial e mudou lá pros lados do batalhão. Mas num tá gostando não, dizem que o homem bate nela.” Papo vai, papo vem, volta e meia pintava um pedinte para receber sua concha de feijão, que meus pais costumavam doar aos necessitados. Na cozinha, ficava um saco de mantimento, no seco e verde, que era distribuído no decorrer dos dias, ordeiramente, sem atropelos. Quando acabava, Benjamin, um empregado amigo, repunha um novo saco ao pé da porta. Os mendicantes chegavam a nossa casa, que não tinha os altos muros de hoje, entravam pela garagem, punham a cara na porta da cozinha, davam um “bôoa”, estendiam seu embornal, ganhavam uma porção de feijão, deixavam um “Deus lhes abençoe” e iam embora providos. Uns, mais íntimos da cozinheira, eram adulados com café, pão e até prato de comida. Retribuíam o donativo com as novas da cidade, o disse-me-disse, um fuxico: “O menino de Leonel Beirão brigou lá nos Morrinhos, teve facada e tudo mais”. Conversa vai, conversa vem, de súbito, surgiu um tipo horrendo, sujo, esfarrapado. A feiúra e o rompante foram tais que nos deram um grande susto. A pequena Marcinha, assombrada, abriu a boca. Num átimo, eu disparei: “tira a máscara, homem, tira a máscara, que ela pára de chorar”. Foi uma gargalhada só. Passado o susto, os risos, as desculpas e a falta de graça, logo que o feioso foi embora, vovó Eny consolou minha mancada contando uma outra de sua filha Maria Jacy, minha mãe, quando menina. Relembrou que outrora os viajantes a cavalo pousavam nas fazendas de conhecidos que ficavam nas ermas travessias. Normalmente, um cavalariano vinha na frente, avisando que fulano ou fulana com mais sicrano e beltrano iriam chegar ao final da tarde e solicitava pouso. O aviso evitava que o proprietário fosse pego desprevenido, dava tempo para lustrar a casa, esticar as roupas de cama, preparar uma comidinha e providenciar água quente para o banho tcheco. Ou melhor, tcheco, tcheco. Pois bem, Vovó avisada da vinda da Sinhá Tiana, deixou escapulir, na frente da filha Jacy, a seguinte observação: “Oh, gente, a comadre Sebastiana é tão boa, tão prendada, mas dá pena a feiúra dela.” Cici, pois, pequetita, ouviu aquilo e ficou esperando a chegada do estrupício. Lá pelas tantas, já entardecendo, foram para porta da fazenda aguardar o cortejo. Chegaram, desapearam. A menina Cici observava tudo, tanta gente nova, o cumprimenteiro geral, e não tirava os olhos da Sinhá Tiana, até que destramelou: “Uê, mãe, a comadre é feia, mas não é tão hor-ro-ro-sa assim como a senhora falô!”
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