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Mensagem: De saias e calças compridas na Justiça e, mais, gravatas Foi com muita satisfação que vi minha conterrânea, a ilustre ministra Carmem Lúcia Antunes Rocha usando esta última indumentária feminina numa sessão do Supremo Tribunal, enterrando de vez o preconceituoso tabu que vigorou na Justiça tantos anos. E fiquei a recordar fatos embaraçosos sobre tal tabu, presenciado por mim ao longo dos meus cinqüenta anos de advocacia. O primeiro e mais chocante ocorreu com minha primeira esposa, Esther Antonieta Ferreira Tourinho, barrada por um mal educado segurança do Supremo ao adentrar- se no prédio, usando calça comprida discreta e blazer, em minha companhia e do meu colega e defensor João Procópio de Carvalho, auxiliando ao então advogado José Paulo Sepúlveda Pertence ao tempo em que, eu exercendo o mandato de Deputado Federal, fui processado com base na lei de segurança nacional por ter denunciado a chamada operação cristal que, com atentados terroristas atribuídos à esquerda, mas praticados por militares e para militares, objetivavam impedir a abertura política que se iniciava. A Esther foi advertida quanto ao traje de forma mal educada, no que resultou numa ríspida discussão minha e do João Procópio com o segurança, felizmente pacificada pelo Diretor Geral do Supremo a quem eu era ligado por laços de amizade. Vinte e seis anos após, outra montesclarense, ou seja a Ministra Carmem Lúcia, enterraria a idiota proibição que tanto constrangeu sua conterrânea. Lembro-me, ainda, ao tempo em que as mulheres usavam sobre a calça comprida uma pequena saia. Advogada de personalidade muito forte, da direção da OAB-Mulher, tentando despachar, assim trajada, com um juiz extremamente conservador dele ouviu que nada despacharia por estar ela de calça comprida, o que a levou, de forma totalmente inesperada,a declarar “não seja por isto”, ato seguinte retirando-a, ficando apenas com a saia curta. O cômico da cena, presenciada por mim e outros colegas que não conseguimos conter o riso, foi o juiz levantar-se abruptamente de sua cadeira, dirigindo-se ao escrivão ordenando-lhe que retirasse a atrevida advogada do seu gabinete. Recordo-me, também, das meninas do Licurgo, Escrivão da 1ª Vara da Fazenda em longas escadas à procura de autos, com o balcão de atendimento cheio de advogados, numa difícil ginástica de manter as saias perfeitamente encobrindo suas pernas,o que só conseguiam às duras penas. Mas, saltando-se de saias para gravata, adereço masculino que sempre detestei, lembro-me de que, tendo feito inscrição para sustentação oral no Tribunal de Justiça, enfiei a mão no bolso do paletó e não encontrei o famoso pedaço de pano. Coberto pela beca, pensei que a ausência da gravata não seria notada. Ledo engano. Um severo Desembargador, já falecido, dirigiu-se a mim dizendo-me: não acha o senhor, Dr. Genival, que uma gravatinha ficaria melhor? A resposta foi pronta e desconcertante: Não tenho, poderia V.Exa. me emprestar a sua? Todos os presentes, inclusive o interpelante, levaram o rápido diálogo na esportiva e pude fazer minha defesa oral, ganhando a causa, inclusive com o voto daquele saudoso Desembargador. No dia seguinte, subindo no mesmo elevador com o inesquecível amigo José Figueiredo e Silva, que sabia e compartilhava da minha birra com gravatas, disse-me ele que ouvira um comentário sobre o último episódio aqui descrito, afirmando em seguida que descobrira para que servia o adereço. Prontamente perguntei-lhe: serve para quê? Resposta pronta, exibindo-me a parte interna da gravata que usava: para limpar óculos. Gargalhada geral dentro do elevador do velho fórum da rua Goiás. Mário Genival Tourinho-advogado OAB/MG 5.994
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