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Mensagem: Minhas putas Gabo (Gabriel García Márques) escreveu o magnífico livro “Memória de minhas putas tristes”, lançado no Brasil pela Record, em 2004, numa bela edição de 127 páginas. O jornalista de vida monótona, aos 90 anos, reencontra o amor em Delgadina, ninfeta com quem dorme no randevu de Rosa Cabarcas, e, daí, passa a fazer coisas mirabolantes, provando que é o amor que nos vivifica. Li o livro há uns quatro anos e sempre, quando a história me vem à cabeça, penso nas putas de meu tempo. No quanto alegraram minha vida. Sou grato a elas, tal qual o genial escritor colombiano à sua ninfeta. Tanto às que viveram quase na miséria, quanto às que encontraram bons abrigos, boas camas e comida. Recatadas, não usavam drogas. Religiosas, respeitavam o próximo, o parceiro de cada dia ou de cada momento. Asseadas, ainda que os recursos da medicina lhes fossem escassos, não eram pródigas. Quase não fumavam. Ingeriam, com moderação, bebidas alcoólicas e raramente aprontavam um “barraco” ou “pegavam mal”. Muitas se apaixonavam. Não havia motéis. Não se usavam camisinhas. Não havia AIDS. As mais sortudas residiam em casas de renomadas cafetinas, onde se alimentavam e usavam confortáveis leitos para ganharem o pão de cada dia. Ao fim do expediente, cansadas, adormeciam sozinhas ou acompanhadas, dando às patroas um bom percentual do que faturavam a cada jornada. O advento dos motéis fez cair assustadoramente o movimento das chamadas “casas de prostituição”. Muitas fecharam as portas. As “profissionais” foram sucumbindo à concorrência das “amadoras” e um novo tipo de puta apareceu, as “meninas de programas”. São moças que levam vida normal no seio de suas famílias – algumas trabalham e estudam – e frequentam bares, restaurantes, boates e similares, aonde se encontram, normalmente à noite, com homens carentes de amor, que as remuneram regiamente para usufruírem de seus corpos. Excessivamente “profissionais”, chamam os locatários simplesmente de “clientes”. Homem, para elas, é somente sinônimo de dinheiro. Algumas guardam amor a namorados. Quanto a esses, alguns sabem e admitem a vida dupla de seus amores e até levam vantagens, outros, não. Muitas enveredam pelo caminho das drogas para suportarem os traumas existenciais que lhes causa o aluguel de seus corpos. Essas putas modernas foram perdendo o charme das do meu tempo. Tornaram-se fúteis. Seus belos sorrisos, emoldurados por caros perfumes e vestidos formosos, são falsos. Já as do meu tempo, algumas hoje na miséria, sobrevivendo da caridade, pensaram mais em ofertar e desfrutar prazeres do que em acumular riquezas. Escreveram páginas que poderiam abrigar um belíssimo livro de Gabo. O certo é que falar das vidas de umas e de outras, com raríssimas exceções, sempre será escrever sobre tristes memórias de putas, ou sobre memórias de putas tristes.
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