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Mensagem: Leonel Beirão de Jesus José Prates As cidades homenageiam seus filhos dedicados, com estatuas ou nomes de logradouros públicos. É uma maneira não apenas de agradecimento pelos serviços que prestaram à comunidade, mas, sobretudo uma forma de perpetuar a sua memória, deixando à vista os seus feitos para conhecimento da posteridade. Montes Claros não fugiu à regra: ruas e avenidas têm o nome de filhos ilustres que se sobressaíram nas letras ou na política como Dr. Plínio Ribeiro, Simeão Ribeiro, Aroldo Tourinho e outros. Um desses homenageados, exceção eu acho, não foi político nem intelectual, mas, um simples, criativo e ousado nos seus empreendimentos, tornou-se um homem do povo: Leonel Beirão de Jesus. Morreu e entrou pra história da cidade, como nome de Avenida. Está ao lado dos ilustres políticos e intelectuais filhos da terra que o povo considerou merecedores da homenagem. Leonel a mereceu? Claro que mereceu. Qual de nós, que viveu aquele tempo, não se lembra dos momentos felizes da criançada correndo atrás da “boneca do Leonel” em propaganda comercial pelas ruas centrais, fazendo todo mundo sair à porta para assistir ao espetáculo? Poucos habitantes não necessitaram de Leonel para um trabalho qualquer ou um favor de última hora. Estava sempre pronto para o que desse e viesse; qual o morto que não recebeu seus cuidados para o enterro, na sua casa funerária, a única da cidade? No enterro, ia sempre à frente, abrindo o cortejo. Leonel era um homem do povo que vivia, também, para o povo. Na sua funerária enterrava o morto de família pobre e de família rica porque, como já disse, era a única da cidade. Se alguém não pudesse pagar as despesas do funeral, ficava de graça. Sem enterrar decentemente, não ficava. Alem desse gesto de humanidade, outros vinham, mostrando o seu interesse pelos menos favorecidos. Inteligente, com tino comercial, Leonel não teve, talvez, a oportunidade de estudar, não tendo passado das primeiras letras na escolinha dos Morrinhos que lhe consagrou com o nome da principal avenida..Segundo diziam, foi de tudo: engraxate na Praça da Estação, carregador de malas, e o que lhe notabilizou foi a propaganda comercial que ele modernizou na cidade, deixando de lado a distribuição de panfletos, como era o costume, para sair pelas ruas de megafone em punho, acompanhando a boneca gigante. Cabo eleitoral empenhado, pessedista convicto, estava sempre ao lado de pessoas influentes como o Dr. João F. Pimenta a quem chamava orgulhosamente de compadre. Contam, não sei é verdade, que certa ocasião foi preso por agressão a um jovem. Estava sendo conduzido à Delegacia, pela Rua Dr. Santos. Ao passar em frente à residência do Dr. Alfeu de Quadros, prefeito municipal na ocasião e homem de largo poder político, Leonel desvencilhou-se do policial condutor e saltou para o alpendre da casa do Prefeito e de lá ficou chamando o policial para tirá-lo, se tivesse coragem de fazê-lo. Dizem que o Dr. Alfeu apareceu no alpendre despertado pelo tumulto, acolheu Leonel e o caso “ficou por isso mesmo”. Faz muito tempo que não vou a Montes Claros, hoje cidade grande, capital do Norte de Minas, com outros costumes e outros personagens. As ruas centrais são as mesmas naturalmente. Mas, hoje, não caberiam Leonel Beirão e sua boneca gigante com sua banda e a meninada correndo atrás. A beleza poética de um tipo Leonel desapareceu da cidade metrópole que não tem espaço para ele. O que nos resta? A lembrança gostosa de uma Montes Claros sertaneja, de casas baixas, onde todo mundo conhece todo mundo e não cumprimentarem-se ao se cruzarem na rua “é falta de educação”. Gostosa e poética que parava pra ver Leonel passar.. (José Prates, 84 anos, é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros, de 1945 a 1958, quando foi removido para o Rio de Janeiro, onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)
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