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Mensagem: O Bisneto do Grande Babieca Alberto Sena Quando chegava dezembro é que era bom! Aliás, não sei se todos já repararam, mas Montes Claros ainda hoje fica boa é quando o mês de dezembro chega. É porque sempre se tem a esperança de que chova o suficiente para fertilizar a terra, garantir o feijão de amanhã e as pastagens para o gado, e é então que o mercado fica ‘cheínho’ de frutas. É da melhor qualidade o Mercado Municipal de Montes claros. Vamos pela ordem: primeiro vem o pequi, depois o umbu, o cajá-manga, a pitomba, a cagaita e a manga. Manga ‘comum’, manga ‘espada’, manga ‘carlota’, manga ‘ubá’, manga ‘coquinho’, manda ‘rosa’ etc. É manga que não acaba mais. Aliás, acaba. A safra de manga é rápida. Começa ali pelo final de novembro e vai até pelo início de fevereiro, se muito. Mas quem quiser chupar manga fora de época pode fazê-lo porque os pomares irrigados dão frutos o ano inteiro. São os milagres da água. Ainda não há variedade, mas é possível chupar manga ‘haden’, essas mangonas encontradas em ‘sacolões’. Tudo que foi escrito até aqui foi para lembrar o tempo de chupar mangas do tipo ‘comum’, como são conhecidas aí em Montes Claros, porque aqui são chamadas de ‘sapatinho’, um nome apropriado, porque de fato elas se parecem com sapatinho de recém-nascido. Mas quando esse tempo chegava e morávamos na Rua São Francisco, o pé de manga era a nossa segunda casa. Chupávamos mangas até ficarmos com a barriga deste tamanho! Os caroços nós íamos jogando pelo quintal mesmo, porque depois teriam serventia quando terminado o tempo de chupar mangas. Aqui pra nós, no particular: sempre achei que lá no paraíso as pessoas têm mangas à vontade. Muita gente fica o dia inteiro chupando mangas, lambuzando o rosto e as mãos. Mangas são dádivas, além de ricas em vitaminas. Segundo os mais empedernidos nutricionistas, na manga podemos encontrar um bom teor de carboidratos, betacaroteno (provitamina A), vitamina C, vitaminas do complexo B, ferro, fósforo, cálcio, potássio e zinco. Então, depois de chupada a última manga do pé, aquela que estava lá no topo, no galho mais fino, e que só podia ser vista de longe, porque estava em ponto, digamos, quase inacessível, então começava outro tempo. Tempo de imitar o que víamos nos filmes de caubóis estadunidenses. A essa altura os caroços de mangas chupados estavam secos. Cada um catava a quantidade que podia até ficar com os braços tomados e buscava o melhor esconderijo no meio de um mar de sabugueiros que se alastrava pelo quintal. Era o tempo da ‘guerra’. Dividíamos em grupos e a um sinal previamente combinado, caroços secos iam e vinham cortando os ares, do jeitinho como acontece hoje em dia, nas guerras de verdade, mísseis indo e vindo. É isso que dá enfiar dentro da cabeça de crianças maus exemplos. A tropa era constituída de uma plêiade de meninos e meninas como: Célia, Lúcia, Wanda, Tone, Rubens e Magela, os dois últimos primos, e, claro, este que registra para a posteridade o tempo em que as crianças viviam em quintais e criavam os próprios brinquedos. Mas desde aquele tempo (antes até), o ‘Tio Sam’ espargia o germe bélico do seu estilo ao nos enviar filmes cheios de tiros disparados por Roy Rogers, Rock Lane, Rex Alen, além de outros. E por falar em Roy Rogers, dia desses o cavalo dele, Trigger, empalhado ao morrer, foi leiloado. Era o primeiro dos 300 itens relacionados a Roy Rogers (1911-1998) e sua mulher, Dale Evans. O cavalo foi arrematado por US$ 386.500. O preço de um belo apartamento. Ninguém disse, mas é possível que o caubói estadunidense quisesse imortalizar Trigger, como Rocinante o foi nos versos ‘Del Donoso, poeta entreverado, a Sancho Pança e Rocinante’, o cavalo de Dom Quixote. Ele, Rocinante, que era bisneto do grande Babieca. Cavalo de El Cid, herói espanhol.
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