Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: OS QUATRO DO APOCALIPSE Alberto Sena Hoje eu fui à Biblioteca Pública de Belo Horizonte. Sabem quem encontrei logo na porta de entrada? ‘Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse’: Otto Lara Rezende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Peregrino. Dois deles estavam sentados num banco de madeira e estrutura em ferro e os outros se encontravam em pé. Eram esculturas em bronze, evidentemente, mas pareciam tão tranquilos; conversavam. Ao olhar os quatro a impressão era que o autor das esculturas, Leo Santana teve o poder de congelar uma época. Tenho minhas dúvidas se os quatro estivessem vivinhos da silva, em algum momento sentassem hoje para conversar bem naquele lugar. Os quatro marcaram uma época e certamente teriam coisas a reclamar dos nossos tempos. Talvez eles nem se arriscassem sair de casa com receio de atropelamento por essas ruas abarrotadas de carro e motocicleta, qual mosquitinho zunindo pelo asfalto. Por um momento, hoje eu bati um papo surdo e mudo com eles. E teve um instante em que passou por minha cabeça a seguinte indagação: ‘será que eles imortalizados em bronze é que são os mudos, os surdos e os cegos, ou ao contrário, nós que falamos, escutamos e enxergamos’? A minha ida à Biblioteca Pública remeteu-me a outra Biblioteca Pública, mas de Montes Claros, ali na Praça Dr. Chaves, próximo dos Correios em meados da década de 1950. Terezinha Batista ainda não tinha o sobrenome Murça. A primeira a nascer entre os 11 filhos de dona Elvira e Zé Bitaca (ele teria feito, se vivo fosse, 107 anos de idade neste dia quatro de setembro de 2010), ela trabalhava à noite na Biblioteca Pública de Montes Claros. Lembro-me de ter ido várias vezes com ela para servir de companhia, pois desde aquela década, século passado, ‘a presença de homem impõe mais respeito’, diziam, mesmo sendo o homem um menino de sete/oito anos de idade. A biblioteca funcionava no andar de cima de um pequeno prédio da Praça da Matriz. Para entrar era preciso subir escadas. A partir das escadas, certos jovens da cidade aproveitavam para fazer baderna. Daí Terezinha não poder ir trabalhar sem uma companhia. Os jovens costumavam até a desligar o medidor de energia, deixando as pessoas interessadas em ler e pesquisar às escuras. Claro, Terezinha, mais conhecida por Tê, nada podia fazer para impedir, às vezes, pequenas depredações por parte dos jovens que iam à biblioteca só com a finalidade de fazer baderna. Muito menos o menino que a acompanhava podia fazer alguma coisa. E polícia naquela época já era raridade. Entretanto, tudo não passava de excessos de juventude, coisas que acontecem a todas as gerações. Na ocasião, os bagunceiros colavam chicletes ou rasgavam páginas de livros e apagavam a luz. Gritavam e assobiavam. Desciam as escadas correndo. Era como um tropel de animais. Hoje, os jovens daquela época, se vivos ainda forem, devem estar de cabelos esbranquiçados. Poderia até citar aqui alguns nomes, mas creio ser desnecessário. Se porventura alguns deles lerem este texto, poderão até dar gargalhada pela peripécia em si. Mas a essa altura da vida já terão consciência do quanto perderam por não terem lido os belos livros de Malba Tahan (pseudônimo do matemático paulista nascido em Queluz, Júlio César de Melo e Souza), as fábulas e contos dos Irmãos Grimm; o livro ‘Robson Crusoé’, de Daniel Defoe; ou ‘Os Três Mosqueteiros’, de Alexandre Dumas; ‘Viagens de Gulliver’, de Jonathan Swift; ‘As Mais Belas Histórias’, de Lúcia Casasanta, entre muitos outros que fizeram a cabeça de gentes. Na vida tudo passa. Assim como passaram os excessos da juventude dos ‘Quatro Cavaleiros do Apocalipse’, em Belo Horizonte. Sabino subia e descia o arco do viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte. Aventura perigosa. Eles próprios passaram. A diferença é que os quatro construíram uma obra literária. A obra não passa. Nem passaram as imagens deles. Viraram esculturas em bronze. Ali na porta da Biblioteca Pública são como guardiões. Queira Deus estejam livres de eventuais excessos da juventude desses tempos cibernéticos.
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima