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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 20 de novembro de 2024
 

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Mensagem: ONTEM E HOJE

José Prates

Quantas vezes, na nossa idade, a gente pára no meio do caminho, olha pra trás e busca o tempo que ficou lá, já quase esquecido. Na juventude, na adolescência, ninguém pára porque tem pressa em percorrer o caminho da vida e o que ficou para trás é esquecido. Para nós, porém, que atingimos a idade que chamam de avançada, vale a pena voltar no tempo e reviver momentos felizes que nos marcaram a vida. Qual de nós não os teve? Esses momentos de felicidades que marcaram a minha vida depois da infância, eu os vivi em Montes Claros, cidade princesa, orgulho do norte de Minas. Foi assim a Montes Claros que vivemos e que ficou em nossa lembrança. O tempo correu, trouxe o progresso e a cidade calma e poética virou cidade grande com todos os seus problemas. Onde todo muno conhecia todo mundo, hoje ninguém conhece ninguém e “bom dia” ou “boa tarde” é coisa que não se usa mais ao cruzar-se em qualquer lugar. Agora, por exemplo, ninguém tira o chapéu nem se curva em saudação a uma senhora, porque nem chapéu usa-se mais. Alem disso, a mulher lutou e conseguiu emancipar-se e a emancipação destruiu a fragilidade feminina que exigia consideração e amparo. Hoje, mulher e homem diferem, apenas, no sexo. Foi o desenvolvimento que criou tudo isto, fez a cidade crescer e mudar o jeito sertanejo do povo pacato com poesia no modo de falar e simplicidade no gesticular. Foi o progresso. É o que dizem para justificar o desamor pela falta de Deus na alma do povo.
Hoje, matar é rotina que não alarma ninguém. “Com as cinco mortes desta semana, chegam a setenta e cinco o numero de assassinatos neste ano, em Montes Claros” A notícia no moc.com. não é alarmante. Coisa corriqueira, normal em cidade grande. A causa não é briga de família nem disputa de terra nem a arma é a peixeira dos tempos românticos, mas, a pistola 45 do tempo cruel que chamam de moderno. A causa o próprio jornal informa: tráfico de drogas, que naqueles bons tempos em moc, ninguém sabia o que era, nem por ouvir dizer. Mas, chegou lá, como chegou às capitais, aos grandes centros em forma de comércio dentro da ilegalidade, corrompendo tudo que fosse corrompivel. O tempo correu trazendo tudo isso que destruiu a beleza da cidade calma ao fazê-la adulta, em alto estado de prosperidade, como dizem e querem os que trabalham para o crescimento industrial e comercial. Romantismo é para nós que estamos fora do espaço e do tempo, buscando o que ficou lá atrás, para revivê-lo como bálsamo para a dor que a modernidade, com sua irreverência, nos trás. Por outro lado, temos que parar para pensar no que aconteceu neste último meio século e forçosamente temos que aceitar como conseqüência natural do desenvolvimento global que nos atingiu a todos. O tráfico de drogas que gera violência e deixa cadáveres estirados nas calçadas, não é um fenômeno: é o lado mau do desenvolvimento. Combatê-lo é necessário, mas, não com a violência costumeira que amedronta o povo e ceifa vidas. O combate eficaz deve começar por um programa terapêutico de grande envergadura para eliminar o consumidor, através de sua cura. Não é combatendo o traficante, mas, eliminar o tráfico, acabando com o consumo. Isto só pode ser feito com a cura do viciado. Ao que parece, ninguém pensa nisso porque é dispendioso e demorado. O preferível é usar a violência contra a violência e deixar que inocentes morram, atingidos por “balas perdidas”.

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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