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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 15 de novembro de 2024
 

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Mensagem: UMA LADY MONTES-CLARENSE

Dia 21 de Junho de 2009, com uma missa solene na capela do colégio Imaculada Conceição, inciou-se a comemoração do centenário da grande cidadã Felicidade Perpétua Tupinambá. Como fui sua aluna no primeiro ano do curso de Formação de professores deste colégio, me irmanei de coração em reverenciar uma mulher que foi um exemplo para sua geração: competente, solidária, intuitiva, tinha o dom de ouvir e cooperar.
Bem guardado está o que fica no coração e na memória como pessoas com as quais convivi e que deixaram exemplos a serem seguidos. Dona Feli, ocupa nesses espaços um lugar especial.
Sempre escrevo escutando música. Escolhi para falar sobre Dona Feli “Clair de Lune” de Debussi. Essa música é ela: serena, tranqüila, sonhadora. Escrever sobre Dona Feli, é escrever lembranças com afeto e com carinho. Ela era diáfana como a lua, seus cabelos dourados como o sol do inverno e, a voz mansa como a luz das estrelas.
Dona Feli- não sei chamá-la de outro jeito – era nossa professora de Educação Artística. A matéria por si mesma era muito agradável, a professora mais ainda e aprendíamos com ela o famoso tripé: hábitos, atitudes e habilidades. Sempre comentávamos sua classe, sua educação. Éramos incapazes de um comportamento inadequado. Dizíamos que Dona Feli já nasceu educada.
Ao lado de aulas enriquecedoras, eu adorava observar suas roupas sempre combinando com o sapato de salto alto, maquiada discretamente e no cabelo preso junto a nuca um laço de veludo preto ou uma presilha de tartaruga. Usava também um clássico colar de perolas e de vez em quando uma camélia branca. Era o que se denomina hoje, uma mulher classuda.
Não sei como agradecer a essa professora o presente que me deu no limiar da juventude. Como lecionava Educação Artística, nos levou a descobrir a essência de um poema, de uma paisagem, de um texto literário, de uma pintura ou de um bordado. Em suas aulas ensinava etiqueta, a arrumar um vaso com flores naturais, dava noções de decoração – o belo era sempre valorizado - sem saber nós aprendíamos noções de estética, pois ela nos levava à reflexão a respeito da beleza sensível e do fenômeno artístico.
Não esqueço de uma aula onde ela nos falou da luminosidade arrebatadora e do céu azul do mês de Abril, das noites frias e estreladas de Maio e dos entardeceres avermelhados de Junho. Quando estes meses chegam faço questão de vivenciar o encantamento da natureza. Graças a Dona Feli, aprendemos a ver e rever o mundo que nos cerca.
Abril de 1955. Lá se vão mais de cinqüenta anos. Ainda consigo recuperar pela memória afetiva a sensação que experimentei no primeiro dia de aula, quando retornei ao colégio, depois do falecimento de papai e, ela deu-me um abraço tão terno e profundo, que li em seu rosto o que hoje sei que se chama compaixão. Senti naquele momento, algo como um senso de cuidado, um senso de preocupação com o sofrimento e dores do outro. Aprendi que olhares e toques dizem muitas coisas.
Dona Feli, lecionou em todos os colégios da cidade; organizava festas e recepções, participava de saraus onde exercia a arte de declamar poesias. Tudo em Dona Feli era magia. Escreveu livros, ia a festas, trabalhava com o poder de se multiplicar por mil, tão distinta, tão leve, tão bela!
Hoje sei que em Montes Claros estava tudo que ela amava.
Dona Feli foi uma dama, uma lady. Essas qualidades evocam exatamente o lado mais doce e singular de sua personalidade. Mostrou que foi uma dama, exatamente pela elegância com que fez sua caminhada. E, sempre falou com o coração, porque tudo nela era coração!
Sua aluna agradecida

Carmen Netto Victória

Belo Horizonte, 24 de Junho de 2009

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