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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 14 de novembro de 2024
 

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Mensagem: SERESTA NO CÉU Benedito SAID Não passava das duas horas da tarde, quando se abriu um clarão no céu. Foi a chegada de Nivaldo Maciel. Na porta do eterno, São Pedro. Ao lado do santo pescador, Hermes de Paula, Raymundo Chaves, Gilberto Câmara, Luís Procópio, Adélia Miranda, seu Ducho, Virgílio de Paula, Beto Viriato, Telé, João Chaves e o irmão dele, o Benedito. Tinha mais gente cantadora, mas a festa foi tamanha que outros acabaram não identificados entre os abraços e cumprimentos por causa daquela boa nova em território celestial. Nivaldo chegou sorrindo. Berrante do lado, ele aboiou pelo caminho, entre as estrelas. Boiada tangida pelo velho seresteiro sempre foi gado feliz. Privilégio por ouvir aquela voz ao mesmo tempo tonitruante, possante, melíflua, identidade do sertanejo de alma moldada no sol e no cerrado, gosto de pequi exalado como néctar. Nivaldo é de família de artistas no fazer e no viver. Atavismo genético desde as terras de Buriti de Campo Santo, povoado ao largo do Distrito de Nova Esperança, onde Nivaldo Maciel aprendeu as primeiras lides do sertão. Passou pela Rádio Educadora, onde fazia um galo cantar para acordar a cidade ainda vestida de bucolismo rural. Foi vereador em dois mandatos, tempo em que ao legislador municipal nada se pagava. Gostava do campo como se gosta do doce bacupari. Mas a bela voz empurrou aquele homem para os braços da seresta. Foi cantar a vida, apresentar-se para presidentes e governadores. Recebia reverência, passou a ser referência. Morrer é dever humano. Chega logo ou mais tarde. O revés do útero, o túmulo, fica a espreita. Enquanto a morte espera, gadanha não mão, os mortais vão construindo sonhos, realizando obras, fazendo história. Quando chega ao fim a vida de um homem como Nivaldo Maciel, descobrimos a cidade está mais empobrecida, afastando-se das suas raízes. Sentimos que estamos nos distanciando do tempo do aboio, da mula madrinha na frente da tropa. Percebemos que os sobrenomes desgrudaram das pessoas, das famílias. A cidade ficou grande demais para lembranças emolduradas pela porta da fazenda, o curral, cafezinho adoçado com rapadura, seresta ao luar. Deixa. Imagine Nivaldo chegando ao céu: - Licença São Pedro. - Entre meu filho. Foi bem de viagem? - Conduzir boiada mansa e fora da invernada dá até tempo para ver as constelações. - Seu Ducho vai mostrar o tablado em que a seresta vai se apresentar. Guardaram este momento para cantar o Amo-te muito... - Obrigado.

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