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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 8 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Montes Claros Tênis Clube Quando as férias chegavam era uma festa só. Alegria por todos os lados, encontros, reencontros, horas dançantes. E, no meio de tantos eventos, havia um local onde a mocidade daquela época se encontrava: “ A Praça de Esportes”. O Montes Claros Tênis Clube, que de Tênis mesmo só o nome, pois apenas alguns gatos pingados freqüentavam a quadra deste esporte! O forte era a piscina onde “Seu” Marino e Francisco de Oliveira, o famoso “Sabú”, ensinavam natação e de onde saíram muitos campeões! “Sabú” era sósia de um ator indiano do mesmo nome e que fazia grande sucesso em filmes que tinham como cenário a “jungle” indiana. “Sabú” era enérgico, disciplinado, e ai de quem não fizesse a respiração e os movimentos de pernas e braços sincronizados. Só liberava os alunos para brincar, após o treinamento na raia, onde nadávamos batendo tábua. Naquela época havia o horário feminino de 15h às 16h, e o masculino após as 16h. Não se podia nadar juntos, a repressão e a discriminação é de longa data. Dona Olegária, uma doçura de pessoa, era a encarregada do vestuário feminino. Chegávamos esbaforidas, pois só tínhamos uma hora para nadar. Ela nos entregava os cabides para colocar as roupas e era a paciência e a bondade personificada. Tratava a todos nós com muito carinho, era mesmo uma mãezona. Assim que começava a aula, músicas das grandes bandas americanas, Glenn Miller, Benny Goodman, Tommy Dorsey, atacavam de “Night and Day”, “I only have eyes for you”, Begin the beginning”, “Summertime”. Sentíamo-nos como a própria “Esther Williams”, a maioria usando maiôs bem comportados, as mais corajosas pulando do trampolim e causando inveja àquelas que não conseguiam fazê-lo. Por falar em maiôs, não se pode esquecer um fato que revolucionou o horário feminino, o masculino e até a cidade. Naqueles idos, os maiôs “catalina” eram o “must do must”. De lycra, cores lindas, mas raramente apareciam por nossa Montes Claros. Quando chegavam a acontecer eram de moças visitantes, que residiam em Belo Horizonte ou no Rio de Janeiro, mesmo assim, maiôs de corpo inteiro e muito caros, pois o legítimo era importado. Pois não é que Mary Pimenta foi passear no Rio de Janeiro e voltou com uma novidade que correu a cidade dos “Morrinhos” aos ”Santos Reis”, do “Roxo Verde” ao “Alto de São João”. Ela comprou um maiô duas peças de malha vermelha, enfeitado com listinhas brancas. Era lindo! E, o mais sensacional: eram duas peças. Causou o maior sucesso! E ela desfilava ao redor da piscina cheia de si, enquanto o restante de nós, morria de inveja, pois nossos maiôs de algodão eram feitos em casa pelas mãos habilidosas de nossas mães. Não se sabe como, um comerciante, muito estimado na cidade, ficou sabendo do alvoroço causado pelo inocente maiô de duas peças e levou o fato ao conhecimento de “Seu” Messias Pimenta de quem era muito amigo, para as devidas providências; que aliás não foram tão drásticas assim, pois Mary continuou, feliz da vida, a nadar com o maiô vermelho, objeto do desejo de toda adolescente da época. Mas uma coisa ela conseguiu: abriu as portas para que também todas nós, suas amigas, conseguíssemos convencer nossas mães de fazer maiôs iguais para nós. E foi assim que o maiô duas peças estreou em Montes Claros. Às 16h soava o apito e estava encerrado o horário feminino; algumas mais afoitas desafiavam e continuavam a nadar, até que eram admoestadas pessoalmente por “Sabú” e saíam da piscina. E a tarde continuava com o jogo de Ping-Pong onde moças e rapazes flertavam, conversavam, e onde muitos namoros começaram. Como a vida era simples sem o consumo exagerado de hoje e, como éramos felizes com tão pouco. Hoje, aquela geração já se dispersou; alguns morreram, outros mudaram da cidade, mas a lembrança do Montes Claros Tênis Clube está intacta, tão presente, tão viva quando se escuta “I only have eyes for you”, porque como disse a poeta maior Adélia Prado “o que a memória amou fica eterno”. Carmem Netto Victória Belo Horizonte, Junho de 2000.

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