Este espaço é para você aprimorar a notícia, completando-a.
Clique aqui para exibir os comentários
Os dados aqui preenchidos serão exibidos. Todos os campos são obrigatórios
Mensagem: Festas de Aniversários De momentos modestos era a vida em Montes Claros; as festas de aniversário eram feitas em casa. Numa mesa forrada com uma toalha branca adamascada, ficava o bolo do aniversário com as velinhas que seriam acesas para o aniversariante apagar. Ao redor do bolo, os docinhos mais deliciosos do mundo: cajuzinho, maçãzinha, brigadeiro, olho-de-sogra, cocadinha, balas delícia que eram enroladas em papéis de seda coloridos e colocadas em cremeiras para compor a decoração da mesa. Os salgados eram empadinhas, pastéis, sanduíches recheados com patê ou salame, e, os quadradinhos de queijo de minas, salsicha e azeitona colocados num palito e espetados num abacaxi ou numa melancia. Vestidas com nossas melhores roupas, feitas de organdi suíço – espetava a pele e sob o vestido a anágua engomada completava o suplício – o sapato era o inesquecível e lindo sapatinho Shirley, de verniz preto ou branco, acompanhado de meias treis quartos. Combinando com o vestido, no cabelo, fitas xadrez ou coloridas amarravam tranças ou simplesmente usávamos laços como enfeites. O aniversariante recebia os presentes e era acompanhado pelos convidados para ver a abertura dos mesmos. Era uma correria! Os presentes eram colocados sobre a cama forrada com uma colcha de crochê ou o cobre-leito mais bonito da casa. Geralmente começavam à tarde e terminavam no máximo às 19 horas. Até a hora de apagar a vela, brincávamos de roda, anelzinho, fazíamos um teatrinho com cantos e declamação de poesias. Nada de correrias, pois os vestidos que usávamos não permitiam os brinquedos de correr. A hora do parabéns era esperada com ansiedade, pois somente após cantá-lo era liberado servir os salgados e os docinhos acompanhados do guaraná Champagne e das recomendações das mães para não fazer falta de educação, avançando nos pratos, um doce de cada vez! Tudo era feito em casa, com o maior capricho e com a ajuda das vizinhas. Quando chegava o aniversário dos 15 anos, a família caprichava mais. Era como um rito de passagem. Usava-se um vestido toalete que podia ser branco ou de outras cores, desde que fosse de ‘laise’, organdi ou organza ‘faille’, considerados tecidos nobres. Usava-se pela primeira vez um sapato ou sandália de salto alto, no máximo nº 05. Lembro-me de uma festa de 15 anos inesquecível para mim. Foi a de Maria Inês Veloso Silveira. Não me recordo se as festas de 15 anos já tinham sido batizadas de bailes de debutantes. Penso que esses bailes se transferiram para o Clube Montes Claros, por iniciativa do saudoso Cronista Lazinho Pimenta. O aniversário de Maria Inês foi em sua residência e para mim foi uma data mais que especial. Foi em Abril de 1956, não me lembro o dia. Tinha tirado o luto pelo falecimento de papai e estava farta, farta de usar azul marinho ou preto e branco. Minha Tia Tereza fez para mim uma saia godêt azul claro, com um bolso onde aplicou papoulas coloridas e uma blusa amarela com um decote generoso e me senti a própria Natalie Wood. Estava tão feliz em poder voltar novamente para a vida! Salgados, tortas deliciosas, doces e além do sempre presente guaraná Champagne, ponches, cuba livres, meias de seda, leite-de-onça, com doses moderadas de bebidas alcoólicas. Maria Inês estava radiante de felicidade, dançando a valsa com seu pai, e Dona Geralda atendendo a todos com sua simpatia e educação. Uma vitrola tocava música americana que chegava até nós pelos filmes. Os móveis foram arredados até as paredes e uma pista era tudo que precisávamos. Nós nos aprontávamos como o figurino dos anos dourados: Pó Compacto da Ponds, sombra, rímel, delineador nos olhos. Batom e rouge completavam a maquiagem. O cabelo armado com laquê não saía um fio do lugar. Envolvidas pela felicidade do momento, vivendo de ilusões e sonhos num mundo ingênuo, romântico e cheio de segredos, a vida era só alegria e leveza. Misturar o presente, o cotidiano e o passado me fascina. Tudo que escrevo, busco no que vivi. E, nunca me esqueci dos quinze anos de Maria Inês, porque acredito que depois da aniversariante, eu era a pessoa mais feliz da festa. Naqueles tempos, não tínhamos nada e tínhamos tudo! Esta crônica é dedicada a Maria Inês Veloso Silveira. Carmen Netto Victória
Trocar letrasDigite as letras que aparecem na imagem acima