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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 7 de novembro de 2024
 

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Mensagem: MILONGUEIRO. Din Canga, ou Din Bolero, ou Din Paiacim, era um rouxinol perdido nas chapadas do Norte de Minas! Criado na “larga” da vida, cedo aprendeu a malandragem e a sobrevivência noturnas. Aliados a isso havia a sua verve natural, o bom humor, a malícia, a habilidade em jogos de salão. Cartas marcadas. Crooner de boleros e latinas. Milongueiro de pista de boate. Não foi feliz no amor, mas cultivou uma legião de amigos! Toda alma que o Criador manda a esse mundo o faz em missão! Como diz o trecho de uma canção portenha “cada qual com o seu cada qual” Cada um na sua! Seattle, o grande cacique dos Cheyenes, chegou a dizer que: “não se deve julgar um homem antes de andar duas luas com as suas sandálias.” E segundo Descartes, “julgar é obsceno!”. Din Canga varou a vida buscando conquistar o amor de Cecí, um esplendor de beleza feminina, uma distração do Criador, uma profissional da noite que não o aceitou como freguês e muito menos como amante. Por ela ele bebeu rios de uísque Cavalo Branco e afinou as suas cordas vocais cantando para ela “Aurora de Flor”. Presenciei uma mostra dessa paixão, na Boate Maracangalha em 1967. Bebíamos à noite, quando Ceci adentrou no salão do “dancing” devidamente acompanhada, num trepidante “tête a tête”! A orquestra de Lauzinho sentiu o clima dando os acordes da música fatal. Por empatia e companheirismo, abraçado a ele, solidário com sua desdita, cantamos juntos no salão iluminado pela luz de um abajur lilás, o seu hino de paixão! Nessa noite Din se embriagou e derramou rios de lágrimas enquanto os seus olhos orientais brilhavam na penumbra, a observar, através da cortina líquida e ácida do seu pranto, seu amor, Ceci, a dama da noite que numa mesa a um canto do salão tinha os seus lábios sugados demoradamente por um rico freguês! Naquela noite tanto na pista, no bar ou no salão de dança estavam propositadamente quase vazios. Uma conspiração do destino carma. Era tempo de tomar um porre de “scotch”. De lembranças e desabafos. Hora de sorver o tom multicolorido das bandeirolas de papel crepom postas no teto como um bandô e que sugeriam um ambiente festivo. No ar, o cheiro típico das casas noturnas. Um misto de fragrâncias de perfumes Lorigam, Nuit de Noel, Royal Briar, Myrurghia e o creme Antisardina que as damas usavam na pele para não ressecar. Aromas de comidas, fermentação de cerveja, sexo, fuligem e fumaça (os fogões eram à lenha) e o aroma dos uísques importados. Uma corrente de ar canalizado através dos corredores longos e a umidade da água vinda dos tambores de metal duzentos litros, usada precariamente na limpeza genital dos amantes, servida em bacias e baldes de esmalte branco com friso azul pavão nas bordas. Aromas de sabonetes Lifebuoy, Vale Quanto Pesa e odores de glicerina aliados ao mau cheiro das águas sujas jogadas no quintal com piso de terra. Nessa mesma ocasião compreendi a falácia do homem em sua semântica libidinosa e pude, então, assistir ao vivo e em cores, o terrível massacre emocional de um apaixonado perante sua musa noutros braços. E junto com ele, no mesmo diapasão, cantamos “Aurora de Flor”...

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