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Mensagem: Um Sarau Montesclarino Por Márcia Vieira Sexta-feira, quase fim de outubro, a noite é de festa na casa da artista Felicidade Patrocínio. A própria residência é um convite. No jardim, as mãos de Deus se misturam às de Feli. Plantas e esculturas convivem em suntuosa harmonia. As figuras invariavelmente aparecem ofertando carinho, em forma de abraço, mãos que embalam ou que humildemente buscam o encontro doutras, num gesto de súplica. E embora a arte permita interpretações várias, é possível concluir que todo o trabalho brota de uma afetividade infinita. Circundando as esculturas ou dispersos pela área de verde e de terra, aparecem os totens, objetos cultuados em tribos primitivas, que num significado amplo pode-se dizer que é um protetor do clã, intermediário entre o homem e as coisas que estão além do homem. De acordo com Freud, que voltou os olhos para o estudo do objeto, “o totem é o antepassado comum de um clã, é o seu espírito guardião e auxiliar”. Seguindo adiante, adentramos numa sala com paredes forradas de telas. Entre os inúmeros e belíssimos quadros, de estilos variados, um encontra os meus olhos. É de girassóis e pintado por Konstantin, o búlgaro mais montesclarense de que se tem notícia. Luzes, piano, espelhos, altar, santos, pratos de nacionalidades diversas, cores e sons compõem o ambiente. E é neste clima de aconchego que acontece o sarau. O “culpado” pelo encantamento é o jornalista Magnus Medeiros, que aos completar suas “bodas de pérola”, vira alvo de bons encontros. Magnus e Feli recebem com alegria cada rosto familiar que desponta. Dona Yvonne Silveira, mestra de toda uma geração de montes-clarenses, tão querida e aguardada, surge faceira, acompanhada pela amiga Ilca Terence, a eterna professora de história do Colégio Imaculada, que educou/educa boa parte desta cidade. O percurso de Dona Yvonne é lento, não pelos seus passos, que agora na nona década de vida, ainda permanecem lúcidos e retos. O trabalho mesmo é chegar à cadeira, já que pelo meio do caminho todo mundo quer tirar uma casquinha do seu abraço. É fato que a professora tem lá os seus alunos prediletos, e estes, quando presentes, são responsáveis pelas maiores emoções que já observei em seu semblante. Mas não é engodo dizer que ela reserva atenção a cada um que lhe dirige a palavra, o sorriso, o afeto, tendo sido aluno ou não. O clima continua. Maristela Cardoso é a primeira a brindar os convivas. A lírica Maristela, que canta o mundo, do mundo e para o mundo, arranca lágrimas e aplausos. Em seguida chega karla, que comigo disputa saudavelmente o título de maior semelhança com Rita Lee. Devo dizer que nesta noite eu me rendi. O título é seu, karla! Depois de assistir a sua performance, embora nada levasse à Rita especificamente, eu me rendi. Você era misto de Chaplin e Michael, com pitadas de Brecht. As flores brancas fecharam o seu espetáculo, com graça e mais aplausos. Adriene Tupinambá aparece e faz carinho na alma de Magnus, com palavras doces. O carinho parte dela, mas generosa, deixa-nos à vontade para usufruir do afago e sentir como se as delicadezas brotassem dos lábios de nós todos. A noite está linda e recebe Olavo Ponciano com seus boleros. Todos cantam “perfídia”, batem palmas e transformam o ambiente em pista de dança. Entre petiscos e bebidas leves, aparece Ana Valda, anunciando que a palavra é e está franca, sugerindo manifestações. Eis que de repente, Dona Yvonne se levanta e rouba a cena. Deixa boquiabertos os presentes quando chega à frente e declama “Essa Negra Fulô”, de Jorge de Lima. Confortável em suas muitas primaveras, a professora não vacila em um só momento e é aplaudida de pé. Impressiona a todos com sua memória. Os elefantes que se cuidem! Ana Valda ressurge e convida-nos a assistir uma peça ao piano, apresentada por Saulo Leoni, na sala ao lado. O jovem pianista despontou para os rincões da arte, sob a batuta da nossa lírica Maristela. Wanderlino, Olímpia, Ligia Braga e Maria Luisa Silveira, se acomodam no sofá. Dona Fernanda Ramos se ajeita numa cadeira próxima ao homenageado Magnus e durante a apresentação, lhe entrega flores. No outro extremo, senta-se Dona Yvonne, atenta a tudo. Martha Verônica escolhe a janela e ao lado do marido, romanticamente assiste ao show. Felicidade, a anfitriã, nunca se sabe onde realmente está. Aqui e ali. Coordenando, cuidando, recebendo mais algum que chega, enfim, se multiplicando, como múltiplos são os seus talentos. Não resisto e peço uma coisinha de Beethoven. Saulo atende e toca “Pour Elise”. Explica que a “Nona”, é melhor para orquestra. Ao fim da apresentação, Clarice Sarmento, a maestrina, abraça o rosto do artista e o parabeniza. “Antes que termine a noite”, a fotógrafa Ângela Martins Ferreira brinda o homenageado com lindo porta retrato.Felicidade Patrocínio, explica a história de sua arte ofertando uma peça artesanal confeccionada especialmente para Magnus, onde num cantinho repousa uma delicada pérola. O dono da noite atende aos pedidos e chega ao microfone para cantar. Antes, porém, emocionado, explica que “a família, além de parentes consanguíneos, é composta por amigos e a sua, pela graça de Deus, é bem maior do que ele pensava”. E de novo, aparece a “Perfídia”. Desta vez, na voz de Magnus. Em seguida, “As Rosas não Falam”, de Cartola. O barítono Roberto Mont’Sá, aparece assim, de uma hora pra outra, e todos comemoram. O lamento pela sua ausência chega ao fim. O cantor acabara de chegar de viagem pelo sul de Minas, onde estivera à trabalho, por isso, o atraso. Foi perdoado, claro. Como bem disse Feli: “a arte salva!”. Pois bem, ele cantou e se safou! Mais palmas. Geralda Magela Senna (dos Senna do jornalismo- Alberto e Waldyr) faz a leitura de uma sua crônica, em que chora o peso do tempo sobre o Casarão nos arredores da Matriz. Clarice Sarmento vai ao microfone, relata passagens de vida com a presença constante e leal de Magnus, faz rir com suas sutilezas e jura amor eterno ao jornalista. E quem é que poderia fechar esta noite iluminada senão Wanderlino Arruda? Falou, desta vez, um pouco menos do que de costume e sempre com sua inegável veia cômica. Citou Eça de Queiroz e partiu para o ataque com o poema “Felicidade”, de sua (de Wanderlino) autoria. Foi lindo! O apetitoso jantar e as saborosas sobremesas tornaram-se coadjuvantes, numa noite em que nos fartamos principalmente de música, literatura e boas companhias. Um sarau pra ninguém botar defeito! Felicidade marcou na agenda e Magnus convidou: mais 30 anos de jornalismo, mais uma comemoração. Mesmo lugar e mesma hora. Estejam lá!
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