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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: De um ano para outro Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Não trouxe da infância reminiscências de festas de passagem de ano em minha cidade natal. Também, de lá parti muito cedo... Mas não me esqueço de que a memória primeira que tenho desses festejos lá aconteceu, quando se exibiu no velho, desconfortável mas amorável Cine Montes Claros, um filme sobre o fim do século XIX e o início do século XX, descrevendo a vida de Émile Zola, o grande autor francês, às voltas com a célebre questão Dreyfus. A ´casa de espetáculos´ era um barraco humilde, no centro da cidade, em que empresários sensíveis aos anseios da coletividade, resolveram instalar velhas câmaras cinematográficas, cujos filmes eram buscados em Bocaiuva, final da linha da Central do Brasil. Transportados em heroicos carros Ford bigode, ou antecessores, venciam quilômetros de caminhos carroçáveis, para satisfazer a distinta e ansiosa plateia. Ruth Tupinambá Graça relata aquele tempo com mestria. No meu tempo, a ferrovia já chegava a Montes Claros, o que era um notável avanço. No Norte de Minas, tudo foi conseguido por força de sacrifícios imensos... mesmo os bens mais comezinhos. Mas valeu a pena. Já era o caso do romancista e panfletário, autor de uma peça indelével - ´Eu acuso´, publicada no jornal ´L`Aurore´, e dirigida ao presidente da República, contendo uma terrível vingança de todos os que haviam participado da perseguição ao destraçado oficial, de origem semita, vítima de denúncia como traidor. No transcurso de 1899 para 1900, Zola se encontrava refugiado na Inglaterra e assistiu às festividades de passagem de ano e século, que o cinema, com as deficiências da época, tão bem transportou às telas. O que o cinema representou, as imagens que ofereceu, foi um retrato de um tempo que se queria outro. Era a ´belle époque´, que Alaor Barbosa, tão bem descreveu em ´Um cenáculo na Paulicéia´, período de paz entre as nações e os Estados da Europa Ocidental. Diz: ´Em 1900, derradeiro ano do século XIX, fazia, pois, trinta anos que a Europa Ocidental vivia, dentro do seu território, em paz´. Não fujo ao fascínio de um texto lapidar de Otto Maria Carpeaux, sobre o tema, em ´História da Literatura Ocidental´. Lapidar, sim, para resumir cem anos de humanidade: ´Depois de 1900, as crises econômicas tornam-se mais raras, têm repercussões menos extensas. A prosperidade fica quase estabilizada, modificando-se quase só no sentido de melhorar continuamente o standard de vida das classes médias; o proletariado, organizado em partidos e sindicatos, também luta com sucesso considerável, criando-se uma ´aristocracia´ de operários qualificados´. ´Apesar disso, não diminuem os lucros da capital, reunido em formidáveis truste e cartéis. Atribui-se esse milagre ao progresso da técnica, que proporcionaria riquezas cada vez maiores aos donos das forças da natureza´. ´Invenções que até havia pouco se afiguravam à humanidade como sonhos da imaginação de Jules Verne - telefone, gramofone, automóvel e avião - em breve não despertarão muita curiosidade. Aos progressos da técnica correspondem os da democracia: sufrágio universal, regime parlamentarista, liberdade sindical, conquistam-se até nas burocracias de tradição inveterada. Desaparece definitivamente o analfabetismo: escolas noturnas e ´University Extension´ divulgam, nas camadas baixas da população, conhecimentos outrora propriedade privada das elites. Nos recantos rurais, leem-se jornais que trazem notícias do mundo inteiro. O livre câmbio cultural sucede ao câmbio comercial. Celebram-se congressos internacionais de toda espécie, organizam-se internacionalmente as profissões e os partidos políticos. A humanidade parece marchar para o paraíso terrestre´. Parecia. O mundo é uma bola. Demos voltas. Estamos em 2010. Haverá, para os que viverem, uma nova ´belle époque´? ou é o que temos?

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