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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: CONVERSA DE BOTEQUIM 10 da matina de uma quinta feira, fim de mês asilado, todo mundo sem grana nos Montes Claros. Acabara de postar na Internet, no portal Overmundo uma crônica intitulada “Os Olhos” onde falo dos meus males de amor. Dou conta ao mundo virtual do nome da mulher desejada. Uma escorpiana olhos de naja tropical. Com as emoções em desalinho passo, em frente à lanchonete Cimentão Lanches na rua Coronel Antonio dos Anjos, ao lado do Shoping Popular, no centro. Minha atenção é atraída para a mesa de entrada do salão do bar-lanchonete-restaurante embora faça uma manhã de sol meio dengoso, a cena que vejo à mesa é romântica. Dois notívagos bebem sob forte comoção. Saltam da mesa ao me verem passar e já me puxam pelo braço obrigando-me a tomar assento com eles. A súbita reação é motivada pela reciprocidade de pensamentos. Eles, assim como nós, estavam tocados pela mosca do amor! Por pura intuição ou sincronicidade de almas afins, me conduzem ao seu oráculo. Naquele momento, um lugar sagrado e de padecimento etílico-emocional! As suas desditas! Logo caem na real, ao se recordarem que não tomo bebidas alcoólicas e me ofertam um refrigerante para sacramentar a parceria. Para consolá-los falo da matéria que postei na Internet. Eles, por empatia emocional induzida pedem que eu volte a beber, apenas para estar com eles naquele momento mágico. Expressam mesmo os seus descontentamentos em ter á mesa um adulto que não entorpece os sentidos nesse mundo de desilusões. Pode alguém viver sem se embriagar? Justifico que faço meditação há trinta anos. Esse é o meu vício, a minha fuga. Tenho o meu Sanctun onde supostamente atravesso portais diáfanos. Informo-lhes que corro o risco de ao invés de um porto seguro encontrar o que disse Calderon de La Barca: Sonhos! Nos mundos onde transito volitando com o perispírito seres súperos me falam das Estâncias de Dziam e do Nicho de Nodim. Seriam metafísicas sem ancora da realidade? Abrem à caixa de ferramentas e um depois do outro contam a sua desventura de amor. Após o expurgo e já consolados, estamos abraçados sobre a mesa. Os dois são velhos conhecidos. Um cantor por profissão, o Edson Luiz, cobra mais do que criada no Butantã das ruas e quebradas do Rio de Janeiro, de tão malandro que é já virou bicho! Bebe por muitas fumaças de amor bandido. Bebe por beber, a sua alma inebriada navega no Rio Átropos. O outro, um jovem e talentoso advogado criminalista, meu digno leitor, solicita fazer a crônica daquele momento em homenagem ao encontro de almas em padecimento de amor. Ele sofrendo ainda de uma recente separação, está comovido às lágrimas. Prometo fazer à crônica, pois todos os encontros são transcendentais e aquele momento deverá ser eternizado pela escrita, mas eles já notam a minha pressa em sair. Justifico, pois, tenho que apanhar a neta na aula de inglês, no CCAA às 10 e meia. Movidos pela mosca do amor ainda me seguram pelo braço. Sendo ambos compositores enquanto juntos fazem uma letra em homenagem ao momento etílico: Eu sei desse grito amarrado na garganta/ Um dilema sem futuro/ Um amor inseguro/ Sem saber para onde vou/ Eu sou a metamorfose das palavras perdidas/ Nas noites e nas brigas/ Nas desilusões de um eterno amor/ Sou uma data vênia/ Sem caneta e sem alma/ Sou a palavra sincera/ Sou um crepúsculo dentro de você/... Já me vou e, na despedida estando abraçado para selarmos, o comum infortúnio canto para eles de Noel Rosa “Conversa de Botequim,” sob o olhar estupefato dos clientes habituais que nos observam espantados: Seu garçom,faça o favor de me trazer depressa/ Uma boa média que não seja requentada/ Um pão bem quente com manteiga à beça/ traga guardanapo e um copo dágua bem gelada/ Fecha a porta da direita com muito cuidado/ Que eu não estou disposto a ficar exposto ao sol/ Vá perguntar ao seu freguês do lado/ Qual foi o resultado do futebol/ Se você ficar limpando a mesa/ Não me levanto nem pago a despesa/ Vá pedir ao seu patrão uma caneta, um tinteiro/ Um envelope e um cartão/ Não se esqueça de me dar palitos/ E um cigarro pra espantar mosquitos/ Vá dizer ao charuteiro que me empreste umas revistas/ Um isqueiro e um cinzeiro/ Telefone ao menos uma vez para 34-4333/ E ordene ao Seu Osório/ Que me mande um guarda-chuva/ Aqui pro nosso escritório/ Seu garçom, me empreste algum dinheiro/ Que eu deixei o meu com o bicheiro/ Vá dizer ao seu gerente/ Que pendure essa despesa no cabide ali na frente/ Saio e os deixo às lágrimas!

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