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Mensagem: Juízo falso em literatura Em palestra no Quarteirão do Povo, próximo ao Café Galo, com José Luiz Rodrigues e Ronaldo José de Almeida, na última sexta-feira, por lá passou Mário Mendes de Queiroz, entusiasmado com a publicação de seu livro “Sobrevivência e Fé”, selo da Editora UNIMONTES, mas logo se retirou. Na conversa, lembrei-me haver lido em Graciliano Ramos ou em Jorge Amado, que nos vapores do rio São Francisco, nos tempos da navegação, jogavam os mortos no rio, fato inverídico e do meu próprio conhecimento, uma vez que vivi os tempos áureos da navegação a vapor pelas águas do Velho Chico, além de injustificável. Sabe-se que na Índia é costume jogar as cinzas e até mesmo os corpos dos mortos nas águas do Rio Ganges, rio por eles considerado sagrado, como também ocorria em alto mar, nos tempos da navegação a vela e princípios da navegação a vapor, por carência de meios de conservação dos cadáveres. Estava quase certo não ter sido em Graciliano Ramos porque ele, em “Vidas Secas” não descreve viagem de flagelados pelo rio São Francisco. A dúvida foi afastada pelo José Luiz Rodrigues, que se lembrou ter sido em “Seara Vermelha”, de Jorge Amado. Em “Seara Vermelha” Jorge Amado afirma que os corpos dos flagelados mortos, por diarreias e outras doenças, eram jogados no rio para as piranhas comerem. Afirmação inverídica. Todos os dias os vapores passavam por uma cidade e sempre ancoravam em um porto-de-lenha. Em passagem outra ele afirma que a bordo dos vapores era servido peixe com abundância e muito gorduroso, que provocava diarreias. A bordo dos vapores as refeições eram sempre: arroz, feijão aguado, macarrão, carne cozida, batatinha e, muito raramente, peixe. Como sobremesa uma fatia transparente de goiabada. Durante as viagens não ocorriam pescarias e, nas cidades era sempre mais fácil comprar carne nos açougues, que forneciam recibos. Como os vapores navegavam pelo do rio, Jorge Amado pode ter deduzido ser mais fácil a alimentação com peixe. Ideia de quem não viajou pelo rio, mas não deve ter havido intenção de enganar. Nas margens do São Francisco e nas próprias embarcações, os barcos a vapor são conhecidos como “vapor” ou “gaiola”, nunca como “navio”, mas Jorge Amado, em “Seara Vermelha”, fala sempre em “navio”, pelo que se conclui que ele não deve ter navegado pelo São Francisco antes de escrever o livro, nem teve o necessário cuidado de pesquisa, para bem informar. Navio é no mar, no rio é vapor ou gaiola. Três juízos falsos de valores, que não deveria ocorrer, tendo em vista que o escritor é um formador de cultura. Inverdades são ditas a todo instante. No dia-a-dia da vida ouvimos constantemente as mentiras institucionalizadas dos políticos em tempos de eleições ou das autoridades constituídas, que afirmam sempre que “toda corrupção será apurada” e outras tantas. Há pessoas que mentem descaradamente, até mesmo por hábito. Existem mentiras institucionalizadas, patológicas ou fisiológicas, cabendo ao psiquiatra a solução. Sherazade inventava histórias para sobreviver. Mas convenhamos que Santo Agostinho declarou que “quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”. Em razão de suas convicções ideológicas, é possível que Jorge Amado tenha feito estas afirmações para reforçar a sua posição doutrinária ou como mecanismo de conveniência e de estratégia de sucesso, ou mesmo como planejamento político. Valeu a intencionalidade. O propósito dele pode ter sido reforçar a mostra das desigualdades sociais. A literatura, a leitura de bons livros, tem fundamental importância no processo de aprendizagem. Ela se constitui no conjunto de produções literárias de um país ou de uma determinada época. Independente dos conceitos ideológicos individualizados, como esclarece Graciliano Ramos, “o artista deve procurar dizer a verdade. Não a grande verdade, naturalmente. Pequenas verdades, essas que são nossas conhecidas.”
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