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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: AUGUSTO GETÚLIO E DULCE SARMENTO – ETERNO AMOR Dedicada a Haroldo Lívio Toda a meninada da família a chamava de “tia” Dulce. Eu perguntava a meus pais porque ela era nossa “tia” sem ser irmã deles. Eles me respondiam que a gente podia também ter “tias” pelos laços do coração. Era uma das pessoas mais queridas e respeitadas por toda nossa família aquela mulher educadíssima, cheirosa, inteligente, virtuosa e musicista. Ela morava num sobradão, perto da Igreja da Matriz e eu sempre a visitava. Tomava-lhe a benção e quase sempre ela me preparava um pequeno lanche para, em seguida, irmos ao piano. Ensinou-me a dedilhar as primeiras teclas. Em pouco tempo eu já tocava com ela, a quatro mãos, aquela musiquinha famosa e popular, que chamávamos de “bife” (nosso popular dim-dim-dô-lá-lá), que Carmem Cavallaro executou tão bem no filme “Melodia Imortal”, interpretado por Tyrone Power, que eu chamava de “Tirone Pover”. Quando ela mudou-se para a rua Ângelo de Quadros, pertinho da entrada do campo do Ateneu, continuei a frequentar sua casa. Quase toda semana ela me brindava com seus toques ao piano. Depois foi minha professora de “Música”, na Escola Normal, no então curso ginasial. Minha e dos primos Jairo, Guigui e Joãozinho. E nos tratava com o maior carinho. Acho que todos lhe pedíamos a benção quando não estávamos junto aos colegas. Eu, tenho certeza, sempre o fazia. Um belo dia descobri a causa. Ela e nosso tio Augusto Getúlio foram apaixonados um pelo outro e esse grande amor, não sei por que cargas d’água, não se consumou. Mas continuou regar a vida dos dois, que permaneceram solteirões até suas derradeiras viagens. Hoje me pergunto como foi possível tão grande amor não se concretizar e não obtenho respostas. Talvez meus ascendentes saibam os porquês. Nunca os indaguei a respeito e nunca encontrei explicações. Seria porque os corações humanos teriam razões que a própria razão desconhece? Mas o fato é que todos os meninos da família sabíamos que rolava entre eles aquele grande amor, em pedaços que nunca se juntaram. Deve ter sido muito triste para eles essa situação. Nos almoços, jantares e festas da família sempre os víamos a conversar, reverencialmente, cerimoniosamente até, um demonstrando ao outro um respeito quase sacrossanto, embora não conseguissem disfarçar, em suas faces ruborizadas, a emoção que permeava seus encontros. Ah, tia Dulce, ah, tio Augusto, que saudade de vocês dois! Como vocês eram bondosos, inteligentes e caridosos! Como eram bonitos! Suas caligrafias eram lindas. Vocês nos cobriam de gentilezas que muitas vezes nem merecíamos. Davam-nos bons conselhos. Ensinavam-nos a difícil e complicada arte de viver, em pinceladas magistrais. Devem estar caminhando juntos pelo firmamento. E devem ser estrelas de brilho muito especial. Aqui restou a saudade que o tempo jamais apagou. Obrigado, tia Dulce, por você ter existido e participado de minha vida. Eu te amarei sempre e você sempre será aquela tia querida, que conquistou meu coração menino. Há laços não consanguineos muitos mais significativos do que os hereditários. Ah, tia Dulce, se todos fossem iguais a você o mundo seria bem diferente: harmonioso, pacificado e bonito. Espero que você e meu tio Augusto Getúlio tenham conseguido romper as barreiras que os impediram de caminhar juntos por aqui. Que Deus os tenha!

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