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Mensagem: Vida e morte na Imprensa Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Fazer jornal é alto imensamente mais sério do que pode imaginar nossa vã filosofia, que me perdoe Shakespeare a brincadeira. Usando fatos e palavras, visando chegar ao epílogo do comentário, recordo o jornalista e escritor Fernando Molica, que faz sucesso com seu romance ´O ponto da partida´: ´Fazer jornal, meu filho, é brincar um pouco de ser Deus. A gente é que decide o que é importante. Só é importante o que sai no jornal. Não adiantava Deus fazer e acontecer, criar o dia e a noite, o macho e a fêmea, as estrelas, o Himalaia, o Garrincha, o cacete a quatro: se não saísse no jornal, ninguém ficaria sabendo. Por isso, Ele também criou a Bíblia, o jornal Dele. A Bíblia é igualzinha a um jornal, é cheia de boas histórias, a maioria, difícil de ser checada. Há alguns exageros, umas forçadas de barra, umas cascatas, um certo culto à personalidade: tudo como num jornal´. Oswaldo Antunes, ex-redator de ´O Diário´, um jornal que marcou época na Imprensa de Minas Gerais, um dos de maior circulação, aprendeu na escola em que ensinavam algumas das vozes mais autênticas e corajosas da comunicação (entre parênteses, lembro que, de colaborador, passei por várias funções, para - no final, depois da revolução de 1964, em que tanto nos sacrificamos, - alcançar a presidência e, em seguida, concluir que a folha não teria mais condições de manter-se e continuar). Assim, ou semelhantemente, agiu Oswaldo Antunes, que - diploma de advogado na mão - deixou Belo Horizonte e foi advogar na maior cidade do Norte de Minas. Achou que deveria defender as melhores causas e as melhores reivindicações. Fundou ´O Jornal de Montes Claros´, que circulou por décadas e só deixou a luta por razões compreensíveis. Suas máquinas silenciaram-se depois de 38 anos. Paulo Narciso, comentando o triste e indesejado fim do jornal de um homem de bem, lembrou que Teófilo Ottoni, quando fez publicar um jornal, fez inserir acima do título as palavras de Thomas Jefferson: ´O fim de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a segurança, a propriedade e a resistência à opressão´. Porque direitos são feridos e não assegurados, os jornais cerram suas portas. Uma grande lástima, e Narciso também adverte: ´Que ninguém celebre a morte de um jornal. Que ninguém ouse desconhecer o efeito multiplicador de quem tem um ideal, sempre pronto a renascer em outros corações, como ensina a canção inesquecível´. Ao apresentar seu livro ´A tempo´, Oswaldo Antunes evocou os dois fatos em dedicatória: ´Muito do que é lembrado se deve aos companheiros de `O Diário`, de Belo Horizonte, e do `O Jornal de Montes Claros`; também aos que, por qualquer modo, até por se oporem a quem escreveu, contribuíram para tornar possível esse depoimento; mas tudo é especialmente dedicado àqueles que se solidarizam com o espírito de luta dos homens e mulheres que conseguem fazer uma Imprensa que, ao tentar ser livre e independente, compromete-se com o povo e com a história das comunidades regionais através do leitor anônimo´. Oswaldo recorda que Chesterton afirmou que, se Paulo de Tarso viesse ao mundo hoje, em vez de apóstolo, seria jornalista. Ele foi, vocacionalmente, um comunicador de verdades. Mesmo quando pregava o amor ao próximo - por muitos considerado irreconciliável com o empunhar da palavra como arma cortante, à hora certa - usava a franqueza com incisão cirúrgica, o que fere para curar. Assim, têm sido muitos jornais em todo o mundo, em tantos séculos. Por isso, Paulo foi duro com os hipócritas e amoroso com os puros de coração. ´Suas palavras flamejantes marcaram fronteiras então insuspeitadas para o amor: o amor benigno que não se ensoberbece, mas também não se conduz inconvenientemente nem procura interesses; o amor que tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta, mas repudia a injustiça e regozija-se com a autenticidade´. Eis as questões. A Imprensa sã ajuda Deus.
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