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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 1 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “QUINHENTO PRO CADÁVER!!!” Era conhecido simplesmente por “Paulista”. Residia num barracão, no bequinho, ao lado da antiga fábrica, ali na Coronel Prates, perto da Santa Casa. Era paulista. Deve ter sofrido grande drama, porque vivia na mais absoluta solidão, amparado apenas, suponho, pela família de “seu” Meinardo, seu elegante e bondoso vizinho, que residia em frente à avenida. Seus cabelos, sedosos, eram cinzentos. Sua barba fechada, ponteada por fios embranquecidos, ora feita, ora por fazer, emoldurava um rosto fatigado e um olhar tenebroso. Fumava desbragadamente, ora cigarros, ora um cachimbo, e cuspia grosso. Seus dentes, escurecidos pela nicotina, eram grandes e pontiagudos. Sempre andava com um terno cinza, ora limpinho, ora sujo. Em certos dias, de lucidez, penso, limpava seu corpo, sua roupa e seus sapatos, para caminhar pelas ruas, usando uma gravata borboleta vermelha e um elegante chapéu cinza, relembrando o tempo em que fora feliz e saudável. Tinha uma doença crônica nas pernas. Seus passos eram milimétricos. Andava com o corpo inclinado para baixo. Gastava horas para fazer o percurso, de menos de um quilômetro, de seu barracão até antigo mercado da Praça Dr. Carlos. E a meninada, ao vê-lo passar, gritava, em coro, para irritá-lo: Quinhento pro Cadáver!!! E recebia de volta os mais requintados xingamentos daquele moribundo que mal conseguia se manter nas próprias pernas e erguer sua cabeça, especialmente nesses momentos de extrema ira. Com o tempo passou a usar uma bengala, o que impedia a garotada de aproximar-se de seu débil corpo para provocá-lo. Acredito ter sido um homem culto, trabalhador e de recursos, que deve ter perdido tudo e saído, por este mundão, à procura de paz, até chegar a minha aldeia, onde se fixou. Mas continuou carregando sua cruz, agora acrescida do peso da falta de misericórdia da criançada. Esse pobre homem marcou a vida de um menino, cujo coração ainda dói pela impiedade e que tem muita curiosidade em saber sua verdadeira história, antes que ela morra. História de um ser humano, que pode ser inspiradora de um grande romance. Meu caro “Quinhento pro Cadáver”, hoje, aos sessenta e cinco anos, aquele menino traquinas roga, ajoelhado e contrito, seu perdão. Que Deus o guarde!

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