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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 3 de novembro de 2024


Petrônio Braz    petyroniobraz@hotmail.com
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Por Petrônio Braz - 15/11/2019 22:05:23
Teatro Municipal

Montes Claros, cidade universitária, centro de cultura, princesa do Norte de Minas, com quase quinhentos mil habitantes, a quinta cidade mais populosa do Estado, ainda não tem um Teatro Municipal.
Em verdade temos o auditório do Centro Cultural, mas não é um Teatro. Temos outras salas, outros auditórios, mas não temos um Teatro.
Desde os tempos históricos da velha Grécia, os povos civilizados já edificavam Teatros.
O Teatro é uma casa de cultura, onde os atores interpretam histórias para o público, com o objetivo de apresentar uma situação e despertar sentimentos, não um sentimento comum, mas sim ter uma experiência intensa, envolvente e inquiridora.
Não se diga que o Teatro é seletivo. Talvez seja, em localidades onde é baixo o nível cultural das pessoas, que não é o caso de Montes Claros, uma cidade universitária. Mas, mesmo seletivo, ele é indispensável ao desenvolvimento cultural de qualquer comunidade humana.
Fatigado de cinema e de televisão, quando vou ao Rio de Janeiro, por qualquer motivo (saúde ou passeio) não deixo de assitir a um espetáculo teatral.
O Teatro Municipal do Rio de Janeiro foi inaugurado no dia 14 de julho de 1909, há mais de um século, pelo presidente Nilo Peçanha, com capacidade para 1.739 espectadores. Com as modificações posteriores, chegou à capacidade de 2.361 lugares.
Em todas as grandes cidades do Mundo civilizado, os Teatros são referências culturais e arquitetônicas.
O Teatro Amazonas, em Manaus, foi inaugurado em 1896. É um belo teatro, uma das expressões mais significativas da riqueza criada na região, durante o ciclo da borracha.
Belo Horizonte possui vários Teatros, com destaque para o Palácio das Artes, que está entre os principais espaços culturais de Minas Gerais. Foi inaugurado em 1970 e possui um complexo de três teatros, três galerias de arte, cinema, livraria, café e espaço para exposições.
Juiz de Fora possui alguns Teatros e foi sede, em 2009, do 4º Festival Nacional de Teatro.
O Teatro Experimental de Uberaba “Augusto César Vanucci” está instalado em um prédio cuja arquitetura remonta ao início do século XX. Há três anos foi adaptado para apresentações culturais, com instalação de moderna aparelhagem de som e iluminação.
Os rituais da humanidade começam por volta de 30.000 anos, mas a História registra que o primeiro evento com diálogos foi uma apresentação de peças sagradas, no Antigo Egito, do mito de Osíris e Ísis, por volta de 2.500 a.C, que conta a história da morte e ressureição de Osíris. A palavra “teatro” e o conceito de teatro como algo independente da religião, só surgiram na Grécia de Psístrato e atingiu o seu esplendor maior com Shakespeare.
Montes Claros merece.


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Por Petrônio Braz - 6/9/2019 19:36:27
A lenda do Famaliá

Para o Brasil, por força do cristianismo, não emigrou a divisão clássica dos bons e maus demônios. No politeísmo helênico, como informa Luiz da Câmara Cascudo, o demônio era entidade protetora ou maléfica (Dicionário do Folclore Brasileiro, 8ª ed., São Paulo, Global, 2000:285).
Conta-se que existiu, há muitos e muitos anos, na região do Alto Médio São Francisco um abastado fazendeiro, possuidor de invejável fortuna, que pompeava o honroso título de tenente-coronel da Guarda Nacional, que, por um dever de respeito que é imposto aos mortos, não se revela o nome. Não tinha sido ele sempre rico. Ao revés, era um mísero lavrador. Lamentando sua desdita, o pobre do homem queixava-se amargamente do destino que lhe havia tributado a condição humilde de desafortunado. Só o demônio, ele pensava, poderia ajudá-lo. Mas, como encontrá-lo?
Por casualidade – e foi por casualidade que Newton descobriu a Lei da Gravidade – o lavrador encontrou no poleiro um ovo de galo e resolveu chocá-lo.
Para quem não sabe – e poucas pessoas sabem disto – quando ficam velhos os galos põem um único ovo, um pouco maior que um ovo de codorna. O lavrador apanhou o ovo e levou-o para casa, guardando-o com esmerado cuidado, disposto a ajuntá-lo a outros debaixo da primeira galinha que cantasse choco, pronta para incubá-los.
Noite cerrada, quando todos dormiam, sob o comando de forças invisíveis aos olhos humanos, ele saiu a caminhar pela estrada, sem destino certo. Em uma encruzilhada, brotando da terra, formou-se um redemoinho forte, levantando folhas secas e gravetos para o ar, cercando o lavrador.
Uma voz cavernosa, saída do vendaval em torvelinho, disse:
– Você foi escolhido pra ser rico. Abjure suas crendices, renegue tudo que lhe pertence e eu farei de você um homem rico.
Espavorido, como Judas diante do Remorso, o lavrador balbuciou:
– Amigo! Quem é vosmecê? O que é que vosmecê qué?
– Darei a você todas as riquezas desse mundo, só basta você me entregar sua alma.
Sem esperar resposta, depois de um breve silêncio, a misteriosa voz continuou:
– Volte pra casa. Apanhe o ovo que você guardou e choque debaixo do braço. Espere quarenta dias. Se você tiver paciência e cuidado, as sua misérias vão acabar finda a quarentena.
Ouviu-se, em seguida, uma ruidosa gargalhada, estridente e prolongada, que ecoou pelo agreste. O vento ficou mais forte fazendo redemoinhar esqueletos, em cambiantes cintilações, bracejando em um ranger de dentes, balançando frementemente dentro do torvelinho e ao redor do corpo inerte do pobre lavrador. O redemoinho parecia querer suspender, com invisíveis tenazes, o corpo do agricultor.
O diabo manifestava-se claramente como o espírito do mal, não o demônio de Sócrates, o gênio do bem, condutor das fabulosas criações do pensador universal.
Como por encanto, com a mesma rapidez como tinha começado, o redemoinho amainou-se. Fez-se aterrador silêncio. As folhas secas estavam no chão, como se nada tivesse acontecido.
Extenuado, sem forças para controlar-se, o lavrador desmaiou.
Ia já alto o astro do dia quando ele despertou, na manhã seguinte, em pleno agreste, deitado no meio da estrada. Alquebrado com o peso das forças sobrenaturais, voltou para casa disposto ao sacrifício.
Durante quarenta dias, manteve o pequeno ovo protegido debaixo do braço e, para sua surpresa, no quadragésimo dia, um capetinha, do tamanho de um dedo, não mais que isso, quebrou a casca do ovo. O lavrador, com medo de perdê-lo, prendeu-o em uma garrafa e, a partir desse dia, a fortuna lhe sorriu. Todos os seus desejos eram logo satisfeitos.
Desde então, quebrado o segredo pelo próprio lavrador, para se justificar perante seus amigos, outros, porém poucos, seguiram o exemplo do Coronel e fizeram fortuna rápida.
Por um pacto que se estabeleceu depois, quem tivesse um Famaliá nunca revelaria a terceiros a sua condição de possuidor.
Sigmund Freud, analisando as semelhanças entre Deus e o demônio, para justificar os antigos pactos do homem com o último em busca da felicidade terrena, nos leva ao entendimento de que Deus e o demônio são em tudo semelhantes, apenas o segundo, por ter decaído do poder, deixou de ser o espírito da luz para ser o espírito das trevas. O homem, em passado não muito remoto, em estado de depressão, de revolta, de desencanto, para ser libertado desse mesmo estado firmava compromissos com o diabo, desprezando as benesses de Deus.






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Por Petrônio Braz - 4/9/2019 23:07:58
Maria da Cruz

Maria da Cruz Porto Carreiro ou Maria da Cruz Torre Prado de Almeida Oliveira Matias Toledo Cardoso, descendente dos Ávilas da Casa da Torre, educada em colégio de freiras em Salvador-BA, presente na Conjuração do São Francisco de 1735, viúva de Salvador Cardoso de Oliveira, está a exigir um estudo aprofundado de sua vida e de sua ação colonizadora.
A poesia de José Gonçalves de Souza marca sua vida; Augusta Figueiredo, em “Maria da Cruz e o Velho Chico”, fixa passagem de sua profícua existência, mas pouco, muito pouco, sobre ela se escreveu até agora. Diogo de Vasconcelos, em sua “História Média de Minas Gerais”, é quem melhor informa sobre sua vida, esclarecendo que “em seus domínios ela possuía teares de algodão, curtumes e oficinas de couros, tenda de ferreiros e carapinas, escolas de leitura e de música, além de armazéns de fazenda”. A ela dedicou Antônio Emílio Pereira pouco mais de uma página em seu livro “Memorial Januária – Terra, Rios e Gente”.
Afirmou Alexandre Herculano que “o mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral, é uma espécie de sacerdócio. Exercitem-no os que podem e sabem, porque não o fazer é um crime”. Há, todavia, pessoas que afirmam que recordar o passado é um sau¬dosismo démodé.
Dediquei-me, por um longo período de mais de vinte anos, a pesquisar sobre a vida de Antônio Dó. Não tenho mais idade, nem me sobra tempo para investigar sobre a vida e a obra de Maria da Cruz, extraordinária mulher que dominou, durante muito tempo, toda a região do Alto Médio São Francisco, em Minas Gerais, em uma época em que os homens tinham o domínio das decisões.
Não poucas mulheres se destacaram no contexto histórico universal, no campo das artes, das ciências e até mesmo das guerras. Infelizmente, a televisão nos mostrou Xica (Chica) da Silva, uma prostituta qualificada, como classificada no mesmo sentido foi Cleópatra, que é destacada como personagem de primeira grandeza no Museu do Sexo de Amsterdã, na Holanda.
A história ressalta, entre tantas outras mulheres extraordinárias, Joaquina de Pompéu, Emília Snethlage, desbravadora da floresta amazônica, nos primórdios do século XX; Josephina Álvares de Azevedo, defensora do voto feminino, mas não se lembrou, ainda, de colocar no pedestal que merece a pioneira Maria da Cruz. A sua fazenda, nas margens do Rio São Francisco, transformou-se em povoado; e o povoado, em cidade que lembra o seu nome, apenas isso. Nem mesmo o povo de Pedras de Maria da Cruz sabe dizer de sua história.
Morei alguns anos em João Pinheiro, todavia, muitos ali residentes não sabiam, nem sabem, quem foi João Pinheiro, a pessoa que deu nome à cidade.
Quando se fala hoje, em Governador Valadares, todos se lembram da cidade, mas ninguém, ou quase ninguém, sabe que o nome da cidade é uma homenagem ao Governador Benedito Valadares. Pedras de Maria da Cruz não foge a essa realidade. Para muitos, é apenas um nome, como tantos outros, mas um nome que imortaliza a extraordinária precursora, que, servindo-me das palavras de Euclides da Cunha, “suportou as agruras daquele rincão.”
Os positivistas, como lembra Vanessa M. Brasília, ilustre professora do Departamento de História da Uni¬versidade de Brasília, subestimam o rio São Francisco declarando ser ele um rio sem história, porque não tem documentos que a comprovem.
Até quando?


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Por Petrônio Braz - 1/9/2019 19:18:45
A lenda da Iara

Nas margens do rio São Francisco corre, por tradição oral, a lenda da Iara, que personifica as seduções e os perigos do rio. História surpreendente, que se conta ainda hoje, passados muitos e muitos séculos, e que se projeta nos espíritos menos crédulos no campo enigmático da lenda. Mas, como lenda, é das mais belas do vale do grande rio, o Opará dos aborígines, entre tantas outras que o cárcere do tempo vai consumindo com a avidez dos vendavais, que tudo destroem.
Em tempos remotos, na parte média do extenso curso do caudaloso rio, no alto de um rochedo de pedras calcárias de prisca idade, que ainda ali está desafiando os séculos e a fúria das águas, localizado no interior agreste de Pindorama, na margem direita do rio, vivia a tribo guerreira dos xacriabás, da grande nação tapuia. A taba localizava-se sobre o rochedo, onde se erguia a oca do murumuxaua, a Oeste da ocaruçu. Não muito longe dali, para o Sul, rio acima, menos de um dia de viagem pela mata densa, vivia o pagé da tribo, a quem atribuíam poderes sobrenaturais, capazes de amainar as iras de Tupã, o trovão. Eram os xacriabás ágeis canoeiros e excelentes nadadores. Em suas frágeis igaras ou nas fortes igaraçus, que flutuavam sobre as águas como a palmeira de Tamandaré, desafiavam as águas do grande rio. Nas guerras, que eram uma constante em suas vidas, quase sempre contra os temíveis caiapós, exímios flecheiros e denodados guerreiros que dominavam a margem oposta do rio, destacavam-se pela ferocidade nos combates, a que se acrescentava o domínio quase absoluto das águas: nadavam como peixes.
Vivia ali um jovem guerreiro, de nome Pirajara, capaz de esticar o arco de Ulisses com uma flecha de Apolo, agílimo no manejo da tangapema e tão destro quanto Peri no uso da azagaia, que era profundamente triste. Afligia-o a infelicidade de ter perdido a noiva. Itaoera – este o seu nome – havia morrido afogada nas águas do rio, apesar de ter sido ela, como seus irmãos de taba, excelente nadadora e o guainumbi tinha levado sua alma para o outro mundo. A perda irreparável era para o guerreiro mais dolorida que um golpe de tacape ou um profundo ferimento de uma certeira flecha caiapó nos embates da guerra.
Intensamente angustiado, o jovem guerreiro ouviu, quando a obscuridade da noite começava a encobrir a terra e a jacy-caboaçu despontava no horizonte, o canto terno da U’yara, que vinha do rio.
Sabia ele, porque lhe tinha sido dito pelo murumuxaua, em uma reunião do moacaretá, ser perigoso aproximar-se do rio quando cantava a U’yara. Mas, no rio estava o corpo de Itaoera.
Todos na tribo sabiam que o guerreiro que fosse ilaqueado pelo canto da U’yara seria por ela arrastado para o fundo das águas e não mais retornaria à superfície.
Pirajara, apesar da convicção aculturada da tribo, afastou-se vagarosamente da fogueira que ardia em frente à oca de seus pais e dirigiu-se enlevado para a margem do rio, conduzido pelo canto sedutor.
Era a coara-cyàra e o rio estava em sua vazante máxima.
No alto de uma pedra que aflorava das águas em frente ao rochedo, estava a U’yara, uma encantadora e jovem mulher, sentada com seus longos e mádidos cabelos verdes, como se feitos de delicados pecíolos de algas oscilárias, cobrindo-lhe o corpo nu. Seus rúbidos lábios, ainda úmidos, traziam o vermelho da açucena. Os olhos castanhos, protegidos por grandes cílios, refletiam a luz leitosa que jacy-caboaçu despejava sobre as águas. Os braços estendidos em oferecimento de carinho, com a graciosa cauda guardada sob as águas.
Ela, em um gesto rápido, pleno de feminilidade, jogou para trás os longos cabelos, deixando à mostra o colo e dois alvos e lindos seios. Seu rosto tão belo quanto o de Itaoera.
Diante do oferente gesto da U’yara, o bravo guerreiro atirou-se nas águas, nadando até a pedra.
Realizada com sua ob-repção, a U’yara abraçou-o, um abraço de encantamento, e ele não viu, nem sentiu, quando juntos mergulharam em demanda à larga e espaçosa oca de pedras localizada no centro do rochedo, sob as águas do rio, de prodigiosa beleza natural, e ali vivem felizes longe das tribulações do mundo exterior, enquanto a lenda perdurar na lembrança dos homens.



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Por Petrônio Braz - 19/5/2019 08:32:08
Os dez Mandamentos


Está registrado no Antigo Testamento que Moisés recebeu no Monte Horebe, na Península do Sinai, as Tábuas dos Dez Mandamentos, que lhe teriam sido entregues diretamente pelo Deus de Abraão. A Tábua dos Dez Mandamentos ou Decálogo contém dez orientações a serem seguidas, sendo quatro de amor a Deus e seis do caminho da retidão, a ser seguido pelo homem.
A história bíblica também registra que Moisés, autor dos primeiros livros do Antigo Testamento, é judeu da Tribo de Levi que teria sido adotado pela filha do Faraó Seth, Thermuthis, que o encontrou enquanto se banhava no rio Nilo e o educou na corte como um príncipe. Fala-se, também, que Moisés depois de conhecer a sua origem, libertou os judeus do cativeiro, atravessou o Mar Vermelho e perambulou durante quarenta anos (1260 a.C. a 1219 a.C.) pelo deserto até chegar à Terra Prometida.
Criado na corte egípcia, como príncipe, Moisés conheceu a escrita e a cultura egipcia da época, reservada aos sacerdotes e nobres da família imperial. Moisés, utilizando-se dos conhecimentos adquiridos na corte egípcia, escreveu a sua lei ao povo judeu, a Lei de Moisés.
Os egiptólogos, traduzindo os papiros dos sarcófagos, nos informam que durante o Império Novo (de 1550 a.C. a 1070 a.C.) foi escrito, em rolos de papiros, o que hoje chamamos de “Livro dos Mortos”, que teria sido ditado aos sacerdotes pelo deus Thoth, que era colocado nos sarcófagos para orientar o morto em sua nova vida. O egiptólogo Kurt Lange, em seu livro “Pirâmides, Esfinge e Faraós”, esclarece que a ideia central do Livro dos Mortos é o respeito à verdade e à justiça, mostrando o elevado ideal da sociedade egípcia. Era crença geral que diante de Osíris de nada valeriam as riquezas, nem a posição social do falecido, mas que apenas seus atos seriam levados em conta. Preservava-se o valor da conduta moral.
Todos os princípios religiosos e doutrinários contidos nos Dez Mandamentos e nos livros de Moisés estão, de certa forma, presentes no “Livro dos Mortos”. Observa Kurt Lange que as cenas do julgamento dos mortos está transcrita no “Livro dos Mortos”, de onde se extrai que “a decisão era tomada no Saguão das Duas Verdades, um grande salão no qual ficava uma grande balança destinada a pesar o coração do morto”.
O mesmo historiador resume a solenidade: “Osíris, senhor da eternidade, está sentado como um rei no seu trono. Tem em suas mãos o cetro e o leque. Por trás dele, mantêm-se habitualmente suas irmãs Ísis e Néftis. Na outra extremidade, vê-se a deusa da justiça, Maat, introduzir o morto ou a morta. No meio do quadro está desenhada a grande balança em que o peso do coração é comparado ao duma pluma de avestruz, símbolo da verdade. A pesagem é confiada a Hórus e ao guardião das múmias, de cabeça de chacal, Anúbis. O deus Thoth, de cabeça de íbis, senhor da sabedoria e da escrita, anota o resultado da pesagem sobre um papiro, por meio de um cálamo. Quarenta e dois juízes - correspondendo às quarenta e duas províncias do Egito - assistem à operação. Diante desse tribunal é que o candidato à eternidade deve fazer as declarações nas quais afirma nunca se ter tornado culpado de certo número de faltas para com seus semelhantes, para com os deuses, para com sua própria pessoa e o bem alheio. Se a sentença dos juízes fosse favorável ao morto, Hórus tomava-o pela mão e o conduzia ao trono de Osíris, que lhe indicava seu lugar no reino do além. Caso contrário, o morto estaria cheio de pecados e, então, seria comido por um terrível monstro, Ammut, o devorador dos mortos.”
Ao tempo de Moisés, o princípio monoteísta já havia se incorporado à cultura dos judeus. Moisés não poderia, portanto, modificá-lo. Os egípcios tinham, na pessoa do faraó, a presença de um deus antropomorfo. Desta forma, no primeiro livro do Pentateuco, que seria a lei religiosa dos judeus, ele idealizou a criação do mundo, por um deus antropoide, com suporte na mitologia egípcia.
Observa a historiadora Liliana Mafalda Mendes da Guia, licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em seu livro “Mitos Sobre a Criação do Mundo”, que “havia no Egipto Antigo vários mitos sobre a criação, contam-se pelo menos 10 divindades criadoras. Antes de todas as coisas não havia senão trevas e “água primordial”, o Nun (oceano à semelhança do Nilo que continha todos os germes da vida). Surgiu o senhor todo-poderoso Atum, que se criou a si próprio a partir do Nun, por ter pronunciado o seu próprio nome, depois teve 2 gêmeos, um filho Chu (que representava o ar seco) e uma filha Tefnut (ar úmido). Estes separaram o céu das águas e geraram Geb – a terra seca e Nut – o céu”.
Não seria Chu o Adão de Moisés e Tefnut a Eva?


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Por Petrônio Braz - 18/5/2019 20:00:09
Literatura e Matemática

Se considerarmos que a literatura é a transcrição da realidade da vida, chegamos à conclusão de que ela está vinculada a todas as áreas do saber humano. Em verdade, todas as ciências se interligam. Para se escrever é necessário ter ideias, desenvolver raciocínios criativos e a matemática é a ciência por excelência que nos ensina a raciocinar. Afirmou Einstein que “a Matemática é a poesia das ideias lógicas”.
O escritor mineiro Jacques Fux, o argentino Jorge Luis Borges e o francês Georges Perec, entre outros, inspiraram seus escritos na relação aparentemente distinta entre a matemática e suas narrativas ficcionais.
Jacques Fux foi estudante de engenharia, mas transformou-se em literato. Sua tese de doutorado na UFMG foi premiada: “Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo”. Ele faz uma viagem, navegando entre os mundos das letras e dos números. Analisa objetivamente os romances de Jorge Luis Borges, Georges Perec: matemáticos-literatos.
O escritor Jacques Fux estreou na ficção com o romance “Antiterapias”, vencendo em 2013 o “Prêmio São Paulo de Literatura”, na categoria de autor estreante.
La Fontaine na fábula “A menina do leite”, sem buscar objetivamente uma solução matemática, faz contas: soma, subtrai, divide e multiplica.
Quando eu era estudante secundarista fui bom em exatas. Sempre auxiliava meus colegas nas provas de matemática, entre eles os doutores Francisco Lopes (Chico Lopes, médico e pintor montes-clarense) e Murilo Badoró (ex-presidente da Academia Mineira de Letras). Não fiz engenharia. Estudei agronomia (curso médio) em Viçosa, antes de cursar a Faculdade de Direito.
Fui professor de Matemática e História no Ginásio Joseph Hein, em Várzea da Palma. A matemática ensinou-me a raciocinar, mas sempre gostei de ler, e a leitura levou-me ao “O Homem que Calculava”, de Malba Tahan, onde o autor sabiamente interliga História e Matemática, fazendo Literatura. O livro é uma História da Matemática. Entre outros e belos capítulos do livro, a “Divisão dos 35 Camelos” é uma equação, resolvida pelo hábil Beremiz.
Quando das solenidades de instalação da Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea da Palma, um ex-aluno lembrou-me: “Professor (é como me tratam em Várzea da Palma), sua última aula no Ginásio foi sobre a equação do segundo grau.”
A equação matemática do segundo grau constitui-se, como a problemática elaboração literária, em ficção e realidade: ax²+bx+c=0, onde x é a incógnita; a, b, c são números reais. Resolver a equação é encontrar os valores possíveis para a incógnita. Escrever, como expôs Aristóteles, “é dar uma igualdade a conclusões contraditórias”.
Todo escritor cria raciocinando e, quem raciocina, resolve intricados problemas subjetivos da razão, dentro da realidade objetiva da matemática.


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Por Petrônio Braz - 16/5/2019 10:41:16
Nossos primos, os macacos

Ainda há quem não acredite, mas somos primos dos macacos. Sou levado a crer que os macacos não acreditam que sejamos parentes deles, por uma razão lógica. Para eles somos predadores, a mais violenta espécie de predadores, que se encontra no ápice da cadeia alimentar.
Somos um gênero da ordem dos primatas e dessa realidade não podemos nos afastar, embora queiram nos separar criando um reino distinto dos reinos animal, vegetal e mineral: o reino humano.
Fora dessa ideologia, nos situando no reino animal, estaríamos classificados na ordem dos Primatas, da família Hominidae, ao lado dos chimpanzés, gorilas e orangotangos (homem da floresta), com três troncos distintos: caucásico, mongólico e etíope, na classe dos mamíferos superiores, mesmo porque todas as nossas funções fisiológicas realizam-se do mesmo modo.
Compartilhamos 98,6% de nosso patrimônio genético com os chimpanzés. Somente 1,4% de nosso arcabouço genésico nos fazem seres racionais, de porte ereto, capazes de produzir uma linguagem articulada, dotados de inteligência, mas nem sempre agimos com racionalidade.
Racionalidade é a qualidade de ser racional, isto é, que somente age segundo a razão, em oposição ao irracional. É graças ao raciocínio que podemos entender os nossos conhecimentos e ligá-los logicamente a outros. Sendo racionais deveríamos ter, desde os primórdios da própria civilização, dos hábitos contraídos em sociedade, visto o ambiente físico em que vivemos como sujeito à nossa degradação. Nossos primos, nesse passo, têm sido mais racionais que nós, os racionais.
Seríamos nós civilizados?
Certo é que nem todas as comunidades humanas podem ser vistas como civilizadas. Todavia, se o uso da razão se constitui em referência à classificação, e se os povos ditos civilizados se distinguem dos bárbaros pela independência de vida em relação à natureza física, não sabemos efetivamente quem é civilizado.
Quando vivia em contato direto e dependente da natureza, em estado de barbárie, o ser humano agia como preservacionista, talvez inconscientemente.
O homem civilizado, que assim se considera, tem o dever de, usando a razão, saber que a contaminação do solo polui os lençóis freáticos fonte permanente de água, que a poluição do ar causa prejuízos irreparáveis e que a poluição dos rios e mares degrada o meio ambiente em que ele vive.
Preservar é resguardar; livrar de danos futuros.
Existem dúvidas sobre as causas do aquecimento global, que podem ser naturais, mas os cientistas apontam o homem como o principal responsável. Pesquisadores afirmam que, em um futuro bem próximo, o aumento da temperatura, provocado pelo efeito estufa, poderá favorecer o derretimento do gelo das calotas polares e o aumento do nível das águas dos oceanos
A deterioração dos rios, mares, lagos e oceanos, provocada pela poluição originada por produtos químicos e esgotos, tem o ser humano como único responsável.
A poluição do ar, gerada nos centros urbanos, resulta da queima principalmente de derivados do petróleo (gasolina e diesel), que tem lançado um alto nível de monóxido e dióxido de carbono na atmosfera terrestre.
Poluentes depositados no solo sem nenhum tipo de controle causam a contaminação dos lençóis freáticos.
Se 1,4% de nosso patrimônio genético não forem suficientes para nos alertar para a realidade ambiental, que os 98,6% dos nossos primos, presentes nesse patrimônio genético, sejam despertados.
Nossa independência de vida em relação à Natureza física nos tem levado a destruir essa mesma Natureza. O homem dito civilizado olha para o futuro, mas não existirá futuro sem a preservação presente da Natureza física. E essa preservação deve ser individual para se fazer coletiva.



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Por Petrônio Braz - 15/5/2019 10:20:30
Deuses antropomorfos

Siddharta Gautama (Buba), em um de seus pensamentos, nos deixou este sábio ensinamento: “Não acredite em algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente porque está escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não acredite em tradições só porque foram passadas de geração em geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê que algo concorda com a razão.”
Falando em razão, teríamos que ser levados a buscar os ensinamentos do filósofo alemão Immanuel Kant, externados em seu livro “Crítica da Razão Pura”, mas tais ensinamentos fogem ao espaço limitado de um artigo. Não precisamos ir longe. Basta sabermos que a razão é “a faculdade do homem de julgar, a faculdade de raciocinar, compreender, ponderar.”
Ponderando e rebuscando na história, somos conduzidos ao antigo Egito e logo depois aos gregos. Eles, para satisfação de suas necessidades espirituais, criaram deuses e deram a eles a forma humana, capazes de terem sentimentos e paixões.
Zeus, para os gregos, ou Júpiter, para os romanos, descia do Monte Olimpo, do empírio ou de seu habitat para conviver com os humanos. Nesse convívio muitas vezes ele se relacionava com mulheres mortais e produzia semi-deuses.
Na mitologia grega, o Monte Olimpo é a morada dos Doze Deuses, os principais deuses do panteão grego. Os gregos pensavam nisto como uma mansão de cristais, que estes deuses habitavam. Sabe-se também, na mitologia grega, que quando Gaia (a Terra, para os gregos) deu origem aos Titãs eles fizeram das montanhas gregas, inclusive as do Monte Olimpo, seus tronos, pois eram muito grandes.
Antes dos gregos, os egípicios criaram deuses. No Egito, desde o período pré-dinástico, a cerca de 3.000 anos a.C., já existiam deuses antropomorfos, criados à imagem e semelhança do homem. A religião era politeísta, por crer em várias divindades, como forças da natureza, todas nascidas de Geb (terra, para os egípcios). Ao passar dos séculos, a crença passou a ser mais diversificada, sendo considerada henoteísta. Eles passaram, posteriormente, a acreditar em uma divindade criadora do universo, essa divindade passou a ser a mais importante. Estabeleceram o monoteísmo. O faraó personificava um deus. Osíris (senhor da eternidade) e Ísis foram os deuses mais populares.
A Terra era, para os antigos, a criadora de todas as coisas, inclusive dos deuses.
Por influência das culturas grega e egípcia, os judeus instituíram o monoteísmo antropoforfo como consta do Torá ou Pentateuco, divindade nacional.
Somos levados a acreditar que deuses, santos, divindades sempre existiram, mas Deus, em sua essência, o ser humano ainda não foi capaz de identificar. Ele está além da razão. É inacessível ao pensamento racional. Bem disse Aristóteles que, pela sua pureza, ele está separado da realidade sensível.
Hoje, em presença da imensidão incomensurável do Universo, não temos como admitir um Deus antropomorfo. Camões, no Canto X (Parte II), dos Lusíadas, questionou: “mas o que é Deus, ninguém o entende / Que a tanto o engenho humano não se estende”.


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Por Petrônio Braz - 13/5/2019 18:50:43
O Século da Vida

Não precisamos ser cientistas para entender que estamos vivendo neste Século a Era da Biologia. É comum afirmar-se que o Século XIX foi a Era da Física; o Século XX da Química e estamos vivendo no Século XXI o tempo da vida.
A humanidade está despertada para a grande realidade ecológica da atualidade, que não se reflete apenas na preservação do meio ambiente, na proteção das comunidades biológicas, na garantia da integridade das populações de organismos da fauna e da flora, mas na certeza de que a vida humana, a presença do homem na face da Terra, corre sério perigo. Entraram para o contexto do nosso vocabulário palavras técnicas como biótipo, biocenose, ecossistema, bioma, biosfera, e outros.
Mas não é só por esse lado que este Século será definido como a Era da Vida.
O filósofo inglês John Harris, professor do Instituto de Medicina, Direito e Bioética da Universidade de Manchester, durante o VI Congresso Mundial de Bioética, que ocorreu em São Paulo, afirmou que “estamos no limiar de uma era na qual, potencialmente, poderíamos criar imortais”. Declarou ele que “embora a ciência ainda esteja longe de poder cumprir essa promessa, as pesquisas em busca de novos tratamentos para doenças letais - que podem não apenas adiar a morte, como também, a longo prazo, estender a vida por muito tempo - avançam rapidamente. Por isso, questões aparentemente futuristas devem ser debatidas”.
Neste Século não apenas será discutida ou prolongada a vida; ela será criada.
A Revista Época informa que “o vencedor do Prêmio Nobel, Hamilton Smith, e Craig Venter, pioneiro no mapeamento de genes, divulgaram que planejam criar uma nova forma de vida em laboratório. A pesquisa já recebeu financiamento de US$ 3 milhões do Departamento de Energia norte-americano e terá como objetivo desenvolver um organismo artificial que seja capaz de sobreviver com um número reduzido de genes em uma única célula e, a partir disso, criar uma nova espécie. A metodologia que será utilizada é a de isolar os genes de certa bactéria que permitem a ela sobreviver em ambientes hostis. Dessa maneira, o organismo seria extremamente delicado e viveria em um tubo de ensaio em um meio favorável à sua sobrevivência. Caso o experimento dê certo e a bactéria passar a se reproduzir, terá sido criada uma população totalmente nova. A importância desse projeto é de servir como base para todo o estudo da biologia, estabelecendo um critério geral para a origem da vida através do entendimento da célula mais básica, uma vez que já se sabe que a formação celular segue o mesmo processo em todos os organismos. Os dois cientistas reconhecem o risco de seu trabalho, pois ele potencializa novas formas de se desenvolver armas biológicas. Por esse motivo, ambos concordam que os resultados e as conclusões do estudo devem ser divulgados de forma parcial, havendo uma seleção para deixar algumas peças chaves da pesquisa fora de alcance do conhecimento público”.



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Por Petrônio Braz - 12/5/2019 20:04:30
A legitimidade do aborto

Não faz muito tempo o Papa pediu perdão pelos erros da Igreja, especialmente os cometidos durante a Inquisição, sendo lembrado que até o padre Antônio Vieira, o maior orador sacro de todos os tempos, foi vítima e esteve recluso nos cárceres do Santo Ofício.
Em um de seus sermões o Pe. Antônio Vieira disse: “Quando perguntaram a João Batista quem era, ele respondeu o que fazia, porque cada um é o que faz e não outra coisa. As coisas definem-se pela essência. O Batista definiu-se pelas ações, porque as ações de cada um são a sua essência. Definiu-se pelo que fazia para declarar o que era... O que fazeis isso sois, nada mais!”
Um representante da Igreja, revelando-se pelos seus atos, negou a existência do Holocausto. Disse ele que não existiu a eliminação sumária de milhões de vidas humanas durante a Segunda Guerra Mundial pelos adeptos do nazismo. Cada um é o que faz e, pelo que faz, se revela.
Ainda não consegui entender as reações drásticas de um outro membro da Igreja condenando o aborto provocado em uma menina de nove anos, grávida de gêmeos, quando ainda brinca com bonecas, vítima de estupro, crime que consiste em constranger alguém, de qualquer idade ou condição, a conjunção carnal, por meio de violência ou grave ameaça.
Não será mais o pecado um correspondente do crime? Quem pratica um crime não estará também cometendo um pecado?
O jornalista Vicente Serejo (jornaldehoje.com.br), acertadamente afirmou que “o homem viveu dois mil anos com medo dos pecados capitais, quando eram sete as portas do inferno. Hoje andam tão fracos, se é que ainda são pecados, que outros são os medos e até o pobre Diabo perdeu seu veneno. O que poderia haver de tão perigoso assim na ira, luxúria, gula, inveja, soberba, avareza e preguiça?”
O estupro não seria luxúria, não se inscreveria como libertinagem descontrolada? O sexo teria se transformado em um direito do homem, em uma olimpíada de eficiência e sucesso?
Eu me pergunto qual seria a sentença religiosa de Salomão, em um caso tão marcante e que revoltou a sociedade brasileira?
Desde a primeira Constituição republicana que o Estado brasileiro está separado da Igreja. As leis do Estado não são mais vinculadas às leis canônicas e todos os brasileiros, assim como os estrangeiros aqui residentes, estão vinculados às normas que regulamentam a vida humana em território brasileiro. A legislação pátria autoriza o aborto provocado em caso de estupro. Assim, não cometeram crime os médicos, a família e quem, de uma forma ou de outra participou do aborto provocado, que talvez tenha salvado a vida da criança de nove anos, restituíndo-lhe o direito de ser criança. Se não praticaram crime, também não cometeram pecado.
Não compreendo, na minha modesta ignorância, porque a luxúria, um dos sete pecados capitais, não foi condenada com a excomunhão, pena eclesiástica que exclui os fieis do gozo de todos os bens espirituais. Para o representante da Igreja, e “as ações de cada um são a sua essência”, somente cometeram pecado, passível de excomunhão, os que eliminaram os efeitos maléficos da luxúria.



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Por Petrônio Braz - 22/1/2019 19:25:27
Montes Claros é uma cidade que honra o seu passado e valoriza seus filhos ilustres, que contribuíram para a consolidação de sua liderança regional e do respeito nacional à sua condição de polo convergente do Norte de Minas Gerais. Por isso, temos que voltar as nossas vistas ao passado, glorificando-o para, estribados nele, formularmos nosso juízo sobre o presente para nele destacarmos valores humanos, que realizam atos com sinais positivos em proveito da sociedade.
A vida humana é passageira, como passageiras são, às vezes, as nossas ideias, daí porque a todo cidadão é dado o dever de se manifestar em aprovação ou em repúdio ao que vê e sente. O silêncio, em tais circunstâncias, traz a pobreza da indiferença e até mesmo da irresponsabilidade.
Feito este registro, como uma lembrança necessária ao conceito de cidadania, antes de me ater à objetividade desta crônica, sou levado a fazer uma visão retrospectiva do barranqueiro que sou, do menino que andou descalço pelas ruas de São Francisco, que engoliu piaba viva para aprender a nadar, que por vezes algumas ousou atravessar nadando o caudaloso Rio da Unidade Nacional, que aprendeu a admirar as belezas naturais do grande Vale e, por isto, cresceu vendo o mundo com os olhos da alma.
Porque vejo o mundo com os olhos da alma, é que posso enxergar a presença de pessoas que pensam e agem com aspirações, que se elevam na busca de uma mudança de comportamento do ser humano, em benefício da hu¬manidade como um todo.
Na terra dos montes claros, que apontam para o infinito em busca de paz, amor e justiça, o ideal de um homem está presente em campanha permanente contra a violência. Este homem é Joaquim Cândido da Silva.
A busca da paz entre os homens é tão antiga quanto a própria humanidade. No Século VI Lao-Tsé escreveu: “Para haver paz no mundo, deve haver paz nas nações. Para haver paz nas nações, deve haver paz nas cidades. Para haver paz nas cidades, deve haver paz entre vizinhos. Para haver paz entre vizinhos, deve haver paz em casa. Para haver paz em casa, deve haver paz no coração”.
Joaquim Cândido da Silva, com uma personalidade de exceção, espírito iluminado, mentalidade superior, em sua vocação de servir, a si mesmo se impôs uma tarefa, que é enorme e encontra seu primeiro obstáculo na indiferença daqueles a quem ele pretende beneficiar.
Vivemos em um mundo onde impera a violência. A campanha por ele instituída visa promover a paz mundial e harmonia entre os povos; resgatar a moral da família tornando-a reserva de valores; despertar a consciência do exercício da cidadania; propor ao cidadão rever conceitos, analisar procedimentos e assumir responsabilidades de resolver problemas de ação e justiça social.


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Por Petrônio Braz - 21/1/2019 08:09:45
Entropia do Macrocosmo

Relendo artigos da lavra de Raphael Reys despertou-me a curiosidade de uma análise do macrocosmo, além do espiritual, que ele tão bem tem abordado.
Afirma Raphael Reys, que exatamente “há trezentos e vinte milhões de anos a mente do Criador dormitava no seio plástico do imanifesto, do incriado.”
Criador necessariamente antropomorfo, na manifestação poética de Vínicius de Morais. Da mente do Criador surgiu a centelha, que produziu a energia primeva, nascendo daí a mecânica do macrocosmo.
O Universo finito, criado pela energia, é uma ma¬ravilha que se observa nas noites estreladas. Em maio de 1910, assombrosamente belo, o cometa Halley prendeu a totalidade da visão do céu, empolgando a atenção e a curiosidade dos seres humanos. Essa não foi, todavia, a nossa visão do mesmo cometa, em 1986. Naquele ano ele – o cometa – no soneto de Napoleão Valadares, “errante e zombeteiro, fez dos homens bobos. Veio e foi-se, a pôr os olhos ansiosos numa luz sem cor, frustrados com a sua pequenez”.
Edmundo Halley, em seu livro “Synopsis astronomiæ cometicæ”, publicado em 1705, predisse para 1758 a reaparição do cometa que tinha sido observado por Kepler em 1607, que hoje é conhecido como cometa Halley ou de Halley. Ele continuará voltando à órbita da Terra a cada 76 anos, até desaparecer. A entropia dos cometas é mais rápida que a do Universo como um todo. Também o Universo terá, um dia, um fim pela dissipação gradativa de energia.
Em 1456, aconteceu uma das mais belas aparições do cometa que mais tarde seria conhecido como o cometa Halley, visão que amedrontou a Europa inteira. Essa aparição foi tida como uma consequência da tomada de Constantinopla pelos turcos, ocorrida antes, tanto assim que o papa Calisto III ordenou preces públicas, para afastar a ira divina pela perda do Império Cristão do Oriente. Até hoje, os católicos ainda recitam a saudação angélica, ao meio-dia, em obediência àquela ordem papal.
Segundo relatam os cientistas, o Universo (macro¬cosmo) evoluiu do caos inicial ao cosmos que conhecemos ou simplesmente vemos nas noites estreladas. Os cometas, que integram o macrocosmo, são corpos celestes, que passam de quando em vez pelas proximidades da Terra em sua órbita ao redor do sol. Em muitas ocasiões, os cometas têm aparecido. Eles passam e muitas vezes não voltam mais. Dizem que a vida desses corpos celestes não passa de mil anos.
O Universo integra o homem (microcosmo hominal) no contexto do macrocosmo. Inteira-o e, como ele, desaparecerá um dia. O Universo, ainda em expansão, está fadado a desaparecer, mesmo considerando a sua grandiosidade incomensurável. A expansão de hoje é resultado de uma energia anterior e toda energia se dissipa gradativamente. A energia dissi¬pada promoverá o caos pela eliminação das forças gra¬vitacionais, que equilibram, entre si, os corpos que in-tegram o macrocosmo. Tudo foi pó (poeira cósmica) e ao pó reverterá, no verdadeiro apocalipse.
“A realidade do universo seria incompleta sem o homem”, na sábia afirmação de Huberto Rohden. Nós, seres humanos, somos o micro do macrocosmo universal. Nossa passagem é rápida, todavia, todos nós existimos desde o começo e continuaremos a existir no momento do caos.
Em pouco tempo, nossa energia dinâmica se transforma em energia estática, e se incorpora, como pó, à energia vital do Universo, pois “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Por esta razão, todos nós estaremos presentes na entropia final, no retorno ao caos. Daí devermos lembrar o ensinamento de Georgino Júnior: “Na vida, o importante é não ser importante; vale dizer: o fundamental na vida é não sermos fundamentais”.






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Por Petrônio Braz - 16/1/2019 15:16:57
Humanismo e religião

O Humanismo clássico surgiu com o Renascimento, no Século XV, portando, há mais de cinco Séculos, vinculado às transformações de natureza cultural, social, religiosa, política e econômica da época e objetivando colocar o “homem” como centro do Universo, e ainda está presente nos tempos modernos.
Aqui não me refiro ao Humanismo existencialista, marxista ou religioso, mas ao clássico, dos racionalistas, dos agnósticos que veem o homem como o ser dominante em permanente estado de aperfeiçoamento, que exerceu grande influência nas ciências e na própria cultura humana, definindo a ruptura entre a Igreja (religiões) e as Ciências (cultura humana).
O ser humano, voltado para dentro de si mesmo, reconhece a sua superioridade e ultrapassa os limites da subordinação a crenças que, de certa forma, o reduzem à condição de mero expectador, submisso à adoração de ídolos materiais e imateriais, como foram todos os seres humanos na sua fase primitiva, desde as cavernas à escravidão.
Verdade que, como observou Sartre, para ser superior é necessário que outro ser reconheça essa superioridade, ser esse inexistente por ser o homem o único dotado de racionalidade na face da Terra. Tal fato, todavia, não pode subordinar o mesmo homem ao que ele efetivamente desconhece, criando, dentro desse desconhecimento, entes ou ídolos imateriais postados em nível de superioridade. O racionalismo repele essa subordinação.
Não se pode, a toda evidência, pretender a separação das questões que possam ou não ser formalizadas logicamente, como os enunciados matemáticos, dos problemas metafísicos de certa forma inacessíveis, entendendo-se metafísica, com William James como "apenas um esforço extraordinariamente obstinado para pensar com clareza".
É pensando com clareza, dentro de uma consciência cósmica, que não se pode admitir a existência de divindades antropomorfas superiores ao próprio homem. Temos que estar conscientes de que “as leis físicas do Universo não são subordinadas a entidades imateriais ou sobrenaturais como demônios, deuses, ou outros seres "espirituais" fora do domínio do Universo natural”.
Com Fritz Stevens, Edward Tabash, Tom Hill, Mary Ellen Sikes e Tom Flynn, somos levados a ter uma visão humanista do mundo com os seguintes elementos e princípios:
- Uma convicção de que dogmas, ideologias e tradições, quer religiosas, políticas ou sociais, devem ser avaliados e testados por cada pessoa individual ao invés de simplesmente aceitas por uma questão de fé.
- Compromisso com o uso da razão crítica, evidência factual, e método científico de pesquisa, em lugar da fé e misticismo, na busca de soluções para os problemas humanos e respostas para as questões humanas mais importantes.
- Uma preocupação primeira com a satisfação, desenvolvimento e criatividade tanto para o indivíduo quanto para a humanidade em geral.
- Uma busca constante pela verdade objetiva, tendo entendido que nossa imperfeita percepção dessa verdade é constantemente alterada por novos conhecimentos e experiências.
- Uma preocupação com esta vida e um compromisso de dotá-la de sentido através de um melhor conhecimento de nós mesmos, nossa história, nossas conquistas intelectuais e artísticas, e as perspectivas daqueles que diferem de nós.
- Uma busca por princípios viáveis de conduta ética (tanto individuais quanto sociais e políticos), julgando-os por sua capacidade de melhorar o bem-estar humano e a responsabilidade individual.
- Uma convicção de que com a razão, um mercado aberto de ideias, boa vontade, e tolerância, pode-se obter progresso na construção de um mundo melhor para nós mesmos e nossas crianças.





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Por Petrônio Braz - 29/12/2018 16:56:38
O livro - Relendo “Hamlet”, de Shakespeare, edição de Martim Claret, destaco do Prefácio anotações sobre o livro como objeto de cultura.
O livro é uma publicação impressa, não periódica, de conteúdo técnico, científico, literário ou artístico, com folhas impressas, grampeadas, costuradas ou coladas e revestidas de capa, que conta no mínimo de 49 páginas, sem contar as capas. Com número menor de folhas será um folheto.
O livro será apenas uma publicação impressa, não periódica, com um de-terminado número de páginas ou somente uma reunião de manuscritos encadernados?
O livro é, quando visto formalmente, uma obra literária em prosa ou verso, científica ou artística com extensão que permita sua estrutura em pelo menos um volume, mas o livro não pode ser visto tão-somente sob seu aspecto formal, pena de ser comparado ao folhoso, o estômago dos ruminantes, também chamado “livro”.
Sabe-se que a história do livro se confunde com a da humanidade. O livro é gélido para quem dele não se aproxima, todavia, ele transmite ideias que revolucionaram o mundo, que derrubaram governos, que mudaram a hu-manidade.
O livro sempre foi objeto de cultura, de transmissão de conhecimentos, de evolução de ideias, devendo, por isso, ser sempre erudito, seja quando inova ou cria cientifi¬camente novos conceitos, seja quando descreve ou comenta a vida em sociedade. Deve ser um instrumento do saber, de transmissão da estrutura da língua na qual é escrito.
Com o nascimento da impressa, que popularizou o livro, antes manuscrito e reservado a um número muito reduzido de sábios e estudiosos, ocorreu a sua laicização, com o crescimento do número de leitores. Os escritos deixaram de ser enrolados e envolvidos em invólucros em forma de caniço (líber), para serem encadernados, pro¬movendo a difusão universal da cultura de todos os povos.
Lamentavelmente o número de leitores de livros não tem crescido na mesma proporção da expansão demo¬gráfica mundial. A grande maioria da população humana contenta-se com leituras de jornais e revistas, que não transmitem ideias, ou com o rádio e a televisão, que escravizam a mente e o espírito.
A leitura de bons livros é, mais do que a gramática, a melhor forma de se aprender um idioma, de se fixar as estruturas de uma língua. Os leitores habituais de bons livros falam como o livro e possuem uma lin¬guagem esmerada. O livro é símbolo de cultura e nunca será superado pelas modernas técnicas eletrônicas de comunicação em massa.
O jornalista Manoel Hygino dos Santos manifesta-se: "O livro, o nosso ou o dos outros, é uma viagem interior, no passado, no presente e no futuro. É um ingresso no mais profundo de nós mesmos, ou no âmago dos demais que escrevem. Nesses escritos, tudo pode, porque é grandioso, ainda quando pernicioso. Ao que lê sabe discernir. É a fotografia dos conhecimentos, dos sentimentos, dos pensamentos, da vida."
A escritora portuguesa Isabel Cabral identifica o livro como “um cofre que encerra em si um tesouro e, ao abrirmos o cofre e manusearmos o tesouro, estamos a acariciar pérolas. Livros existem em que cada uma dessas pérolas está imbuída de memórias, de sonhos e de emoções, que o autor anseia que vão ao encontro das mais íntimas memórias, dos mais profundos sonhos e das mais sentidas emoções de todos e de cada um dos leitores. O autor abraça o leitor e convida-o a empreender com ele uma viagem pela realidade da vida, percorrendo juntos espaços de encontros, desencontros e reencontros. Abençoados sejam os homens que sabem enriquecer esse Património da Humanidade e abençoados sejam todos aqueles que, tendo acesso a tais relíquias, as sabem acariciar”.
Minha filha Regina Cœli Braz Oliveira, amante da leitura e dando asas à sua veia poética, nos fala do livro: “Com ele mergulho / No mar da imaginação / Com ele navego / No passado de toda geração. / É a bússola é o norte / é a orientação. / É o início é o arremate / é a transformação. / Tira a direção, desestabiliza. / Seria reflexão? / Tira o chão, desmaterializa. / Seria revelação? / Há o sabor da leitura / Mas um aroma de aventura! / São tantos contos apreendidos / São tantos mundos descobertos / Mil segredos desvendados / Mil amores revelados / Mil vidas recontadas. / É fuga / É desabafo / É delírio / É o avesso”.



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Por Petrônio Braz - 27/12/2018 21:55:09
Fala-se, em presença da crise financeira do Município, que não teremos em 2019 o Carnaval Oficial em Montes Claros (Pampulha), mas já se sabe que haverá o carnaval do Povo. O Rei Momo é um personagem da mitologia grega, que se tornou símbolo do Carnaval. Figura que não mais aparece nas festividades carnavalescas e nem é lembrado.
A origem do Carnaval se perde na mais remota antiguidade. Poderá ter sua origem nas Lupercais romanas, festividades pastoris originadas no período pré-romano, ou mesmo antes, já que os deuses do Olimpo tinham as suas festividades.
No Brasil, a sua origem data de 1841, como parte dos festejos promovidos na Bahia pelo governador Salvador Correia de Sá e Benevides, em regozijo pela coroação de Dom João VI, rei de Portugal.
Mas, o Carnaval não se espalhou de imediato pelo País pela inexistência de comunicação, que somente começou a ocorrer com a chegada dos primeiros gramofones, como observa Brasiliano Braz em documento inédito. Uma das primeiras marchinhas de carnaval, cantados no interior, foi a “Abre Alas”, de Chiquinho Gonzaga, sucesso de 1900 e cantada até o final dos anos 40. Pessoalmente, ainda me lembro dela e a canto.
Ainda, segundo Brasiliano Braz, as máscaras nas festividades sociais, que eram importadas, foram introduzidas no Brasil em 1834, antes do Carnaval, mas se integraram depois às folias carnavalescas.
O carnaval de rua tomou força a partir de 1930, com a introdução dos confetes, da lança-perfume e da serpentina. Quase todos nós nos lembramos de que a lança-perfume foi proibida no governo Jânio Quadros.
Os carnavais de clube, de minha mocidade, ficaram gravados e com eles as marchas inesquecíveis, hoje substituídas pelo samba e outras coisas mais.


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Por Petrônio Braz - 23/12/2018 16:04:38
Evolução ou Criação - O Papa Francisco afirmou, durante discurso na Pontifícia Academia de Ciências, que a Teoria da Evolução e o Big Bang são reais.
No momento em que a ciência, aliada às ações governamentais, se preocupa com a conservação da originalidade das ilhas Galápagos, berço da inspiração de Charles Darwin, o criador da Teoria da Evolução, a Igreja Católica, vencida a irracionalidade da Idade Média e as resistências posteriores contra a ciência, pelas mãos do Papa Bento XVI, no livro “Schoepfung und evolution” (Criação e evolução), lançado na Alemanha, já havia elogiadp o progresso científico e não endossamdo o criacionismo, embora discordando da teoria evolucionista de Darwin, como ex¬posta no livro “A origem das espécies” publicado em 1859.
Enquanto isto, o arquipélago de Galápagos, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, onde existem espé¬cies animais únicas, como as iguanas e as treze espécies diferentes de tentilhões, está sendo ameaçado pela mão do homem.
Em dois extremos, nas Galápagos e na Alemanha, as duas teorias, que buscam explicar a origem da vida terrestre, se encontram em uma visão maior de Bento XVI que, em seu livro, defende a evolução teísta, isto é, Deus criou a vida e esta evoluiu no correr dos séculos.
Admite o Papa, ao analisar uma das grandes questões fundamentais da filosofia, que a criação da vida se deve a um ser sobrenatural, o Deus Criador, que usou o pro¬cesso natural na criação do mundo, chamado de evolução teísta. A vida foi criada por Deus.
O que é a vida? Sabe-se que muito antes da presença do homem na Terra, a vida microscópica começou na água. No período Devoniano os primeiros peixes pul-monados, que viviam em charcos pantanosos, teriam se aventurado, por terra, de um charco a outro, permane¬cendo cada vez mais em terra, daí se originando os primeiros animais terrestres, os tetrápodes. A vida, de origem divina, começou antes do homem. O restante teria vindo por evolução?
O professor Rubens Giglioni Rosenhein, mestre em teologia, esclarece, em artigo publicado antes do lança¬mento do livro de Bento XVI, que a criação é descrita biblicamente no primeiro capítulo do primeiro livro do Pentateuco, mas tem sido interpretada de diversas formas. Passando pela interpretação fundamentalista, pela religiosa moderada, ele informa que a “interpretação conciliatória entre a religião e a ciência diz que o Gênesis é inspirado, mas não é um tratado científico e sim uma dramatização poética. Dessa forma, a evolução das espécies previstas pelo neodarwinismo ocorreu, mas foi apenas um instrumento conduzido e controlado plenamente por Deus. As con¬clusões científicas, portanto, estão no caminho certo, sendo que não contrariam a Bíblia. Esta interpretação é chamada de evolução teísta.”
O que é Deus, ou quem é Deus? Deus, isolado no latíbulo sagrado, é uma dúvida; dúvida humana que se precipita no abismo de nossa ignorância. Certos estavam os filósofos gregos da Antiguidade Clássica, quando afirmaram que Deus está além dos homens, com eles não se parecendo, nem na forma, nem no pensamento.


83726
Por Petrônio Braz - 17/12/2018 08:35:14
Revisor de textos literários, informam os entendidos, “é o profissional encarregado de revisar material escrito com o intuito de conferir-lhe correção, clareza, concisão e harmonia.” O revisor é um dublê anônimo dentro da obra literária. Sabemos que os grandes artistas não tomam parte das cenas perigosas. É usado o dublê, mas este não integra a cena, não aparece. A cena é do artista principal. O que seria dos artistas principais se os dublês viessem a pública informar que a cena foi dele? Quem come um bolo sabe o seu sabor que foi definido pela pessoa que o preparou, que juntou os ingredientes, mas ele só existe porque foi levado ao forno. O forno deu consistência e forma, mas não é o autor do bolo.
Em literatura existe a figura do revisor (dublê), que não integra a autoria da obra. O revisor deve ser ético. Não aparece em cena, não revela o fato revisão. Todas as Editoras têm revisores, dai existir a profissão de revisor (cobra pelo seu serviço). Mas há os amadores (que não cobram), que fazem revisão por gostar ou por amizade.
O revisor integra o processo editorial. Ele pode e deve sugerir adicionamento e remoção de textos ou palavras. Como o forno, ela dá consistência à obra literária, mas não é o autor dela; ele apenas garante s correção gramatical. Ele não cria. Quem cria é o autor. O revisor que deve ser ético. Como o dublê, ele não vem a público dizer que foi revisor dessa ou daquela, obra literária. Mas, há revisores sem ética.


83688
Por Petrônio Braz - 26/11/2018 09:22:14
A Biografia é a histórica da vida de uma pessoa. É um gênero literário com abordagens de todos ou de alguns aspectos da vida e da obra do biografado, que podem ser historiográficos ou até mesmo críticos.
Sem ousar dizer que a vida parou e nada há mais por escrever, sou levado a reconhecer, como nos informa James Russell Lowell que “a juventude é um defeito; é um defeito do qual nos curamos muito rápido”. Quando se aproxima a noite da vida, na penumbra da tarde, pela presença sempre constante de planos de vida, estou ousando formular três projetos de atividades literárias. Escrever “Amelia Chaves – Uma biografia”, “Pe. Adherbal Murta – Um educador” e “Raquel Mendonça – Uma lutadora”.
Mas, porque não Ivana Ferrante Rebello, Karla Celene Campos, Felicidade Patrocínio, Dário Teixeira Cotrim, Dorislene Araújo, Edgar Pereira, Maria Luiza Silveira Teles, Marta Verônica V. Leite, Mara Yanmar Narciso e tantos outros? É muita bagagem para o meu modesto caminhão.
No meu entendimento pessoal, não se deve escrever biografia de pessoa vida. Explico: Ainda em vida a pessoa pode praticar atos que maculem tudo que antes teria feito de positivo em sua passagem terrena. É, portanto, uma aventura temerária. No caso específico de Amelina Chaves, a sua maneira de ser afasta essa possibilidade.
Tomei uma ousada decisão: descrever a vida terreno do imortal Padre Adherbal Murta, em parceria com Laura Murta. Ninguém melhor do que ela para informar fatos particulares de sua vida.
Vou rebuscar e historiografar, tanto quanto possível, da vida de Raquel Mendonça e trazer o trabalho de pesquisa à luz da publicidade. Ela é uma lutadora.


83686
Por Petrônio Braz - 25/11/2018 18:15:54
Raquel Mendonça, embora não tenha editado livros, destaca-se no meio cultural de Montes Claros, como cronista e poetisa, membro da Academia Montesclarense de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco – ACLECIA e sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Começou a escrever poemas ainda muito menina. Ela publicou (e publica) centenas de poemas e crônicas em jornais e revistas, além do Blog Cultural “Arte e Fatos”, criado e editado por sua filha e Designer Gráfico, Ana Bárbara Mendonça.
Em defesa dos direitos da mulher, como fundadora do Iº Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher de Montes Claros e sua então presidente, tem, há alguns anos, organizado o livro de poemas: "Mulher-Cor Feminina" ou "O Feminino da Cor",
Cumpre lembrar que o saudoso poeta Georgino Júnior, o "hilário ranzinza", autor do Hino Popular de Montes Claros, música símbolo de Montes Claros, junto a Tino Gomes, "Montesclareou", não se importava com livros, mas acabou publicando pelo menos um de poemas "Bola prá frente Futebol Clube".
A imortal Raquel Mendonça ingressou na Academia Montesclarense de Letras, por indicação do saudoso Oyintho Silveira, com vinte e poucos anos, quando trabalhava no antigo Diário de Montes Claros, onde tinha criado a primeira página cultural: "Rua XV". Pelas suas poesias ali publicadas, o também saudoso João Valle Maurício a chamava de "Poeta de Fama". Georgino Júnior e outros grandes nomes da imprensa e literatura da cidade escreveram lindas crônicas sobre o seu trabalho literário e em defesa da arte e da cultura da cidade!...
Entre as suas muitas participações em eventos literários na cidade, lembramos os convites - e todos os elogios - recebidos dos escritores Darcy Ribeiro e Maria Luiza Silveira Teles, para apresentar os livros "O Mulo" e "As Sete Pontes". Revisou e revisa, criteriosamente, livros e mais livros.
Como Promotora Cultural de destaque, atuando na Secretaria de Cultura/Prefeitura de Montes Claros, há 33 anos, criou, junto aos Mestres e ao antropólogo Joba Costa - João Batista de Almeida Costa -, a Associação dos Grupos de Catopês, Marujos e Caboclinhos de Montes Claros, visando contribuir para a organização e fortalecimento dos grupos da maior e mais importante manifestação cultural popular e tradicional do município, que são as nossas famosas "Festas de Agosto". Junto aos Chefes dos Ternos, criou também a Associação dos Ternos de Folias e Pastorinhas de Montes Claros, com o mesmo fim. Foi "batizada" por ex-Prefeito de "Advogada sem diploma de Funcionários Públicos, Artistas e Catopês", o que muito a honra.
Foi amiga e apoiou “Zé Côco do Riachão” (José Barbosa dos Santos), considerado por TV alemã "O Beethoven do Sertão" pela extraordinária beleza e qualidade de suas composições musicais, hoje estudado em grandes universidades do mundo como "verdadeiro fenômeno da música popular mundial".
Na sua página cultural “Rua XV”, publicava e destacava inúmeros artistas e poetas da cidade, entre eles Ray Collares que, segundo Konstantin Christoff, "era tão grande pintor quanto poeta".
No Jornal do Norte, é bom recordar, ela editou a página cultural "Cultura & Cia", onde trocava missivas com Drummond e publicava poemas dela e destacava escritores e artistas de todos os segmentos culturais, em páginas inteiras, muitas vezes.
No Jornal de Notícias, ela criou a página "Arte & Fatos", que manteve por 14 anos, além de ter sido revisora geral. Afastou do jornal do grande Edgar Pereira, por motivos pessoais.
Muito, ainda, sobre ela se falará.


83672
Por Petrônio Braz - 17/11/2018 16:28:47
Inteligência e Cultura

Em bate-papo informal com alguns amigos, em Montes Claros, em um sábado de descontração, conversarmos sobre a inteligência e a cul¬tura, analisando, as vezes de forma indiscreta, algumas figuras de aparente importância que integram a vida sociocultural dessa nossa vasta região.
Levando em consideração que inteligência é tão somente aptidão para compreensão, penetração de espírito, percepção clara e fácil, enquanto a cultura é o desen¬volvimento que se dá, por cuidados assíduos às faculdades naturais, procuramos definir o alcance objetivo de reais ou simplesmente externados conhecimentos dos integrantes da chamada cúpula cultural.
No vai-e-vem da conversa foram destacados nomes de real valor, detentores de uma considerável erudição, outros simplesmente inteligentes, portanto, possuidores de capacidade para se tornarem cultos. Foram lembrados alguns dotados de inteligência com cultura de vitrine, capazes de decorar textos literários de famosos autores, para declamá-los no curso das conversas, com imponência desprovida de autenticidade, mas com capacidade para impressionar os incautos.
Os grandes sábios são simples; não carecem da necessidade exibicionista de seus reais conhecimentos. Eles os externam no momento oportuno, em uma simples frase complementar de uma conversa ou nos trabalhos literários ou científicos que publicam.
Já em casa, algum tempo depois, lembrei-me do conto “A Menina e o Velho Marujo”, de Malba Tahan. Veio-me a dedução de que são muitos os que se acham iludidos quando julgam conhecer o que efetivamente não conhecem.
Malba Tahan informa, em seu conto, que uma menina, que residia no interior do país, desejava muito conhecer o mar. Levada por sua família ao litoral, dirigiu-se a uma praia e, depois de admirar deslumbrada, por muito tempo, as vagas que se desmanchavam tranquilas em espumas sobre a areia, voltou ao hotel e, entrando na sala de visitas disse, alegre, aos que ali estavam:
─ Já conheço o mar!
Entre os circunstantes havia um velho capitão de navio, que atravessara diversos oceanos, lutando com violentas tempestades, e vira de perto o horror das procelas marítimas. Logo que a menina afirmou satisfeitíssima que conhecia o mar, o velho comandante, acariciando-a disse:
─ Eu também, menina; eu também o conheço.
Nas duas afirmativas, embora ambos conhecessem o mar, havia uma grande diferença, no sentido real de tal conhecimento. Conhecer não é apenas ver. Conhecer é ter uma ideia justa e completa do objeto de conhecimento, que somente o capitão tinha.
Preocupa-nos, hoje, a proliferação de cursos de ensino superior, de onde poderão sair profissionais despreparados para as grandes responsabilidades sociais de suas atividades. O despreparo, contudo, nasce no Ensino Fundamental, feito por muitos a toque de caixa, objetivando alcançar a faculdade. Não será, contudo, na faculdade que se efetivará o aprimoramento cultural, necessário aos embates da vida. A base tem que estar pronta, preparada desde o primeiro grau e completada no segundo. No terceiro ocorrerá tão somente a profissionalização. Muitos pro¬fissionais assim formados serão apenas conhecedores do mar, como a menina do conto.


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Por Petrônio Braz - 9/10/2018 22:34:03
Ilusão

Petrônio Braz

As maiores venturas deste mundo são como as nuvens que passam informes e não se fixam em ponto algum; apenas criam sombras passageiras que amainam as vicissi¬tudes da vida. Por sobre as nuvens, o espaço infinito, ilimitado, que sufoca o homem em sua insignificante pequenez.
Há momentos que sentimos que o sopro da vida se esvai na indefinição de um sentido. Em um desses momentos, comecei a caminhar sozinho pelas ruas, em Montes Claros, sem ver ninguém. No meu indefinido panteísmo, buscava uma liberdade individual, uma muda serenidade estoica, sentindo-me isolado no espantoso universo de pessoas ao meu redor.
Em situações de depressão psicológica, em todos os países, em todos os povos, em todos os tempos, em todas as crenças, o ser humano pode ser levado, por um ato irracional voluntário, a adiantar o inevitável. O que teria levado Hermingway, Virgínia Woolf e Pedro Nava a an¬teciparem, por ato próprio, o fim de suas tão profícuas existências terrenas?
O sábio Confúcio, depois de ter exercido os mais elevados cargos e as mais importantes funções como professor, primeiro magistrado de Chumg-Tu, entre outros, já passando da primavera da vida, foi obrigado a empunhar o cajado do viandante. Isolado dentro de si, converteu-se em um intelectual. Solitário e desiludido teve, todavia, o amparo de um único neto junto ao seu leito de morte.
Tenho me sentido isolado em todos os lugares, e apenas me realizo assentado em frente ao meu computador, onde somente vejo a mim mesmo. Embora seja pai de onze filhos, avô de vinte e oito netos e bisavô de vinte e três bisnetos, sou um homem só.
Só dentro do meu individualismo por não encontrar, nem através de supostas ilusões, uma razão objetiva para a minha angústia interior.
A sombra da vida se esvai quando se perde, sem entender por que, alguma coisa que se ama. Não se ama só uma pessoa; podemos amar muitas, mas cada uma tem sua individualidade.
O objeto do amor é indefinido, mas está presente em cada uma das pessoas, com maior ou menor intensidade, e quando se perde algo se esvai. Abre-se um vazio sem possibilidades de preenchimento. E a vida perde o seu sentido maior. Perdi minha mãe em 2004, perda esperada e inexorável. Não doeu tanto. Ela descansou com dignidade. Esta perda não afetou muito o meu já molestado interior.
Pessoas há que se sustentam no anteparo de seu egoísmo, sobre a preferência de seus supostos direitos, que se sobrepõem aos de seus semelhantes. A dúvida quanto ao certo e ao errado, dentro do meu ceticismo, transforma-se na única atitude coerente, que ainda sustenta os próprios objetivos da vida, dentro de um invólucro de consideração e de reserva. Gostaria de possuir uma inteligência superior para colocar-me acima e alheio a tantos males.


83602
Por Petrônio Braz - 8/10/2018 06:44:24
Ensaio

Petrônio Braz

A simplicidade é o último degrau da sabedoria, como nos ensinou Khalil Gibran. Felicidade Patrocínio, diligente presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, mostra essa simplicidade quando editou “Ensaio”. Mas, ensaio é uma experimentação prévia de algo a vir depois. Lendo o livro, naveguei por mares calmos e revoltos da cultura humana. Melhor seria se ela tivesse dado a seu livro o titulo “Introdução ao Estudo da Filosofia”.
Obra pouco conhecida. Edição restrita de apenas cem exemplares. Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, lembra que Stendhal confessou haver escrito um de seus livros para cem leitores. Foi o que fez Felicidade Patrocínio.
Quando se trata de livro, de obra literária, é sempre bom lembrar a lição de Ivana Ferrante Rebello: “Sempre que me disponho a falar de Literatura, retomo uma questão cada vez mais premente, nesses tempos de palavras tão escassas quanto inférteis, e de muitos prenúncios da morte da arte da escrita, como se nossa época não suportasse mais o verbo trabalhado e uma letra manejada por mão de mestre.”
“Ensaio”, de Felicidade Patrocínio, é um livro escrito por mão de mestre. Ela é uma amante da sabedoria.
Folheando o livro, antes de adentrar no seu conteúdo filosófico, fui levado transcendentalmente à “Critica da Razão Pura” do imortal Immanuel Kant, persuadindo-me a logo iniciar a leitura para conhecer, apetecer e, se possível, julgar.
Lendo, comecei a caminhar com ela e a sonhar acordado. Enquanto lia chegou às minhas mãos, trazido pela autora, “Cadernos de Ediclar”, de Karla Celene Campos e, pelo correio, da lavra de Manoel Hygino dos Santos, “Nonô do Tijuco – Pioneiro em Urologia”.
A “morte da arte da escrita”, de que nos fala Ivana Rebello, é a mesma cicuta que silenciou Sócrates, mas ainda não assusta, primeiro porque Sócrates não morreu e, segundo, porque a arte de escrever ainda se faz presente, com força construtiva das gerações passadas e da geração presente, que tem como exemplos marcantes as jovens acadêmicas Marina Couto Ribeiro e Nannah Andrade, sendo de ser destacado que o último Escambo de livros do Ateliê Galeria Felicidade Patrocínio foi um sucesso absoluto.
Para escrever “Ensaio” Felicidade Patrocínio banhou-se de luz no rio de Heráclito, dormiu com Sócrates, com sua concepção de ideias, acordou com Platão, pois um não existiria sem o outro, e, principalmente, dissolveu-se em Aristóteles, Descartes e outros mestres.
Coube a Sócrates, como bem definiu Cícero, o grande orador romano, “trazer a filosofia do céu para a terra”, afastando-se da natureza, objeto maior dos pré-socráticos. Felicidade Patrocínio, em seu “Apelo a Sócrates”, compreendendo que ele focalizou seus ensinamentos nos problemas morais, nos faz lembrar de outro filósofo, que, como ele, pregou as virtudes do espírito – Jesus Cristo. Mas ela nos leva, pelas mãos de Aisa, a mensageira homérica do Destino, à crua realidade do mundo, que veio depois deles, sendo de se destacar, pela odienta realidade, o apelo afro-brasileiro de Castro Alves à eternidade socrática: “Há dois mil anos de mandei meu grito / que embalde corre o infinito / onde estás, Senhor Deus.” O homem escravizado pelo homem em nome de Deus; seres humanos queimados em fogueiras, em nome de Deus. Um Deus que não é da humanidade, mas tão somente de seus seguidores. Miséria, fome e extermínio de irmãos. Felicidade Patrocínio questiona: O que é justiça? O que é lealdade? O que é beleza? O que é prudência? O que é coragem?
Parei, ainda no primeiro Capítulo, para meditar. E, meditando, adveio a quase impossibilidade de ser definido o “homo sapiens”, como um ser de razão ou de experiências. A Autora, “reconhecendo os limites desse ser” busca recursos para perceber e penetrar em sua real essência. Em regressão, socorre-se da Mitologia Grega para encontrar o homem, ainda de quatro pés, buscando reerguer-se. Mas, a sua reflexão não desce a tanto. Ela vê Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxágoras, Parménides e outros pré-socráticos questionando o objeto de suas reflexões: o homem, razão ou experiência.
Felicidade Patrocínio sobrevoa o tempo que é, na concepção de Luiz de Paula Ferreira, “um estranho pássaro que voa de asas leves, as penas da cor do vento”, e chega à metafísica de Aristóteles. Ela, procurando um saber mais elevado, caminha peripateticamente com o grande estagirita, não pelo jardim dos Capuletos de Shakespeare, mas pelo jardim do Liceu, na periferia de Atenas, e ouve dele que “todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer.”
Ainda nas asas do tempo Felicidade Patrocínio nos conduz a Marx, retorna a Protágoras, vê a genialidade de Leonardo Da Vinci e nos leva a meditar entre ciência e arte.



83586
Por Petrônio Braz - 1/10/2018 08:36:32
Primeiro amor
Hoje voltei setenta anos no tempo. Inesperadamente, por volta das 10:00h, recebi uma ligação telefônica:
– Eu sou o Joãozinho Bosco e estou em São Francisco com minha família e meu irmão. Consegui o seu número com Vicente, seu genro.
Pensei um pouco e perguntei:
– Filho de João Bosco e de Vanda Burle?
– Sim. Estive aqui em São Francisco há quase 50 anos e retornei agora. Minha mãe faleceu há 50 anos, com 37 anos de idade. Ela sempre falava que você tinha sido namorado dela e que depois tinha sido prefeito da cidade.
O tempo desabou. Disse com clareza:
– Sua mãe foi minha primeira namorada. O primeiro amor de minha vida.
– Ela também falava assim.
Namoro dos tempos da juventude, dos anos 40. Namoro sério, sem intimidades. Namoro de quatro anos com a possível futura esposa. Amor que ficou marcado para sempre. Ela se casou com João Bosco, pai do meu interlocutor da manhã.
Anos depois, no correr dos anos 60, ela retornou a São Francisco e, acreditem, foi com sai mãe, Aurora Burle, até a fazenda de meu pai, onde eu morava, para me ver. Eu não estava em casa, e ela foi recebida por Olga, minha esposa, e disse, com toda naturalidade: “Vim ver Petrônio”. Maria Elisa, minha filha, é testemunha desse fato.
Na vida existem passagens que se eternizam. Ela faleceu jovem, muito nova, mas sempre esteve e continuará vinculada à minha vida.
Naqueles tempos idos, quando eu namorava com Vanda Burle; Newton Ferreira namorava com Conceição Figueiredo, e Oscar, com Alda Figueiredo. Vanda casou-se com João Bosco; eu casei-me com Olga; Newton mudou-se para Januária e por lá se casou; Oscar casou-se com Selme; Conceição Figueiredo, com Mário Mendes, e Alda casou-se com Nelson Spina “que não tinha entrado na história”.
Como escreveu Carlos Drummond de Andrade em "A Quadrilha", "João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili, que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história."


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Por Petrônio Braz - 12/9/2018 01:36:49
Nas asas do tempo

Informa-nos James Russell Lowell que “a juventude é um defeito; é um defeito do qual nos curamos muito rápido”.
Há muito me despedi da juventude, das mundanas ilusões, dos sonhos da mocidade. Sem ousar dizer que a vida parou e nada há mais por escrever, sou levado a ver, como disse Alexandre Herculano, que “debaixo dos pés de cada geração que passa na Terra dormem as cinzas de muitas gerações que a precederam (...) Como de pais a filhos as diversas gerações se continuam e entretecem sem divisão (...) e como o octogenário, na vizinhança do túmulo, não vê à roda de si, nem pai, nem irmãos, nem amigos da infância, mas filhos, netos, mas existências todas virentes, todas cheias de vida, e sente com amargura que o seu século já repousa em paz e espera por ele que tarda”.
Com as mundanas ilusões dissipadas pelos dissabores da vida e as esperanças deterioradas no curso final da existência, resolvi editar em livro uma coletânea de artigos, que publiquei em jornais, para preservação dos mesmos, por já me encontrar cansado da jornada de noventa anos.
Um livro de crônicas, naturalmente, mas há quem não goste de crônicas em livro. Não é esse o meu entendimento. Os jornais passam; os livros ficam.
Para publicar os artigos em um livro, teria que escolher ou eleger um nome, um título. Pensei primeiramente em “Contemplação”, posto que, em verdade, os artigos nada mais são que uma aplicação do meu espírito ao cotidiano da vida. Mas este título poderia ser visto como plágio, isto porque Franz Kafka, um dos maiores escritores de ficção da língua alemã, do século passado, deu à primeira coletânea de seus escritos o título de “Contemplação” (Betrachtung). Afastei a ideia, sem muita convicção, pois temos “Clarissa” de Samuel Richardson e “Clarissa” de Érico Veríssimo; “O Laço Húngaro” escrito por Fernando Benedito Júnior e “O Laço Húngaro” da lavra de Dário Cotrim; “Cartas para Mariana” de Osmar Pereira Oliva e “Cartas para Mariana” de Vera Abad; “O Retrato” de Érico Veríssimo e “O Retrato” de Charlie Lavett; “O Capital” de Karl Marx e “O Capital” de Thomas Piketty; “Caminhos Cruzados” de Érico Veríssimo e “Caminhos Cruzados” de Eulália Alves da Mata Machado.
Pensando em outro nome, deparei-me com uma frase poética do imortal Luiz de Paula Ferreira: “O tempo é um estranho pássaro que voa de asas leves, as penas da cor do vento”. Em homenagem a Luiz de Paula fixei o título: “Nas asas do tempo”.


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Por Petrônio Braz - 17/8/2018 16:56:32
Os olhos tristes de Ulisses

As ideias são o fio condutor do pensamento e das ações do ser humano. São como o fio de Ariadne no Labirinto: elas governam o mundo. Elas nascem simples e mesquinhas como um pequeno riacho ou uma insignificante enxurrada nos dias de chuva, mas vão crescendo, incorporam-se a outros cursos d’água, criam volume e terminam por formar o oceano.
Lipa Xavier é um homem de ideologia formada, consciente. As ideais em sua mente são, em sua essência, um caudaloso rio que irriga as férteis manifestações dos sistemas dogmaticamente organizados por Karl Marx, Engels e Proudhon. É sociólogo, como não podia deixar de ser, graduado pela UNIMONTES. Foi Secretário-adjunto de Cultura do Município de Montes Claros.
O Brejo das Almas é berço de literatos. Eu diria que a nata cultural de Montes Claros teve origem no Brejo. Lipa Xavier é mais um brejeiro-montes-clarense, que nos brindou com um livro que me surpreendeu positivamente.
Conhecia, e sempre admirei, o político Lipa Xavier, mas desconhecia o literato, que muitas vezes se manifestava nos seus pronunciamentos públicos, nas entrevistas. Mas, Lipa Xavier havia já vencido concursos literários no contexto universitário.
A escritora, educadora e consultora editorial Maria Luiza Silveira Teles, autora do Prefácio da editio princeps da obra de Lipa Xavier, atesta que ele como estreante “tem a tarimba de um antigo profissional das letras”. Considera ela “o conto o gênero mais difícil da literatura. É preciso ser mestre de muita inspiração e habilidade para lidar com ele. No entanto, o autor, sertanejo de ‘savoir-faire’, nos encanta com histórias curtas que falam das coisas e da gente do sertão”.
Quem é sertanejo sabe que o Sertão, como bem definiu Guimarães Rosa, é do tamanho do mundo; o sertão não tem fronteiras. Quem escreve sobre o Sertão, redige para o mundo.
Integram o livro, com estilo próprio, contos que individualmente já qualificam o autor. “O sublime princípio da loucura (ou o pispiar da lucidez)”, “Servano”, “Rosa das almas”, “Os olhos tristes de Ulisses” (que dá nome à obra), “Serenas chuvas nos Gerais”, “Anos, saudades e alumbramentos” e “Um sopro que me ventou aos ouvidos”.
Lipa Xavier abre o seu livro revelando-se, em comparação com Valodia Teitelboin, do país de Neruda, ser bígamo. Mas, depois de ler, verifico que ele é polígamo. Ele efetivamente ama a política, amante traiçoeira; revelou amar a literatura, companheira de espírito irrequieto; ama a si mesmo, amor indispensável à autoafirmação; ama a natureza, amor universal; ama a vida.



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Por Petrônio Braz - 3/8/2018 11:28:50
O erotismo em Amelina Chaves

Petrônio Braz

Dos livros “Priapo de Ébano”, “Rancho da Lua” e “Retrato do Prazer”, principalmente, se extrai a natureza erótica da literatura de Amelina Chaves.
Itamaury Teles nos traz à lembrança o livro “Dois Mil Anos de Segredos de Alcova: de Nero a Hitler”, de Claude Pasteur. Esclarecendo ele que “consciente de que os acontecimentos mais íntimos, passados sob os lençóis, sempre atiçaram o interesse alheio, a Autora resolveu escancarar as cortinas da História e revelar alguns segredos gerados em alcovas famosas, nos últimos dois milênios”.
A sensualidade em Amelina Chaves desponta à flor da pele, daí porque não poderia ela, em complemento à sua vasta obra literária, deixar de externar o que de mais bonito se esconde na intimidade de seu próprio ser.
A literatura erótica embora anterior a D. H. Lawrence, com seu livro “O Pavão Branco”, publicado em 1911 na Inglaterra, nos tem mostrado o realismo das relações entre o sexo e o amor, como uma força da natureza. Quem na juventude não leu “O Amante de Lady Chatterley”, do mesmo autor, ou “Amor Natural”, de Carlos Drummond de Andrade?
“Madame Bovary”, romance de Gustave Flaubert, uma das maiores obras da literatura francesa, “o romance dos romances”, ultrapassou os tempos e chegou até nós, mas quando publicado em 1857 levou o autor a julgamento na França, mas resultou, depois, em um grande filme (1949). Embora absolvido, não foi aprovado pelos críticos puritanos da época.
Para ser levado a ler as páginas dos livros de Amelina Chaves, basta apenas começar: “Vez por outra pergunto a mim mesma, ao tempo, ao destino e a Deus, como pode uma pessoa amar tanto a outro – um desconhecido que aparece em nosso caminho sem aviso prévio!? Um amor desesperado que tritura e desafia os limites impostos pela sociedade, que nada entende de sentimento humano!? Principalmente quando chega num repente e toma todo o nosso espaço e vai nos esmagando, ferindo a pele e rasgando a alma até sangrar o coração”.
Amelina demorou tempo para lançar “Priapo de Ébano” e não é de se admirar, pois o grande Flaubert afirmou que, “quando escrevia, passava horas a procurar uma palavra”.
Observa Maria Belo, em “Literatura e Sexualidade” que “a realidade do inconsciente é a realidade sexual”. Para melhor entender e admirar o erotismo nas obras de Amelina Chaves, necessário será ir à fonte maior, isto é, ler Sigmund Freud em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, editado em 1905, e que se encontra disponível nas boas livrarias.
Gosto de ler os livros de Amelina Chaves. Escritora por vocação, em sonhos ela repudiou o Céu para retornar à Terra: “O Senhor me perdoará, tenho certeza. Lutei uma vida inteira para chegar aqui, no céu, porque pensei num céu diferente, onde ao menos eu pudesse ler, escrever, ouvir músicas, cozinhar, ser feliz! Que Deus me perdoe, mas quero voltar para a minha vidinha, que seja. Mas quero voltar. Por favor, leva-me de volta. Senhor de todas as coisas.


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Por Petrônio Braz - 1/8/2018 18:38:36
Delírio lírico

Petrônio Braz

Vencedor do Concurso de Contos Cyro dos Anjos, promovido pela Academia Montesclarense de Letras, autor de muitos e bons livros, Napoleão Valadares, urucuiano da Barra da Vaca, hoje próspera cidade de Arinos, cenário de um conto de Guimarães Rosa, mandou-me seu último livro: Delírio Lírico, editado por Edições Galo Branco, do Rio de Janeiro, dedicado à memória de Juscelino Kubitschek, o criador de Brasília, onde ele reside.
Do escritor nasceu o poeta; do romancista adveio o pensador-historiador. Em ordem definida pelo passar ininterrupto dos anos, o poeta Napoleão Valadares, membro efetivo da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco e de outros sodalícios, em versos decassílabos brancos, em uma série de trinta e quatro cantos, nos reconta a história da humanidade, abrangendo os últimos 33 séculos, iniciando pela Guerra de Troia.
Ele nos leva a Sócrates, Platão, Aristóteles e chega por último a Juscelino (em Brasília). Uma forma deliciosa de se rever ou mesmo conhecer a história universal. No erudito livro, dois talentos em uma só pessoa: o poeta e o historiador.
João Carlos Taveira, nosso confrade da Associação Nacional de Escritores, em artigo publicado no jornal da ANE, edição de dezembro de 2008, comenta: “Napoleão Valadares, na sua construção poética, optou pela narrativa épica em que, com mestria e bom humor, funde a linguagem nobre, clássica, à linguagem popular, atual, em uma tirada muito interessante e jamais vista em nenhum poeta brasileiro de qualquer escola. Mas o que salta aos olhos e aos sentidos é a correção gramatical, o domínio da língua, a clareza de expressão, a concisão. Além, é claro, do senso de humor nas “pilhérias” e “invenções” que o Autor derrama pelo texto afora. Sirva-se de exemplo o Canto XXVI, em que o narrador, em diálogo com Camões, ouve do mestre de Os Lusíadas a seguinte confissão: “Amor é fogo”, em uma clara alusão ao célebre soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, do bardo português”.
Os versos decassílabos são heroicos ou sáficos, cabendo lembrar que todos os versos de Os Lusíadas são decassílabos heroicos. Napoleão Valadares, todavia, preferiu utilizar-se dos decassílabos brancos, sem estrofes, mais em moda nesses tempos de pós-modernismo, presentes o ritmo e a métrica.
Ler Delírio Lírico é uma forma recreativa de reestudar a história. Descrevendo poeticamente um delírio de febre ele conclui, no Canto I: E foi nesse delírio que saltei / do Vale para o Mar Egeu. Desci / à praia, caminhei e fui a Troia, / no extremo noroeste da Anatólia. / Trinta e três séculos já passados, / e eu, tonto, ali na capital de Príamo, / via o cerco dos gregos, via Ulisses / com mil astúcias, via Agamenon / raptando a escrava do guerreiro Aquiles, / como se não bastasse a justa cólera / de Menelau, que fez se unirem todos / os príncipes da Grécia belicosa.
Bem mais adiante, ele percorre as margens do rio Tigre: Vi-me no Tigre, num lugar bem antes / da sua confluência com o Eufrates, / e fui descendo. Inesperadamente, / topei de testa com o grande rei / Alexandre, de Pela, aquele moço / da Macedônia, filho de Felipe, / que tinha sido aluno de Aristóteles, / interessando-se pela política, / filosofia, medicina e tudo / o que viesse do mestre de Estagira.
No último canto a construção de Brasília: “E foi assim que no Planalto vi-me / entre os que começavam a construir / Brasília. Juscelino, grande líder, / cinquenta anos em cinco - se dizia. / A construção da capital moderna a se concluir em menos de mil dias... / Ah! mas candangos mil co’a mão na massa, / já contagiados pela animação, / nas grimpas do entusiasmo e da euforia, / atravessavam dia e atravessavam / noite nessa labuta. Pareciam / um formigueiro. Levantaram prédios / no meio do cerrado. A Catedral / e os palácios se erguiam. Na alvorada, / uma cidade-louça se fazia.
Não precisa mais, é ler o livro.
O livro, com dedicatória, já se integrou à minha modesta biblioteca, onde somente os livros já lidos se aninham.


83402
Por Petrônio Braz - 29/6/2018 08:30:10
Uma Flor do Cerrado.

Petrônio Braz

Em razão da conduta pessoal, da personalidade marcante, ou até mesmo da simplicidade congênita, há pessoas que se salientam entre seus contemporâneos, alcançando celebridade. A biografia é um gênero literário em que se narra a história da vida de uma pessoa, que tenha alcançado essa notoriedade.
Na terra dos montes claros, na aldeia do saudoso Bala Doce, Amelina Chaves é uma dessas pessoas.
Em presença dela nasceu uma disposição, uma pretensão, um instinto, uma vontade de fazer, uma responsabilidade: Escrever sua biografia.
Coragem para assumir tamanha responsabilidade. Tempo restante de vida para procurar fontes, entrevistar pessoas, visitar locais que marcaram sua vida, contextualizar sua vida na organização da pesquisa. Como começar?
Escrever uma biografia não é apenas citar fatos ou individualizar o biografado. Escrever uma biografia é dar vida ao biografado. É muita responsabilidade.
Disse, há não muito tempo, que, apesar da idade, ainda faço planos e não sou de acovardar-me.
Dispondo-me a identificar sua vida, pessoal, literária e artística, devidamente autorizado tenho, como fator determinando, desligar-me da obrigatoriedade de ser apologético, postando-me equidistante, numa atitude tanto quanto possível isenta, dentro do espaço e do tempo da trajetória de sua vida, e da vertente literária que a notabilizou. Dedicar-me-ei a descobri-la, para tentar mostrar o conteúdo de uma vida cheia de diversidades. Desvendar de onde veio tanta notoriedade literária, presente em uma pessoa desprovida de formação acadêmica? Essa a curiosidade, o móvel que irá impulsionar o aprofundamento no campo das pesquisas. Ela não tem formação em Letras, não é graduada e, muito mesmo pós-graduada em literatura. Contudo, ela sabe pensar por si mesma. Não passou por curso de escrita criativa, mas é um exemplo, uma inspiração para quem pretende dar os primeiros passos na Arte de Escrever.


83393
Por Petrônio Braz - 25/6/2018 19:07:11
Cultura barranqueira

Contou-me o saudoso Ivo das Chagas, professor emérito da UNIMONTES, que em determinada época, não muito remota, para a implantação do Projeto Museu do São Francisco, uma comitiva de doutores foi organizada em Belo Horizonte, para percorrer o Vale do rio São Francisco, conhecer a realidade regional e propor a redenção do rio. Os sábios integrantes do cortejo traziam, em suas bagagens culturais, a ideia de que o homem sertanejo, além de analfabeto, era ignorante.
Em razão dessa assertiva, os participantes foram alertados de que deveriam esquecer o vernáculo, utilizando-se de uma linguagem em nível do nois foi e do nois vai, que seria a única que o barranqueiro haveria de entender.
Em um dos primeiros municípios visitados, na histórica Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São Romão, depararam-se os eruditos com pessoas que manejavam com mestria a língua pátria e que exibiam uma dilatada instrução, superior à que eles traziam. De plano, defrontaram-se com João Torres, um autodidata, que lhes ministrou verdadeira aula de cultura geral e local, informando-lhes a biografia de todos os membros da Academia Brasileira de Letras, que ele sabia de cor. João Torres descreveu a geografia e contou os anais históricos da região, além de discorrer sobre literatura nacional e de além-mar. Aprofundou-se em assuntos de natureza filosófica, que nenhum deles estava preparado para com ele questionar.
Esta é uma realidade regional e, na mesma cidade de São Romão, nasceu a escritora e poeta Maria da Glória Caxito Mameluque, que integra com destaque o meio cultural, não só de Montes Claros, mas de todo o Norte de Minas, viúva do saudoso Dr. Pedro Mameluque Mota.
Ela, na escolha nem sempre fácil de uma profissão, nos momentos de dúvidas e incertezas da juventude, não optou por uma profissão liberal, que lhe permitisse devaneios literários. Preferiu ser técnica. Graduou-se em Enfermagem pela PUC/MG. Exerceu a profissão com brilhantismo, mas logo veio o esperado: Graduou-se em Direito pela UNIMONTES. E não parou por ai, diplomou-se em Psicologia pelas Faculdades Integradas Pitágoras, com alguns cursos de pós-graduação.
Essa a Glorinha Mameluque que integra os meios culturais de Montes Claros como estrela de primeira grandeza. Ela é membro efetivo da Academia Montesclarense de Letras, da Academia Letras, Ciências e Artes do São Francisco e sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Foi a primeira presidente da Academia Feminina de Letras de Montes Claros.
Autora de dezoito obras literárias, publica com regularidade artigos pelos jornais regionais, com destaque pelo Jornal de Notícias e Gazeta, de Montes Claros, com participação nas Revistas periódicas do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Academia Montesclarense de Letras. Está presente em todos os livros editados pela Academia Feminina de Letras de Montes Claros


83384
Por Petrônio Braz - 19/6/2018 08:50:45
A educação é dever da família e do Estado, da sociedade como um todo, e deve ser inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana e ter por finalidade, principalmente, o exercício da cidadania.
A Academia Feminina de Letras de Montes Claros congregou em seu seio uma plêiade de intelectuais, uma constelação de mulheres, muitas delas voltadas para a área educacional, de relevante importância para a formação das futuras gerações. Entre elas, a professora Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa, graduada em Pedagogia e alistada por vocação à nobre profissão de educadora, que também é sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
Tudo nasce de um princípio.
Os gregos foram os primeiros a se preocuparem com o princípio de todas as cosias. Seria a água (Tales de Mileto), o número (Pitágoras), uma matéria indeterminada e ilimitada (Anaximandro), o ar (Anaximenes), uma inteligência cósmica (Anaxágoras) ou o conjunto dos quatro elementos: terra, ar, água e fogo (Empédocles)?
O princípio da acadêmica Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa, sua “arché” está no já quase centenário Colégio Imaculada Conceição de Montes Claros, onde se formaram os alicerces da sua evolução cultural.
Ela é graduada em Pedagogia pela UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros, com especialização em Orientação Educacional e Educação à Distância, e em Pedagogia Musical, Canto Coral e Teoria Musical pelo Conservatório Lorenzo Fernandes, de Montes Claros.
Mas, ela é escritora. Iniciou, no fim da formação cultural e início da vida profissional, com a publicação de seu discurso de formatura, "Por que Universidade?", publicado pelo saudoso Diário de Montes Claros.
Tem publicado inúmeros artigos pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, pelo Jornal de Notícias de Montes Claros e nas antologias editadas pela Academia Feminina de Letras de Montes Claros.
Criou músicas e editou livros. Uma intelectual polivalente.


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Por Petrônio Braz - 9/6/2018 06:50:35
A imortalidade

Para tornar-se imortal, Zeus ao nascer pediu a Hermes que o levasse para junto do seio de Hera, quando esta dormia, e o fizesse mamar. A imortalidade, assim, depende de um ato ou de um fato,
Em uma sucessão rápida e cambiante de impressões sobre um número finito de pessoas, sou levado a lembrar de que a imortalidade se faz presente, não pela visão do ser, mas pela memória de uma existência, que deixou marcas particularizantes. São imortais os humanos que mamaram nos seios de Atena, a deusa grega da sabedoria.
Não é necessário que se tenha conhecido o ente animado pela existência física, suficiente a leitura de suas obras, a visão do conjunto de sua arte, a análise da correção de sua existência.
Não precisamos descer ao Inferno de Dante, na companhia de Virgílio, representante maior da sabedoria humana, para de lá subirmos ao Paraíso em estado de perfeição. A perfeição é atributo dos deuses, não dos homens. O poeta florentino buscou a sua autorrealização obediente aos conceitos de sua época, firmado no convencimento da existência de vida além da morte, em presença da imortalidade.
Se admitida a criação divina do homem, feito à imagem e semelhança do Criador, o ser humano foi concebido imortal. Os gregos foram mais objetivos. Eles criaram os deuses à sua forma e similitude, habitando o Monte Olimpo, aqui mesmo na Terra, e deram a eles os sentimentos humanos, dotados da faculdade de conhecer, perceber e apreciar, com disposições afetivas em relação à vida terrena.
Por terem convivido com os sentimentos e a força criativa dos deuses do Olimpo, que com os homens ainda se misturam transmitindo valores em um plano superior, alguns se tornam análogos às divindades do classicismo greco-romanas. São os humanamente imortais.
A ideia da imortalidade, como uma busca desesperadora, está presente no ser humano, por ser ele o único animal da face da Terra a ter certeza de que nasceu, está vivendo e morrerá um dia. Mas, sem a certeza da morte, os humanos não teriam prazer pela vida.
Imagine-se, como na história de Gregory Widen no filme “Highlander – O guerreiro imortal”, atravessando os tempos, assistindo à evolução da humanidade e percorrendo o caminho trilhado por Connor MacLeod, nascido há mais de 400 anos nas colinas da Escócia! O excêntrico argelino Jean Richepin estava certo ao asseverar que “se fosse imortal inventaria a morte para encontrar algum prazer na vida” e o rei Salomão, por inspiração da pomba Butimar, com sabedoria, escusou-se de beber o vinho da imortalidade, para não ser o mais infortunado dos homens.
No entanto, a procura da imortalidade está presente na consciência do homem e muitos a alcançam através de suas realizações terrenas. O próprio rei Salomão tornou-se imortal na lembrança dos homens.
O filósofo inglês John Harris, professor do Instituto de Medicina, Direito e Bioética da Universidade de Manchester, durante o VI Congresso Mundial de Bioética, que ocorreu em São Paulo, afirmou que “estamos no limiar de uma era na qual, potencialmente, poderíamos criar imortais”. Declarou ele que “embora a ciência ainda esteja longe de poder cumprir essa promessa, as pesquisas em busca de novos tratamentos para doenças letais - que podem não apenas adiar a morte, como também, a longo prazo, estender a vida por muito tempo - avançam rapidamente. Por isso, questões aparentemente futuristas devem ser debatidas”.
Independente do esforço da ciência, a imortalidade de alguns seres humanos já existe há muitos e muitos anos. Sem amparo da ciência, com os nomes gravados na memória coletiva e estribados no que fizeram, são imortais por terem aprendido a dar essência às palavras.


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Por Petrônio Braz - 3/6/2018 10:29:25
Voltaire tinha razão ao afirmar que “o ser humano somente será feliz quando enforcar o último político”. O político, em um passado não muito distante, era um líder comunitário que buscava o bem comum. Fui vereador por três mandatos em São Francisco e não tinha salário. Ser vereador era uma honraria muito disputada pelos líderes comunitários. Todos os políticos tinha sua própria profissão e dela viviam. Politica não era profissão. Falo isto para, em uma extensão de pensamento, definir que os males atuais desse País (preço dos combustíveis) não advém da Petrobras, mas da forma como ela está sendo administrada. Ela foi assaltada, tiraram milhões de seus recursos, mas não se pode aceitar que seja recuperada, da noite para o dia, em uma administração à custa do contribuinte. O tal Pertense (acho que é isto mesmo) foi um grande administrador financeiro (capitalista) e elogiado pelos que assim pensam. Não é nenhum orgulho para o brasileiro saber que a Empresa é a maior dentro do mercado financeiro. Os políticos, mesmo que profissionais, têm que entender isto. Lutamos nos anos quarenta (estudantes) pela mensagem pública: O petróleo é nosso. De nada valeu a greve dos caminhoneiros. Só trouxe prejuízos para eles e para a população como um todo. A mensagem de revolta (greve) não sensibilizou os políticos profissionais. A gasolina já teve alta para garantir os lucros exorbitantes da Petrobras. Porra.


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Por Petrônio Braz - 31/5/2018 11:19:14
República e Democracia

Petrônio Braz

Quando algumas vozes já se levantam, neste País, pondo em dúvida ser a República a melhor forma de governo, é bom ser lembrado que o Liberalismo, difundido pelas ideias de John Locke, um dos predecessores do Iluminismo, pugnou pelo estabelecimento de governos fundamentados no respeito ao direito natural do ser humano à vida, à liberdade e à propriedade, não se estabelecendo, daí, a imperiosa necessidade da escolha dos governantes pela via eletiva.
Verdade, que não pode ser esquecida, é que a sociedade humana não se mantém equilibrada sem um governo forte. Fôssemos idênticos às formigas ou às abelhas, cada um cumpriria a sua tarefa comunitária dentro de parâmetros unitários, sem abusos, sem corrupção. Mas não somos. E, porque não somos, necessitamos da presença de um governo que garanta o exercício dos princípios fundamentais à vida, à liberdade controlada e à propriedade. Digo liberdade controlada porque não se pode viver em sociedade, sem que haja um controle superior da própria liberdade.
Os conflitos sociais existentes no Mundo moderno são tidos como originários das lutas de classes apregoadas por Marx, todavia, tais conflitos não se estabelecem senão pelas diferenças existentes entre governantes e governados.
Os governos republicanos eleitos, muitas vezes são levados a desprezar o direito das minorias, desrespeitando os fundamentos maiores do próprio sistema que os elegeu. Se o ser humano precisa de um governo, o governo precisa ter meios de controle de seus possíveis abusos.
Thomas Hobbes, em seu “Leviatã”, analisou com objetividade as relações entre governo e sociedade esclarecendo que o homem vive em uma constante guerra de todos contra todos, mas todos desejam acabar com esse estado beligerante, instituindo controles pela via do governo ou de um contrato social, mas esse governo deve ser estável e assegurar a paz e a defesa comum. Esse governo deve ser uma autoridade inquestionável e justa.
Observa João Luiz Mauad que “numa democracia ‘stricto sensu’, nada impede que 51% decidam escravizar os 49% restantes. Se à maioria é dado o poder de decidir sobre todas as coisas, se isto que os liberais chamam de direitos naturais não foram mantidos acima de qualquer outra lei objetiva, tudo é possível, e o poder não encontrará nenhuma barreira em sua marcha rumo à tirania”. Isto só se torna possível de acontecer pela carência de um poder superior, dotado de capacidade controladora.
Existem direitos naturais que antecedem à própria ordem estabelecida em uma sociedade organizada, e esses direitos não podem ser maculados, daí se questionar se a República é a melhor forma de governo. Em pouco mais de cem anos de República, no Brasil, tivemos trinta e cinco anos de ditadura, sem contarmos os quarenta anos irregulares, que antecederam a Revolução de 1930.
O único regime republicano estável, do Mundo moderno, ainda é o da América do Norte, e não pode servir de exemplo a nenhum outro. Países como o Japão, a Inglaterra, a Holanda, a Dinamarca, a Bélgica, a Espanha e a Noruega, entre inúmeros outros, são estáveis em sua estrutura governamental e se desenvolvem dentro dos conceitos maiores de respeito aos direitos naturais de cada cidadão que nele habita, sem adotarem o regime republicano de governo.


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Por Petrônio Braz - 30/5/2018 09:09:22
Peraí. Não sou a favor, nem contra a greve dos caminhoneiros, muito pelo contrário, como diria José Maria Alkmim. A culpa pela situação quase caótica atual não é dos caminhoneiros, que estão buscando os seus direitos, mas do desgoverno deste País. Alguma coisa tinha que ser feita, e foi feita. Todos perdemos alguma coisa. Uns mais outros menos, mas todos perdemos e todos ganhamos. Mas, a greve foi melhor que uma Revolução popular ou, quem sabe, uma tomada do Poder. E agora? Como fica o preço da gasolina e do etanol? A PETROBRAS é uma empresa pública, mesmo com capital privado, mas os seus lucros pretendidos não podem prejudicar o País como um todo. É aí que está o nó górdio da questão. Vamos (o povo) pagar os lucros da PETROPBRAS com dinheiro dos impostos. Nos anos quarenta, quando eu era secundarista, em Belo Horizonte, lutamos pelo lema nacionalista: “O Petróleo é nosso”. Será?


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Por Petrônio Braz - 17/5/2018 07:56:11
Literatura e Matemática

Se considerarmos que a literatura é a transcrição da realidade da vida, chegamos à conclusão de que ela está vinculada a todas as áreas do saber humano. Em verdade, todas as ciências se interligam. Para se escrever é necessário ter ideias, desenvolver raciocínios criativos e a matemática é a ciência por excelência que nos ensina a raciocinar.
O escritor mineiro Jacques Fux, o argentino Jorge Luis Borges e o francês Georges Perec, entre outros, inspiraram seus escritos na relação aparentemente distinta entre a matemática e suas narrativas ficcionais.
Jacques Fux foi estudante de engenharia, mas transformou-se em literato. Sua tese de doutorado na UFMG foi premiada: “Literatura e Matemática: Jorge Luis Borges, Georges Perec e o Oulipo”. Ele faz uma viagem, navegando entre os mundos das letras e dos números. Analisa objetivamente os romances de Jorge Luis Borges, Georges Perec: matemáticos-literatos.
O escritor Jacques Fux estreou na ficção com o romance “Antiterapias”, vencendo em 2013 o “Prêmio São Paulo de Literatura”, na categoria de autor estreante.
La Fontaine na fábula “A menina do leite”, sem buscar objetivamente uma solução matemática, faz contas: soma, subtrai, divide e multiplica.
Quando eu era estudante secundarista fui bom em exatas. Sempre auxiliava meus colegas nas provas de matemática, entre eles os doutores Francisco Lopes (Chico Lopes, médico e pintor montes-clarense) e Murilo Badoró (ex-presidente da Academia Mineira de Letras). Não fiz engenharia. Estudei agronomia (curso médio) em Viçosa, antes de cursar a Faculdade de Direito.
Fui professor de Matemática e História no Ginásio Joseph Hein, em Várzea da Palma. A matemática ensinou-me a raciocinar, mas sempre gostei de ler, e a leitura levou-me ao “O Homem que Calculava”, de Malba Tahan, onde o autor sabiamente interliga História e Matemática, fazendo Literatura. O livro é uma História da Matemática. Entre outros e belos capítulos do livro, a “Divisão dos 35 Camelos” é uma equação, resolvida pelo hábil Beremiz.
Quando das solenidades de instalação da Academia de Letras, Ciências e Artes de Várzea da Palma, um ex-aluno lembrou-me: “Professor (é como me tratam em Várzea da Palma), sua última aula no Ginásio foi sobre a equação do segundo grau.”
A equação matemática do segundo grau constitui-se, como a problemática elaboração literária, em ficção e realidade: ax²+bx+c=0, onde x é a incógnita; a, b, c são números reais. Resolver a equação é encontrar os valores possíveis para a incógnita. Escrever, como expôs Aristóteles, é dar uma igualdade a conclusões contraditórias.
Todo escritor cria raciocinando e, quem raciocina, resolve intricados problemas subjetivos da razão, dentro da realidade objetiva da matemática.


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Por Petrônio Braz - 6/5/2018 03:46:02
Teoria da Recepção

Petrônio Braz

Sempre costumo dizer que são as ideias que conduzem o mundo, mas não é esse o pensamento de Fernando Pessoa. Ele afirmou que “as sociedades são conduzidas por agitadores de sentimentos, não por agitadores de ideias. Nenhum filósofo fez caminho senão porque serviu, em todo ou em parte, uma religião, uma política ou outro qualquer modo social do sentimento”.
Todavia, no aristotelismo, o princípio que faz com que alguma coisa se torne aquilo que é, determinando sua constituição e suas características essenciais é a ideia. É a ideia que provoca o sentimento. O sentimento é sensibilidade, disposição para se comover.
Pelo correio recebi o livro “Cidade do Bonfim” de autoria do desembargador Lúcio Urbano Silva Martins, consócio do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, em edição de luxo, em papel “couchet” brilhante, que retrata as famílias e as pessoas ilustres da Cidade do Bonfim. Um livro para guardar e pesquisar, quando necessário.
Com o livro, veio uma carta que me sensibilizou, que feriu o sistema límbico de meu cérebro, onde os sentimentos são processados: “Prezado Dr. Petrônio Braz. Com prazer, li “Serrano de Pilão Arcado”, que muito me agradou. Já o conhecia pelo seu “Direito Municipal na Constituição”. Mando-lhe “Cidade do Bonfim”, de minha autoria, que conta a história da cidade, “célula mater” do “Mérito Paraopeba”, fundada pelo Bandeirante Manoel Teixeira Sobreira, em 1675. Note que se cuida de lugar que conta com filhos ilustríssimos. É incrível que cidade do porte de Bonfim tenha tantos filhos notáveis, biografias no livro. Cordialmente Lúcio Urbano Silva Martins”.
A sensibilidade não adveio, necessariamente, dos termos da carta, mas da certeza de que o livro “Serrano de Pilão Arcado” está circulando pelos pináculos mais elevados da cultura brasileira.
Reginauro Silva dá testemunho de que “sem dúvidas, um dos maiores prazeres da escrita é o retorno, a correspondência, a interação com os leitores”. Para que uma obra literária tenha receptividade é necessário que haja uma ação recíproca entre o autor e o receptor da mesma obra (leitor). Quando nos interagimos com um leitor, completamos a relação autor-obra-leitor. O leitor é o mais importante elo da conexão dos três elementos dessa relação.
Observa Marly Gondim Cavalcanti Souza, em tese de doutorado, que “a obra de arte possui múltiplas faces, resultantes da complexidade de campos que se interligam, tanto no momento de sua criação como naquele em que dela se desfruta”.
Objetivando analisar o comportamento do leitor diante de uma obra de arte literária, criou-se a Teoria da Recepção, tendo por objetivo a defesa da soberania do leitor na análise crítica da obra literária. A Teoria da Recepção é um conjunto de regras de análise do fato artístico ou cultural em face do receptor. Nasceu com o trabalho de Hans Robert Jauss, na Alemanha, nos anos sessenta do Século passado, e se desenvolveu nas décadas seguintes.


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Por Petrônio Braz - 5/5/2018 08:35:21
Mário Genival Tourinho

Petrônio Braz

Observa Huberto Rohden que “o Universo seria incompleto sem o homem. Faltaria o fator autodeterminante, para completar os fatos alo-determinados, extra-hominais. No homem converge a pirâmide cósmica num ápice culminante”.
O primeiro homem veio de uma evolução imperfeita para o perfeito. Sendo o homem a essência do Universo, essa busca da perfectibilidade nele está presente desde toda a eternidade. Está presente na potencialidade evolutiva e se apresenta mais evidente em pessoas privilegiadas.
Os filósofos gregos, especialmente Sócrates, inquiriram sobre o homem, na busca da compreensão do móvel de suas ações. A filosofia colocou o homem no centro de suas discussões, tornando-se uma forma de entendimento da própria vida.
Não precisamos, todavia, do socorro da filosofia para definir Mário Genival Tourinho, sua função social, sua natureza e até mesmo o seu destino. Genival Tourinho é um homem, como são todos os homens. Um homo sapiens, no sentido mais elevado da classificação antropológica. Homem econômico, se ficarmos com Marx, homem instintivo se preferirmos Freud, homem problemático se adotarmos Marcel. Um ser racional e um ser político.
Todo ser humano tem uma trajetória, que se define desde o nascimento. Conheci Genival Tourinho no internato do Instituto Padre Machado, em Belo Horizonte, há algumas dezenas de anos, melhor não dizer quantas, mas foi nos embates da vida pública que nos conhecemos melhor, por comungarmos os mesmos ideais.
Para falar dele ou sobre ele bastaria o uso da memória, que é vida real. Mas foi necessário escrever para lembrar, pois o esquecimento, como afirmou Drummond, ainda é memória. Todavia, não foi necessário o apelo a Marcel Proust para a busca do tempo perdido.
Mesmo a distância, sempre estivemos unidos pela força de um ideal maior: A liberdade e a busca da Justiça. Nosso apego, o apego de Minas à liberdade nos foi legado pelos conjurados do São Francisco, pelos inconfidentes de Vila Rica, pelos indígenas que habitavam nossas montanhas, nossos cerrados e as margens de nossos rios, e lutaram contra o forasteiro invasor ou, quem sabe, pela revolta da própria terra, que se extrai da poesia de Pablo Neruda.
Genival Tourinho é um mineiro que se destacou na tribuna pública do Congresso Nacional, onde revelou a sua personalidade pelas vertentes maiores da coragem e da independência. A coragem, como entendida por Napoleão Bonaparte, não se pode simular; é uma virtude que escapa à hipocrisia. Como mineiro, teve ele, na sua mais autêntica expressão, uma dimensão eminentemente ética e desassombrada. Ele redimensionou os conceitos partidários definindo o seu comportamento por valores pessoais, sempre agindo “sans peur et sans reproche”.
Embora tenha sido autêntico representante da política mineira, Genival Tourinho não se limitou a agir no silêncio dos gabinetes. Revelou-se na tribuna, impulsionado pela pujança de seu temperamento e pelo seu espírito audacioso, em um dos momentos mais difíceis da vida brasileira, anos intranquilos e turbulentos do chamado Período Revolucionário.
Em uma análise mais genérica temos que ver o advogado, o político, o deputado, o administrador do IPSEMG, o Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. A sua trajetória começa com o advogado e está com o advogado, depois de passar por tantos outros Genivais.
Pelo desempenho de suas atividades, pela força de sua mineiridade, está relacionado entre os nomes de maior expressão deste País. Não do Brasil de tanta corrupção, mas do Brasil de Afonso Augusto Moreira Pena, Crispim Jacques Bias Fortes, David Campista, Afrânio de Melo Franco, Pandiá Calógeras, Olegário Maciel, Bernardo Monteiro, Artur da Silva Bernardes, Camilo Pinheiro Prates, Juscelino Kubitschek, José Maria Alkmim, Magalhães Pinto, Tancredo Neves e outros tantos de igual valor, que fizeram o Estado de Minas Gerais respeitado no cenário nacional.



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Por Petrônio Braz - 29/4/2018 02:50:50
A palavra falada e escrita

Petrônio Brás

O homem, o ser humano, comunica-se com seus semelhantes através da linguagem falada, escrita ou gestual, utilizando-se das lógicas mental e prática. Os conhecimentos adquiridos foram acumulados através de gerações pelo uso da palavra.
O mundo das palavras é o próprio universo do ser humano. Muitos são os idiomas falados, mas todos se incorporam à lógica mental do fenômeno literário.
Falamos o Português, que se originou da fala galega, que por sua vez teve a sua origem no Latim vulgar. Língua que nos veio dos versos de D. Dinis, da prosa de Fernão Lopes, das éclogas de Gil Vicente, da poesia de Camões e de Antero, dos sermões de Vieira, das novelas de Camilo, da lírica de João de Deus e, por isto, devemos amá-la e preservá-la.
Lembra-nos Júlio Dantas: “como não haveremos nós de amá-la, se ela é feita do melhor do nosso sangue e da nossa glória; se ela é a mais viva expressão de nossa imortalidade; se - obra laboriosa dos séculos! - ela viveu antes de nós e viverá para além de nós; se ela é, enfim, o vínculo imortal que nos une e a voz dos mortos que nos fala!”
A língua constitui-se em um fator essencial de ligação entre os elementos humanos que compõem uma Nação.
Em qualquer profissão, a construção do pensamento e sua exteriorização realizam-se por meio da palavra. Assim, cultuar a língua e preservá-la na sua inteireza plena é dever de todo bom profissional.
Saber expressar-se através de palavras próprias, fiel ao pensamento elaborado e capazes de transferir com propriedade a ideia criada, valoriza o profissional e sua profissão.
O ser humano, em suas relações com outros, identifica-se pela capacidade de comunicação. Comunica melhor quem fala melhor, quem se expressa melhor e, para se expressar melhor, é necessário conhecer bem a língua, que é o instrumento dessa comunicação.
Preocupa-me as constantes transformações ocorridas na educação de nossos jovens. Há quase dois séculos já dizia Voltaire: “Sufoca-se o espírito da criança com conhecimentos inúteis”. Em lugar de se aprimorar o conhecimento da língua, já nos primeiros anos de formação os estudantes são assoberbados com matérias as mais diversas, absolutamente desnecessárias à formação inicial de seus conhecimentos. Resultado: Não aprendem nenhuma delas.
Não vai muito longe o tempo em que nos quatro primeiros anos de escolaridade, após a alfabetização, estudava-se Português, Aritmética, História, Geografia e iniciação às Ciências. Alunos de Faculdade (universitários), hoje, não sabem nenhuma dessas matérias importantes e essenciais, que nós outros aprendemos no Curso Primário. No Primário aprendemos a gostar de leitura e a leitura nos proporcionou o conhecimento posterior dos outros campos do saber humano.


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Por Petrônio Braz - 15/4/2018 15:23:29
O Retrato do Prazer

Petrônio Braz

Relatos de vida. Uma filosofia da existência. Eis como vi, li e reli o novo livro de Amelina Chaves, para elaborar o Prefácio. A preocupação de apresentá-lo, em presença da honra da deferência que a Autora me delegou, leva-me à despreocupação, porque os prefácios nunca são lidos. O leitor vai ignorá-lo, mas haverá quem o lerá e esse “quem” se inscreve entre os leitores mais seletos.
Bom mesmo será que o leitor vá direto ao texto da obra literária por um convite do Título e por respeito à consagrada Autora. O leitor é livre para tomar a sua decisão. Nesse sentido a observação de Marisa Lajolo: “Mergulhar na leitura é o que fazem os leitores que gostam do que estão lendo. E quando não gostam? Quando não gostam, nem têm de ler por obrigação, largam o livro, pois o leitor é dono e senhor de seu nariz e de sua vontade: tanto pode fechar o volume depois de algumas páginas se não estiver gostando ou, ao contrário, esquecer o mundo à sua volta e mergulhar na história que o livro conta. (LAJOLO, 2004:29)”.
Mas, iniciando a leitura de “O Retrato do Prazer”, o leitor irá “esquecer o mundo à sua volta” e irá se deleitar com a realidade humana dos inúmeros capítulos. Lendo um capítulo, lerá o outro porque interligados numa sequência coerente.
A Autora nos adverte: “Nessas histórias narradas por outros, tento focar experiências e sentimentos velados para o mundo. Abrir o quarto escuro da mente humana. Esta que guarda sentimentos dos mais absurdos jamais imaginados e expor a realidade de cada um. Que o mundo desconhece, tanto que este terá varias historias. Alguém me perguntou: Será um livro erótico?”
Erotismo? A sexualidade envolve quase todas as áreas da vida humana. Tornar-se sexual ao vestir é um dever social da mulher. A nossa vida está permeada de sexualidade. As limitações sócias, de natureza religiosa, inibem a nossa própria existência. O papa Gregório Magno, no século VI da Era Cristã, instituiu os sete pecados capitais. O jornalista Vicente Serejo (jornaldehoje.com.br), acertadamente afirmou que “o homem viveu dois mil anos com medo dos pecados capitais, quando eram sete as portas do inferno. Hoje andam tão fracos, se é que ainda são pecados, que outros são os medos e até o pobre Diabo perdeu seu veneno. O que poderia haver de tão perigoso assim na ira, luxúria, gula, inveja, soberba, avareza e preguiça?”
Tudo está tão mudado. Segundo Savater, “até o sexo perdeu seu sentido de recreio lúdico dos jogos amorosos para ser uma olimpíada de eficiência e sucesso. Houve um tempo, conta o filósofo espanhol, que o sexo era algo sagrado, acima do bem e do mal, intocável por umas tantas artimanhas da vida besta. Hoje, não. Vivemos sem ritos, sem liturgias. Tudo caiu na banalidade invencível. Até os sete pecados que um dia já foram capitais”.
O Papa Bonifácio VIII afirmou publicamente que não acreditava na imortalidade da alma e na vida eterna, e que os prazeres dos sentidos não eram pecados.
O sexo está permeado de uma série de crenças e mitos. Mas ele é um dos aspectos mais importantes de um relacionamento, necessário ao bem estar físico e psicológico.
Amelina Chaves nos dá a certeza de que o sexo, seja ele eventual ou estável, é agradável. Uma demonstração de carinho, emoção e afeto. Ela é comedida, não descendo ao realismo de Darcy Ribeiro, de Jorge Amado, ou de E. L. James em “Cinquenta Tons de Cinzas”.
Observa o psicólogo Diego Henrique Viviani que vemos o sexo “como parte integrante da sociedade e da vida das pessoas. Independente do contexto em que está inserido, ele pode ser vivido de forma prazerosa e complementar de nossa vida”.
Pessoalmente, com noventa anos de idade, não mais me ocorrem os prazeres da carne, mas os prazeres da vida continuam presentes. Platão em A República, diz, pela voz de Céfalo: “Fica a sabê-lo bem: na medida em que vão murchando para um os prazeres físicos, nessa mesma aumentam o desejo e o prazer da conversa (A República, São Paulo, Editora Martin Claret, 2005:12)”.
Mas, ocorreram-me pela leitura de “O Retrato do Prazer” lembranças. E quantas? Quem não as tem?


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Por Petrônio Braz - 6/4/2018 05:44:29
Dentro de minhas convicções pessoais, estou sem candidato à presidência da República. Preocupa-me, contudo, o fato de que o País continua dentro dos conceitos firmados pelos preceitos da corrupção, que se estriba (forte) na convicção de que o dinheiro público desviado não faz falta porque os tributos arrecadados em sequência cobrem o rombo.
Será que os homens públicos desapareceram dos quadros políticos desse País?
Sou levado a admitir, contrariando em Ruy Barbosa, que “não tenho vergonha de ter sido honesto” enquanto fui administrador público.
Quando Prefeito de São Francisco, já faz alguns anos, com recursos do DNOCS (através de convênio), construí o Serviço de Abastecimento de Água da cidade, com Estação de Tratamento (obras que pertenciam ao Município e foram doadas depois gratuitamente à COPASA, na administração Oscar Caetano Júnior).
Quando estávamos abrindo as valas nas ruas, para instalação da canalização geral, o Sr. Arnaldo (pai de Sady Maynart) caiu em uma delas, na Rua Silva Jardim, e quebrou a perna. Ele disse: - Esse Prefeito é um irresponsável, abrindo esses buracos na rua.
A rede de distribuição de água está enterrada em todas as ruas da cidade e ninguém vê. Mas, quando a dona de casa abre a torneira e a água jorra ela sabe que a água está chegando ali, a partir da Estação de Tratamento, de alguma forma. Para o povo, o calçamento de uma rua parece mais importante, porque fica à vista de todos. Mas não é disso que eu quero falar.
Antes de começar a abrir as valas pelas ruas da cidade, eu tinha ido a São Paulo para comprar a tubulação, para a distribuição da água em todo o perímetro urbano da cidade. Visitei três fornecedores em coleta de preços. As despesas eram volumosas. Em um deles, onde o preço era mais barato (pouca diferença) estava pronto a fazer a compra quando um diretor disse-me: - Nós daremos ao senhor 10% (dez por cento) do valor global da compra. Eu respondi: - Fechado. Os senhores deduzam o percentual oferecido do valor que o Município terá que pagar.
Um dos caminhões que transportava parte da tubulação foi acidentado em Bocaiúva e eu não aceitei a carga (poderia ter avarias não visíveis) e teve que ser substituída.
Comentado este fato dos 10%, anos depois, com o ex-prefeito de São Francisco – Severino Gonçalves da Silva - ele disse-me: - Você foi burro.
É preciso que se afaste, do conceito geral, a ideia de que todo homem público é desonesto. Nas próximas eleições será imposto ao eleitor a obrigação de escolher bem. Escolher bem, sem partidarismos políticos que cegam. Precisamos acabar com a corrupção na base. Todo eleitor, que pede favores para votar, é corrupto.


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Por Petrônio Braz - 25/3/2018 07:07:08
O Café Galo

Nos subúrbios de Paris e nas áreas próximas aos “arrondissements” centrais, especialmente em Neuilly, Boulogne ou Levallois, existem os conhecidos cafés.
O hábito de tomar café, na Europa, sempre esteve associado aos encontros sociais e culturais. Em Veneza, esses encontros ocorriam nos Bottegle Del Café e ainda ocorrem nos tempos atuais, sendo famoso o Café Florian.
Em Paris, é muito conhecido o Café Procope, onde os intelectuais se reúnem, durante as tardes, para decla¬marem poesias, ler livros e jornais ou simplesmente para passar o tempo.
No Brasil, ficou famosa a Rua do Ouvidor, que Joaquim Manoel de Macedo classificou como “a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bis-bilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro”.
Principalmente poliglota e enciclopédica, a Rua do Ouvidor era o ponto de encontro dos intelectuais da capital do Império e, posteriormente, da República. Por ela passavam ou nela permaneciam, não apenas fidalgos libertinos, mas principalmente intelectuais. Os primeiros republicanos por ela passaram e nela discutiram os ideais revolucionários. Fizeram história.
Montes Claros, a capital do Norte de Minas, também possui a sua via pública passeada e concorrida, leviana e indiscreta, bisbilhoteira e esbanjadora, fútil e noveleira, poliglota e enciclopédica: o Quarteirão do Povo.
São famosos o Café Procope em Paris e o Café Florian em Veneza, todavia, não menos famoso e conhecido é o Café Galo, em Montes Claros, situado exatamente no centro do Quarteirão do Povo.
O Café Galo é o ponto de encontro dos políticos, profissionais liberais, jornalistas e aposentados, princi¬palmente no correr do meio dia e nos finais de tarde. Pessoas que venceram na vida e, por esta razão, podem dar-se à ostentação de verem passar o tempo. Uma plêiade de profissionais liberais, jornalistas, escritores e professores, que se deleitam em discutir o indiscutível. E uma parcela considerável de aposentados, que se deliciam em ver desfilar as beldades da cidade.
Os primeiros são pessoas ativas, afirmadas na vida, de formação superior, graduados e pós-graduados, que se podem dar ao fausto de se reunir para os deleites maiores da intelectualidade, e os outros, não menos importantes, são criaturas que já desenvolveram, no devido tempo, as mais variadas atividades produtivas e, agora, podem, por direito, desfrutar, despreocupados, os prazeres da ociosidade.
Há, em todas as vias públicas, indiscretos bisbilhoteiros, fúteis observadores que passam e, desconhecendo a magnitude e os valores dos que ali são frequentes, por não possuírem os atributos filosóficos da reflexão, da elevação do espírito acima da materialidade da vida, ou por serem desprovidos do respeito à veneranda condição da aposentadoria, ficam a meditar a distância, sem atributos para se aproximarem, considerando os cultores da intelectualidade como desocupados, e os aposentados como vagabundos.


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Por Petrônio Braz - 9/3/2018 21:16:21
Os Sermões

Petrônio Braz

Para quem viveu a vida religiosa (cristã) antes dos anos sessenta, do Século passado, os sermões eram a forma mais perfeita de evangelização. Os templos católicos, em sua grande maioria, possuíam púlpitos, geralmente nas laterais na nave principal e o pároco, no momento preciso, deslocava-se do altar-mor e dirigia-se para o púlpito. Momento aguardado com certa ansiedade pelos fiéis, já que a missa, celebrada em latim, nada transmitia de cristianidade à grande maioria dos que a assistiam. Fui coroinha nesse tempo, ajudando o sacerdote nas funções do altar.
A missa, como a reconstituição do sacrifício de Cristo pela humanidade, não era momento de festa, era um ato solene e místico, e deveria ter continuado a ser. Um ato respeitoso de contrição, de elevação espiritual e não de alegrias humanas de natureza terrestre.
O contato do pároco com os fiéis circunscrevia-se ao sermão. Nele a palavra do Evangelho era mostrada de forma viva, pela eloquência do pregador.
Foram-se os tempos de um Padre Vieira (o maior pregador católico de todos os tempos, em língua portuguesa), mas ainda podemos encontra sacerdotes capazes de transmitir a fé através da palavra, não da imposição desta através de dogmas. Entre os evangélicos destacam-se também alguns excelentes pregadores.
Quando leio os “Sermões” do Padre Vieira, vejo renascer em meu espírito, hoje agnóstico, a procura do entendimento da realidade incognoscível da minha condição de ser humano, de minha origem evolutiva ou criativa.
O padre Antônio Vieira, da Companhia de Jesus, natural de Portugal, veio para o Brasil com sete anos de idade. É considerado um dos homens mais extraordinários do século XVII. Teve atuação de vulto na política e grande influência religiosa tanto no Brasil como em Portugal, e na vida cultural e literária em outros países.
Os sermões daqueles tempos eram persuasivos e claros, centrados no Evangelho, e tinham como paradigma o Sermão da Montanha, provindo da palavra do próprio Cristo.
Ouvi alguns bons sermões, com igreja cheia de fieis silenciosos, com os olhos e a mente presos à palavra do orador sacro. Não se batia palmas nem antes, nem durante, nem depois. Rezava-se, com as últimas palavras do sermão ainda presentes a nos infundir a certeza da fé. Eram sempre palavras que deixavam a mais forte impressão emocional. O orador sacro não buscava aplausos; ele se realizava através do estado reflexivo, da elevada contrição dos fiéis.
De Vieira, além de inúmeros outros, são imperdíveis: Sermão de Santo Antônio, Sermão da Visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel e o Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda.
Os sermões, quando objetivamente conduzidos a tempo e modo, ainda exercem influências benéficas na manutenção da fé, conduzindo ao arrependimento, renovando a devoção e orientando a conduta humana dentro dos preceitos da fé de cada um.
O convencimento, pela força da palavra qualifica o orador sacro. Existe um poder imenso nas palavras. Um sermão pode libertar o que de bom existe dentro de nós mesmos, exorcizando o mal.


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Por Petrônio Braz - 5/3/2018 08:01:35

Tradição e Cultura

Não tivessem as tradições vinculadas à cultura de qualquer povo, primitivo ou civilizado, sido preservadas não teriam chegado aos nossos tempos os valores da Grécia clássica e, na Europa, os edifícios e as obras de arte medievais teriam desaparecido.
Aqui pelo Norte das Gerais pouco se cuida da preservação do nosso passado histórico. Nem mesmo em Montes Claros, cidade universitária, os valores culturais edificados têm sido resguardados, como deviam ser.
Se assim fosse, para que estudar História? O passado deveria morrer. Ser esquecido. Nem mesmo de nossos pais, filhos ou avós, que se foram, deveríamos nos lembrar. É passado. No entanto, nem os bárbaros esqueciam os seus mortos. Eles - os bárbaros - não deixavam sair da memória das gerações as suas tradições.
O que somos está vinculado ao que éramos. Faz parte do processo evolutivo da humanidade. Até hoje não me conformo, por exemplo, com a demolição do Mercado Central da Praça Dr. Carlos. A Administração Municipal poderia ter retirado dele os comerciantes, como Cristo expulsou os vendilhões do Tempo, transformando o local em um Centro Cultural ou em um Museu do Tropeiro. Em Jerusalém os vendilhões foram expulsos, mas as ruínas do Templo ainda se fazem presentes no contexto urbano da cidade.
Falando em tradição, há pouco mais de três anos percorri parte da Estrada Real, na região do Parque Nacional da Serra do Cipó. Em Ipoema, distrito de Itabira, que se localiza no curso da mesma Estrada, presenciei as comemorações do 5º Aniversário da instalação do Museu do Tropeiro. Ali, no Centro de Minas Gerais, as tradições são resguardadas e o povo se orgulha delas. Vive-se o passado com os pés no presente. O progresso não apagou da memória as andanças a cavalo, a vida rural em sua inteireza plena. As ruas e a própria estrada (ainda de terra) com incontáveis cavaleiros, orgulhosos de serem ruralistas. Na lembrança revivi os meus próprios tempos de vaqueiro, quando na mocidade auxiliava, nas férias escolares, os trabalhos de campo na fazenda de meu pai, em São Francisco. Por que, em Montes Claros, ainda não se lembraram de fixar o passado de nossos vaqueiros, dos tropeiros? Verdade que as vaquejadas retêm em nossa memória parte desse passado. Mas não é tudo que se espera, para essa preservação.
Na realidade presente, os caminhões substituíram os vaqueiros no árduo e edificante trabalho de conduzir boiadas. O berrante do vaqueiro foi substituído pela buzina do caminhão. Quem leu Euclides da Cunha viu o vaqueiro nordestino em sua essência física.
Como era eletrizante o topar de um boi na aguilhada de um vaqueiro! Nunca me animei a tanto. Como era dramático o estouro de uma boiada! Presenciei a um, e pretendo descrevê-lo um dia.
A modernidade não deve e não pode apagar as tradições do passado. O Departamento de História da UNIMONTES tem sobre os seus ombros a grande responsabilidade da manutenção da lembrança e da preservação de nossas tradições culturais, que devem ser tratadas com especial carinho.
Preservar a cultura é um dever de cidadania.


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Por Petrônio Braz - 25/2/2018 16:49:11
Há de gemer por ele o gaturamo

Petrônio Braz

Há já uns poucos anos, faleceu sozinho e pobre, excluído dos Quadros da OAB, em um quarto qualquer, de uma casa qualquer, de uma rua qualquer, em Belo Horizonte, o causídico Charles Emerson Bispo. Faleceu sem a assistência de um amigo, de um parente, de uma mulher. Separado da esposa e dos filhos, vivia só.
Nos dias finais de sua vida, desprovido de afetos pessoais, amargurado, não se maldizia do destino, embora vivesse recolhido dentro de uma roldana de magoas e dissabores. Em seu fadário, a melancolia entremeada de amarguras como feridas abertas eram suas companheiras.
A vida não lhe foi amena. No silêncio das noites, no idear da imaginação dos tempos vividos, nos últimos anos de sua vida esteve acorrentado como Prometeu à montanha de suas desilusões. Faleceu sozinho, absolutamente só. Apenas um amigo distante, residente em Montes Claros, ao ter conhecimento do doloroso desenlace, chorou por ele: Antônio Gonçalves de Oliveira, o Lieta. Chorou com emoção, com verdadeiro sentimento de perda.
Em um cemitério qualquer, em Belo Horizonte, dorme ele o sono da eternidade. Piedosas e anônimas beatas haverão de orar por ele, ao pé da cruz abandonada que identifica a presença de seu sepultado corpo. Ele não estará só.
Esta realidade da cruz abandonada fez-me lembrar a poema “A Cruz da Estrada” de Castro Alves. O profissional do Direito, Charles Emerson Bispo, teve os seus dias de glória. Brilhou por alguns anos na tribuna da defesa do Tribunal do Júri, em algumas Comarcas do Norte de Minas e em Belo Horizonte. Tendo Décio Fulgêncio na Tribuna de Acusação, ele atuou na Tribuna da Defesa, em júri no Fórum Lafayete, em Belo Horizonte. Orador brilhante, culto e destemido. Enveredando-se pelo Direito Eleitoral, foi advogado do PDS de Minas Gerais, em Belo Horizonte, nos anos 80, o maior Partido Político do Ocidente naquela época. Advogado com poderes para requisitar avião para conduzi-lo a qualquer cidade de Minas Gerais, onde os interesses do Partido estivessem em jogo. A seu convite, estive com ele em Capelinha, naqueles tempos idos, para suspender a posse de um Prefeito por decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
Com o testemunho do professor Ivo das Chagas, posso atestar ter sido ele, no seu devido tempo, um dos maiores advogados mineiros.
O bacharel de invejável cultura, leitor assíduo dos clássicos, diplomado pela UFMG, deixou-se suplantar pelo homem. E o homem comum que nele existia foi capaz de destruir o advogado. Coisas da vida.
Os desacertos, os despropósitos de seu final de vida não são tão fortes que possam apagar o seu efetivo valor cultural, que prevalece vivo em nossas mentes. Nesta hora de lembranças, prefiro esquecer-me do homem que jogou pelo ralo sua vida, para recordar-me do profissional, enquanto foi um advogado.
Lembro-me do jovem graduado pela Faculdade de Direito da UFMG, que chegou a São Francisco com os arroubos da juventude, e fez carreira. Recordo-me do advogado que brilhou em Pirapora, Januária, Manga, Brasília de Minas, São Romão e Belo Horizonte, esquecendo-me do homem que ele foi e que dele nunca se afastou; que o destruiu, depois.
No silêncio de sua sepultura ele descansa sem a presença de amigos e parentes, dormindo em seu leito de desventuras, que a vida dentre as selvas do asfalto lhe compôs. Ali, nas palavras de Castro Alves, “há de gemer por ele o gaturamo”..


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Por Petrônio Braz - 9/2/2018 04:56:09
O Estado e a Violência

A violência, provocada ou não pelo crime organizado, é uma consequência direta da diminuição do poder do Estado em face do cidadão.
A Constituição brasileira de 1988, a chamada Constituição Cidadã, fundamentada na defesa do cidadão contra o Estado, ou melhor, contra o Regime Militar implantado em 1964, deu ao cidadão direitos, sem deveres expressamente definidos.
A violência deixou de ser um fato social localizado nos grandes centros. Não existe mais cidade ou campo, vida urbana ou rural imune às suas consequências. A falta de segurança transformou a população ordeira e laboriosa em refém dos criminosos, em todo o território nacional, situação nascida, em parte, por mais absurdo que pareça, do desar¬mamento da sociedade civil obstaculizando a autodefesa.
O direito à vida, o maior bem de todo cidadão, o legítimo e ainda legal direito à autodefesa, não pode mais ser exercitado pelo cidadão comum, que foi desarmado em benefício de uma suposta paz social. O porte-de-arma é deferido ao policial (civil ou militar) e ao bandido.
Não é através de algumas poucas armas, furtadas ou tomadas por bandidos de civis honestos, que eles se armam. Eles são armados por outros meios, que todos sabem, mas fingem ignorar.
A Constituição garante, como direito de todos os brasileiros, a vida e a propriedade; contudo, o Estado está impotente para a garantia desses direitos. A simples afirmação, tendente a justificar o injustificável, de que o Estado, em passadas administrações, relegou a lugar secundário a segurança pública, não atende aos interesses maiores da sociedade.
A criminalidade é, antes de tudo, fruto do descaso pela educação. É produto do desrespeito ao cidadão honesto, impossibilitado do exercício natural da legítima defesa, em presença da ausência do Estado. Nasceu da crise de autoridade, implantada pelo despreparo ou pela irresponsabilidade dos governantes. Vigora em presença da corrupção pública, que mina os conceitos de cidadania; alimenta-se do exemplo diariamente exibido pelos meios de comunicação, especialmente pela televisão, que está se constituindo em escola de criminalidade, não só pelos filmes de violência que exibe, mas também pelos noticiários. Estabiliza-se, criando a insegurança generalizada, através do despreparo de alguns – poucos, felizmente – policiais, que muitas vezes agridem impunemente o cidadão civil honesto.
Nem todos podem pagar por segurança particular, mas todos os cidadãos estão sendo obrigados a instalarem cercas elétricas em suas residências, a colocarem grades em suas portas e janelas, a terem portão eletrônico com alarme e a criarem cachorros. Todos os cidadãos honestos estão presos dentro de suas próprias casas e desarmados, como cordeiros a serem imolados.
Que País é este? É um País rico de povo oprimido.
Impõe-se, urgentemente, uma reformulação corajosa de alguns conceitos liberais ou neoliberais, sem retorno à supremacia do Estado sobre o cidadão.
Impõe-se sejam definidos novos conceitos de Democracia.


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Por Petrônio Braz - 1/10/2017 20:07:48
Uma parada para meditar

Disse há quase dois anos, mas não cumpri. Porem, não me julguem como Nietzsche: “Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te”. Mas agora sou levado a repetir, e não será mentira.
Sou levado a suspender minhas contribuições, que têm aparecido nas páginas dos nossos jornais, no montesclaros.com, em Montes Claros. Suspender no sentido de parar para uma meditação sobre o próprio sentido da vida literária. Ficar meditabundo talvez como o vate de Gonçalves Dias: “E o vate entanto pálido o semblante / meditabundo sobre as mãos firmara.”
Meditar sem dizer palavra ou repetindo Castilho: “no que tanto há de durar medite-se mui de espaço.” Mas a minha não será uma meditação mitológica como a de Puruha, o Prajapati (Pradjâpati) dos indianos (Vedas), que meditando criou os deuses, nem uma meditação dos budistas para adquirir, através dela, a ciência transcendente universal ou Badhi, nem a dos sábios. Será uma meditação de plebeu sertanejo, preguiçosa, mas, com certeza, não será uma meditação de aposentado, embora já esteja na sala de embarque do aeroporto interestelar, com o bilhete da passagem já marcado, mas sem pressa, no aguardo de um possível cancelamento temporário da partida. Não viemos aqui para ficar.
Considerando o cancelamento temporário da partida, da responsabilidade dos médicos que me assistem, tenho como compromissos editoriais, que estavam programados para o ano passado, revisar, para novas edições, meus livros jurídicos, que não são poucos, e rever, na fase final de editoração, cinco outras obras, estas de cunho puramente literário.
Se tudo correr bem, como espero porque já realizados os trabalhos e prontos para serem entregues à Editora, quero estar relançando o “Serrano de Pilão Arcado – A saga de Antônio Dó” e o romance “Jandaia em Tempo de Seca”. Vou editar os livros “Caleidoscópio”, “Nas Asas do Tempo” e “O Léxico do Grande Sertão”.
Habituei a preencher os vazios dos sábados e domingos, não mais visitando o Quarteirão do Povo (aos sábados) e a Praça da Matriz (aos domingos), mas assistindo filmes “westerns” ou jogando xadrez contra o computador (adversário às vezes terrível).


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Por Petrônio Braz - 1/10/2017 10:24:12
Lembrar é preciso VI

As ideias são o fio condutor do pensamento e das ações do ser humano. São como o fio de Ariadne no Labirinto: elas governam o mundo. Elas nascem simples e mesquinhas como um pequeno riacho ou uma insignificante enxurrada nos dias de chuva, mas vão crescendo, incorporam-se a outros cursos d’água, criam volume e terminam por formar o oceano.
Lipa Xavier é um homem de ideologia formada, consciente. As ideais em sua mente são, em sua essência, um caudaloso rio que irriga as férteis manifestações dos sistemas dogmaticamente organizados por Karl Marx, Engels e Proudhon.
O Brejo das Almas é berço de literatos. Eu diria que a nata cultural de Montes Claros teve origem no Brejo. Lipa Xavier é mais um brejeiro-montes-clarense que nos brindou com o livro "Os Olhos Tristes de Ulisses”, que me surpreendeu positivamente, e estou relendo pela terceira vez.
Conhecia, e sempre admirei, o político Lipa Xavier, mas desconhecia o literato, que muitas vezes se manifestava nos seus pronunciamentos públicos, nas entrevistas. Mas Lipa Xavier havia já vencido concursos literários no contexto universitário. O literato já existia.
Quem é sertanejo sabe que o Sertão, como bem definiu Guimarães Rosa, é do tamanho do mundo; o sertão não tem fronteiras. Quem escreve sobre o Sertão, redige para o mundo.
Integram o livro, com estilo próprio e inconfundível, contos que individualmente já qualificam o autor. “O sublime princípio da loucura (ou o pispiar da lucidez)”, “Servano”, “Rosa das almas”, “Os olhos tristes de Ulisses” (que dá nome à obra), “Serenas chuvas nos Gerais”, “Anos, saudades e alumbramentos” e “Um sopro que me ventou aos ouvidos”.
Lipa Xavier abre o seu livro revelando-se, em comparação com Valodia Teitelboin, do país de Neruda, ser bígamo. Mas, depois de ler, verifico que ele é polígamo. Ele efetivamente ama a política, amante traiçoeira; revelou amar a literatura, companheira de espírito irrequieto; ama a si mesmo, amor indispensável à autoafirmação; ama a natureza, amor universal; ama a vida.


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Por Petrônio Braz - 26/9/2017 16:33:33
Lembrar é preciso V

Rossini Corrêa, vice-reitor da American World University – AWU/USA, vice-presidente da Associação Brasileira de Advogados – ABA e membro da Academia Brasiliense de Letras, em “Vida inteligente com os gregos”, artigo publicado na Revista da Escola Nacional de Advocacia, nº 7‏, observa que Alexandre Magno, “não por acaso, desejoso de demarcar a conquista do Egito com a fundação de uma cidade que lhe guardasse a memória, chamando-se Alexandria e que vivesse povoada pela respiração molecular da presença grega, Alexandre, o Grande, realizou o seu traçado com farinha sobre a terra negra, à falta de giz ou areia. Pássaros em profusão, descidos em nuvem, comeram a farinha e apagaram o traçado da futura construção. Espiritualmente aflito com o mau presságio, Alexandre, o Grande, perpassou os areais perigosos do deserto, em busca do Templo de Júpiter Amon, onde consultou o oráculo, interessado em receber como resposta do presbítero, entre outras coisas, se o deus “lhe concederia a graça de torná-lo monarca do mundo inteiro”. Chamado de filho de Júpiter, por meio do seu profeta, “o deus respondeu-lhe que sim”.
O mundo que Alexandre Magno, expandiu nada tinha, a rigor, de macedônico: era grego. De onde o desejo do célebre conquistador de que a cidade, que lhe guardasse a memória, tivesse a presença capital de gregos e mais gregos, porque, se a Macedônia formara um corpo, a Grécia tinha uma alma, era um espírito e afirmara um paradigma”.
Educado por Aristóteles, seu preceptor, outra coisa não se podia esperar do grande Alexandre. Da parte final do texto de Rossini Corrêa extrai-se que alguns seres humanos formam o corpo de uma cidade e outros a sua alma, isto é, a parte capacitada para ser, pensar e criar.
O árido chão deste Norte de Minas Gerais também tem uma alma, que se determina por aqueles intelectualizados que se dedicam à produção literária, que identifica o lado mais humano e menos materializado da vida. Por uma lembrança, que se vincula ao merecimento, sou levado a dar relevo, por ser portador das qualidades que se atribuem aos que integram a alma norte-mineira, a Olyntho da Silveira, de saudosa memória..
Olyntho da Silveira, escritor e poeta, que faleceu centenário, é uma lembrança viva. Sou levado a recordar que, por telefone sua esposa, escritora Yvonne de Oliveira Silveira, também de saudosa memória, convidou-me, com minha esposa, para uma reunião em sua casa, sem nos informar que era para comemoração dos 99 anos de Olyntho. Lá estivemos, em uma noite festiva.
Olyntho da Silveira nasceu em Brejo das Almas, hoje Francisco Sá/MG. Foi fazendeiro, comerciante, funcionário público, delegado de polícia, vice-prefeito de Montes Claros. Membro da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia Montesclarense de Letras, de que foi presidente. Ele publicou: “Cantos e Desencantos”, “Minha terra e a nossa história”, “Portais Versificados”, “Francisco Sá nas suas origens: O Velho Brejo das Almas, Cinquentão”, “Cantos Chorados” e, em parceria com sua esposa Yvonne Silveira, “Brejo das Almas”. Realista e amoroso, no seu soneto a Maria Luísa, ele canta: “Você começa a sua Primavera, / enquanto o meu Outono está no fim / e aproveitá-la mais eu bem quisera. / Mas mesmo assim bendigo a sua vinda, / Pois que você é o Universo em mim, / na pouca vida que me resta ainda”.





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Por Petrônio Braz - 23/9/2017 22:01:33
Avelino Pereira Nogueira, com a dedicatória: “Ao consagrado jurista e escritor Petrônio Braz, nossos sinceros agradecimentos e saudações”, presenteou-me com o livro “Veredas da Justiça”, apresentação de Hélio Braga Araújo.
Conhecia o defensor do meio ambiente, o lutador incansável em defesa dos menos protegidos do meio rural e agora vou deliciar-me com os fundamentos juridicos e sociais de sua atuação.
Ele se apresenta: “Eu sou quem sou. Sou um homem simples. Sou um grão de areia. Sou filho de Deus, que amo este país sobre todas as coisas. Sou um amigo de todos os meus familiares. Sou amigo de todos os brasileiros e brasileiras. Sou amigo fiel à nossa mãe Natureza. Sou um semeador de semente que possa germinar a paz e a felicidade a toda homanidade. Sou um sem orgulho, sem cobiça ao alheio, sem ódio. Não sou vingativo, perdou tudo que já fizeram comigo. Não tenho máguas, pois tudo me fizeram fortalecer nas graças de Deus. Por tudo isso, estou escrevendo esse simples livro para que todos façam uma boa leitura e façam algumas reflexões e avaliações do que poderá consertar e o que deverá ser feito”.
Não é um livro para ser simplesmente lido. Ele tem que ser degustado, e é o que vou fazer.


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Por Petrônio Braz - 23/9/2017 12:24:36
Lembrar é preciso IV

Com a força assoladora de um tsunami circulou pelos arredores do Café Galo, nos idos de 2009, comentários sobre o livro “O Laço Húngaro” lançado por Dário Cotrim, que estaria se contrapondo ao livro “O Laço Húngaro”, escrito por Fernando Benedito Júnior e lançado em 1991, “Prêmio BDMG Cultural de Literatura 1990”. Por terem ambos o mesmo título denominativo, à primeira vista desponta uma elaboração mental de existência de reprodução de obraETG intelectual.
Mas, temos “Clarissa” de Samuel Richardson e “Clarissa” de Érico Veríssimo; “Cartas para Mariana” de Osmar Pereira Oliva e “Cartas para Mariana” de Vera Abad; “O Retrato” de Érico Veríssimo e “O Retrato” de Charlie Lavett; “O Capital” de Karl Marx e “O Capital” de Thomas Piketty.
Vários historiadores fixaram a presença da “Coluna Prestes” nos anais de nossa História.
A Coluna Miguel Costa-Prestes, Coluna Prestes ou Isidorada foi um movimento revolucionário que se iniciou no Rio Grande do Sul. Informa a biografia de Luiz Carlos Prestes que os revolucionários que lutavam no Sul foram-se reunindo em São Luís Gonzaga (RS) em torno de Prestes, considerado por Cordeiro de Farias, Juarez Távora, Siqueira Campos, João Alberto e Ari Salgado Freire como o mais apto a liderar a revolução. Em São Luís, esse grupo analisou as opções que se lhes apresentavam para continuar a luta. Deveriam de início tentar receber armas, e munições de Isidoro, que continuava controlando a situação na região de Foz do Iguaçu.
Até aí nada a ver com os dois livros referidos. Eles cuidam da passagem da Coluna pelo Norte/Noroeste de Minas e Sul da Bahia.
Platão e Xenofonte escreveram sobre Sócrates. O primeiro na “Apologia de Sócrates”, vê o filósofo e o segundo, nas “Memórias de Sócrates”, nos oferta a vida cotidiana do imortal filósofo. Ambos escreveram sobre o mesmo assunto por enfoques diferentes.
Sobre o tema “Coluna Prestes” foram editados vários livros e outros tantos a ela se referem. Com o título “Coluna Prestes” foram editados cinco livros, ou talvez mais. O tema é palpitante e vasto. Como um diamante de várias superfícies limitantes, ele pode ser descrito de acordo com o ângulo de visão do escritor.
O livro “O Laço Húngaro”, escrito por Fernando Benedito Júnior é um romance com personagens reais e fictícias, com algum fundamento histórico, enquanto o livro “O Laço Húngaro” de Dário Cotrim é histórico, fundamentado em pesquisas, com apresentação de vasta biografia. Em comum apenas o nome, como tantos “Joãos”, “Marias” e “Antônios” que encontramos a todo instante. A obra literária de Fernando Benedito Júnior é de fácil leitura porque ele romanceando procurou retirar a aridez dos fatos históricos, enquanto a de Dário Cotrim é uma obra histórica, nos trazendo a sobriedade do historiador


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Por Petrônio Braz - 15/9/2017 08:13:01
Lembrar é preciso III

Ao ser convidado pelos diretores da Editora Alcance, do Rio Grande do Sul, para participar da audaciosa antologia poética “Poetas Pela Paz e Justiça Social”, que reuniu 500 poetas brasileiros, lembrei-me, em uma primeira pesquisa de memória, de Aroldo Pereira.
Para dizer sobre/de Aroldo Pereira, de quem me lembrei, pesquisei no Google e navegando descobri que ele é natural Coração de Jesus, cidade que me acolheu, por um largo espaço de tempo, e deu-me o honroso titulo de Cidadão Honorário.
Todos nós sabemos que ele é poeta, ator, agitador cultural e compositor, mas eu não sabia que ele era integrante do Grupo de Literatura e Teatro Transa Poético, que desde os anos 80 desenvolve um trabalho performático com poesia, música e teatro. Vocalista da banda punk Ataq. Cardíaco, no final dos anos 70, tem canções gravadas por Élcio Lucas e Deusdeth Rocha.
Todos nós temos ciência que ele foi homenageado pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), que deu seu nome ao Centro Acadêmico de Letras, mas eu não sabia que ele é verbete do Volume II da Enciclopédia da Literatura Brasileira, organizada por Afrânio Coutinho (estou presente no Volume I da mesma Enciclopédia).
Aroldo Pereira reside em Montes Claros/MG, onde, em 1987, idealizou e é o curador, por mais de vinte anos consecutivos, do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético (www.psiupoetico.com.br), através da Prefeitura e da Secretaria Municipal de Cultura, onde foi, até 2008, Secretário Adjunto de Cultura.
Ele recebeu em 2006 a mais alta condecoração do Governo do Estado de Minas Gerais, a Medalha da Inconfidência e em 2007 recebeu a Medalha do Sesquicentenário de Montes Claros, onde também é cidadão benemérito.
De uma das orelhas de seu livro “Cinema bumerangue”, da lavra de Jorge Mautner, extraí-se que “Aroldo Pereira é um poeta mineiro do Brasil-universal que já tem quatro livros publicados. Sua poesia é uma mescla, ora com tons de concretismo, ora com tons românticos. Às vezes são poemas onde ele indica seu itinerário como em “Árvore”, onde começa citando Jack (deve ser Kerouac) e termina dizendo: “não fujo do fato / na minha cabeça reluz torquato” – sem dúvida o poeta se refere a Torquato Neto, um dos alicerces literários do tropicalismo, que se suicidou. Em outro poema, nomeado “Cinema bumerangue”, Pereira torna-se concreto, ziquezagueante e kaótico. Em mais um outro poema, intitulado “Poesia”, me parece que a intenção é resgatar a chamada poesia panfletária, por muitos considerada “demagógica”. Ainda em uma outra poesia, o poeta se torna lacônico e pergunta em uma só frase-poesia-interrogação-filosofia-à-queima-roupa: “há quanto tempo ser poeta é estar no poder”.



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Por Petrônio Braz - 10/9/2017 10:30:24
Lembra é preciso II

O professor Edson Ferreira Andrade nos diz que “o poeta de si mesmo nada pode dizer de real” e que “nós não vivemos da poesia, mas também não existiríamos sem ela”. A poesia, na visão de Sílvio Prado, é “um universo imaginário” e para Alphonsus de Guimaraens Filho a vida do poeta “é mais real que a realidade”. A poesia é, em verdade, “rebento de momentos sofridos”. Ivana Ferrante Rebelo observa: “Quem de nós não plantou sementes de sonhos? Quem de nós não guarda uma saudade no peito? Quem não traz a emoção de um abraço? De uma flor ganhada? De uma conversa partilhada?” Luiz de Paula Ferreira nos adverte que: “Quem quiser plantar saudade, primeiro escalde a semente, plante num lugar bem seco onde o Sol bata bem quente, pois se plantar no molhado ela nasce e mata a gente”.
Os anos passam, trazem o esquecimento e ocasionam o nascimento da saudade, mas ela, a saudade, é necessária à lembrança. Coelho Neto sentenciou que “a casa da saudade chama-se memória”.
Os versos de Dóris Araújo são vivos e efervescentes em cada texto contido nas folhas de seus livros, transparentes e brilhantes como os sóis que iluminam a sua arte de poetizar. Eles passeiam voluptuosos pelo erotismo de seu corpo, que torna rubras as rosas. Tão sublimes quanto o enlevo de sua alma embriagada de sentimentos inquietantes como as ondas agigantadas de um mar revolto. Os seus sonhos, enfeitados de estrelas, não deixam que a terra macule os seus pés, em desvarios de loucura. Neles ela mostra o lado humano de sua alma exterior, energia que ela manifesta com prazer para deleite de seus leitores. Deles extrai-se, dentro da teoria machadiana da alma exterior, a importância que têm os outros para ela mesma. É uma pena que o tempo tenha levado algumas de suas composições em versos, mesmo que elas fossem mágoas ou dores bem doídas. Não conheço a sua prosa, mas aplaudo o seu subjetivismo poético.
Revendo Dóris Araújo, lembrei-me com saudade do seu projeto “Livro na Praça”, uma realização apoiada pela Secretaria de Cultura de Montes Claros, sob a direção de Ildeu Braúna, que buscou difundir as obras literárias dos escritores montes-clarenses. A mostra pública ocorria todos os domingos, na Praça da Matriz, no horário de 9:00 às 14:00 horas.
Os livros eram expostos para conhecimento dos visitantes, que compareciam à Barraca do Projeto. Todos os domingos alguns escritores se faziam presentes, em processo de revezamento, promovendo uma interação com os visitantes, em um processo autor-livro-leitor.
Em “Hamlet”, de Shakespeare, edição de Martim Claret, destaca-se do Prefácio anotações sobre o livro como objeto de cultura, mas lamentavelmente o número de leitores de livros não tem crescido na mesma proporção da expansão demo¬gráfica mundial. A grande maioria da população humana contenta-se com a leitura de jornais e revistas, que não transmitem ideias, ou com o rádio e a televisão, que escravizam a mente e o espírito.
Meus filhos terão computadores sim, mas antes terão livros" (Bill Gates).



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Por Petrônio Braz - 8/9/2017 12:15:34
Os acontecimentos e valores da vida, não acontecem por uma sequência natural. Se assim fosse, Salomão, filho de Bate-Seba (Betsabá), não teria sido o herdeiro de Davi. O valor de cada um deve ser conquistado. Pessoas há, no universo cultural de Montes Claros, que merecem a nossa compaixão em presença do egoísmo torpe, em adoração à deusa Fama. Buscam, na palavra insuspeita de José Pedro Frazão, da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, no seu artigo Letras de Palha, “a glória pedante e espúria conquistada com atributos de vaidade, narcisismo e manipulação, sob a égide e o estratagema de todos os pecados capitais.” E prossegue o intelectual acadêmico: “A menor fagulha de poder é suficiente para incendiar cabeças que contêm palha. E das cinzas, em vez da lendária Fênix, brota presunçosa vaidade jorrando empáfia e arrogância, na ilusão de que inchaço é grandeza. Dessa ambiciosa fogueira, eleva-se fumaça de orgulho arvorando-se no céu da passividade, com ostentação de escuras e levianas nuvens carregadas de oportunismo, sufocando o mais humilde brilho solar.”


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Por Petrônio Braz - 6/9/2017 21:34:48
Lembrar é preciso

Abri, por acaso, o livro “Cartas de Inglaterra”, de Ruy Barbosa, e reli o primeiro capítulo: Duas glórias da humanidade. Escreve ele que “ninguém poderá desvanecer-se de ter percorrido intelectualmente a Inglaterra, se não ousou uma excursão pelas regiões sui generis da obra de Carlyle, que parece confinar, por outro lado, com Shakespeare, por outro lado com a Alemanha de Goethe, Schiller e João Paulo Richter”.
Nossa submissão primeira à cultura que nos vinha da França, até princípios do último século e, depois da Inglaterra, por imposição econômica, nos leva a, esquecendo do que é nosso, permanecermos atrelados ao que nos vem de fora. Essa submissão foi necessária aos escritores do passado, especialmente aos do século XIX. Obrigatoriamente, não existe mais.
Parodiando Ruy Barbosa posso afirmar que ninguém poderá ufanar-se de ter explorado intelectualmente o Norte de Minas, se não ousou uma incursão pelas obras de João Valle Maurício e pela vida de João Chaves. Da leitura das obras do imortal João Valle Maurício e da biografia de João Chaves, escrita por Amelina Chaves, verifica-se que o solo árido de nosso Sertão está marcado pela presença fértil de expoentes culturais da mais alta valia.
João Valle Maurício, da Academia Mineira de Letras, autor de “Grotões”, “Janela de Sobrado”, “Beco da Vaca” e “Taipoca”, além de outros escritos, inscreve-se como uma das glórias imortais da terra dos montes claros. Em suas obras misturam-se valores, da mesma terra e da mesma região, como Haroldo Lívio, Antônio Augusto Souto, Konstantin Cristoff, Milena Maurício e outros. Na biografia de João Chaves associam-se as figuras marcantes de Amelina Chaves e Manoel Hygino dos Santos. Na leitura de “Taipoca”, apreciamos o Sertão em sua inteireza viva, embora com motivos urbanos, que se interligam e se projetam no contexto do Sertão. Em “Beco da Vaca”, uma coletânea de crônicas publicadas pela imprensa, ele não foge da marca registrada de suas obras. O livro não é uma ruela do Sertão, é uma avenida de cultura. Em suas memórias, retratadas em “Janela do Sobrado”, revivemos Montes Claros. Como toda verdadeira obra literária, seus livros são atemporais.
Amelina Chaves, depois de nos brindar com “O Eclético Darcy Ribeiro”, mostra-nos em “João Chaves uma eterna lembrança”, com Prefácio de Manoel Hygino dos Santos, o mito João Chaves, um dos maiores fenômenos da cultura montes-clarense de todos os tempos. “João Chaves ainda canta e encanta na voz do vento, nas pedras no chão, no coração de todo seresteiro”. A literatura está presente na poesia de João Chaves.
Guimarães Rosa com acerto afirmou que há pessoas que não morrem: ficam encantadas. João Valle Maurício e João Chaves estão encantados no silêncio de suas sepulturas. Como Fênix eles renascem de suas próprias cinzas em cada instante em que deles nos lembramos.
A poesia de João Chaves está patente na sua arte de combinar os sons, mas a poesia sempre tem sido apresentada através de livros, revistas, jornais ou pela declamação do autor ou de terceiros em reuniões sócio-culturais. A informática, como a ciência que visa ao tratamento da informação através do uso de equipamentos, está revolucionando o mundo literário.


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Por Petrônio Braz - 4/9/2017 06:59:12
São 6:45h. desta segunda-feira. Acabo de desligar a televisão. Sinto necessidade de começar o dia bem informado, mas está ficando difícil aceitar as informações que nos chegam pelos moderníssimos meios de comunicação. Hoje parece que foi pior. Nada, sempre a mesma coisa: Bomba atômica na Coreia do Norte; assaltos em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, com mortes e mais mortes. Atropelamentos e mortes em todos os Estados. Bandidos fortemente armados. Casas de moradores indefesos assaltadas, Violência nas estradas. Melhor mesmo é voltar para cama, abrir um livro e viver das ilusões que nos é mostrada pelo autor. Que você tenha um bom dia.


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Por Petrônio Braz - 21/8/2017 10:07:52
Uma imortal

A ideia da imortalidade, como uma busca desesperadora, está presente no ser humano, por ser ele o único animal da face da Terra a ter certeza de que nasceu, está vivendo e morrerá um dia. Mas, sem a certeza da morte, os humanos não teriam prazer pela vida.
Imagine-se, como na história de Gregory Widen no filme Highlander – O guerreiro imortal, atravessando os tempos, assistindo à evolução da humanidade e percorrendo o caminho trilhado por Connor MacLeod, nascido há mais de 400 anos nas colinas da Escócia!...
O excêntrico argelino Jean Richepin estava certo ao asseverar que “se fosse imortal inventaria a morte para encontrar algum prazer na vida” e o rei Salomão, por inspiração da pomba Butimar, com sabedoria, escusou-se de beber o vinho da imortalidade, para não ser o mais infortunado dos homens.
No entanto, a procura da imortalidade está presente na consciência do homem e muitos a alcançam através de suas realizações terrenas. O próprio rei Salomão tornou-se imortal na lembrança dos homens.
A professora Augusta Clarice Guimarães Teixeira, ou simplesmente Clarice Sarmento, imortalizou-se em vida com o nome gravado no Livro do Tombo da existência luminosa entre os terráqueos. Ela é graduada em piano pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro, especialização em iniciação musical para crianças pela Universidade Federal de Uberlândia, pós-graduação em música e indústria cultural pelo Conservatório Lorenzo Fernândez, de Montes Claros, formação em Canto e Flauta Doce e Estudo adicional de Teatro e Artes Plásticas. É membro efetivo da Academia Montesclarense de Letras, da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco – ACLECIA e sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Montes-clarense autêntica, ela é sócia do Elos Clube Internacional da Comunidade Lusíada, da Sociedade "Amigos da Cultura", do Rotary Clube União de Montes Claros. Fundadora e regente dos Corais Lorenzo Fernândez (regência 1962 a 2007), Infantil Lidy Mignone – CELF, Dulce Sarmento – EEPPR, Villa Lobos – CELF, Júnia Neiva – CELF, Sérgio Magnami – CELF, Ceci Tupinambá – CELF, CAAVA (masculino), Irmã Olga – CIC, Luz - empregados Cemig (regência período 1986 a 1994), Elos Clube, Infantil Bem-te-vis do Sertão - Escola Municipal Sebastião Mendes, AABB e Prefeitura Municipal de Montes Claros. Internacionalmente conhecida, Clarice Sarmento participou na França do Festival “Ano do Brasil na França”, em 2005, onde recebeu medalha de Honra. Tomou parte, como regente, de inúmeros Festivais e Concursos de Corais realizados em Belo Horizonte e várias cidades mineiras, assim como em outros Estados. Clarice Sarmento foi responsável pela organização do 1º e 2º Boletim de Pesquisa e Divulgação do Folclore no Norte de Minas. Publicou: "Literatura Folclórica", “Coroações” e "Januária Canta".


82597
Por Petrônio Braz - 13/8/2017 20:15:50
Dia dos Pais
Os fenômenos psíquicos podem interferir na ca¬pacidade física do ser humano, A ciência explica.
Na véspera do dia dedicado aos pais – e sou um deles – veio-me à mente um fato inusitado que marcou minha vida e despertou a minha curiosidade na busca de uma explicação para o entendimento objetivo do ocorrido, dentro dos conceitos da razão.
Residia eu, com minha família, na cidade de João Pinheiro, onde exercia as funções de Secretário Geral da Prefeitura Municipal, nos idos de 1974. Altas horas da noite, ou melhor, na madrugada de um sábado, bateram à minha porta. Acordei assustado. Era um amigo de meu filho Marco Aurélio, então com seus vinte e dois anos. Informou-me ele que havia acontecido um desastre na estrada de Paracatu, logo na saída de João Pinheiro. O carro – meu carro – tinha caído em um despenhadeiro. Perguntei pelo Marco e o informante declarou-me que ele tinha ficado dentro do carro. Meu sangue gelou. Em outro veículo corremos para o local do acidente, que não era distante. Em meu pensamento havia acontecido o pior.
Durante o percurso, o amigo do Marco informou-me que eles haviam decidido ir até Paracatu. Tinham bebido.
Parado no alto do barranco, quase ao nascer do sol, avistei a Belina lá embaixo. Um despenhadeiro íngreme, com mais de dez metros de profundidade. Com dificuldade, de chinelos e pijama, alcancei o carro. A porta do lado do motorista estava aberta e o Marco deitado no banco dianteiro com as pernas para fora. Ao pegar em uma de suas pernas ele gemeu. Uma esperança clareou minha mente: Ele está vivo. Sem medir esforços, sem perda de tempo, retirei-o do carro e o levantei em meus braços. Sem pensar, sem analisar possibilidades, sem pedir ajuda, empreendi a subida do barranco. Chegando ao carro, acomodei-o no assento de trás e rodei para o hospital. Perdi a consciência quando ele entrou no consultório do médico.
Voltei à tarde ao local para verificar o estado do carro. Calçado, tive dificuldades em descer. Quando tentei subir, segurando nas árvores, quase não conseguia. Já no alto, olhando para onde estava o carro, comecei a meditar. Como tinha eu podido subir aquele barranco de chinelos, transportando nos braços uma pessoa adulta, tão pesada quanto eu? Quem me conhece sabe que sou um homem alto e magro, não propriamente franzino de corpo, mas magro. Não pratico esportes costumeiramente, a não ser minhas caminhadas. Vivo mais para o espírito do que para o corpo. Do alto do barranco visualizei-me subindo a encosta íngreme com meu filho nos braços. Não acreditei, nem podia acreditar. Era impossível, mas não foi!
A toda evidência, uma força misteriosa, de natureza psíquica, havia se incorporado ao meu corpo físico: o amor paterno.
Neste domingo de agosto rendo minhas homenagens a todos os pais – e a mim também – certo de que pai sempre é aquele que reúne as qualidades de prudência, de lealdade e de afeição para com os filhos, sem pedir reconhecimento. Ser pai é uma sublime missão.


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Por Petrônio Braz - 8/7/2017 08:59:12
Livro e Internet

Eça de Queirós em “Prefácio dos «Azulejos» do Conde de Arnoso” sentencia: "A arte é tudo - tudo o resto é nada. Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um povo. Leónidas ou Péricles não bastariam para que a velha Grécia ainda vivesse, nova e radiosa, nos nossos espíritos: foi-lhe preciso ter Aristófanes e Ésquilo. Tudo é efêmero e oco nas sociedades - sobretudo o que nelas mais nos deslumbra. Podes-me tu dizer quem foram, no tempo de Shakespeare, os grandes banqueiros e as formosas mulheres? Onde estão os sacos de ouro deles e o rolar do seu luxo? Onde estão os olhos claros delas? Onde estão as rosas de York que floriram então? Mas Shakespeare está realmente tão vivo como quando, no estreito tablado do Globe, ele dependurava a lanterna que devia ser a Lua, triste e amorosamente invocada, alumiando o jardim dos Capuletos. Está vivo de uma vida melhor, porque o seu espírito fulge com um sereno e contínuo esplendor, sem que o perturbem mais as humilhantes misérias da carne!".
Preocupa-me, nos tempos atuais, o desprezo pelo livro, com a busca pela via da internet, dos conhecimentos necessários à formação profissional dos jovens universitários. Por outro lado, a sociedade está materializada com valorização dos bens materiais em detrimentos dos culturais. Verdade que, como ensinou Santo Agostinho, “para se exercer as virtudes do espírito é necessário um mínimo de condições materiais”, mas a cultura é também um caminhou para a obtenção de bens materiais.
Não é segredo, porque está incorporado à sabedoria popular, que só teremos uma vida completa quando plantamos uma árvore, escrevemos um livro e temos um filho. Alguns não plantaram uma árvore, mas derrubaram muitas. Ter um filho é o caminho natural da procriação, vinculado à essência da própria vida. Plantar árvore e ter filho não é uma exclusividade do homem. Os passarinhos plantam árvores e têm filhos. Eles disseminam as sementes. Todos os seres vivos têm filhos. As árvores produzem as sementes, que serão futuros vegetais de sua descendência. Mas, escrever um livro é próprio do ser humano; um sonho por muitos acalentado.
Quem já escreveu sabe que o importante é começar, experimentar pela primeira vez. Escrever o que sente e só depois burilar o texto escrito. Esta última fase é que caracteriza o escritor, que dá forma e define o estilo. O importante é principiar. Escrever o que sente e cortar depois o desnecessário. Aqui a lição do filósofo francês Voltaire: “escrever é a arte de cortar palavras”.
Quem escreve para ser lido é diferente das demais pessoas. Não é um ser comum. Pode não possuir tesouros materiais, nada impede que os tenha, mas desfruta de uma deslumbrante existência. Ele vê os lírios do campo e a alma do ser humano; observa as luzes do dia e a escuridão da noite; sente o silêncio de um sorriso e a profundidade de um olhar; examina seus pensamentos e seus sentimentos. Ele vê, observa, sente e examina todas as coisas realmente fundamentais. Ele pensa e cria.


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Por Petrônio Braz - 14/6/2017 23:50:11
Primeira Exposição Pecuária de Montes Claros

Já está anunciado que a Expomontes/2017 será realizada de 30 de junho até 09 de julho no Parque de Exposições, aqui em Montes Claros.
Por oportuno, em minhas mãos um exemplar da Revista Zebu, de Uberaba/MG, edição de setembro de 1951, que traz em destaque a realização da Primeira Exposição Pecuária realizada em Montes Claros, de 15 a 19 de agosto naquele ano de 1951, com apresentação de excelentes exemplares de bovinos, equinos, suínos, asininos, muares, caprinos e ovinos, da Fazenda Humaitá, realizada por iniciativa pessoal de um único pecuarista e expositor: Ademar Dias de Figueiredo, o conhecido Nozinho Figueiredo. Um criador, só, realizou o histórico certame.
Documento de alta valia e de natureza histórica, que não devo reter em meu poder e, por esta razão, o entregarei ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, para o seu acervo e preservação.
O redator da Revista esclarece que: “A organização da 1ª Exposição se deveu ao espírito de iniciativa e ao gosto pelos assuntos do criatório nacional de gado, do sr. Nozinho Figueiredo, um dos mais destacados criadores de gado de nosso Estado”.
A reportagem, que ocupa várias páginas da Revista, reproduz fotos dos animais em destaque na Exposição e das importantes autoridades e pecuaristas presentes.
A Exposição foi destaque nos jornais de Belo Horizonte, tendo o expositor recebido, entre outros, cumprimentos via telégrafo de Juscelino Kubistchek, José Maria Alkmim, José Esteves Rodrigues, Américo Renée Gianatti, pessoas de destaque, no cenário politico e administrativo do Estado.
O jornalista André Weiss, enviado especial da Revista Zebú, escreveu: “O gosto pelos certames pecuários, no País, se vai desenvolvendo geralmente, por todas as regiões em que o criatório representa ponderável parcela da sua economia, isto se devendo à emulação de outras zonas e ao resultado que essas realizações têm trazido ao adiantamento e aperfeiçoamento dos métodos empregados nas atividades pecuárias”.
Cabe ser destacado que a 1ª Exposição Pecuária de Montes Claros foi também um importante evento social.
Em verdade, o primeiro certame pecuário de Montes Claros, de repercussão nacional, foi uma realização da Fazenda Humaitá, de propriedade de Nozinho Figueiredo, pelos seus efeitos definidos pelo prestígio, se constituiu em uma importante semente, que se multiplicou no correr dos anos para chegar à Expomontes/2017 que acontecerá de 30 de junho até 09 de julho no Parque de Exposições da cidade de Montes Claros (MG).


82292
Por Petronio Braz - 1/4/2017 10:57:40
Um relato de vida, uma autobiografia ou uma história viva de Montes Claros. Um ou outro entendimento qualifica o livro de Jarbas Oliveira, lançado ontem em noite de autógrafos no auditório do Parque de Exposições de Montes Claros: Montes Claros do Meu Tempo.
Jarbas Oliveira já viveu um bom tempo, e o viveu em Montes Claros, mesmo nascido em Taiobeiras. No livro, em um leve passar de páginas, verifico que ele compartilha essa vivência com o leitor, em uma obra que alcança uma dimensão universal de história. Como protagonista, ele pesquisou sua própria vida e a ela deu vida, em uma sequência cronológica do tempo. Ele mostra ao leitor como chegou a ser quem é, passando pela infância, adolescência, pela maturidade e, nessa relação de fatos, recria a história moderna de Montes Claros.
Foi maravilhosa a solenidade, o apoio familiar que recebeu e que se extravasou na comemoração conjunta do lançamento do livro e de seu aniversário de 66 anos, com direito a bolo e velas. Parabéns, amigo.
Vou ler com carinho o livro e voltarei a falar sobre ele.


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Por Petrônio Braz - 12/2/2017 09:11:05
A lenda do Pequizeiro

Machado de Assis nos ensinou que “dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão”, mas o mesmo Machado afirmou que “se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, mas gosto de escrever.
Seria o umbuzeiro “a árvore sagrada do sertão” no dizer insuspeito de Euclides da Cunha? Cuido que não. A árvore sagrado do sertão é o pequizeiro (Caryocar brasiliense).
Não há dúvidas de que o umbuzeiro (Spondias tuberosa), que vegeta em terrenos mais férteis, resiste bem às “secas duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê da energia vital que economiza nas estações benéficas das reservas guardadas em grande cópia nas raízes” (leia-se em grande quantidade nas raízes), mas o pequizeiro integra com abundância o conjunto das árvores frutíferas do cerrado, com um grande leque de utilidades.
Quando ainda isolado era o sertão, a gordura de seus frutos era utilizada para fabricar sabão com decoada, coisas que vi na infância e na adolescência. Hoje, com o encurtamento das distâncias, ele, no período da safra (novembro a fevereiro), é alimento e produtor de riquezas, gerador de rendas. A preservação do pequizeiro já virou símbolo da luta contra a devastação do cerrado.
O silvícola brasileiro, na riqueza de sua cultura bárbara, na busca da origem das coisas que o cercam, criou a lenda do pequizeiro, que Marieta Teles Machado nos conta (Os Frutos Dourados do Pequizeiro, Editora UCG, 1986).
O guerreiro Maluá encantou-se com a beleza da índia Tainá-racan e casou-se com ela, prometendo amá-la enquanto vida tivesse. O tempo passou e eles não perceberam “quantas vezes a lua viajou pela arcada azul do céu, quantas vezes o sol veio e se escondeu na sua casa do horizonte”, sem que tivessem um filho. Passados três anos, em uma noite ela perguntou ao guerreiro: “Onde está nosso filho que Cananxiué não quer mandar?” Maluá alisou com carinho o ventre da formosa esposa. "E o nosso filho não vem", murmurou. “Um vento forte perpassou pela floresta. Uma nuvem escura cobriu a lua, que não mais tornava de prata as águas mansas do rio. Trovões reboaram ao longe”. Maluá envolveu Tainá-racan nos braços e amou-a. "Nosso filho virá, sim. Cananxiué no-lo mandará".
Quando os ipês floriram nasceu Uadi, o Arco-Iris, um lindo garotinho. Mas Uadi era filho de Cananxiué e ele o veio buscar na forma de Andrerura, a arara vermelha, e o levou para os céus preso em suas garras.
”Tainá-racan encostou a fronte na terra, onde pouco antes pisavam os pezinhos encantados de Uadi. Chorou. Chorou. Chorou três dias e três noites. Então, Cananxiué se apiedou dela. Baixou à terra e disse: "Das tuas lágrimas nascerá uma planta que se transformará numa árvore copada. Ela dará flores cheirosas que os veados, as capivaras e os lobos virão comer nas noites de luar. Depois, nascerão frutos. Dentro da casca verde, os frutos serão dourados como os cabelos de Uadi. Mas a semente será cheia de espinhos, como os espinhos da dor de teu coração de mãe. Seu aroma será tão tentador e inesquecível que aquele que provar do fruto e gostar, amá-lo-á para jamais o esquecer. Como também amará a terra que o produziu. Todos os anos, encherei, generosamente, sua copa de frutos, que os galhos se curvarão com a fartura. Ele se espalhará pelos campos, irá para a mesa dos pobres e dos ricos Quem estiver longe e não puder comê-lo sentirá uma saudade doida de seu aroma. Nenhum sabor o substituirá. Ele há de dourar todos os alimentos com que se misturar e, na mesa em que estiver, seu odor predominará sobre todos. Ele há de dourar também os licores, para a alegria da alma".
Tainá-racan sorriu. E o pequizeiro começou a brotar.


82159
Por Petrônio Braz - 4/2/2017 11:52:25
O Estado e a Violência

A violência, provocada ou não pelo crime organizado, é uma consequência direta da diminuição do poder do Estado em face do cidadão.
A Constituição brasileira de 1988, a chamada Constituição Cidadã, fundamentada na defesa do cidadão contra o Estado, ou melhor, contra o Regime Militar implantado em 1964, deu ao cidadão direitos sem deveres expressamente definidos.
A violência deixou de ser um fato social localizado nos grandes centros. Não existe mais cidade ou campo, vida urbana ou rural imune às suas consequências. A falta de segurança transformou a população ordeira e laboriosa em refém dos criminosos, em todo o território nacional, situação nascida, em parte, por mais absurdo que pareça, do desar¬mamento da sociedade civil obstaculando a autodefesa.
O direito à vida, o maior bem de todo cidadão, o legítimo e ainda legal direito à autodefesa, não pode mais ser exercitado pelo cidadão comum, que foi desarmado em benefício de uma suposta paz social. O porte-de-arma é deferido ao policial (civil ou militar) e ao bandido.
Não é através de algumas poucas armas, furtadas ou tomadas por bandidos de civis honestos, que eles se armam. Eles são armados por outros meios, que todos sabem, mas fingem ignorar.
A Constituição garante, como direito de todos os brasileiros, a vida e a propriedade; contudo, o Estado está impotente para a garantia desses direitos. A simples afirmação, tendente a justificar o injustificável, de que o Estado, em passadas administrações, relegou a lugar secundário a segurança pública, não atende aos interesses maiores da sociedade.
A criminalidade é, antes de tudo, fruto do descaso pela educação; é produto do desrespeito ao cidadão honesto, impossibilitado do exercício natural da legítima defesa, em presença da ausência do Estado; nasceu da crise de autoridade, implantada pelo despreparo ou pela irresponsabilidade dos governantes; vigora em presença da corrupção pública, que mina os conceitos de cidadania; alimenta-se do exemplo diariamente exibido pelos meios de comunicação, especialmente pela televisão, que está se constituindo em escola de criminalidade, não só pelos filmes de violência que exibe, mas também pelos desenhos animados e pelos noticiários; estabiliza-se, criando a insegurança generalizada, através do despreparo de alguns – poucos, felizmente – policiais, que muitas vezes agridem impunemente o cidadão civil honesto.
Nem todos podem pagar por segurança particular, mas todos os cidadãos estão sendo obrigados a instalarem cercas elétricas em suas residências, a colocarem grades em suas portas e janelas, a terem portão eletrônico com alarme e a criarem cachorros. Todos os cidadãos honestos estão presos dentro de suas próprias casas e desarmados, como cordeiros a serem imolados.
Que País é este?
É um País rico de povo pobre e oprimido.
Enquanto tudo isto ocorre, pergunta-se:
─ Para onde foi o ouro de Serra Pelada?
─ Para onde estão indo os diamantes da Serra da Canastra?
A Empresa canadense (não brasileira) Black Swan Resources informa – por muito menos do que realmente deve ser – que deverá extrair quatro milhões de toneladas de diamantes da Serra da Canastra nos próximos cinco anos.
Impõe-se, urgentemente, uma reformulação corajosa de alguns conceitos liberais ou neoliberais, sem retorno à supremacia do Estado sobre o cidadão.
Impõe-se sejam definidos novos conceitos de Democracia.


82113
Por Petrônio Braz - 20/1/2017 20:01:38
Tempo de cultura

Bem aqui, no Centro Cultural,
na terra capital dos Gerais,
aconteceu erudito encontro
dos que são ditos imortais.
Apresentou-se Itamaury
com a vaidade aclarada,
para substituir a presidente,
que se encontrava acamada.
Compareceu Amelina Chaves,
simples, sem ostentação,
sem vangloriar o encanto
de sua dilatada produção.
Dóris Araújo, poetisa de valor,
com o marido a seu lado,
declamou um belo poema,
e deixou o grupo encantado.
Apareceu o Dário Cotrim
com sua enésima edição,
dizendo que só é escritor
quem escreve um montão.
Karla Celene abriu seu livro
indicado para o vestibular
afirmando que um só livro
pode o escritor eternizar.
Maria de Lourdes Chaves,
com seu pedigree cultural,
não estava ali prazerosa,
por não mostra o seu coral.
A luminar Ivana Rebello,
como musa do parnaso,
chegou com Lúcia Becattini
com um pouco de atraso.
O Jorge Nunes Silveira,
também era esperado,
para dar um toque mágico
àquele culto aglomerado.
Da Bahia aqui chegou,
para ser de mais-valia
a Zoraide Guerra Davi
que tem ampla regalia.
Veio José Jarbas Oliveira,
trazendo consistente
parcela de sua cultural,
para reforçar o ambiente.
Clarice Dulce Sarmento,
uma musicista inteligente,
ocorreu naquele momento
para alegrar o ambiente.
Edson Ferreira Andrade,
esperava a reunião começar
para expor, argumentar
e sua erudição propalar.
Porque simples e discreta,
a Raquel Mendonça ouvia,
nas cadeiras mais do fundo,
o que Juvenal Caldeira dizia.
Aristônio Canela estava presente,
como sempre imprevisível,
cabeça reclinada, indiferente,
tudo esperando impassível.
Mesmo não muito frequente,
naquele dia ali chegou
a instruída Miriam Carvalho,
que a todos cumprimentou.
A Glorinha Mameluque,
aportou alegre, sorridente,
sem trazer, no momento,
um letrado ingrediente.
Com o livro de contas na mão
Mary Tupinambá, sem tardança,
não esperou todos chegarem
para iniciar a cobrança.
O Afonso Prates Borba,
integrante da confraria,
sabe que ser imortal
é uma marcante honraria.
Estava eu ali presente e
de uma cadeira observava
cada um dos integrantes,
que aos poucos ali chegava.
Apareceu o Wanderlino
um nome de muito louvor,
mas para os bons literatos
não tem obra de valor.
Waldir de Pinho Veloso
neste dia estava ausente;
também o Délio Pinheiro,
que não é muito frequente.
Há os que não comparecem,
mas se dizem imortais,
estão sempre ausentes,
ligados a bens materiais.
São muitos para relatar,
os nomes estão no papel,
mas nunca são vistos
naquela notável Babel.
Logo a reunião começou
com o vice-presidente.
Maria Luiza Silveira Teles,
estava no dia ausente.
Conversas, discussões,
sem um tema definido.
Todos falam, ninguém ouve
e nada restou resolvido.


81970
Por Petrônio Braz - 21/11/2016 11:35:18
Darcy Ribeiro

Embora já habitual leitor de suas obras, busquei reconhecer, identificar, conferir Darcy Ribeiro. Diante da grandiosidade de seu valor humano e de sua obra, pareceu-me um ser imaginário, que teria vivido no Norte de Minas, nos primórdios da ocupação portuguesa, buscando entender os conflitos entre os nativos e os colonizadores. Compreender a relação marcada por conflitos entre os habitantes primitivos da terra, em fase da colonização.
Indaguei-me: o ser imaginário e investigador teria convivido naquele espaço e naquele tempo com os Guaíbas, Natus, Crixás, Xacriabás e Caiapós, senhores absolutos das terras do Grande Sertão, adotado depois por Guimarães Rosa?
Não!
Ele viveu muito depois. Nasceu no Norte de Minas, é bem verdade, já em plena República, dizendo os registros que em 26 de outubro de 1922.
Assim, diligenciei encontrá-lo em Montes Claros, mas ele havia buscado o Mundo.
Então, veio-me o grande desafio. Onde e como encontrá-lo?
Investiguei e, investigando, deparei-me com ele no Rio de Janeiro. Ali, descobri um ser humano com uma mentalidade evoluída, muito acima dos que com ele partilhavam espaços dentro de uma sociedade conservadora. Mas, não era um, eram inúmeros Darcys. Vi o político, o idealista, o professor, mas logo a minha mente ficou turbada. Não era mais o Rio de Janeiro, era Brasília, a nova capital da República e ali fiquei perplexo. Ele, no alto do Poder, Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação, criando universidades.
Na imprecisão, busquei outra dimensão do espaço-tempo e embrenhei-me pelo interior do Sertão e lá, no Éden amazônico, me deparei com um Darcy banhado pelo sol, estudando a natureza humana através de pesquisas entre os índios, buscando uma apreciação analítica e comparativa de sua cultura.
De retorno à civilização, foi-me informado que ele, deserdado pela Pátria, estava longe da própria casa. Mas, ele havia levado consigo o seu deslumbramento com a sociedade indígena e a força da sua identidade.
Acomodei-me.
Esse Darcy, que estava fora de casa, com certeza era o mesmo que eu havia encontrado no Rio de Janeiro, em Brasília ou entre os índios. Ele voltaria.
Voltou e foi, mais uma vez, um dos mais importantes líderes políticos e um dos mais conceituados intelectuais deste País, e novamente dividiu-se em campos outros de atividades produtivas.
Encontrei, e li, inúmeras biografias do imortal Darcy Ribeiro. Mas, as biografias descritivas muitas vezes não veem a pessoa e era a pessoa que eu procurava. Registro que em 17 de dezembro de 1981 ele foi empossado como sócio honorário da Academia Montesclarense de Letras e, em 8 de outubro de 1992, foi eleito para a Cadeira nº 11, sucedendo a Deolindo Couto na Academia Brasileira de Letras.
Quando Darcy Ribeiro ficou encantado em 17 de fevereiro de 1997, o cronista Zuenir Ventura assim se manifestou: “Morreu o grande pajé, foi embora o nosso bom selvagem, subiu aos céus o nosso feiticeiro. A utopia foiçou sem sua encarnação. A política, a ética, a erótica e a poética perderam sua rima rica”.


81283
Por Petronio Braz - 16/2/2016 15:44:08
Antônio Montalvão, em uma de suas alucinações culturais, nos presenteou com uma joia literária, marcantemente sertaneja, dizendo que se a flor não nega à mata o seu perfume, se o vento não nega às plantas a brisa que balança as folhas, também o literato não pode negar ao leitor o que escreve.
Porque escreveu, entre tantos norte-mineiros de valor, não se pode negar que Darcy Ribeiro, membro da Academia Brasileira de Letras, nos legou preciosidades literárias. Não me refiro ao antropólogo, ao político, ao cientista social, mas ao literato.
"Termino esta minha vida já exausto de viver, mas querendo mais vida, mais amor, mais saber, mais travessuras", escreveu Darcy Ribeiro em suas memórias.
Quem não leu "O Mulo" e "Utopia Selvagem"? Dele, em minhas mãos, numa reposição de livros nas estantes, três outras obras: “Ensaios Insólitos”, “América Latina: A Pátria Grande” e “Teoria do Brasil”. Resolvo ler os “Ensaios Insólitos”. “Ensaios Darcyanos” na expressão analítica de Ana Arruda Callado.
Com irônica profundidade ele, refutando a obviedade de nossa inferioridade racial e tropical, entre outras, leva-nos à certeza de que somos um grande povo, deixando nessa observação a marca do seu socialismo altruísta, com os olhos no bem-estar desse mesmo povo.
Sem fugir das obviedades por ele apontadas e analisadas, sou levado a observar que no cotidiano da vida sempre podemos recomeçar. Isto é óbvio. Em vida não existe um fim. Retornando à filosofia de Antônio Montalvão e repetindo Darcy Ribeiro, cumpre lembrar que o sol, todos os dias, faz de conta que morre e renasce. Um faz de conta que é óbvio.


81156
Por Petronio Braz - 22/1/2016 22:26:33
A Academia Montes-clarense de Letras, que este ano completa cinquenta anos de existência e no último dia 21 de janeiro em curso empossou sua nova Diretoria regularmente eleita, foi fundada e instalada em 13 de setembro de 1966 por uma plêiade de personalidades ilustres, intelectuais iluminados, que navegavam pelas águas claras e transparentes da arte literária, entre eles Alfredo Vianna de Góes, Antônio Augusto Veloso, José Raimundo Neto, Padre Joaquim Cesário dos Santos Macedo, Geraldo Avelar, João Valle Maurício, Hermes de Paula, Maria Pires dos Santos, Orlando Ferreira Lima, Heloisa Neto Castro, Francisco José Pereira, Avay Miranda.
O importante sodalício conta com quarenta membros, a exemplo da “Académie de France” e da Academia Brasileira de Letras.
Os fundadores da Academia Montes-clarense de Letras, em um ato de fé, firmaram disposições iniciais vinculadas ao propósito de fixar neste Norte um espaço voltado para o intelecto. Por esta razão, preocupa-me a aculturada visão do ser humano civilizado de nossos tempos com os bens materiais, em detrimento da busca racional do conhecimento de tudo que se encontra ao seu redor.
O nome Academia teve origem na escola fundada por Platão, na Grécia Clássica, que funcionava nos jardins da residência, que havia pertencido a Academus. Sabe-se, também, que ao contrário da Escola de Isócrates, onde o conhecimento se reduzia ao repassar do saber, na Escola de Platão, em presença da dialética socrática, os seus frequentadores iam ao encontro do conhecimento pelo questionamento, pela busca do esclarecimento, criando novos saberes, que geravam novas discussões. Dentro desse posicionamento, quando o Ocidente se debruçou sobre a cultura grega, teve origem na França, em 1620, a “Académie de France”, fundada por iniciativa do Cardeal Richelieu.
Em 1897 é criada, no Brasil, a Academia Brasileira de Letras e, na sua esteira, inúmeras Academias foram sendo criadas pelo interior do País, nascendo, em 1909, a Academia Mineira de Letras.
Sócrates, na defesa apresentada em seu julgamento, afirmou: “enquanto tiver um sopro de vida, enquanto me restar um pouco de energia, não deixarei de filosofar e de vos advertir e aconselhar, a qualquer de vós que eu encontre. Dir-vos-ei, segundo o meu costume: Meu caro amigo, és ateniense, natural de uma cidade que é a maior e a mais afamada pela sabedoria e pelo poder, e não te envergonhas de só cuidares de riquezas e dos meios de as aumentares o mais que puderes, de só pensares em glória e honras, sem a mínima preocupação com o que há em ti de racional? E, se algum de vós me replicar que com tudo isso se preocupa, não o largarei imediatamente, não irei logo embora, mas interrogá-lo-ei, analisarei e refutarei as suas opiniões e, se chegar à conclusão de que não possui a virtude, embora o afirme, censurá-lo-ei de ter em tão pouca conta as coisas mais preciosas e prezar tanto as mais desprezíveis”.


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Por Petronio Braz - 23/12/2015 17:53:02
Estamos vivendo a supremacia do Poder Judiciário, sobre os demais Poderes. A Constituição diz que os Poderes são independentes, mas devem ser harmônicos. Mas a independência requer responsabilidades e o único Poder com respeito e responsabilidade perante a Nação (povo) está sendo o Judiciário. Sem ele, na atualidade, seria o caos. Os Poderes Executivo e Legislativo estão na lama da corrupção. Perderam o respeito público. Até mesmo a soberania nacional está em risco. As Forças Armadas são a garantia dessa soberania e estão sendo vilipendiadas propositadamente a titulo de represália. Na tranquilidade dos meus 87 anos, o barco pode até afundar, mas tenho na retaguarda três gerações de descendentes. Dentro desse conjunto existe alguém que pode me dizer o que deve ser feito?


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Por Petronio Braz - 17/12/2015 08:03:03
Não sou politico. Já fui. Mas uma coisa está me intrigando em tudo que está acontecendo neste País. Não sou a favor nem contra nenhum politico, muito pelo contrário, com o disse José Maria Alkmim. Podem ficar ou sair, não sou eu quem decide. Perdoem-me os que pensam de forma diferente, mas será que todos os eleitos pelo voto direto do povo têm o direito de praticar atos de improbidade administrativa e ficarem imunes porque foram eleitos? Isto é que é Democracia? Os doutos membros do Ministério Público estão chovendo no molhado quando procuram apurar atos de improbidade administrativa. Os infratores foram eleitos pelo povo (Prefeitos, Governadores e Presidente) e são imunes. Nós advogados estamos perdidos, não teremos serviço.


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Por Petrônio Braz - 13/12/2015 17:41:03
Cada pessoa segue a sua vida. Isto é natural. Mas existem pessoas especiais que merecem um tratamento diferenciado. Sempre tenho me encontrado, na Praça da Matriz, aos domingos pela manhã, com Chita do Pandeiro, figura folclórica. Hoje ele permaneceu por mais de uma hora em minha mesa, com seu pandeiro em surdina, para não atrapalhar as conversas, exibindo gratuitamente a sua arte. De quando em quando fazia um malabarismo com o instrumento. Acompanhava as músicas de eram ouvidas, vindas de um carro estacionado nas mediações. Ele, no momento, não sei antes, não bebe, não fuma, não usa drogas, mas sente-se que é carente de reconhecimento, de apoio, de respeito à sua arte.
Ele – Chita do Pandeiro – foi premiado no Programa “Se Vira nos 30”, do Faustão. É uma figura ímpar. Tem orgulho de sua arte, mas parece, não é feliz. Não tem uma renda fixa, pequena de seja, que garanta o seu sustento, que lhe dê tranquilidade para exercer a sua arte.
Ao Estado (União, Estados e Municípios) compete a preservação dos patrimônios culturais, que não são apenas materiais, mas principalmente humanos. Chita do Pandeiro é um patrimônio cultural de Montes Claros.


80988
Por Petrônio Braz - 12/12/2015 07:56:36
Estou indo agora a Várzea da Palma para as comemorações dos cinquenta anos de formatura da primeira turma de ginasianos da cidade. Eu era diretor do Ginásio e professor de matemática e história da turma. Passaram-se cinquenta anos, mas continuo ligado à cidade, da qual sou cidadão honorário, e à sua gente.


80966
Por Petrônio Braz - 6/12/2015 11:13:31
O Café Galo
Nos subúrbios de Paris e nas áreas próximas aos “arrondissements” centrais, especialmente em Neuilly, Boulogne ou Levallois, existem os conhecidos cafés.
O hábito de tomar café, na Europa, sempre esteve associado aos encontros sociais e culturais. Em Veneza, esses encontros ocorriam nos Bottegle Del Café e ainda ocorrem nos tempos atuais, sendo famoso o Café Florian.
Em Paris, é muito conhecido o Café Procope, onde os intelectuais se reúnem, durante as tardes, para decla¬marem poesias, ler livros e jornais ou simplesmente para passar o tempo.
No Brasil, ficou famosa a Rua do Ouvidor, que Joaquim Manoel de Macedo classificou como “a mais passeada e concorrida, e mais leviana, indiscreta, bis¬bilhoteira, esbanjadora, fútil, noveleira, poliglota e enciclopédica de todas as ruas da cidade do Rio de Janeiro”.
Principalmente poliglota e enciclopédica, a Rua do Ouvidor era o ponto de encontro dos intelectuais da capital do Império e, posteriormente, da República. Por ela passavam ou nela permaneciam, não apenas fidalgos libertinos, mas principalmente intelectuais. Os primeiros republicanos por ela passaram e nela discutiram os ideais revolucionários. Fizeram história.
Montes Claros, a capital do Norte de Minas, também possui a sua via pública passeada e concorrida, leviana e indiscreta, bisbilhoteira e esbanjadora, fútil e noveleira, poliglota e enciclopédica: o Quarteirão do Povo.
São famosos o Café Procope em Paris e o Café Florian em Veneza, todavia, não menos famoso e conhecido é o Café Galo, em Montes Claros, situado exatamente no centro do Quarteirão do Povo.
O Café Galo é o ponto de encontro dos políticos, profissionais liberais, jornalistas e aposentados, princi¬palmente no correr do meio dia e nos finais de tarde. Pessoas que venceram na vida e, por esta razão, podem dar-se à ostentação de verem passar o tempo. Uma plêiade de profissionais liberais, jornalistas, escritores e professores, que se deleitam em discutir o indiscutível. E uma parcela considerável de aposentados, que se deliciam em ver desfilar as beldades da cidade.
Os primeiros são pessoas ativas, afirmadas na vida, de formação superior, graduados e pós-graduados, que podem se dar ao fausto de se reunir para os deleites maiores da intelectualidade, e os outros, não menos importantes, são criaturas que já desenvolveram, no devido tempo, as mais variadas atividades produtivas e, agora, podem, por direito, desfrutar, despreocupados, os prazeres da ociosidade.
Há, em todas as vias públicas, indiscretos bisbilhoteiros, fúteis observadores que passam e, desconhecendo a magnitude e os valores dos que ali são frequentes, por não possuírem os atributos filosóficos da reflexão, da elevação do espírito acima da materialidade da vida, ou por serem desprovidos do respeito à veneranda condição da aposentadoria, ficam a meditar a distância, sem atributos para se aproximarem, considerando os cultores da intelectualidade como desocupados, e os aposentados como vagabundos.


80940
Por Petrônio Braz - 2/12/2015 11:34:43
Uma de João Cunha Ortiga - Pompílio Andrade, em São Francisco, pai de Tom Andrade, do Grupo Agreste, pediu ao João Ortiga um nome para seu bar, instalado na periferia da cidade e frequentado também por prostitutas. João Ortiga não pensou duas vezes: Querobinbar.


80931
Por Petrônio Braz - 28/11/2015 15:30:58
Existem pessoas que não podem ser esquecidas. Estou tentando coletar as “tiradas” (expressões repentinas) do Dr. João Cunha Ortiga, advogado brilhante na Comarca de São Francisco, promotor de justiça nas Comarcas de Manga/MG, São Romão/MG e Montes Claros/MG, deu nome ao Fórum da Comarca de Manga/MG. Quem souber de alguma agradeceria se me informasse. Elas dão um livro de memórias.


80922
Por Petrônio Braz - 25/11/2015 10:17:05
A prisão do senado Delcides Amaral, líder do Governo no Senado Federal, por decisão monocrática de um ministro, deve estar sendo motivo de aplausos pela população leiga.
Nos regimes democráticos vigora, como cláusula pétrea, a separação dos poderes. A essência desta teoria se firma nos três poderes que formam o Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário.
A prisão de um senador, em pleno exercício do cargo, assusta. Mesmo que tenha culpa. Ele não é inocente, como inocentes não são muitos outros.
Existe um princípio constitucional que define que ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgada da sentença condenatória e que aos acusados em geral deve ser assegurado o direito ao contraditório e à ampla defesa. Uma prisão sem observância desses princípios é condenação antecipada. Um processo montado no silêncio do pretório é próprio de regimes ditatoriais.
Pessoalmente quero e espero que todos – eu disse todos – os envolvimento na corrupção contra a Petrobras sejam punidos e que os recursos retornam aos cofres do Estado.
Se ele praticou atos criminosos, como parece, deve ser julgado e condenado, o que repudio são essas prisões cinematográficas.
Aqui em Montes Claros prenderam cinematograficamente vereadores que depois foram julgados inocentes, mas a marca ficou.


80903
Por Petrônio Braz - 22/11/2015 15:37:25
O segredo bancário na Suíça, por pressão americana, está chegando ao fim. Uma pena. Vou ter que repatriar logo o meu dinheirinho que está lá, mas levar pra onde? Trazer pra cá e aplicar em ações da Petrobras? Aplicar na poupança? Por aqui de quando em vez eles sequestram o dinheiro da poupança. E o Imposto de Renda e outros menores? Por aqui se paga 43% do se ganha em impostos. Por aqui os bancos costumam falir. Lembram-se da Caixa Econômica Estadual de Minas Gerais? Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.


80843
Por Petrônio Braz - 14/11/2015 13:07:17
Falaram que chovia hoje em Montes Claros. Será que os técnicos não estão enxergando ou não querem enxergar a nossa realidade climática. Mara Narciso tem se posicionado numa análise preocupante. Não precisa ser técnico no assunto para saber que vivemos numa área onde prevalece uma grande bolsa de ar quente, por isto estamos no Polígono das Secas, sempre estivemos. Essa bolsa repulsa as frentes frias que vêm do Sul e as jogam para o oceano. Mas essa bolsa era em média de 37º e era mais vulnerável às frentes frias. Hoje ela, em razão do aquecimento global, elevou-se para 40º a 42º e não tem frente fria capaz de bloqueá-la. É o que pensa um leigo. Começo a meditar negativamente. O aquecimento global é um fato talvez irreversível. Com mais dois graus estaremos em clima de deserto. Perdão pelo pessimismo.


80839
Por Petrônio Braz - 13/11/2015 21:34:58
Encerraram-se às 20:30h de hoje (13/11/2015) a eleição e a apuração de votos para a diretoria da Academia Montesclarense de Letras, para o próximo biênio, saindo vitoriosa por dezesseis votos a quatorze a chapa integrada por Maria Luiza Silveira Teles , Itamaury Teles e Petrônio Braz. A nova diretoria deverá tomar posse em dezembro próximo.


80779
Por Petrônio Braz - 2/11/2015 00:26:59
Yury Vieira Tupinambá de Leis Mendes, líder universitário, presidente do Clube Literário “Cyro dos Anjos” da Faculdade de Direito da UNIMONTES/Montes Claros e presidente do Centro Acadêmico da mesma Faculdade, apresentou à guisa de monografia de conclusão do curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Estadual de Montes Claros/MG, um trabalho de profundidade, buscando o grau de bacharel, quando em verdade já é um cientista do Direito. O Direito Municipal tem merecido a atenção dos estudiosos a partir da Constituição de 1988, desenvolvendo trabalhos fundamentados em sua principiologia dogmática. Nesse caminho, Yury Vieira Tupinambá de Leis Mendes desvenda a autonomia municipal à luz da mesma Constituição, sublinhando a inclusão, no corpo das normas fundamentais, do reconhecimento constitucional de ser o Município um ente federativo. Um trabalho de hermenêutica, de interpretação doutrinária, que coteja o conteúdo das normas fundamentais para trazer-lhes uma compreensão e até mesmo dirigir o funcionamento do sistema jurídico.


80771
Por Petrônio Braz - 31/10/2015 09:33:46
Em Busca da Religiosidade Sertaneja

Estive, com Marcos Maia, na Editora da UNIMONTES, em dias do final de outubro do ano em curso (2015), levando os originais de seu livro “Daqui pra frente tem risco de vida”, para edição.
Tivemos oportunidade de uma longa e culta conversa com o prof. Jânio Marques Dias, de quem recebi um exemplar de seu livro “Em Busca da Religiosidade Sertaneja”, com selo da mesma Editora. Ele é Mestre em História pela mesma UNIMONTES, professor de História de Minas e de História Social.
Demonstrou satisfação em conhecer-me pessoalmente e afirmou que, na UNIMONTES, não se discute ou não se pesquisa literatura sem que venha à baila o nome de Petrônio Braz, Fiquei agradecido.
Antes de ler o livro ocorreu-me a lembrança, de natureza histórica, de que os seres humanos, até princípios do século XX, passavam mais da metade de seu tempo nas igrejas.
O livro fixa a religiosidade sertaneja através do catolicismo popular, que se define pelas das festas de devoção, festas populares de natureza religiosa, um misto de religião, religiosidade e cultura popular. Um trabalho de História Social, que averigua a função social da Igreja, objetivamente conduzido, com profunda investigação do que poderíamos definir como conflito entre os dogmas do cristianismo romano e as devoções e festas religiosas interioranas, focadas na veneração de imágens de santos.
Observa que a vinculação entre o Estado e a Igreja, ocorrida na Colônia e no Império, contribuiu para o distanciamento, nesses dois períodos históricos, entre os princípios emandos de Roma e as práticas introduzidas no catolicismo popular.
O Autor verifica a formação da religiosidade popular, vinculada às devoções, orientadas pelas irmandades leigas, muitas vezes conflitantes com os dogmas e rituais ortodoxos romanos. E busca informar a reação gradual dos sacerdotes, buscando minorar os costumes religiosos populares, os desvios introduzidos nas práticas dos fieis, especialmente a demasiada devoção aos santos (imagens), que excede a justa medida apregoada pela doutrina romana, que culminou, relembro eu mas não dito pelo Autor, com a retirada das imagens dos santos dos altares das igrejas católicas.
Focado na região de Montes Claros, não poderia deixar de referir-se aos Catopés, como expressão da cultural religiosa popular, mas não chegou à Serra das Araras, com a devoção a Santo Antônio.
O prof. Jânio traz à lembrança, com destaque, as festas de devoção a Nossa Senhora do Rosário, a São Beneditro e ao Divino Espírito Santos nos séculos XIX e XX, destronadas por novas devoções advindas da modernidade.
Um artigo é pouco para ver o livro.


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Por Petrônio Braz - 30/10/2015 08:31:43
A música em todos os tempos

Uma das grandes deficiências de minha formação, se outras tantas não existissem, constitui-se no desconhecimento da utilização das notas musicais para a composição de ideias pela combinação de sons. No estudo da música não passei das sete notas, mas amo a música. Gosto de escrever ouvindo, em surdina, uma composição musical clássica.
Nada nasce por acaso por um processo de geração espontânea. A essência dos dez mandamentos do cristianismo já existia no Livro dos Mortos do antigo Egito, escrito 1.300 anos a.C.
O homem primitivo começou a cantar, a criar musicalidade, imitando o canto dos pássaros. Recebi de Clarice Sarmento, por correio eletrônico, um resumo da história da música clássica, entre 1600 e 2000, que não posso egoisticamente guardar para meu deleite próprio. Ela sempre me oferta brindes fabulosos relacionados com a música, sua maior paixão.
Dos dados que ela me enviou, extrai-se que no chamado período Barroco, a música esteve ligada às autoridades eclesiásticas e aos membros da nobreza, criando-se um sistema de empregador. Os nobres e eclesiásticos pagavam aos compositores para cada obra e decidiam que tipos de música desejavam. Isto limitou seriamente a liberdade do artista. Nesse período a música instrumental tornou-se tão importante quanto o coral. Floresceu a música para violino, órgão, harpa, flauta, aboé, trombone e trombetas. Ainda não são usados instrumentos de percussão. Foram os mais importantes compositores dessa época: Antônio Vivaldi, Jahann Sebastian Bach, Domenico Scarlatti e Georg Frederic Handel.
Durante o período clássico, que vai de 1759 a 1820, ocorreram grandes mudanças no mundo. A Revolução Francesa e as Guerras Napoleônicas movimentaram a Europa. No mundo da música, o sistema de apadrinhamento começou a desaparecer e foi substituído pelos primeiros concertos públicos, onde as pessoas tinham que pagar para participar do evento. A música do período clássico foi caracterizada por ser simples, equilibrada e não demasiado emocional. Conhecida como a “música absoluta”, não era escrita para dançar ou para comemorações especiais, mas pelo prazer de apreciar a beleza da música. Três novas formas instrumentais foram desenvolvidas: o concerto, a sinfonia e a sonata.
Viena foi o centro musical da Europa. A maioria dos grandes compositores viveu boa parte de seu tempo naquela cidade. Nesse período destacam-se: Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven.
Durante o período Romântico, de 1820 a 1920, como se verifica dos textos mandados por Clarice Sarmento, a música experimentou grandes mudanças. Os compositores expandiram as formas musicais e desenvolveram novas formas de manifestar a sua própria personalidade. Foram eliminadas muitas restrições anteriores sobre a duração do trabalho, número de movimentos e número de vozes ou instrumentos utilizados.
Viveu-se um ambiente de liberdade criativa, em que floresceu uma grande quantidade e variedade de obras, tanto instrumental como vocal. Foi durante esse período que apareceu a maior parte dos instrumentos da orquestra como os conhecemos hoje.
Os compositores românticos também reuniram a poesia com a música. A ópera foi dedicada a expor o drama humano e não mais mitológica, simbólica ou platônica. Nasceu uma nova tendência, o “nacionalismo”, que inspirou os compositores a incorporarem em suas canções e estilos da música popular em seus países.
A Rússia foi líder do movimento nacionalista com Tchaikovsky, Borodin e Rimsky Korsakov. Foi no período romântico que a música teve a maior aceitação e divulgação para o público em geral e cruzou as fronteiras de todos os países, para se tornar música universal. As valsas de Strauss e Tchaikovsky, os noturnos de Chopin, as óperas de Verdi, a dança húngara de Brahms são, hoje, parte da cultura de todos os povos.
A música moderna e contemporânea, de 1920 até 2000, tem início com a música impressionista, que é um ramo derivado da música romântica, que não segue padrões definidos. O movimento impressionista na música teve início antes do modernismo. Ele se iniciou no meio do Século XIX e continuou até o meio do Século XX. Os compositores mais famosos deste estilo foram Claude Debusy e Maurice Ravel.
Motivado por uma reação em desfavor da música impressionista, nasceu o estilo neo-clássico, num retorno ao período clássico, com uso de instrumentos modernos. O mais famoso compositor neo-clássico é Igor Stravinsky, mas podem ser citados Sergei Prokafiev, George Gershwin e Dmitri Shostakovichi.


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Por Petrônio Braz - 23/10/2015 18:13:23
Daqui pra frente tem risco de vida

“Daqui pra frente tem risco de vida”, peça de teatro sobre a Conjuração do São Francisco de 1736, destinada a ser encenada, é um trabalho de pesquisa e de criação, de autoria de Marcos Maia, que reabilita para a História o motim dos sertanejos.
Trama objetivamente desenvolvida com a presença no texto da preocupação de mostra e não apenas de contar uma história. Os personagens são historicamente reais. Os cenários escritos ou apresentados com pormenores e, nos diálogos, os personagens falam realisticamente.
A peça de Marcos Maia, tecnicamente produzida, será sem dúvidas bem recebi
Conheço o companheiro Marcos Maia já há algum tempo e, em sendo ele engenheiro, graduado pela Universidade de Itaúna, empresário vitorioso, assustou-me receber dele os originais da peça teatral “Daqui pra frente tem risco de vida”. Ele, professor em Faculdade de Engenharia, está cursando o mestrado em Geografia, na UNIMONTES. Lembrei-me, contudo, que Euclides da Cunha, autor da maior obra da literatura em língua portuguesa no Brasil, era engenheiro e geógrafo.
Informou-me ele que decidiu estudar a história do sertão e dar luz aos acontecimentos da revolta social que, acontecida na bacia do rio São Francisco, abafada pela Colônia, não revivida pelo Império, após a independência, nem pela República. Esta fez renascer a Inconfidência Mineira e nela fixou o próprio fundamento histórico da independência.
E, por falar em história, cumpre ser lembrado que os positivistas subestimam o rio São Francisco, como lembra Vanessa M. Brasília, ilustre professora do Departamento de História da Uni¬versidade de Brasília, declarando ser ele um rio sem história, porque não tem documentos que a comprovem.
A pouco conhecida Conjuração do São Francisco foi o primeiro movimento sedicioso ocorrido no Brasil contra a dominação portuguesa. Pouco se divulgou sobre a Conjuração do São Francisco, quase nada se sabendo sobre a pessoa de Maria da Cruz, de ilustre família da casa da Torre, esposa de Salvador Cardoso de Oliveira, senhora do povoado de Pedras de Baixo, hoje município de Maria da Cruz, desmembrado de Januária, localizado às margens do rio São Francisco que, servindo-me das palavras de Euclides da Cunha, “suportou as agruras daquele rincão”.
Revoltados contra os pesados tributos, bem antes da Inconfidência Mineira, os barranqueiros do São Francisco saíram da conspiração silenciosa para a ação militar, em busca talvez não da liberdade administrativa da Colônia, mas do respeito aos seus direitos de cidadania.
Relata Diogo de Vasconcelos que na Semana Santa de 1736, em abril, a família Cardoso reuniu-se em Morrinhos, onde foi idealizado o plano de invasão de Vila Rica, então capital da Capitania, para expulsar o governador Martinho de Mendonça.
De ser lembrado, por necessário, que eles foram muito além dos inconfidentes. Nas entre os conspiradores não havia cultores das letras que se destacassem, que marcassem presença para as vistas da História. Também não houve mártires, mas a história deve ser lembrada como um marco do passado a exigir o reconhecimento do presente.
Sobre a Conjuração do São Francisco, registrada como o Motim do Sertão do São Francisco, revivida por Marcos Maia, aparecem algumas referências pálidas: Carla M. J. Anastásia, em “Vassalos Rebeldes”, Edeílson M. de Azevedo em “Minas Insurgente”, dissertação de mestrado; Maria Verônica Campos em “Governo de mineiros”, tese de doutorado; Irenilda R. B. R. M. Cavalcanti em “O bom governo das Minas sob a ótica de Martinho de Mendonça”; Luciano R. de A. Figueiredo em “Furores sertanejos na América Portuguesa: rebelião e cultura política no sertão do rio São Francisco”; Jonice dos R. P. Morelli em “Escravos e crimes - fragmentos do cotidiano: Montes Claros de Formigas no Século XIX”, dissertação de mestrado.
Os sertanejos revoltosos de 1736 levantaram-se corajosamente e se levantam agora nesta obra de Marcos Maia, com as mesmas vozes e diálogos registrados, embora tidos como perdidos, dos personagem que nunca morreram, que vivos se conservaram para dizer: “o sertão não morre”.
De sua mãe herdou a coragem de enfrentar a vida, a nunca desistir, a audácia de viver com altivez, formando a sua personalidade. Guardou as tradições familiares e as historias que as pessoas carregam junto de si. Ela, a sua mãe, ensinou-o o valor da educação e do estudo, levando-o a ser perseverante em tudo que faz. Com ela aprendeu a ser alegre, e participativo nas questões comunitárias, a crescer na vida com a única herança que lhe restaria ao final, o curso superior.
Com seu pai, pelas estradas da vida, aprendeu o gosto pela observação, pela natureza e pelas paisagens. Com ele, na sua infância, viajou pelas estradas do sertão, conhecendo pessoas e costumes.



80618
Por Petrônio Braz - 1/10/2015 21:17:57
Eu sou Psiu

“Benditas as mãos, que por vestirem o nada, tocaram as nuvens”.
É por isso que a poesia é a mais perfeita força de expressão da sabedoria humana. É ela a medida das palavras, razão porque está representada, ao lado dos símbolos matemáticos, entre as sete lâmpadas da Capela de Pitágoras, na velha Grécia.
Embora essa Capela exista apenas na imaginação criadora do emérito prof. David Eugene Smith, da Universidade de Colúmbia. As lâmpadas, em seu conjunto, sugerem do próprio sentido da vida.
Desde Schopenhauer, o Mundo é entendido como uma representação. A nossa vontade existe e se manifesta de acordo com a nossa própria visão das coisas. O bem existe na medida de nossa bondade; o amor existe na medida do amor que transparece de nós mesmos. Tudo que existe é produto de nossa visão e tem em nós mesmos a condição de sua existência.
Nessa visão representativa da força de expressão da sabedoria, Aroldo Pereira e sua equipe, no esforço diuturno de 29 anos, fez do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético a maior representação cultural do Norte de Minas, dentro de um contexto universal.
O Evento cultural será realizado em Montes Claros entre os dias 04 e 12 de outubro em curso, e é notícia nacional.


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Por Petrônio Braz - 30/9/2015 19:47:34
Humanos, mas nem sempre
Inadvertidamente, no trânsito sufocante de Montes Claros, eu fechei um motociclista que me ultrapassou erroneamente pela direita, sem maiores consequências, mas fui por ele grosseiramente desacatado com os mais horripilantes palavrões e ofensas à minha querida mãezinha (que já dorme sossegada o sono da eternidade), não respeitou nem mesmo a minha idade provecta. Nessa hora, mantive a calma, pedi desculpas. Mil desculpas.
Normatiza a lei de trânsito que a ultrapassagem de outro veículo em movimento deverá ser feita pela esquerda, obedecida à sinalização regulamentar e as demais normas estabelecidas, mas em Montes Claros os motoqueiros costuram, ultrapassam pela direita e pela esquerda, passam por cima e por baixo dos outros veículos. Podem tudo.
Manoel Hygino do Santos, jornalista montes-clarense, em artigo publicado no h
Hoje Em Dia, de 29 de novembro do ano passado, nos relembra que na formação genética intrauterina do ser humano ele absorve a evolução ocorrida por milênios, como lembra trabalho publicado pelo Dr. Joaquim Prado, livre-docente da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Sociedade de Gastroenterologia de São Paulo, que vão influenciar no comportamento posterior do homem.
Em se considerando o retorno que ocorre na formação do feto, ou melhor, a presença da evolução no correr dessa formação, após a fecundação inicia-se a constituição do novo ser, rebuscando os gens dos seres primitivos que participaram do processo evolutivo, da bactéria monocelular ao “homo sapiens”, passando principalmente pelos quadrúpedes, que se fazem presentes, como uma reserva da memória genética, em considerável categoria de seres humanos.
Segundo o Autor e lembra Manoel Hygino, “quadrúpedes, segundo o grau de grosseria, estupidez, safadeza e velhacaria de que são capazes”.


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Por Petrônio Braz - 29/9/2015 06:50:48
O crime organizado

No mesmo momento em que a sociedade civil busca organizar-se para equacionar os meios de combate à criminalidade, à violência que preocupa a todos, leio na Revista de Estudos Avançados da USP (São Paulo), nº 61, um conjunto de artigos, um dossiê sobre o Crime Organizado, da lavra de Sérgio Adorno, Fernando Salla, Alba Zaluar, Guaracy Minnardi, Marco Antônio Tavares Coelho (autor de livros sobre o rio São Francisco e o Rio das Velhas), Luiz Eduardo Soares, Flávio Oliveira Lucas, Michel Misse, Jacqueline de Oliveira Muniz, Domício Proença Júnior, Vera da Silva Teles, Daniel V. Hirata, Francisco Alexandre de Paiva Forte e Paulo Roberto Ramos. Cada um enfocando um aspecto específico da presença do crime organizado, suas origens, suas consequências sociais, a legitimidade da política de repressão, enfim, a segurança pública.
Sabemos que, infelizmente, o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. O município de Montes Claros, para não fugir da regra, tem registrado mais homicídios por mês que em Portugal em um ano.
As causas de tanta violência são as mais diversas possíveis. A primeira e mais presente é a carência de respeito à autoridade, visto que a própria autoridade constituída tornou-se indigna de reverência, em presença da corrupção oficializada.
Observa Sérgio Adorno que a partir de 1970, na esteira das mudanças neoliberais, tem ocorrido o fenômeno da globalização, que está diluindo as noções de nacionalidade e desenvolvendo nas nações em desenvolvimento uma “abertura de espaço para atividades ilegais ao tornar a propriedade do capital anônima, com circulação monetária livre e apta para os financiamentos de operações como o tráfico de drogas, de pessoas e de órgãos humanos, contrabando de armas, fraudes fiscais e financeiras, pirataria de mercadorias e de serviços, falsificação de medicamentos, entre tantas outras modalidades”.
Analisando a questão sob o prisma do sistema democrático brasileiro, Alba Zuluar examina minuciosamente o assunto ponderando que o processo de redemocratização, iniciado a partir de 1988, veio acompanhado por uma crescente taxa de crescimento da criminalidade em uma “nação que foi construída pelos ideais da cordialidade e da conciliação e que mudou recentemente essas ideias depois da crítica de intelectuais importantes sobre a ausência de cidadania nelas”.
O retorno à democracia, o término do regime militar, veio acompanhado de “mecanismo de vingança pessoal e de impulsos agressivos incontroláveis”. Adverte ele que um dos principais problemas de hoje é a incapacidade governamental de controlar o uso de drogas ilegais, cuja circulação se opera por toda parte “com uma logística que impressiona pela sua eficácia”. Pondera em seu artigo que os setores mais dinâmicos praticam ilegalidades como o “caixa dois” das empresas, “fonte para pagar as eleições dos candidatos que irão conceder privilégios às empresas envolvidas”, tornando o País uma democracia eleitoral.
Por sua vez, Guaracy Mingardi atenta para o problema esclarecendo que o grande erro dos procedimentos de repressão ao crime organizado está na expressão “guerra”. Esclarece que “quando o Estado combate uma guerra, existe um inimigo identificável, com liderança clara”. As organizações criminais possuem lideranças fluidas e “estão de tal forma relacionadas com o aparelho do Estado que se torna difícil mirar uma sem acerta outra”.
Numa linha diferenciada de análise, Marco Antônio Tavares Coelho examina atentamente o tema “criminalidade” enfocando o depoimento de Marcola, apontado como o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, que segundo ele simplifica tudo ao afirmar: “vim da miséria”. A miséria e a violência andam juntas. Marcola afirmou que não acredita em Deus. Viveu algum tempo no Paraguai e se tornou um autodidata, um homem culto. Lê, entre outros, Nietzsche, Vitor Hugo, Santo Agostinho, Voltaire e até a Bíblia. Criou regras de convívio nos presídios.


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Por Petrônio Braz - 27/9/2015 10:16:54
Reminiscências de um Soldado de Polícia

Retornando, ontem, do “Escambo de Livros” do Ateliê Felicidade Patrocínio (ela ainda fala português depois de ter permanecido quatro meses em Paris), revirando os meus guardados apanhei um livro para ser relido, um livro de memórias. “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antônio de Almeida. Não, não era. Era outro, que já havia lido e deu-me vontade de reler. Há livros que se lê e esquece, outros existem que não se consegue terminar a leitura, mas há os que possuem existência verdadeira, que prendem o leitor, que nos levam a voltar páginas já lidas e que lamentamos ter terminado.
Refiro-me ao livro de Georgino Jorge de Souza “Reminiscências de um Soldado de Polícia”, que traz a presença do saudoso Konstantin Christoff, com um retrato a bico de pena ao Autor, de Georgino Júnior com as ilustrações, de Saul Alves Martins com a Apresentação e de Darcy Ribeiro com o Prefácio, edição independente de 1996.
Duas obras. Dois grandes autores. “Memórias de um Sargento de Milícias” foi escrita no auge do romantismo em literatura em língua portuguesa no Brasil, no século XIX; “Reminiscências de um Soldado de Polícia” do pós-modernismo, que se desenvolveu na esfera sócio-política posterior aos anos 50 do século XX.
Mas, deixemos Leonardo Pataca e outros personagens de “Memórias de um Sargento de Milícias” e voltemos às “Reminiscências de um Soldado de Polícia”, que são memórias, relatos pessoais de uma própria vida, bem vivida. O autor fala de si, para conhecimento de todos os seus leitores e da própria região norte mineira, que não pode deixar de reverenciar seus grandes vultos, que fizeram história.
Vi pela primeira vez o coronel Georgino Jorge de Souza, e somente o cumprimentei cerimonialmente, em um palanque na cidade de Várzea da Palma/MG, quando da passagem por aquela cidade das tropas do 10º Batalhão, em seu retorno de Brasília/DF, em 1964.
Como diretor do Ginásio “Joseph Hein”, da cidade, para lá encaminhado pela Fundação Educacional “Luiz de Paula”, fui designado pelo prefeito para saudar a tropa e seu comandante em nome das autoridades locais. Mas foi somente dois anos depois, quando retornei a Montes Claros, que o nome do coronel Georgino Jorge de Souza começou a se destacar em meus julgamentos pessoais.
Não há espaço para falar do Coronel em um artigo e, muito menos, para comentar o seu livro. Voltarei a ele.


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Por Petrônio Braz - 20/9/2015 18:13:24
Alienígenas do Passado

Na manhã deste domingo (20/09/2015), em num momento de repouso transitório (que ninguém é de ferro) antes de continuar a elaboração de um recurso (defendendo uma tese, pois nós advogados defendemos uma tese em cada manifestação processual) a ser apresentado à Justiça Federal, com prazo vencendo (ossos do ofício), liguei a televisão e lá estava – Alienígenas do Passado.
Os alienígenas nos monitoram; somos criaturas deles, dizem os adeptos dessa teoria. Eles são tão avançados que podem percorrer, vindos de seus astros de origem, centenas ou milhares de anos luz de distância sideral, para apenas nos observar.
Sabemos que a nebulosa Sombreiro (eles por lá devem dar a ela outro nome) está há vinte e oito milhões de anos luz da nova Via Láctea. Estamos vendo-a agora, como ela era há vinte e oito milhões de anos luz, mas será que ela ainda existe? Só iremos ficar sabendo daqui a outros vinte e oito milhões de anos luz.
Sentei-me à frente do computador, pensativo. E o recurso? Ainda há tempo. Amanhã, quando minha assistente chegar eu dito para ela.
Todos sabemos que existem, no nosso sistema solar, além dos planetas e dos satélites desses planetas, milhares de pequenos corpos girando em órbita do sol: os meteoros e os cometas, Por mais que suas leis cósmicas promovam um equilíbrio, de quando em quando um desses pequenos pode chocar-se com a Terra, como já ocorreu no passado e, necessariamente, ocorrerá no futuro. Mas não é isso que criou a minha curiosidade.
Informaram-se (televisão) que eles – os alienígenas – tanto podem destruir a Terra conduzindo um desses meteoros ao nosso encontro, como podem desviá-los. Tudo faz crer que os nossos próprios cientistas já se preparam para esta façanha espacial.
Quando irá acontecer? Eu não sei, você não sabe, Se acontecer, tudo morrerá. Não ficará ninguém para ter saudades. Por isto devemos continuar vivendo como se nada estivesse por acontecer, seguindo a máxima de Epicuro: “Por que ter medo da morte? Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser”. E pronto.
Portanto, deixemos a Terra rotacionar no espaço, o Universo expandir, as estrelas nascerem e morrerem, os meteoros girarem solitários.
Vou voltar à televisão (não me lembrem do recurso) para assistir a um filme de faroeste.


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Por Petrônio Braz - 24/8/2015 18:08:08
“A Lei nº 10.639 de 2003 introduziu o artigo 26-A na lei nº 9.394 de 1996 que tornou obrigatório o ensino sobre a História e a Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Porém, de que adianta isso se, na maioria esmagadora de nossos Estados, não existe um conteúdo sério e verdadeiro da História do Negro para ser ensinado em nossas escolas
Quem não tem uma HISTÓRIA não poderá jamais ter a verdadeira dignidade humana! É por isso que roubaram a História do Negro na maioria dos Estados brasileiros. Em Minas Gerais denunciamos o roubo da História do Povo Negro, devolvemos essa História através dos livros e matérias divulgados pelo site MGQUILOMBO e acusamos quais foram e ainda são os seus ladrões.
Ajude-nos a divulgar o dia Sete de Setembro como o dia da Dignidade Negra Mineira”. Historiador Tarcísio José Martins, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.


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Por Petrônio Braz - 18/8/2015 21:43:06
Uma negativa
Quando se busca alguma coisa, sempre está presente a esperança de alcançá-la, porque ela é uma crença emocional. Não se obtendo o que se deseja, impõe-se a perseverança.
Candidatei-me a uma vaga na Academia Mineira de Letras Jurídicas, para substituir o saudoso acadêmico José Nilo de Castro, mas fui vencido pelo desembargador Kildare Gonçalves Carvalho, professor de Direito Constitucional, membro do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, ex-secretário de Estado, ex-Procurador-Geral do Estado de Minas Gerais, ex-Consultor-Chefe da Assessoria Técnico-Consultiva do Estado de Minas Gerais, ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais.
Cumpre, contudo, ser lembrado que Honoré de Balzac foi barrado na Academie Française e Émile Zola candidatou-se 24 vezes para um lugar na mesma Academia, sem sucesso.
Sabe-se que Alfred Hitchock, Charles Caplin, Natalle Wood, Marcelo Mastroiani não receberam, durante suas brilhantes carreiras, o cobiçado “Oscar” da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
O “não” temporário da Academia Mineira de Letras Jurídicas constitui-se em um estímulo. Tenho recebido um “sim” nos embates da vida, e este “sim” impõe-me o dever de perseverança.


80163
Por Petrônio Braz - 28/6/2015 15:22:55
Artur Fagundes

Um político de renome, um adversário temido, um amigo afetuoso, um poeta parnasiano: Artur Fagundes.
Depois de alguns anos de separação, reencontrei-me na última sexta-feira (26/07/15), no Centro Cultural, aqui em Montes Claros, com Artur Fagundes, em solenidade festiva de lançamento de mais um de seus livros: “O Colibri – Sonetos e Poesias”.
O meu nome estava, na Portaria, na relação de convidados, mas eu não havia recebido o convite, devolvido pelo Correio. Mas, João Jorge, diretor do Centro Cultural, para atendimento ao Autor, encarregou-se de convidar-me, o que fez através de Isabel Lôpo, por e-mail. Não podia faltar.
O político, filiado ao PR-Partido Republicano, antes da “Revolução de 64”, marcou sua passagem pelo seu dinamismo, pela sua fidelidade partidária. Foi um dos melhores deputados que o Norte de Minas teve. Contudo!
As força políticas em São Francisco dividiam-se meio a meio entre a Coligação UDN/PR e a Coligação PSD/PTB. Eu era filiado ao PTB e meu pai ao PSD.
Nos anos 60, apareceu em São Francisco, apoiado pelo PR, como adversário ferrenho, um candidato novo a deputado estadual, que motivava as multidões com seus discursos nos comícios políticos. Adversário com força de convencimento, nós temíamos a sua chegada para um comício. Não tínhamos porque gostar dele, apesar de sua lhaneza de trato.
Os anos passaram rápidos e eu, apesar de já residindo em Montes Claros (a partir de 1963) ainda atuava ativamente na política em minha terra natal, como ele e meus companheiros nos filiamos ao PDS (a politica municipal falava mais alto), e nos tornamos amigos. Amizade que se fixou e atravessou os tempos.
Chegou às minhas mãos, em 2011, sem que eu tivesse participado de solenidades de lançamento, seu livro de sonetos “Meu Relicário”. O nome Artur Fagundes renasceu em minhas lembranças e desejei reencontrá-lo, mas não ocorreu. Ou ocorreu! Reencontramo-nos culturalmente pela leitura e releitura de seus sonetos petrarquianos. Era o intelectual que havia transformado a sua força de convencimento nos comícios em sentimentos poéticos.
Em seus sonetos, pela pureza parnasiana, pela perfeição da métrica, da sonoridade e da rima, umas entrelaçadas e outras alternadas, do lirismo clássico, eu me via lendo Raimundo Correia, Camões, Olavo Bilac, Vinícius de Moraes.
Eu disse, talvez tenha sido ontem, que com as mundanas ilusões dissipadas, encontro-me cansado da jornada de oitenta e seis anos. Cansado de procurar a felicidade, mas “A felicidade é láurea que chancela / A conquista pelo esforço dispendido / Quanto mais a gente anda em busca dela / Mais distante fica o prêmio pretendido”.


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Por Petrônio Braz - 27/6/2015 17:25:54
Cabo Raimundo

Há pessoas que não morrem, como afirmou Guimarães Rosa, ficam encantadas. O cabo Raimundo é uma delas. Militar zeloso e orgulhoso de sua profissão, do então Destacamento de Curvelo/MG, onde praticamente permaneceu durante todo o tempo da ativa. Estudioso, era um intelectual.
Pouco mais de quatro meses após o lançamento de meu livro “Serrano de Pilão Arcado - A saga de Antônio Dó”, recebi dele correspondência mandando-me fotografias e biografias de todos os oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais que haviam participado, de uma forma ou de outra, das ações de captura de Antônio Dó, nos primeiros anos do século passado.
Não faz muito tempo, comentando sobre ele disseram-me: “Ele faleceu”. Lembrei-me de José Maria Alkmin: “Morreu para você, mas ele está no meu coração”. O cabo Raimundo não morreu. O seu nome permanecerá vivo em Curvelo, nos anais da Polícia Militar e em nossa lembrança.
Sobre ele já escrevi, comentando artigo da lavra do coronel Geraldo Tito Silveira, que dele recebi.
O cabo Raimundo, após receber baixa com promoção, sem farda – por anos nunca havia saído à rua sem uniforme militar – assentou-se com um amigo em um bar para saborear uma gelada (nunca antes havia bebido em público).
Sua satisfação em estar civil não era maior do que a seu orgulho de ter sido “cabo” da Polícia Militar.
Em um dado momento assentaram-se, em uma mesa próxima, dois senhores. Conversa vai, conversa vem, lá e cá.
Um dos senhores da mesa próxima, dirigindo-se ao outro, falou em voz um pouco mais alta, como se estivesse tentando convencer ao outro:
– Cabo que foi soldado não presta.
O cabo Raimundo assustou-se. Fixou sua atenção para ouvir melhor.
– É o qu’eu digo. Cabo que foi soldado não presta.
O cabo Raimundo levantou-se colérico, ofendido. O maior orgulho de sua vida era ter sido “cabo” e conhecido como “o cabo Raimundo”. Ele suspendendo o ofensor pelo colarinho da camisa gritando:
– Repita o que você disse!
– Eu disse que cabo que foi soldado não presta.
– Seu vagabundo – olhou para os lados pronto a esbofetear o ofensor, quando este completou:
– Pois é, seu moço. Cabo de bateria quando é soldado não presta, não deixa passar a corrente.
Riram. O cabo Raimundo pediu desculpas e retornou à mesa. O fato correu pelas ruas da cidade e chegou aos ouvidos do coronel Geraldo Tito Silveira, em Belo Horizonte.


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Por Petrônio Braz - 15/6/2015 18:15:46
A Imprensa Oficial de Minas Gerais, sob a direção geral do confrade Eugênio Ferraz, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, abriu-nos o
PORTAL DA INCONFIDÊNCIA
“Nas décadas de 1970 e 1980 a Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais imprimiu, em 11 volumes, e sob os auspícios da Câmara dos Deputados, os Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, em edição comentada e há muitos anos já esgotada.
A partir de tais volumes digitalizados pelo Arquivo Público Mineiro, existentes na Biblioteca Luiz de Bessa, a Imprensa Oficial, mediante exaustivo trabalho técnico, transformou as cerca de 5.500 imagens em formatação que possibilitou aplicação de um completo sistema de buscas praticamente isento dos comuns erros que aparecem nesse tipo de transposição.
E mais: ambas as formas podem ser vistas lado a lado, comparando-as, ou seja, os 11 volumes originais da edição dos anos 1970 e 1980 em imagem ao lado da apresentação em pdf que possibilita a utilização do sistema de busca.
A iniciativa representa um salto enorme no sentido de democratizar as informações contidas nos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira – ADIM - à sociedade, através do citado sistema de buscas e também com o gradativo acrescentamento, em ícones específicos, da possibilidade de acesso a trabalhos científicos afetos ao tema produzidos e disponíveis através de links de instituições de ensino e pesquisa. Outros ícones também serão continuamente alimentados com iconografias de cidades históricas mineiras, livros, revistas e jornais contendo materiais relativos ao assunto.
Tudo isto única e exclusivamente no sentido de dotar os historiadores e pesquisadores de mais ferramentas e informações que permitam, continuamente, trazer mais luzes a um dos maiores, senão o maior, movimento libertário nacional.
Democratizando informações históricas, a Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, este Estado da Liberdade, por sua essência e natureza, tem plena convicção de estar cumprindo sua missão institucional de fomento e apoio à cultura.
Apoio que a Imprensa Oficial também recebe neste projeto das várias instituições e entidades parceiras desta Autarquia, cujas marcas e breves opiniões estão contidas a seguir, continuando as frutíferas colaborações recíprocas agregadas recentemente.
O lançamento, na abertura da Semana da Inconfidência de 2015, na cidade de Tiradentes, ainda mais acentua a responsabilidade histórica da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, nascida em Ouro Preto, cidade do lançamento, há 123 anos, precisamente no dia 21 de abril de 1892, do número inaugural do Diário Oficial “Minas Gerais”.
Imprensa Oficial de Minas Gerais
Abrir: portaldainconfidencia.iof.mg.gov.br.


80106
Por Petrônio Braz - 15/6/2015 15:47:39
Bairro Major Prates em Montes Claros. Sou ainda muito novo (só 86 anos) e por esta razão pouco conheço da história do bairro Major Prates, uma cidade dentro de Montes Claros. O escritor Edson Carvalho, em seu livro “Bairro Major Prates – Sua história, seu comércio e sua gente” nos dá conta de que ele – o Bairro - foi idealizado e loteado, em 1962, em terrenos de uma fazenda de Milton Prates e de dona Genoveva Prates, por iniciativa urbanística do menino Arlen de Paulo Santiago Filho (15/07/54). Mas Arlen só tinha oito anos.


80099
Por Petrônio Braz - 14/6/2015 10:44:52
A corrupção neste País é crônica, sem dúvidas, mas sempre existiram administradores “idiotas” ou “burros”. Quando prefeito, para construção do serviço de abastecimento de água de São Francisco, foi a São Paulo para comprar os canos para a rede de distribuição de água, dezenas de caminhões de canos para transportar. Preço dado, preço discutido, preço abaixado. Finalmente, um diretor disse, para fechar a venda: “Nós lhe damos 10% do valor da fatura”. “Então reduzam os 10% no próprio valor da fatura”. O diretor fez uma cara de incompreensão e deve ter pensado “idiota”.
Nesse País, até os tempos atuais, todos os administradores honestos são taxados de “idiotas” ou “burros” pelos próprios eleitores. “Voto nele porque ele furta, mas faz.”
Antônio Montalvão vendeu uma fazenda para asfaltar Montalvânia, raso exemplo de homem público.
Em São Francisco/MG, a safra de “idiotas” acabou em 1977.


80059
Por Petrônio Braz - 7/6/2015 11:42:19
Vamos juntos conferir:
Vermelho Escarlate resgata um gênero esquecido nos anos 60, o New Journalism. Estilo que consagrou gigantes como Tom Wolf e Truman Capote. Caracteriza-se pela mistura da narrativa jornalística com a literária. “Embora possa ser lido como ficção, não é ficção. É, ou deveria ser, tão verídico, como a mais exata das reportagens”, alertou Gay Talese, na época.
J.C. Junot (Juvenal Cruz Junot) relata o amor insano de um músico de rock por uma artista plástica, assassinada no início de uma carreira promissora.
O crime coloca a cidade na berlinda e desperta a ira de um serial killer, trazendo à tona histórias que deveriam ser esquecidas. Explorado pela mídia, nos induz a acreditar que viver é um ato sem platéia e que a morte é o espetáculo glorioso da notícia.
O livro lançado pela Editora B é uma armadilha para os aficionados pelo gênero, que não conseguirão parar antes do final, e um manual de jornalismo investigativo para quem deseja entender os segredos de um ofício cada vez mais raro.


80051
Por Petrônio Braz - 4/6/2015 21:36:43
Na quinta-feira, feriado de Corpus Christi desse ano da graça de 2015, confortavelmente despreocupado à frente da televisão a ver um filme, recebi a visita do amigo Paulinho Ribeiro, ilustre presidente da Fundação Darcy Ribeiro. Trazia ele a tiracolo, se possível assim transportar uma coleção de quarenta livros, em complemento aos dez anteriores que ele me havia ofertado, integrantes da Biblioteca Básica Brasileira, um sonho de Darcy Ribeiro tornado real pelos seus sucessores. Nada me agrada mais do que receber um livro. Quarenta, então, um prêmio lotérico. Os cinquenta livros da BBB complementam, com destaque, a minha modesta estante e reservei dois para serem lidos no final de semana prolongado.


79868
Por Petrônio Braz - 5/5/2015 09:42:27
Academia Montesclarense de Letras - Rei morto, viva o rei. Princípio ultrapassado que vigorou na Idade Media, no período áureo a Cavalaria. Pessoalmente, e só pessoalmente, entendo que não é hora de serem abertas discussões sobre a sucessão de dona Yvonne Silveira na presidência da Academia Montesclarense de Letras, por um respeito mesmo à sua presença, por mais de trinta anos, na presidência da mesma. A Academia chegou a ser sinônimo de Yvonne Silveira. O Quadro Social da Academia é composto de quarenta membros, mas apenas pouco mais de dez por cento atuante, presente nas reuniões. Já se elegeu novos membros efetivos com a presença de apenas cinco acadêmicos. A sede da Academia, no Centro Cultural, está lacrada há quase três anos. Esta é uma oportunidade para o restabelecimento de um congraçamento mais amplo, buscando trazer ao convívio da Academia todos os seus membros efetivos. Temos uma Diretoria regularmente eleita, é só seguir a cadeia sucessória. Ao atual presidente (1º vice-presidente), acadêmico Wanderlino Arruda, caberá essa missão: reativar a Academia. Os quarenta membros, todos culturalmente dignos de serem acadêmicos, devem ser tratados de forma igualitária.


79788
Por Petrônio Braz - 20/4/2015 12:08:51
Por quem os sinos dobram

Os sinos dobram muitas vezes a finados, mas por quem eles dobram? Por quem os sinos dobram? É um questionamento que ficou gravado em minha mente por muitos e muitos anos. É titulo de uma obra prima de Hamingway, que li nos anos quarenta, quando cursava o segundo grau, e de um filme protagonizado por Gary Cooper e pela talentosa Ingrid Bergman, que fez época no mesmo período. Um dos melhores filme já rodado em Hollywood.
Fernando Pessoa nos deleita dizendo que: “O sino dobra a finados. / Faz tanta pena a dobrar! / Não é pelos teus pecados / Que estão vivos a saltar”.
O jornalista Jorge Silveira e a professora Ivana Rebello, no livro “TONINHO REBELLO - O HOMEM E O POLÍTICO”, nos trazem à lembrança o poema de John Donne, do Século XVI, que deve ter servido de mote a todas as manifestações posteriores: “A morte de qualquer homem me diminui / porque eu sou parte da humanidade / e por isso, nunca procure saber / por quem os sinos dobram / eles dobram por ti”
Os sinos em Montes Claros dobraram a finados em 1992. Repicaram fortes para anunciar que, naquele dia, a cidade perdia um de seus mais ilustres filhos: Antônio Lafetá Rebello.
Mas, os sinos de Montes Claros repicaram em regozijo, exaltação ou gaudio, pelo lançamento do livro “TONINHO REBELLO, O HOMEM E O POLÍTICO”, obra elaborada pelo jornalista Jorge Silveira e pela professora Ivana Rebello, ocorrido no auditório repleto do Parque de Exposições, em Montes Claros/MG.
Li o livro e conheci melhor Toninho Rebello, o homem e o político. Já sabia, e Montes Claros sabe, que as suas obras mudaram a cara da cidade, desnecessário informar.
Os autores, Ivana Rebello e Jorge Silveira dispensam comentários. Ela, doutora em Literatura de Língua Portuguesa, professora de méritos reconhecidos. Ele, jornalista político de renome. Meus amigos.
Observa com acuidade Mara Narciso que “o livro “Toninho Rebello, o homem e o político”, escrito pela sua sobrinha professora Dra. Ivana Ferrante Rebello e pelo jornalista Jorge Silveira, presta uma homenagem de amigos, pois não cita defeito algum no retratado. Isso não significa que a obra decepcione, ainda que se sinta a timidez de Ivana, escritora de muitos cabedais, em falar do tio, um homem reservado e sério. Grande fazendeiro, filho de português, Antônio Lafetá Rebello teve uma criação rígida, e seu caráter foi moldado por essa cartilha. Quando os autores falam que o ex-prefeito, falecido em 1992, era engraçado, custa-se a acreditar. Porém, como certas características são hereditárias, eu conheci esse lado, indiretamente, pois fui colega da sua filha Cristina Athayde Rebello no primário, ginásio, científico e faculdade de medicina, e via nela, e de forma marcante, esse lado espirituoso. Também convivi com sua outra filha Vera Lúcia Athayde Rebello Gomes, já falecida, que tinha presença de espírito, com tiradas engraçadas. Acreditei na informação do livro”.


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Por Petrônio Braz - 4/4/2015 06:38:21
A lenda do Arco Iris

A lenda do Arco Iris nos veio do legado cultural indígena, e já existia muito antes do descobrimento, dizem. Mas ela somente teve vida a partir de Ildeu Braúna e Pedro Boi, do Grupo Agreste. Mas, agora vai tomar corpo com o projeto cultural de Isabel Lôpo, em parceria com Amelina Chaves, aprovado pelo Conselho Municipal de Cultura de Montes Claros, e que poderá ser rodado em São Francisco.
O rio São Francisco, esclarece a autor, com todo seu esplendor e estreita relação com os moradores ribeirinhos, acumulou muitas histórias e lendas ao longo do tempo. Muitas dessas se tornaram livros, peças de teatro, e letras de música. A música “A lenda do Arco Íris” fala da relação do pescador com o rio, do seu cotidiano de trabalho, dos sonhos e paixões de um homem ribeirinho.
”A lenda do Arco Iris” em videoclipe será dirigida por Isabel Lôpo e executado por uma equipe de filmagem de Montes Claros.
Observa a autor, em conclusão, que o projeto “A lenda do Arco Iris em videoclipe”, tem plenas condições de ser desenvolvido. Trata-se de um projeto atraente, objetivo e acessível às mídias do mundo contemporâneo.
A música “A lenda do Arco Iris” tem uma trajetória de sucesso de mais de três décadas, muito conhecida pelos norte mineiros e por apreciadores da musica regional de todo o pais.
Não existe até então nenhuma relação da musica com alguma cidade ribeirinha e também a nenhuma época, pois iria limitar a fantasia contada na história a apenas um grupo de ribeirinhos de uma cidade e uma determinada data. Desta forma, a história pode ter várias interpretações pelo fato de não estar presa a nenhum local ou tempo. A escolha de atores e figurantes ribeirinhos fará toda a diferença nos aspectos estéticos e de expressão corporal, muito valorizado nos trabalhos cinematográficos.
A criação desse videoclipe será uma nova maneira de apresentar a musica para o publico que já a conhece, e também para as novas gerações que não tiveram a oportunidade de valorizar essa música regional norte mineira.
Os encantos do rio São Francisco, e essa lenda maravilhosa que é apresentada na letra da musica, poderá ser apreciada com imagens de atores interpretando em paisagens deslumbrantes, representando todo a riqueza e simplicidade da vida ribeirinha norte mineira.
A realização desse projeto ampliará os horizontes para a divulgação da musica, trazendo também benefícios para a arte e para o turismo no Norte de Minas.
As diversas experiências em trabalhos artísticos por parte da realizadora, aliado à paixão e desejo de apresentar para o mundo as riquezas da região, resultará em uma obra artística de grande qualidade e reconhecimento pelos expectadores.
Isabel Cristina Lôpo Sobral é graduada em História pela UNOPAR e pós-graduada em ciências políticas pela ESAB. Isabel Lôpo é um nome atuante na cultura Montesclarense. Atriz desde 2012, já viveu vários personagens desde o drama até a comédia. Recentemente realizou na Casa de Artes Laranjeiras, no Rio de Janeiro, curso de interpretação para TV e Cinema.


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Por Petrônio Braz - 29/3/2015 15:30:09
Uma questão de ordem
Imortalidade literária e vitaliciedade. Antes de adentrar na questão a ser levantada, cumpre-se tentar analisar, de forma objetiva, os institutos da vitaliciedade e da imortalidade literária.
A vitaliciedade, garantida pelas normas fundamentais da Constituição Federal, é a condição que atribui a alguém o caráter permanente até a extinção de sua vida. Os papas são vitalícios, os juízes são vitalícios, mas essa garantia pode sofrer solução de continuidade em presença de processo com condenação ou de renúncia, como já ocorreu com um papa. A extinção da vitaliciedade, sem renúncia, somente pode ocorrer como condenação. A vitaliciedade é instituto de ordem constitucional.
A imortalidade literária tem história. Ela tem natureza estatutária e nasceu com a criação da Academia Francesa de Letras, fundada pelo cardeal de Richelieu em 1635. Todas as Academias que se criaram, depois, tiveram por parâmetro a Academia Francesa.
A eleição de um membro para uma Academia requer a instauração de procedimento antecipado de qualificação, que será submetido à Assembleia Geral, que se constitui de todos os membros efetivos (como regra quarenta), Uma vez eleito e empossado, o membro investe-se na condição estatutária de perpetuidade, como define o § 1º do Art. 1º do Estatuto da Academia Brasileira de Letras. Essa perpetuidade adquire a conceituação jurídica de vitaliciedade. Assim, somente se perde a condição de acadêmico pela morte ou pela renúncia.


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Por Petrônio Braz - 22/3/2015 13:28:15
Charles Emerson Bispo

Nos anos setenta e oitenta, um advogado novo se destacou em algumas Comarcas do Norte de Minas: Charles Emerson Bispo. Enveredando-se pelo Direito Eleitoral, chegou a pertencer ao colegiado de advogados do PDS, o maior Partido Político do Ocidente, nos anos oitenta. Advogado com poderes para requisitar avião para conduzi-lo a qualquer cidade de Minas Gerais, onde os interesses do Partido estivessem em jogo. A seu convite, estive com ele em Capelinha/MG, naqueles tempos idos, para suspender a posse de um Prefeito por decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Estado.
Passados já alguns anos de seu falecimento, sinto a obrigação de desmistificar uma vida, que poderia ter sido grandiosa, mas que foi carente dos condimentos necessários à guarida da história.
Orador brilhante e destemido, com voz tonitruante, fez figura no Tribunal de Júri, porém sem muito sucesso na absolvição de seus clientes. Discursava para impressionar, não para absolver.
Detentor de uma mente privilegiada, ele decorou, quando aluno da Faculdade de Direito, o Código Civil. Utilizava-se, com naturalidade e corriqueiramente, de intertextualidades em suas petições forenses e nos diálogos do dia-a-dia. Impressionou pessoas e fez admiradores.
Brilhou como um meteoro. Por carência de ética profissional, a sua vida e o seu nome resultaram em nada. Nada ficou para a posteridade.
Logo após o seu falecimento, escrevi e publiquei um artigo, plagiando Castro Alves: “Há de gemer por ele o gaturamo”, que relembro, esperando que sirva de exemplo aos novos bacharéis, que a cada semestre se integram à classe dos advogados.
Ele faleceu sozinho, em um quarto qualquer, de uma casa qualquer, de uma rua qualquer, em Belo Horizonte. Faleceu sem a assistência de um amigo, de um parente, de uma mulher. Separado da esposa e dos filhos, vivia só.
Nos dias finais de sua vida, desprovido de afetos pessoais, amargurado, não se maldizia do destino, embora vivesse recolhido dentro de uma roldana de magoas e dissabores. Em seu fadário, a melancolia entremeada de amarguras como feridas abertas eram suas companheiras.
A vida não lhe foi amena. No silêncio das noites, no idear da imaginação dos tempos vividos, nos últimos anos de sua vida esteve acorrentado como Prometeu à montanha de suas desilusões.
Faleceu ainda novo, absolutamente só. Em um cemitério qualquer, em Belo Horizonte, dorme ele o sono da eternidade. Piedosas e anônimas beatas haverão de orar por ele, ao pé da cruz abandonada que identifica a presença de seu sepultado corpo. Ele não estará só. Esta realidade da cruz abandonada fez-me lembrar a poesia de Castro Alves: “O gaturamo / Geme, por ele, à tarde, no sertão”.
O bacharel de invejável cultura, leitor assíduo dos clássicos, diplomado pela UFMG, deixou-se suplantar pelo homem sem escrúpulos profissionais. E o homem comum, que nele existia, foi capaz de destruir o advogado. Coisas da vida.
No silêncio de sua sepultura ele descansa sem a presença de amigos e parentes, dormindo em seu leito de desventuras, que a vida dentre as selvas do asfalto lhe compôs. Ali, há de gemer por ele o passeriforme gaturamo.




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