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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O VELÓRIO DE PATÃO

Nem bem começamos o frio mês de julho último, e a cidade consternada chorava a morte do artista plástico e músico Hélio Guedes, o Patão. Há meses que se encontrava em convalescença, de insidiosa enfermidade entre seu lar e a Santa Casa. A residência de sua família era sede dos Estúdios GG, além do seu pai, Godofredo Guedes, ali trabalhavam, ele Patão e Zeca seu irmão. A casa e o estúdio eram visita obrigatória a todos os visitantes que afluíam à nossa cidade em busca de um bom quadro pintado sobre tela. Os amigos e conhecidos não pouparam esforços, visitando-o continuamente, levando-lhe solidariedade, apoio moral, psicológico e religioso ao artista, também oriundo de uma família cristã de músicos, luthiers, pintores, cantores e compositores. Lá se reuniam artistas em geral, marchands e aficionados de aeromodelismo. Com a notícia do falecimento de Patão, os companheiros e conhecidos do artista e da família dirigiram-se ao seu velório, conforme costume geral da terra de Figueira acontecido na área de velórios da Santa Casa. Localizada na rua Irmã Beata, onde, também, se velava uma senhora da sociedade, falecida no mesmo dia. Como os que lá se encontravam eram, na sua maioria os mesmos que por força do conhecimento participariam (o de Patão e da senhora da sociedade) foram chegando, com a característica entrada na sala do velório lançando a olhadinha medrosa e, em seguida, agasalhando-se pelos bancos dos corredores, no jardim do pátio e no caramanchão. À bem da verdade, a família Guedes havia transferido o velório de Patão para o salão nobre do Centro Cultural Hermes de Paula, na Praça da Matriz, local onde o artista houvera feito várias exposições de suas telas. Marise Nunes e o seu marido, o cantor Heitor Nunes estava presentes entre os que participavam do duplo velório. Após a indefectível entrada no salão do velório, tomaram acomodações no caramanchão, onde se encontravam muitos artistas e músicos conhecidos. Heitor iniciou a conversação com os presentes dizendo coloquialmente que o corpo de Patão estava com a aparência muito alterada (ao seu enganoso ver). Outros presentes concordaram e alguns chegaram a atribuir a (a suposta) expressiva alteração, ao tempo de convalescença do de cujus pouco antes do falecimento. Marise abriu comentário adicional em que dava conta do batom muito vermelho passado na boca do falecido (confundiram a senhora velada com Patão). Logo se formou um grupo que defendia a validade do artista estar usando batom vermelho-carmesim. Um artista presente comentou ser até normal, pois se tratava do enterro de um artista excêntrico e que deveria ter feito tal pedido em vida. Logo chegaram mais conhecidos vindos da sala do velório (trocado) e falavam textualmente: Virgem Santa! Como é que Patão ficou feio depois de morto. Outro que participava da rodinha falou: feio e com batom vermelho na boca! Estupefato, ante aquela possibilidade vir a lhe ocorrer Heitor fez a sua esposa Marise Nunes jurar que não passaria batom nele quando chegasse a sua hora de ir para o andar de cima. No debate, foi condenado por alguns o uso do batom, do ruge, pós de arroz e máscara facial. Segundo esses observadores essa prática não era apropriada para defuntos masculinos. O debate tomou corpo ficando o grupo dividido em duas facções. Logo a roda foi aumentando e outros mais contavam sobre as excentricidades de Patão quando vivo, das suas posições reacionárias, como um sempre contestador de sistemas, de governos. Um observador que estava no velório certo (da senhora da sociedade) descobriu o mico que estava sendo cometido e informou à galera que o velório de Patão estava transcorrendo no Centro Cultural. Ai caiu à ficha e a turma, acabrunhada, foi para casa e muitos não marcaram presença, como deviam, ao velório certo!

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